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HitdaBreakz

12/29/2005

InfoHdB


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Artigo sobre whitelabels na sempre excelente Sleeve Magazine
Divertido artigo sobre os elusivos discos whitelabel, onde Jaysonic expressa cinco razões para a sua existência no mundo do hiphop, desde o disco de instrumentais não autorizado ao sample não autorizado.



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Ouvir e aprender
Quando ouvir implica educar, não há muitas páginas como a Educational Listening do site Lounge Candelas. Com sets do Danielle Baldelli, do Greg Wilson (regresso mais importante de 2005) e do Jim Burgess (outro rei atrás dos pratos nos anos 80) e com documentários sobre o que é o Balearic (com o Alfredo a ter o destaque que merece!) ou porque é que o Loft de David Mancuso é hoje considerado um dos clubes mais importantes de todos os tempos, como é que podia ser de outra maneira?



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Krypta 1982
Da cripta de Alexander Robotnick, esta é a nova compilação, editada na Creme Organization, de temas perdidos do mestre italiano, gravados na época (inocente e) dourada do início dos anos 80. E é mesmo como dizem, há aqui temas que parecem que, se não soubessemos que era Robotnick, podiam ter sido lançados amanhã pelos Metro Area ou por Putsch 79.


12/24/2005

Funky Christmas, HdB


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Um feliz Natal para vocês e para aqueles que vos rodeiam (e isto é mesmo um disco do James Brown! É a compilação num só disco dos temas de Natal e que estavam espalhados por vários álbuns).


12/22/2005

Steve Spacek: soul in space


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Steve Spacek continua a dar alma ao futuro. “Space Shift” é o mais recente trabalho deste inglês que parece ter encontrado um lugar na cidade de Los Angeles. Texto: Rui Miguel Abreu



O nome Spacek já é sinónimo de uma postura original no campo da Soul desde pelo menos 2001, ano da edição do excelente Curvatia, um álbum que parecia querer anunciar a chegada do século XXI de forma mais convincente do que os calendários ou o famoso Bug do Milénio. Vintage Hi-Tech, dois anos depois, confirmava o estatuto, sublinhando o recorte angular e definitivamente original da Soul profetizada por Steve Spacek. Estamos agora em 2005 e Steve Spacek decide aventurar-se a solo, reforçando a diferença com uma viagem até Los Angeles, cidade que nos últimos tempos tem fervilhado graças ao groove específico libertado pelas malhas tecidas por gente como os Sa-Ra Creative Partners ou Platinum Pied Pipers. Space Shift – trocadilho carregado de significados profundos (uma das traduções possíveis é “mudança de lugar”…) – serve assim de título a um álbum que investe uma vez mais no futuro, sem esquecer a ligação à história, como a que é encenada no excelente Dollar, tema que conta com a colaboração de Leon Ware, um dos responsáveis pela glória clássica de Marvin Gaye no mítico I Want You.

A primeira pergunta é inevitável: o facto de assinar este álbum em nome próprio tem algum significado especial no que à continuidade do grupo Spacek diz respeito?
E porque é que uma coisa tem necessariamente que implicar a outra? Este é apenas o primeiro de uma série de projectos especiais em que me pretendo envolver e os Spacek têm lugar no meu futuro, claro.
Como é que surgiu o contrato com a Sound In Color?
Passei por Los Angeles o ano passado e os tipos da Sound In Color contactaram-me para saber se eu estaria interessado em colocar voz nalgumas faixas de um álbum de um dos artistas deles, GB. Pode-se dizer que o contacto correu bem porque eu acabei por dar voz ao tema Simply So que os Sa-Ra Creative Partners depois remisturaram. E no início deste ano, tudo parece ter-se conjugado para que eu fizesse alguma coisa a solo e não inserido nos Spacek. Falei com os tipos da Sound in Color e mostrei-lhes algumas faixas e ideias que tinha para este projecto e a partir daí as coisas começaram a tomar forma.
O seu som é ultra sintético, mas possui igualmente uma faceta muito quente. Como é que se consegue o equilíbrio entre maquinaria e emoção?
Penso que sempre fiz música assim. Estas coisas acontecem-me naturalmente. Quanto às máquinas – bem, é apenas uma consequência dos tempos que vivemos, rodeados de tecnologia. Penso que se estivesse a fazer música nos anos 70 continuaria a apostar na minha própria vibração e para isso utilizaria a tecnologia da época. Mas eu vivo no século XXI e de certa forma fui moldado por esta época por isso uso o que está à minha volta. Posso gravar digitalmente, analogicamente ou de ambas as formas, porque de cada vez que abordo uma canção tenho uma sonoridade muito específica na cabeça e não olho a meios para a traduzir em algo concreto. Mas o carácter humano e emocional dos meus temas corresponde sempre ao que eu começo a procurar. Não abdico desse controlo e para isso envolvo-me a 200 por cento em todas as fases, da composição à gravação e mistura.
Soul e Estados Unidos parecem ser realidades que andam sempre juntas. Editar numa etiqueta americana era um objectivo de carreira?
Editar nos Estados Unidos é apenas mais uma etapa na minha carreira. Eu faço Soul Music, por isso poder absorver as vibrações do local onde toda esta cultura começou era algo que eu desejava e que já se adivinhava há algum tempo. Acredito que o meu som não tem fronteiras e que pode ser compreendido em qualquer ponto do mundo, mas estaria a mentir se dissesse que o público americano não é importante para mim. Até porque se conseguir algum impacto nos Estados Unidos isso trará consequências positivas a nível global e assim poderei obter as condições para garantir alguma estabilidade à minha família e, já agora, fazer pessoas felizes um pouco por todo o lado.
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Depois da Nu-Soul, do R&B e do Funk de recorte mais retro onde é que será possível encaixar o seu som? Acha que faz Soul para se escutar a bordo do Space Shuttle?
Essa poderia ser uma definição perfeita para o meu som, de facto. Ou eu poderia chamar-lhe Sci-Fi Soul, Funktronic ou Hi-Tech Groove. As combinações são infinitas e qualquer uma delas poderá traduzir o que se passa nos meus discos. Mas eu continuo a referir-me ao que faço, muito simplesmente, como Soul Music.
Existe algum segredo especial que marque o seu processo de composição?
Bem, eu uso sempre o Logic Pro e uma MPC, mas nada de terrivelmente secreto ou especial. Por vezes os temas nascem por causa de uma melodia com que acordo na cabeça, ou por causa de um break qualquer que eu programo ou de um loop com que estou a brincar e de meia dúzia de palavras rabiscadas num papel. Tudo o resto surge naturalmente e é aí que está a beleza disto tudo.
O novo álbum parece ser mais pessoal do que os trabalhos anteriores e adivinha-se uma carga erótica muito forte nalgumas faixas.
Não sei se há uma carga erótica, mas de facto o meu lado mais pessoal e privado representa um enorme papel. Faixas como “I’m Glad You’re Here” foram escritas para a minha namorada, Eve, que esteve comigo na fase inicial do disco em Los Angeles. Muito do disco reflecte o que eu sentia por ela naquela altura. E lá para o fim do disco, a chegada do meu primeiro filho, que se chama Sta Simonez e que foi concebido em Los Angeles, também me marcou muito. Está com 10 semanas agora.
Se a sua lista telefónica tivesse todos os números do mundo, a quem teria telefonado para este álbum?
À Bjork, ao D’Angelo, à Missy Elliott e ao Michael Jackson...
Ainda assim há um par de lendas de peso no seu disco. Como Leon Ware ou Jay Dilla…
Verdade. São dois verdadeiros “Dons”. O Leon já o conheço há para aí um ano. Conheci-o através do Mr. French no estúdio de Raphael Saadiq. O Leon é um tipo divertidíssimo, sempre com um espírito jovem. Como se poderá imaginar, estar na companhia dele enquanto estava a gravar o álbum e não o aproveitar para uma colaboração ou duas seria um desperdício. Quanto ao Dilla, ele tinha acabado de se mudar para Los Angeles, vindo de Detroit, por isso foi apenas uma questão de educação tentar inclui-lo neste projecto, já eu sou um grande admirador do trabalho dele.
O aparecimento de gente como os Sa-Ra Creative Partners ou até os Platinum Pied Pipers ajuda a encaixar o seu som numa “cena”? Consegue ver afinidades entre o seu som e o desses artistas?
Bem, sem dúvida penso que o trabalho deles foi muito importante para injectar sentido numa direcção que se começava a desenhar já há algum tempo. Mas não sei muito bem o que dizer quanto à existência de afinidades. O que eles fazem atravessa uma enorme variedade de estilos que vão da Folk ao Rock e à música de dança, passando muito pelo Hip Hop, pela Soul e pelo R&B. Talvez o meu som seja mais concentrado, menos disperso. Eu sinto ligações com pessoas que estão a surgir agora, como J Davey, de Los Angeles, que faz uma mistura incrível de Hip Hop, Funk e Rock, ou Ed Vallance, um bom amigo de Londres que representa uma espécie de nível seguinte dos Coldplay.

Nota: Texto publicado originalmente no jornal Blitz.


digga: os meus melhores de 2005


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Atom TM – Acid Evolution 1988-2003 (Logistic)
Beat Konducta – Movie Scenes (Stones Throw)
Boards of Canada – The Campfire Headphase (Warp)
Common – Be (Geffen)
David S Ware – Live in the World (Thirsty Ear)
Dwele – Some Kinda (Barak Records)
Edan – Beauty and the Beat (Lewis Recordings)
Flanger – Spirituals (Nonplace)
Isolée – We Are Monster (Playhouse)
Harmonic 33 – Music For Film, Television & Radio Volume One (Warp)
Jamie Lidell – Multiply (Warp)
Joe Bataan
– Call My Name (Vampi Soul)
Kanye West – Late Registration (Roc-a-fella)
Lindstrom & Prins Thomas – Lindstrom & Prins Thomas (Eskimo)
Platinum Pied Pipers – Triple P (Ubiquity)
Prince Paul – Itstrumental (Female Fun)
Quantic Soul Orchestra – Pushin On (Tru Thoughts/Ubiquity)
Quasimoto – The Further Adventures of Lord Quas (Stones Throw)
Roots Manuva – Awfully Deep (Big Dada)
Sharon Jones & The Dap Kings
– Naturally (Daptone)
Shawn Lee’s Ping Pong Orchestra – (Ubiquity)
Sound Directions – The Funky Side of Life (Stones Throw)
Spacek – Space Shift (Studio Distribution)
Thelonious Monk Quartet with John Coltrane – At Carnegie Hall (Blue Note)
Whomadewho – Whomadewho (Gomma)


Comps/Antologias


Juan Atkins – 20 Years (Metroplex)
The Free Design – The Now Sound Redesigned (Light in the Attic)
Cold Heat (Stones Throw)
Love’s a Real Thing (Stones Throw)
New Thing (Soul Jazz)
Soul Gospel (Soul Jazz)
The Soulsavers Soundsystem – Staring at the radio staying up all night (Promo)
Mizell Bros – Mizell (Blue Note)
David Axelrod – The Edge (Capitol)
Rub ‘n’ Tug Present Campfire (Eskimo)
Idjut Boys – Press Play (Tirk)
Greg Wilson – Credit to the Edit (Tirk)
This is Melting Pot Music (Melting Mot Music)


dub : os meus melhores do ano 2005


Álbuns

Acid Boy Chair
: Gold Soundz 1987 (Erkrankung Durch Musique)
Apendics Shuffle : Helicopter Hearts (Orac)
Alex Smoke : Incommunicado (Soma)
DJ T : Boogie Playground (Get Physical)
DJ Koze : Kosi comes around (Kompakt)
Dwele : Some Kinda (Virgin)
Eater : Kerr (Avex)
Fat Freddy's Drop : Based on a true story (Sonar Kollektiv)
Francisco : Music Business (Nature)
Geiger : Out of tune (Firm)
Inaqui Marin : Klinischtod (Regular)
Isolee : We Are Monster (Playhouse)
Jay Haze : Love for a strange world (Kitty Yo)
Joe Bataan : Joe Bataan (Vampi Soul)
Justus Kohncke : Doppelleben (Kompakt)
Kaos : Hello Stranger (K7)
Koushik : Be With (Stones Throw)
Lawrence : The night will last forever (Dial)
Lindstrom & Prins Thomas : Lindstrom & Prins Thomas (Eskimo)
Lontano : Chroma (Factor City)
Lump : Dizzyland (Mental Groove)
Major Swellings : Major Swellings (Noid)
Matias Aguayo : Are you really lost? (Kompakt)
Manhead : Manhead (Relish)
Out Hud : Let Us Never Speak Of It Again (K7)
Quantic Soul Orchestra : Pushin On (Ubiquity)
Rob Swift : Wargames (Coup de grace)
Sharon Jones & The Dap Kings : Naturally (Daptone)
Steve Spacek : Space Shift (Sound in color)
Subway : Empty Head (Sunday Best)
Whomadewho : Whomadewho (Gomma)

Mixcds

Chicken Lips : Clicks, acid & disco (Trust the dj)
Daniel Wang : Come on let's fly (Music Mine)
Idjut Boys : Press play (Tirk)
Ivan Smagghe : Fabric 23 (Fabric)
Jeremy Caufield : Detached [05] (Dumb Unit)
Optimo : Psyche Out (Eskimo)
Rub'n'tug : Campfire (Eskimo)
Savas Pascalidis : Relax your body (Lasergun)
The Glimmers : DJ Kicks (K7)

Compilações

Carl Craig : The album formerly known as... Classics from the vaults of Planet E (Planet E)
Vários : Box jams (Clone)
Vários : Elektronische Musik : Interkontinental 4 (Traum Schallplaten)
Vários : It's not over (Tresor)
Vários : Jazzanova : Secret Love 2 (Sonar Kollektiv)
Vários : Minimize to maximize (Minus)
Vários : Pigna People : Let 'em talk (Pigna)
Vários : Prima Norsk 3 : The Space Disco Edition (Beatservice)
Vários : Tsunami Relief (sem editora)

Edições especiais :

DJ Shadow : Endtroducing
The Strange Fruit Project : From Divine


12/21/2005

Electronicamente : novo blog


Surgiu, recentemente na blogosfera, mais um blog a ter debaixo do radar. Ligado aos ambientes mais próprios de uma pista de dança, o Electronicamente será, sem dúvida nenhuma, um local onde a música será o ponto de partida para tudo o que envolve a cultura. E, conhecendo quem está por detrás do projecto, não se espera outra coisa a não ser música para a pista com o groove que só o funk tem.

Parabéns Electronicamente. Sejam bemvindos. Está aqui um leitor atento.


12/20/2005

Video diggin'?


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Para quem vive hoje na idade da MTV, com vídeos disponíveis até para consolas portáteis de jogos e/ou incríveis gadgets que nos permitem acompanhar a saga de Matrix até no Metro, o coleccionismo de vinil é uma actividade absurda que poucas ou nenhumas referências visuais possui. Claro que há o incrível acervo das capas e das etiquetas de discos, velhos exemplares de revistas onde surgem algumas fotos e pouco mais. Mas de vez em quando descobrem sites como este YouTube onde algumas almas caridosas resolveram disponibilizar a sua colecção de vídeos particulares. E a colecção revelada pelo link aqui disponibilizado é espantosa:

John Lee Hooker - Hobo Blues


Howlin' Wolf - Dust My Broom



James Brown - Papa's Got A Brand New Bag/I Feel Good



the Zombies - She's Not There


E isto para mencionar apenas alguns: a lista completa é impressionante e inclui ainda Rolling Stones, Bo Diddley e Ray Charles entre vários outros. Um autêntico tesouro, é o que vos digo. Divirtam-se!


Kanye West: Homem do Ano


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Sem dúvida, 2005 foi o ano de Kanye West. Como o ano está a terminar, recuperam-se aqui agora dois textos publicados há uns meses em dois locais diferentes (a revista Op e o jornal Blitz) sobre este fenómeno que tantas coisas boas tem oferecido ao universo Hip Hop em tempos mais recentes.


Ser humano


A história de sucesso de Kanye West é, a todos os níveis, absolutamente espantosa. Há, definitivamente, algo de diferente em Kanye, na sua postura, no seu som, na sua planificação de carreira – sim, porque há certamente uma estratégia por trás de todos os seus gestos públicos: “Bush don’t care about black people”, a bombástica frase que Kanye proferiu num espectáculo de angariação de fundos para as vítimas do Katrina tem “t-shirt appeal” e soa muito mais a slogan de combate do que a desabafo imponderado. É que ao contrário de Puffy (“party, party, party”), 50 Cent (“gangsta, gangsta, gangsta”), Eminem (“shock, shock, shock”) ou até do seu actual patrão Jay-Z (“power, power, power”), é impossível reduzir Kanye a um retrato unidimensional, é impossível metê-lo numa única gaveta e resolver o enigma que representa com uma única chave. Mas uma mochila nas costas e um pendente de Jesus Cristo cravejado de diamantes fazem perfeito sentido se quem os usa tem um primeiro álbum de título “The college dropout”. Um “nerd” com “street cred”, um beto rebelde? Onde é que já vimos um retrato assim?

Kanye deu primeiro nas vistas quando ofereceu a Jay-Z alguns dos melhores beats da obra-prima “The blueprint” (do ácido de “Takeover” ao glamouroso “Never change” passando pelo hino “I.Z.Z.O. (H.O.V.A.)”). E imediatamente levantou-se um coro de elogios, creditando Kanye com a proeza de ter feito regressar sozinho os loops e os samples ao centro de operações do hip hop (que, muito por influência do peso de Dr Dre, preferia na época contornar direitos de autor retirando de sintetizadores e caixas de ritmos o sumo necessário para construir beats capazes de subir nas tabelas de vendas). Mas, na verdade, o Hip Hop nunca tinha deixado de samplar e há uma longa história de produtores que até o fazem com muito mais classe e propriedade – de Pete Rock, Lord Finesse e Diamond D até DJ Premier, Just Blaze e 9th Wonder. Será, então, que o elevado estatuto de Kanye se fica a dever à sua (aparentemente) singular capacidade de aliar skills de produção a algumas qualidades enquanto rapper e liricista? Também não me parece, porque o próprio Pete Rock, o já citado Dr Dre, Pharrell e, no underground, Madlib ou Rza também fizeram nome à custa de provarem as suas capacidades tanto no sampler como no microfone. Sasha Frére-Jones oferece uma explicação num recente artigo para o The New Yorker e avança que “há poucos artistas pop tão descontentes e tão exageradamente orgulhosos como Kanye West”. Talvez a resposta para este enigma se encontre no seguimento dessa ideia.

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Às personalidades “over the top” de estrelas como Puffy, 50, Eminem ou Jay-Z, Kanye contrapõe uma dimensão declaradamente… humana. Feita de contradições, de golpes de rins, de inversões de marcha. Afinal de contas, o homem que lançou uma linha de jóias inspiradas no seu pendente de diamantes com a cabeça de Cristo é o mesmo homem que avançou para “Late registration” com um single, “Diamonds from Sierra Leone”, que questiona o sofrimento associado à exploração de pedras preciosas no continente africano. Afinal, o homem que afirmou sem pudores ser um “college dropout” inclui em “Hey mama”, uma sincera homenagem à sua mãe que é uma professora de inglês já reformada, a promessa de “voltar à escola”. Volto a perguntar: onde é que já vimos algo de semelhante?

Antes da edição de “Late registration”, Kanye preparou caminho com o apadrinhamento do veterano Common, a quem produziu a quase totalidade de “Be”. O álbum é espantoso e para muitos representa um regresso à essência depois dos desvarios mais “experimentais” de “Electric circus” (que é excelente, digam o que disserem os fãs de “Ressurrection” ou “Like water for chocolate”). Mas Kanye associa-se a um homem tido como um rapper consciente, como uma referência do underground que se faz fotografar na contracapa de “Be” sob um retrato de Malcolm X e que tem os Last Poets, históricos activistas do Civil Rights Movement, no grande “The corner”, um dos melhores momentos do álbum. Em “Late registration”, Kanye também não hesita em recorrer a Gil Scott-Heron, precisamente na faixa onde reencontra Common, “My way home”, demonstrando dessa maneira que conhece quem levantou grandes questões ao longo da história da música negra. E tudo isto faz sentido, mesmo se na faixa seguinte, “Crack music”, se cede espaço a The Game…

Em comum, “Be” e “Late registration”, dois dos momentos mais altos deste ano, sem a menor sombra de dúvida, possuem a aguçada consciência da história da música negra, pela via dos samples usados, claro, mas igualmente por causa das atmosferas que sugerem e das questões que levantam. Kanye pode não possuir a capacidade de descobrir os samples mais obscuros e pode até ter feito nome à custa de um truque de produção que nem sequer é da sua autoria (os hooks de soul vocal acelerados são uma receita já antes usada por gente como Rza ou Alchemist, por exemplo), mas tem um bom gosto a toda a prova e sabe como retirar de um loop de uma secção de cordas ou de meia dúzia de notas executadas ao piano o impulso para construir um lamento ou um épico. Nele, um loop nunca é meramente funcional e não existe como simples marcação rítmica do discurso do MC. As texturas usadas por Kanye – tanto nos seus álbuns, como no trabalho que realizou para Common – têm sempre espessura emocional. Aliás, por alturas da edição de “The college dropout”, Kanye prometeu converter os beats que marcaram a sua estreia numa sinfonia de instrumentais, exactamente por acreditar que a música carrega já uma dimensão narrativa bastante forte. E talvez se deva entender assim a sua associação a Jon Brion, homem habituado a carregar a música com emoções, por via do seu trabalho em bandas sonoras como “Magnolia” ou em álbuns de singer-songwriters como Fiona Apple.

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Na pop, como na natureza, a vida é feita de ciclos, de avanços e recuos, de momentos de ruptura e é provavelmente isso que Kanye representa: uma ruptura com um mundo ultra-estilizado, feito de máscaras e calculismo. E, no entanto, é precisamente com uma máscara que Kanye se apresenta ao mundo, como se o único lugar que pudesse ocupar numa metafórica vida universitária fosse a de mascote, escondida do mundo com uma máscara que não revela quem por trás dela se esconde. Mas Kanye é de facto uma mascote: da Roc-a-fella e de incontáveis outros personagens do mundo do hip hop. O que não o impede de afirmar em “Gone” que o que muitos desses rappers poderiam fazer era “pedir-lhe um emprego”. Então? Que história semelhante, feita de contradições, de máscaras, de passos desconexos, de sofrimento, de paixão e de génio é que conhecemos no universo da música negra? Muitas, é certo, mas a de Marvin Gaye tem demasiadas semelhanças – homem dividido entre o corpo e o espírito, com uma relação nunca resolvida com o seu pai, que toda a vida tentou satisfazer, com um ego tão gigante quanto a sua obra, com uma voz tão singular quanto representativa da sua geração. Kanye é assim e talvez seja esse o factor x que o eleva acima da multidão. Essa capacidade de se expor, frágil e desorientado, perante o mundo. Como explica Sasha Frére-Jones, no já citado artigo do The New Yorker, “se West é o primeiro a frisar o quão grande ele é, ele é igualmente rápido a explicar todas as suas inseguranças.” E é essa a razão do seu imenso sucesso: por trás da máscara do ursinho, há um ser humano. Pleno de incertezas e cheio de grande música. Signo? Gémeos, obviamente…

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Soul Man

Kanye West criou um som de marca e ergueu de novo o sampling até ao topo das tabelas de vendas. Dêm-lhe uma bateria, um sample de voz acelerado e um pouco de Soul e ele oferece-vos o mundo!


Com uma lista de clientes impressionante – que vai de John Legend e Janet Jackson a Common, Mobb Deep, Alicia Keys e The Game – Kanye West ocupa neste momento o lugar deixado vago pelos Neptunes e que estes já haviam preenchido depois de esgotado o toque de midas de Timbaland. À abordagem digital de Timba e ao funk sintético de Pharrell e Chad, Kanye West contrapôs uma espécie de regresso às origens, liderando uma nova ordem que volta a reconhecer validade ao sampling dentro do Hip Hop.
Pegar em excertos de discos, fazê-los rodar em loop ou cortá-los em pedaços e reordená-los através do sampler foi sempre um dos métodos favoritos do Hip Hop para a construção da sua vertente musical. Como seria de esperar, à medida que as vendas de discos de Hip Hop se foram tornando mais sérias também os processos por uso indevido de samples se foram agravando até à imposição de uma verdadeira indústria paralela de empresas especializadas em “sample clearing”. Claro que, numa economia de mercado, isso significa uma relação directa entre as vendas de um disco e a conta a pagar aos criadores originais dos temas samplados. Por isso mesmo, o surgimento de uma geração de produtores, liderada por gente como Swizz Beats ou Trackmasters, capazes de oferecer uma alternativa mais compensadora em termos económicos foi inevitável. Dr Dre tinha apontado o rumo com o seu G-Funk apoiado em instrumentação real e esta escola de produtores pôde assim disponibilizar aos seus clientes beats da idade digital, carregados de bounce e livres de dores de cabeça que pudessem levar editoras e artistas a tribunal. Nesta época – finais dos anos noventa e inícios da presente década – o sampling passou ao underground e uma nova escola emergiu, forte e complexa: a dos beat diggers, produtores que continuam a recorrer ao sampling, mas que desenvolveram técnicas que lhes permitem aceder a edições mais obscuras e assim contornar a atenção predadora de advogados apostados em condimentar os seus rendimentos com um par de processos milionários por uso indevido da música dos seus clientes.

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Kanye e o regresso do sampling

Kanye veio contrariar esta tendência e provar que beats samplados também podiam fazer estremecer os sound systems dos clubes, sobretudo depois do seu trabalho em “The Blueprint”, obra prima de Jay-Z. Nesse álbum assinou a produção de temas como “Takeover”, “Never Change” ou “I.z.z.o”, usando predominantemente samples de discos de Soul de Bobby “Blue” Bland, Persuaders ou Jackson 5. No entanto, Kanye já confessou não ser fundamentalista em nada e por isso mesmo nem os Doors foram poupados, tendo um loop de “Five to one” servido de combustível para o ataque de Jay-Z a Nas protagonizado em “Takeover”.
O sucesso de “The Blueprint” (disco editado no dia da queda das Torres Gémeas em Nova Iorque) foi impressionante e provou a compatibilidade do sampling com o topo das tabelas de vendas. Kanye, claro, não olhou para trás e produziu pesos pesados como Cam’ron, Scarface, Nas, Talib Kweli e, já em 2003, de novo Jay-Z no polémico “The Black Album” (o disco que Danger Mouse usou para construir “The Grey Album”, colando a voz de Jay-Z à música dos Beatles). Percebendo que tinha ali uma fórmula eficaz, West só muito raramente procurava loops em círculos exteriores à Soul clássica. Aconteceu, por exemplo, com “Come Home With me” de Cam’ron, tema em que recorreu à glória dos anos 60 Buffy Sainte-Marie, ou nos dois temas que assinou em “The Black Album” – “Encore” e “Lucifer” – para os quais samplou material de John Holt e Max Romeo, ambos lendas da música Jamaicana.
De qualquer maneira, não foi apenas por vasculhar insistentemente na memória da Soul que Kanye West angariou reconhecimento. Em “The College Dropout” muitos dos samples de Soul utilizados (que vão de Dinah Washington a Chaka Khan) surgem acelerados, conferindo aos temas uma atmosfera onírica que tudo tem a ver com o universo para que remetem as letras de Kanye. Não se pode atribuir ao autor de “Late Registration” a autoria dessa técnica, mas é ele, certamente, o responsável por a popularizar. E caso pensem que por trás do “truque” da aceleração de samples há um apelo velado à memória colectiva de uma geração (é uma leitura possível, claro), Kanye West faz questão de explicar (à Remix Magazine) que a verdadeira razão é muito mais prosaica: “A maior parte dos temas clássicos de Soul são demasiado lentos para se rimar em cima, por isso eu acelero os samples, até se encaixarem nas batidas que programo.” Simples. E directo.

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A história da música negra

A abordagem de Kanye ao acto de criação também lhe permite valorizar muito mais o resultado final do que os métodos utilizados para o alcançar. É comum verem-se referências de outros produtores – provavelmente habituados a lidarem com orçamentos mais curtos e por isso experientes em contornar os processos de direitos de autor com recurso a discos obscuros e de circulação extremamente limitada – a códigos e éticas nos domínios do sampling. Kanye não liga a nada disso e não se importa de revelar à actual bíblia da produção Hip Hop, a revista Scratch, que não atribui importância às edições que sampla, revelando que procura muitas vezes na megastore mais próxima edições comuns para alimentar a sua MPC 2000 e o seu ASR 10 (dois samplers famosos, da Akai e da Ensoniq, respectivamente). De novo na Remix Magazine: “Não ligo nenhuma ao equipamento ou à técnica. O que interessa é como o tema soa. E se tiver que ser famoso por alguma coisa é por conseguir retirar o máximo de resultados do mínimo de recursos.”
Seja onde for que Kanye compre os seus discos, não há no entanto como negar o seu extremo bom gosto na escolha de samples: Luther Vandross e Marvin Gaye, Gil Scott-Heron e Aretha Franklin, The Staple Singers e The Chi-Lites, Ray Charles e Etta James… Ler os créditos de samples nas fichas técnicas de “The College Dropout” e “Late Registration” é como consultar um bem recheado compêndio de história da música negra dos últimos 40 anos. Talvez Kanye aspire ao mesmo estatuto clássico dos temas que sampla nos seus álbuns. E talvez até já o tenha atingido.


12/15/2005

Jazzanova : quando remisturar é uma arte


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Muita água passou debaixo da ponte desde que em 1995 o colectivo que hoje conhecemos como Jazzanova se encontrou na cabine do pequeno clube Delicious Doughnuts (provavelmente estaria mais cheio do que a foto de 1996 que podemos ver ao lado), em Berlim. Sendo uma das poucas alternativas ao techno que preenchia todos os espaços nocturnos de Berlim, o clube foi, durante dois anos, o espaço fértil das diferentes ideias musicais dos seis membros do colectivo e a melhor plataforma para afirmar o terreno comum entre os vários membros, composto por um amor ao jazz, ao funk e à soul e por uma paixão pelo diggin' de discos – a procura em lojas de segunda mão de pérolas em vinil de anos vindouros.

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E é todo esse universo que encontramos espelhado na primeira produção do colectivo, o seminal Fedime's Flight. Misturando de uma forma muito original jazzfunk, vocais etéreos tipicamente brasileiros e um samba transfigurado, Fedime's Flight leva um selo de qualidade dado por Gilles Peterson e transporta os Jazzanova para palcos maiores, assim, ao primeiro disco. Com apenas um disco na rua mas com o reconhecimento dos seus pares a estender-se a todos os continentes, começam a chegar ao colectivo pedidos de remisturas de artistas tão diferentes como os japoneses United Future Organization, os ingleses 4 Hero ou os escandinavos Koop, na altura ainda uns desconhecidos. E é desde o início que as remisturas ganham um peso muito elevado no percurso discográfico dos Jazzanova.

Mas não é apenas conferir o som Jazzanova ao tema original que tratam as remisturas do colectivo. Há todo um processo, cuidado e, arriscaria, quase singular na indústria, de preencher de Jazzanova um tema. Aproveitando as ligações entre géneros quase metódicas que vão sendo estabelecidas com o diggin', o colectivo estuda a discografia passada do artista a remisturar e estabelece influências para todo o seu som. Com estas coordenadas, cada tema remisturado é tanto uma amálgama daquilo que os Jazzanova são sonoramente como aquilo que eles vêem no tema do artista mas, mais do que isso, no artista em si e no que lhe precede.

Um bom exemplo disto é o tema "Another new day", um tema dos Jazzanova presente no seu único álbum de originais, In Between, datado de 2002. Pode parecer estranho estar a citar um original quando falámos apenas de remisturas até aqui mas o "Another new day" não é mais do que uma remistura dos Jazzanova aos segundos iniciais povoados de bateria do tema "It's a new day" da mítica banda de funk dos anos 70, os Skull Snaps. Fazer isto a um grupo que conferiu uma das espinhas dorsais rítmicas do hiphop, é não só agradecer aos Skull Snaps o facto de terem criado um momento tão especial mas também piscar o olho a todo o movimento hiphop, que lhes é tudo menos estranho e que, enquanto género, continuou a ser sempre uma coordenada definidora do som Jazzanova, incorporando estes, sem resistências, as suas flutuações. Mas, e voltemos à homenagem aos Skull Snaps, os Jazzanova dizem tudo isto sem deixar de conferir um cunho muito pessoal a todo o tema, gritando Ipiranga em relação ao original. Não há homenagem melhor a um break do que pegar nele com respeito para servir de base para algo belo.

É esta atenção ao ínfimo pormenor e este respeito pela música e pelo artista que lhes dá uma áurea diferente no campo das remisturas. Na posse destes elementos, ouvir um álbum de remisturas dos Jazzanova tem um sentido diferente. Não, não são originais dos Jazzanova mas tudo aquilo que personifica o colectivoestá tão presente nas suas remisturas que a confusão é inevitável.

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É tanto assim que os Jazzanova sentem, eles próprios, a necessidade de unificar grande parte do trabalho de remistura que fazem em álbuns debaixo do seu próprio nome. Foi assim em 2000, com as remisturas feitas de 1997 até esse ano recolhidas num só espaço e é assim hoje, com as remisturas feitas entre 2002 e 2005 reunidas num segundo volume, similarmente intitulado Remixes 2002-2005. Mas é na intersecção entre ambos os álbuns que encontramos algumas novidades. Se era possível traçar pontos estéticos comuns entre a totalidade dos artistas remisturados da anterior compilação, essa linearidade estética é mais difusa neste novo volume. Se não é incomum ver o nome dos Jazzanova associado aos Nuspirit Helsinki, a Marcos Valle ou aos Masters at Work, nomes como os Calexico e a banda de sunshinepop dos anos 60, os Free Design, são uma surpresa.

Se os anos 60 e 70 são habituais nas fileiras do colectivo, os anos 80 sempre foram uma década relativamente desconsiderada. No entanto, neste volume, é possível sentir o colectivo contagiado pela influência que o electrofunk está a ter em toda a música actual e fazê-lo sem nunca perder noção das suas próprias directrizes, na remistura que fazem para os Status IV, um pequeno hit dos anos 80, originalmente co-produzido por Toney Lee, dono e senhor de um dos grandes clássicos da música de dança, o Reach Up, ultrajado, no princípio do século, pelos Phats and Small (ia meter a bold mas pensei melhor) no hit global, Turn around.

Fica também a informação que o Reach Up é do Toney Lee mas é importante referir o input de Eric Mathews, um dos membros de outro grupo de música de dança
dos anos 80 que merece todo o destaque que lhe pudermos dar : os Gary's Gang. Fica aqui uma primeira abordagem a eles.

Por todas estas coisas, se há uma continuidade na exploração do paradigma há muito presente na música dos Jazzanova, com o jazz e o funk e os ritmos latinos como pedras basilares, o que Remixes 2002-2005 igualmente nos diz é que remisturar também é um escape para podermos, sob a desculpa de ser também esta a visão do remisturado, de ultrapassar as nossas próprias fronteiras sonoras, de explorar campos que usualmente não pisamos. E, sinceramente, não há muita gente faça melhor ambas as vertentes da remistura como este colectivo.

Os Jazzanova vão estar no Clube Mercado, já este sábado, na tour que estão a fazer para promover o Remixes 2002-2005. Imperdível!



12/13/2005

Robot Funk - The dance of the machines


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Mais de uma semana sem posts: a culpa é da época, do excesso de trabalho, da falta de tempo... Mas pode-se dizer que a espera valeu a pena porque o Pai Natal está a chegar mais cedo do que o previsto aqui ao Hit Da Breakz. Há não uma, mas duas compilações recheadas de grande música para os nossos leitores desfrutarem. Passo a explicar: mantendo o espírito da série Grooves from The Vault, preparei um par de viagens ao centro dos grooves electrónicos. Robot Funk (volumes 1 e 2) são dois sets preparados com a ajuda do Cool Edit onde pulsações analógicas de diversas épocas convivem de forma alegre e descomprometida. O conceito subjacente a estes dois exercícios é muito simples: procurar e sequenciar música que desde finais da década de 50 até ao presente partilhou o mesmo gosto pela aventura electrónica. Por isso mesmo, de Gershon Kingsley até Dick Hyman e Juan Atkins, passando por Afrika Bambaataa e George Clinton, Kraftwerk e Universal Robot Band, Metro Area e Mantronix há por aqui muitos grooves de proveniência diversificada a procurarem fazer sentido juntos. E, quanto a mim pelo menos, fazem mesmo sentido: porque independentemente das linguagens de onde cada um dos temas usados é originário - do electro, hip hop, lounge futurista, disco e house - existe uma preocupação comum a todos os temas seleccionados: a de expandir os limites do groove pelo uso da tecnologia.
Mantendo o espírito do diggin' bem vivo, optei por não revelar os alinhamentos dos sets e talvez esse possa ser um futuro desafio para os frequentadores e contribuintes do fórum do Hit da Breakz - preencher os espaços e investigar a origem de cada um dos temas utilizados. Até porque, exceptuando um par de temas, não há por aqui nada de verdadeiramente obscuro. Mas, por via dos moogs e dos arps, dos oberheims e dos fairlights há por aqui grandes pérolas. Umas do tempo em que o futuro era apenas uma miragem distante. Outros, já frutos desse mesmo futuro que a tecnologia procurava antecipar.

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Por isso mesmo divirtam-se a ouvir estes dois volumes de Robot Funk que, mais uma vez, contam com incrível design do grande Óscar Alves, aka omda, para os frequentadores do fórum HdB. Os sets foram gravados em mp3 a 256 kbps e podem ser descarregados a partir deste momento a partir dos dois links indicados abaixo. Para os utilizadores do pássaro azul interessa saber que o meu nick é breakzdigga. Enviem uma mensagem no caso de não fazerem parte da minha lista de utilizadores.
Finalmente, uma palavra de agradecimento a Raze, excelso produtor de instrumentais hip hop cheios de alma, que me explicou os fundamentos básicos do Cool Edit que me permitiram assinar estas aventuras em território electrónico.

Robot Funk Vol. 1 (MP3 + artwork)


Robot Funk Vol. 2
(MP3 + artwork)


F.R.F. (Funk Reeditado Fundamental)


Após uma demasiado longa ausência das lides, motivada por uma viagem para fora (e nem um dia para fazer diggin', se isto é possível!), aqui estamos de regresso a este espaço com mais alguns pedaços de discos.

Como o funk é algo que não cresce nas árvores em Portugal, e muito menos o dinheiro o faz, a capacidade para os amantes portugueses do funk terem muitos dos clássicos originais é reduzida. Por isso, as reedições são um justo substituto. Apesar de todas as limitações já tantas vezes aqui descritas e debatidas, as reedições de discos raros continua a ser uma das poucas maneiras para obter em disco coisas que, de outra forma, continuariam a pertencer ao domínio do impalpável.

Em baixo, podem encontrar 3 compilações e um single muito diferentes entre si, cada uma abordando, de uma forma muito curiosa, o groove. Com um particular enfoque no funk, na soul ou no jazz dançante, as três compilações são manifestações, igualmente, da diferente personalidade musical que os géneros permitem em diferentes fronteiras do mundo, isto apesar de partirem de coordenadas muito semelhantes.

The Third Guitar - Baby don't cry / The Soul Pleasers - Baby don't cry (Funk 45)

Depois de anos a ver este disco nas malas dos outros, chegou a hora de ter uma cópia em vinil de um dos maiores clássicos de deep funk, o Baby don't cry dos Third Guitar. Originalmente editado na Rojac (onde podem arranjar discos fabulosos e a um preço muito barato da Big Maybelle), os Third Guitar de Eddie Holloway resumem neste pedaçinho de vinil o essencial de um fabuloso disco de funk : um baixo que começa cá em cima e que vem por aí a baixo, os gritos jamesbrownianos de um vocalista próximo do delírio, a secção de metais com a plena noção de quando devem falar e estar calados e um som de bateria do demo. No lado B, os nossos queridos amigos da Funk 45 decidiram colocar a versão original do Baby don't cry, a dos Soul Pleasers, onde pontificava um tal de... Eddie Holloway.

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VA - Searching for Soul : Rare & Classic Soul, Funk & Jazz from Michigan, 1968-1980 (Ubiquity)

Num trabalho arquivista a rivalizar com os melhores trabalhos da Stones Throw, a Ubiquity tem vindo a revelar muito do passado do funk nas excelentes compilações que tem editado. Nesta, o estado do Michigan é revelado em toda a sua glória e em todas as suas eras. E é relevante porque o estado do Michigan é apenas e só o estado onde está Detroit, com todas as implicações que vocês conhecem (Motown anyone?). Na junção de discos de que nunca ouvi falar como os Black Aces of Soul com clássicos absolutos já aqui falados como os Detroit Sex Machine ou Wendell Harrison, a Ubiquity consegue raspar um bocado da superfície do que é o som underground do Michigan no período entre 1968 e 1980, respectivamente o início e o ponto de ausência de ideias novas do funk enquanto género musical.

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VA - Anthology : Rare jazz/fusion gems from Hungarian Vaults vol. 1 (Cosmic Sounds)

Enquanto editora, a Cosmic Sounds é o sítio a ir quando queremos o melhor do que foi editado no Leste europeu (e há tanta tanta coisa boa por lá e tanto ainda mais a descobrir!... basta relembrarem o post há algum tempo atrás, aqui no HdB, sobre o jazz polaco). Repito, "o melhor". Com acesso quase ilimitado atrás da cortina de ferro, os meninos da Cosmic Sounds têm colocado cá fora reedições do melhor da música polaca, discos do Janko Nilovic, do Zeljko Kerleta, do Dusko Goykovich, etc. Desta vez, estamos perante uma compilação de temas jazz ou de fusão feitos na Hungria e seleccionados, naquela que é a primeira compilação feita por alguém fora do universo Cosmic Sounds, pelo Tom Wieland dos Les Gammas. De jazz mais festivo ao jazz mais introspectivo, mas tudo com o aspecto dançante que só o groove dá. E tem aqueles breaks de bateria onde duas baquetas parecem mil. Soberbo.

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VA - Creative Musicians Vol 2 (More Highly Underrated Masterpieces From The Funk Era) (Perfect Toy)

A capacidade de Florian Keller criar discos é cada vez maior, com a sua constante procura de discos nada óbvios mas capazes de ombrear com qualquer dos nossos já conhecidos. Esta compilação é exactamente isso mesmo : a expressão da sua constante procura do pouco óbvio com qualidade. Puro leftfield funk, se é que a expressão existe.

VA - World Psychedelic Classics 3: Love's A Real Thing. The Funky Fuzzy Sounds of West Africa (Stones Throw)

Já foi aqui referida mas nunca é demais relembrar esta associação entre a Stones Throw e a Luaka Bop de David Byrne. O resultado podia ser outra coisa se não uma compilação de funk africano? Fundamental.


12/05/2005

Break da SemanaTM : Joe Henderson - Gazelle


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E para a edição de hoje do Break da SemanaTM fomos buscar um género que tem andado um pouco arredado desta coluna. E isto apesar de haver uma histórica e longa relação entre os universos da música baseada em sampling e o jazz (discos como Shades of Blue de Madlib ou The Pyramid Sessions de Rocky Marsiano são apenas dois exemplos mais ou menos recentes). Há breaks mais directos no planeta jazz, breaks mais carregados do funk primal que alguns artistas desta área também gostavam de explorar, mais "loopáveis", mais quadrados, mas este foi assinado pelo grande Harvey Mason que tocou com metade dos habitantes do universo, incluindo os enormes Headhunters de Herbie Hancock. Aliás, há outro membro dos Headhunters neste álbum - o percussionista Bill Summers. Ron Carter, no baixo, e, por exemplo, Lee Ritenour na guitarra ajudam também a fazer de Black Miracle um belo e sólido LP, carregado de grooves ondlulantes, que a Milestone editou em 1976.

Joe Henderson tem uma longa história no mundo do jazz: tocou com Jack McDuff, Kenny Dorham e, no período importante de 1969-1970, com Herbie Hancock. Obviamente influenciado pelos gigantes Sonny Rollins e John Coltrane, Henderson desenvolveu no entanto um estilo no tenor que lhe permitiu obter um enorme sucesso, talvez por ter sempre mantido por perto o espírito dos Rhythm n' Blues e não ter explorado exclusivamente territórios mais cerebrais. Henderson faleceu em 2001, depois de um contrato com a Verve nos anos 90 lhe ter devolvido a notoriedade. Os seus álbuns para a Milestone na década de 70 continuam a ser acarinhados por fãs de jazz e não só.

Fica aqui a amostra de um tema de título Gazelle, retirado do álbum Black Miracle (onde reviu, por exemplo, o "standard" My Cherie Amour de Stevie Wonder). A proposta é igual à de sempre: aproveitem o pretexto do break no início do tema para descobrir a obra deste senhor. Boa viagem!

Joe Henderson - Gazelle (MP3)


12/03/2005

Don't Believe The Hype: Katz Edition


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Nuno Catarino, conhecido igualmente por Katz, participante assíduo do Fórum do Hit da Breakz e responsável pela manutenção - sempre em alta! - do blog A Forma do Jazz, pensou, concebeu, desenhou e disponibilizou uma belíssima compilação de clássicos de Hip Hop. Chamou-lhe, citando o "standard" dos Public Enemy, Don't Believe The Hype. Mas nós, claro, por esta altura já sabemos que devemos acreditar e muito: o Hip Hop deu-nos grande música ao longo deste último quarto de século. E continua a fazê-lo. Só que nem as obras primas do presente são suficientes para nos fazer esquecer os monumentos de ritmo e poesia erguidos no passado. E esta selecção pessoal do Katz está cheia deles: os seminais Rapper's Delight e King Tim III dos Sugarhill Gang e Fatback Band introduzem a acção e depois é um desfilar de gigantes com gente como Kurtis Blow, Grandmaster Flash, Doug E Fresh, Kool Moe Dee, Public Enemy, NWA, De La Soul e Wu-Tang Clan a ajudar à festa. Se procuram a banda sonora ideal para vos acompanhar durante toda a próxima semana (ou mês ou anos ou...) então preparem os iPods, saquem dos discmans, coloquem óleo no motor dos walkmans ou façam lá o que têm a fazer para ouvir música, mas cliquem nos próximos dois links. É que o Nuno imaginou e realizou um óptimo filme aural que nos leva ao centro da memória Hip Hop e nos encanta com rimas eternas e beats imortais.

Well done Katz!

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Capa e contracapa (jpg)



Don't Believe the Hype (MP3)


12/01/2005

R.I.P: Joseph Henry


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Joseph Henry, o lendário bluesman que gravou um dos maiores hinos do renascimento do Funk na mítica Desco Records - o já clássico Who's The King - faleceu no passado domingo, à noite, depois de uma longa luta contra o cancro. Joseph Henry gravava igualmente como Reverend Easemore com os Mojo Workers e é na página deste seu grupo de blues e R&B que se encontra o seu obituário e muitas memórias fotográficas e não só da sua carreira como homem dos blues.

Há uns meses, a propósito de uma entrevista que conduzi para o Blitz, Keb Darge, numa tentativa de descrever o poder global do Funk, dava como exemplo a reacção estrondosa que em qualquer ponto do mundo obtinha quando tocava o clássico single da Desco Who's The King. A sua interpretação neste pequeno pedaço iluminado de groove é de facto estrondosa. Joseph Henry participaria ainda em Thunder Chicken, dos Mighty Imperials, outro dos grupos revelados pela mítica Desco, a editora que, depois de extinta, deu origem à Daptone e à Soul Fire e que foi a grande responsável por despoletar todo o movimento de renascimento do Funk que já nos ofereceu grupos como Sugarman 3 e Sharon Jones & The Dap Kings.

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O clássico Who's The King está incluído na compilação que Keb Darge e Josh Davis, aka Dj Shadow, realizaram há uns anos para a BBE, a enorme Funk Spectrum Vol. 1. Uma vez que o single original da Desco já troca de mãos por preços proibitivos, essa é uma boa maneira de pôr as mãos nesse grande monumento ao poder do ritmo sincopado.

Aqui no Hit da Breakz, dizemos simplesmente: descansa em paz Joseph. E sim, tu tinhas, tu tinhas o funk!

Joseph Henry - Who's The king (MP3)