Depois dos habituais cumprimentos à malta por trás do balcão, à malta em frente ao balcão e um olá a um dos Pedros no andar de cima, dirijo-me à zona aonde se encontra exposto o vinil. Esta quase sistematização de movimentos para mim significa apenas uma coisa: sinto-me à vontade, sinto-me bem-vindo. A Flur, loja de discos em Santa Apolónia, é assim.
É pena só ter redescoberto este espaço muito recentemente, fruto da minha progressão natural pelo mundo da música. Já lá vão longe os tempos em que teimosamente ostentava um certo preconceito em relação a quase tudo que não estivesse ligado ao hip-hop. E foram as lojas de discos, como a Flur, as principais responsáveis por essa mudança de visão. Não apenas pela música exposta mas, principalmente, pelas conversas.
A troca de opiniões, as sugestões do Zé, um elogio sentido, mais um vinil picado, o flyer da festa, o carimbo no cartão, gestos e sons. Tudo isto com o bom gosto a servir de ponto de ligação e coerência. O que, no país à beira-mar plantado, representa um enorme balão de oxigénio. Para a mente.
Teo Macero, lendário produtor de, sobretudo, Miles Davis, faleceu esta semana, conforme notícia que poderão ler abaixo. Desaparece assim um homem enorme que de forma igualmente imensurável contribuiu para uma das mais significativas obras do jazz. Macero conquistou notoriedade pelos seus inovadores métodos de produção e pela forma como permitia que as obras se erguessem a partir da fita magnética, que editava com tesoura e cola, organizando assim o pensamento dos músicos com quem trabalhava.
February 22, 2008 Teo Macero, 82, Record Producer, Dies By BEN RATLIFF Teo Macero, a record producer, composer and saxophonist most famous for his role in producing a series of albums by Miles Davis in the late 1960s and early 1970s, including editing that almost amounted to creating compositions after the recordings, died on Tuesday in Riverhead, N.Y. He was 82 and lived in Quogue, N.Y.
His death followed a long illness, his stepdaughter, Suzie Lightbourn, said.
Helping to build Miles Davis albums like "Bitches Brew," "In a Silent Way" and "Get Up With It," Mr. Macero (pronounced TEE-oh mah-SEH-roh) used techniques partly inspired by composers like Edgard Varèse, who had been using tape-editing and electronic effects to help shape the music. Such techniques were then new to jazz and have largely remained separate from it since. But the electric-jazz albums he helped Davis create — especially "Bitches Brew," which remains one of the best-selling albums by a jazz artist — have deeper echoes in almost 40 years of experimental pop, like work by Can, Brian Eno and Radiohead.
Davis's routine in the late 1960s was to record a lot of music in the studio with a band, much of it improvised and based on themes and even mere chords that he would introduce on the spot. Later Mr. Macero, with Davis's help, would splice together vamps and bits and pieces of improvisation.
For example, Mr. Macero isolated a little melodic improvisation Davis played on the trumpet for "Shhh/Peaceful" on "In a Silent Way" and used it as the theme, placing it at the beginning and the end of the piece. Even live recordings he sometimes treated as drafts; the first track of Davis's "Live at Fillmore East," from 1970, contains a snippet pasted in from a different song.
Mr. Macero strongly believed that the finished versions of Davis's LPs, with all their intricate splices and sequencing — done on tape with a razor blade, in the days before digital editing — were the work of art, the entire point of the exercise. He opposed the current practice of releasing boxed sets that include all the material recorded in the studio, including alternate and unreleased takes. Mr. Macero was not involved in Columbia's extensive reissuing of Davis's work for the label, in lavish boxed sets from the mid-'90s until last year.
Attilio Joseph Macero was born and raised in Glens Falls, N.Y. He served in the Navy, then moved to New York in 1948 to attend the Juilliard School of Music, where he studied with the composer Henry Brant. In 1953 he became involved with Charles Mingus in the cooperative organization called the Jazz Composers Workshop; he played in Mingus's other groups and put out his own records on Debut Records, the label founded by Mingus and Max Roach.
While simultaneously working as a tenor saxophonist — with Mingus, Teddy Charles and the Sandole Brothers, among others — and composing modern classical music as well as working in the classical-to-jazz idiom then called Third Stream, he joined Columbia Records in 1957. He was first hired as a music editor; in 1959 he became a staff producer.
At Columbia he worked with artists like J. J. Johnson, Mahalia Jackson, Johnny Mathis, Thelonious Monk and Dave Brubeck, for whom he produced the famous album "Time Out." He also produced Broadway cast albums like "A Chorus Line" and film soundtracks.
Mr. Macero left Columbia in 1975. He later worked with the singer Robert Palmer, the Lounge Lizards, Vernon Reid, D.J. Logic and others.
Besides Ms. Lightbourn, of Morristown, N.J., he is survived by his wife, Jeanne, of Quogue, N.Y., and his sister, Lydia Edwards of Sarasota, Fla., and Queensbury, N.Y.
Humberto Matias é Social Disco Club e Zac encarna a Barna Sound Machine. Ambos acreditam no poder do disco para movimentar corpos e espíritos. A prova estará na próxima Espuma dos Dias, já esta sexta-feira, dia 22.
Há exactamente 30 anos, todos os homens do mundo queriam ser John Travolta e todas as mulheres queriam cair-lhe nos braços. Tudo por causa de “Saturday Night Fever”, o filme que se baseava num artigo do jornalista britânico Nik Cohn publicado na influente “New York Magazine”. “Tribal rites of the new Saturday night”, assim se intitulava o artigo, foi o resultado da prodigiosa imaginação de Cohn que, já nos anos 90, confessou ter inventado a personagem de Tony Manero que Travolta interpretou no grande ecrã. Este facto é sintomático de todo o fenómeno disco: invenção e reinvenção, realidade e fantasia são coordenadas que se cruzam e confundem neste fenómeno. Afinal de contas, o re-edit, estratégia importante do arsenal do dj de disco – clássico e moderno – é em si mesmo uma reinvenção da realidade. Com fita magnética, tesoura e cola um tema de funk de três minutos passava a ser um opus de groove para a pista estendido no tempo sobre doze polegadas de vinil. Tom Moulton, Walter Gibbons e Danny Krivit, entre outros, procuraram dilatar os grooves para melhor os encaixarem na pista de dança e no processo inventaram a revolução que Travolta depois personificaria no cinema com uma banda sonora dos Bee Gees que quebrou recordes de vendas em todo o mundo. Três décadas mais tarde o filme mudou, mas o desejo de recriação mantém-se inalterado. Novos heróis como Todd Terje, Greg Wilson ou Pilooski aplicam o impulso recriador sobre velhas canções, elevando o passado, sob a forma de re-edits, até às necessidades do presente. Humberto Matias, o homem por trás do Social Disco Club, compreende esse impulso e usa-o para personificar a sua visão do disco. “Escolhi um nome que por si só mostrasse do que se trata o projecto. Tentei que soasse a década de 70. E quero que a música que passo seja acessível a muita gente.” Na década de 70 a discoteca tornou-se no centro de uma revolução social – subúrbios e inner cities, brancos e negros, straight e gay… a pista de dança sagrava a igualdade, sem nunca esquecer as diferenças. Essa é uma das magias do disco. “Cerca de 80% das faixas que passo tem arranjos meus... as faixas soam quase iguais ao original, mas nota-se qualquer coisa diferente.” O que se nota é a personalidade do próprio DJ que recorta os originais à sua própria medida, para manter a festa sempre em alta. O re-edit traduz igualmente o sonho de perfeição de cada dj. “Os re-edits, quando são bem feitos, têm um poder incrível,” garante Humberto, que acrescenta “quando faço um edit tento sempre respeitar ao máximo o original. O crédito não é meu, mas sim de quem tocou e criou a música.” E nesse sentido, Humberto Matias enumera Danny Krivit, Larry Levan, Tee Scott, John Morales e François Kevorkian como referências clássicas, elegendo Greg Wilson e Todd Terje como incontornáveis influências modernas. A “marca” Social Disco Club está envolvida num maxi editado recentemente com o apadrinhamento de Greg Wilson. “Barna Vs Porto EP” (editado na Ocsid Music) junta trabalho de reconstrução de Social Disco Club e Barna Sound Machine com a aura disco a dominar ambos os lados de um maxi que recebeu elogios de Simon Lee (Faze Action) e Pete Herbert (Reverso 68) entre outros nomes. Juntamente com Social Disco Club estará na Espuma dos Dias a Barna Sound Machine, o alter-ego de Zac, um francês a viver em Barcelona já com uma série de discos editados (a série Funk For Your Face na Blindtest). Juntos, Humberto e Zac prometem arrancar o John Travolta que existe dentro de cada um de nós. Para se prepararem, fica uma lista de 5 clássicos pensada por Social Disco Club.
Pam Todd - Together (Mr. Chinn's Eternal Love Mix) Crown Heights Affair - You Gave Me Love (Greg Wilson Edit) Chic - I Want Your Love (Todd Terje Edit) Jessie G - That's Hot (SDC Edit) Claudja Barry - Love For The Sake Of Love (Pete Herbert Edit)
(Texto escrito para a revista Blah Blah Blah do Lux)
Humberto Matias teve ainda a gentileza extrema de nos dar uma pequena amostra da atmosfera que irá construir na próxima sexta-feira no Lux. Há um set feito a pensar em nós aqui em baixo para todos descarregarem. Força!
Amanhã, a partir das 14 e 30, o auditório da ETIC recebe uma iniciativa inédita - a primeira edição dos Encontros Hip Hop que terá a presença de Xeg. De que se trata? De nada mais do que um encontro de alunos e não alunos da ETIC que partilhem um interesse nesta cultura. A ideia é aproveitar esses encontros para partilhar conhecimentos, colocar perguntas, estabelecer parcerias, mostrar obra, pedir conselhos, oferecer ideias ou simplesmente ouvir um pouco de música, ver vídeos e conversar. A orientação destes encontros - e as suas consequências - vai por isso depender inteiramente dos presentes! Estão todos convidados.
Amanhã dá-se a estreia de Rocky Marsiano (ao vivo) em terras dos nuestros hermanos. O palco Sound&Vision do Festival Interparla será pisado pelo "formato tipo" deste projecto com André Fernandes, Rodrigo Amado e DJ Ride a acompanharem-me no que será certamente mais uma viagem pelo mundo do improviso, sempre com a fusão hip-hop/jazz/funk como pano de fundo.
Desta vez o espectáculo contará também com a participação do Zekans, o homem vídeo dos Deubreka .
No final da entrevista que lhe fiz a propósito de "The Outsider", DJ Shadow já dava conta da sua vontade de voltar aos mundos paralelos que sempre gostou de explorar, desde o início da sua carreira. Porque Shadow tem sabido equilibrar o lado mais visível da sua discografia - "Endtroducing", "Private Press", "The Outsider" - com uma série de aventuras que parecem desenhadas para a sua base hardcore de fãs - "Brainfreeze", "Product Placement", , "Diminishing Returns", "Funky Skunk". Se na sua discografia "oficial" é a faceta de produtor que sai mais evidenciada, nestes discos de circulação limitada é o seu lado de dj e até de digger que se sublinha. Agora, Shadow tem um novo álbum na rua em colaboração com Cut Chemist: "The Hard Sell". Este é o terceiro capítulo numa já longa colaboração com Cut Chemist, ex-Jurassic 5. Shadow e Cut conheceram-se de forma curiosa: ambos editaram em tempos faixas com o título de Lesson4 por terem ambos decidido homenagear a dupla Double Dee and Steinski, criadores das famosas Lesson 1, 2 & 3. "Great minds think alike", diz o ditado, e Cut e Shadow não demoraram a estabelecer uma parceria que cedo começou a render dividendos (Cut foi, por exemplo, um dos poucos a remisturar Shadow, reconstruindo a clássica "The Number Song"). Mas foi com "Brainfreeze" que a colaboração ganhou dimensões extraordinárias. Set composto exclusivamente de Funk 45s, "Brainfreeze" foi o responsável por lançar luz na subcultura de coleccionismo hardcore de funk que fez disparar o preço das peças mais raras deste género. A febre foi tal que até "Brainfreeze" virou peça de colecção. O mesmo haveria de acontecer com "Product Placement", o segundo capítulo nesta viagem pelo mundo dos singles de funk. Mas os fãs dessas suas lições práticas na arte de descobrir, sequenciar e mixar singles de funk não sabem bem o que os espera com "The Hard Sell"! Neste novo álbum, a receita continua a implicar uma dieta exclusiva de 45s, mas desta vez há 8 gira-discos e dois pedais de sampling mais uma rack de efeitos em jogo. Tudo começou com um convite para uma actuação no famoso Hollywood Bowl em Junho passado. O CD entretanto editado foi gravado nos ensaios de preparação desse concerto. Ora, interessante aqui é a decisão de Shadow e Cut de realizar uma inflexão de caminho no preciso momento em que a sua fórmula angaria atenção suficiente para merecer um convite para actuar num espaço com capacidade para 16.500 pessoas. É verdade, o equivalente ao nosso Pavilhão Atlântico. Dois Djs no Pavilhão Atlântico...!!! Shadow e Cut poderiam ter optado por regressar ao terreno conhecido dos Funk 45s, garantindo assim o sucesso da aventura. Mas "The Hard Sell", como o título indica, é algo mais complicado. Este termo de marketing designa uma estratégia mais "violenta" de abordagem dos consumidores, que foi exactamente o que Shadow e Cut fizeram aqui. Mais violenta, claro, porque os transporta para terrenos desconhecidos. Já não o funk, mas uma viagem intensa que começa em terrenos Doo Wop (embora transformados) e percorre um longo caminho que passa pelo Hip Hop (e pela homenagem, por exemplo, aos De la Soul de "3 Feet High & Risin'" pela via da desconstrução dos samples originais de alguns dos momentos-chave desse grande e histórico álbum), pelo rock e pelo que mais se possa imaginar, numa viagem intensa, dura e imprevisível. Dj Shadow e Cut Chemist decidiram correr riscos. E logo no momento em que se preparavam para enfrentar 16 mil pessoas. O que só demonstra o carácter irrequieto destes dois criadores. Em "The Hard Sell" já não é tanto a ilustração de uma cultura ou de uma ideia de diggin' que está em causa, mas a utilização dos discos para a construção de algo novo. É isso que se quer dizer ao ir buscar os samples origianis de "Jenifa", por exemplo: esta é uma arte que vive do reenquadramento de velhos pedaços de vinil que podem - e devem - ser usados para erguer novas obras. "The Hard Sell" é, no fundo, uma mensagem, uma espécie de manifesto que parece pedir para se voltarem a colocar os pés no chão nesta época de profundo delírio digital. Não é à toa que a capa do álbum mostra uma velha jukebox a revoltar-se e a disparar singles de sete polegadas contra iPods... Arranjem as vossas cópias o quanto antes. Vão esgotar, certamente. No próximo dia 24 de Março, DJ Shadow estará em Madrid com Cut Chemist para apresentar este projecto. Uma delegação do Hit da Breakz estará presente para depois reportar o que viu.
Existem obras que com o tempo se tornam em marcos inegáveis na afirmação de uma cultura. No caso do hip-hop, o brilhante Style Wars (1983) é um desses marcos.
Pessoalmente, considero-o o documentário mais fiel a retratar os primeiros passos desta cultura. A maneira como os "4 elementos" convivem é simplesmente incrível. É também neste filme que ouvi a melhor definição da palavra "style", tão importante para que encontra no hip-hop o seu espaço de expessão e criação.
O homem por trás desta aventura que marcou assim tanto a história do hip-hop chamava-se Tony Silver. O Sr. Silver falaceu no passado dia 1 de Fevereiro e o HTB presta-lhe agora a sua humilde homenagem. R.I.P. Tony e obrigado!
O avanço imparável das décadas tem pelo menos uma inegável virtude: possibilita que se observe em simultâneo as diversas fases da carreira de um artista. Atente-se ao caso específico de Donald Byrd – se por um lado a reorganização do catálogo da Blue Note tem possibilitado a recuperação de pérolas do seu período hard bop/soul jazz, como por exemplo “Off to the races” (1959), “The cat walk” (1961) ou, entre outros, “Free form” (1961), por outro tem permitido que protagonistas da modernidade tão distintos como Madlib, os Glimmers, os Jazzanova ou James Murphy dos LCD Soundsystem descubram em diversos momentos da sua obra pontos de contacto claros com o presente. Curioso, no entanto, é o facto de todos os citados terem resolvido olhar para o Donald Byrd de meados dos anos 70 em diante nas suas incansáveis buscas das raízes da actualidade. Madlib fez de “Stepping into tomorrow” (título profético para um tema de um LP homónimo de 1975…) a peça central de “Shades of blue”, o álbum que a Blue Note lhe encomendou em 2003; no mesmo ano, os Glimmers – belgas que recentemente remisturaram os portugueses Pop Dell’Arte e que são arautos da nova cena disco sound – incluíram “You and music”, tema do enorme “Places and spaces” de 1975, na compilação “Blue Note’s Sidetracks”; em 2005, os Jazzanova, figuras de proa da etiqueta Compost, também foram convidados pela Blue Note para fazerem a sua própria compilação e não se esqueceram de Donald Byrd – desta vez a escolha recaiu sobre “Think twice”, também do álbum “Stepping into tomorrow”; e já nesta recta final de 2007, James Murphy, cérebro dos LCD Soundsystem cujo álbum “Sound of Silver” vai encabeçar muitas listas de melhores registos do ano, assinou o 36º volume da série FabricLive, uma colecção de compilações promovida por um dos maiores super-clubes da actualidade, e não se esqueceu de incluir “Love has come around”, tema de abertura do LP “Love Byrd” de 1981 (produzido por Isaac Hayes), um trabalho assinado por Donald Byrd & 125th Street, N.Y.C. (assim mesmo) que já havia sido referência habitual nos sets do mítico DJ do Paradise Garage Larry Levan. Seria possível enumerar mais exemplos de sintonia entre a música de Donald Byrd e as coordenadas que definem o presente das tipologias que apontam ao groove a partir da electrónica, mas julgo que estes são dos mais significativos. O que aqui é paradoxal é que a música que Donald Byrd realizou nos anos 70 – e que à época o establishment do jazz desvalorizou como música comercial: o New Grove Dictionary of Jazz descreve mesmo a sua produção nos seventies como “increasingly tasteless and shallow” – parece ser a que melhor o projectou no futuro. Byrd nasceu em 1932 em Detroit, cidade de fortíssimas tradições R&B (a Motown é um produto de Detroit, por exemplo), e fez carreira assinalável ao lado de gigantes como Max Roach, Sonny Rollins e Art Blakey, entre outros. Após a morte de Clifford Brown, em 1956, muitos olharam para Donald Byrd em busca da mais sólida referência para o trompete hard bop. Mas na década de 60, Donald dedicou-se a uma carreira académica que o levou a ingressar nos corpos docentes de algumas importantes universidades americanas, deixando a sua carreira de jazzman em pausa. Quando regressou aos discos em força, na década de 70, a produção dos fabulosos irmãos Mizell (que trabalharam igualmente com Johnny Hammond e Gary Bartz além dos Jackson 5 e dos Miracles…) sintonizou o talento de Byrd com a vertigem do groove que parecia comandar os destinos de grande parte da música negra da época. Nesse contexto, Donald Byrd assinou uma série de impressionantes álbuns – “Black Byrd” (1973), “Street lady” (1973), “Places and spaces” (1975), “Stepping into tomorrow” (1975), “Caricatures” (1976) – que os guardiões da verdade do jazz não encaixaram da melhor forma, quase sempre negando-lhes qualquer tipo de validade, mesmo à luz das experiências de fusão que então pareciam animar boa parte da produção jazzística mais moderna. Pode-se argumentar que Donald Byrd não deixou de ser um bom trompetista com a chegada dos anos 70 e que a sua música apenas ecoava as experiências ao nível do ritmo que se levavam a cabo nos terrenos do funk e até do disco sound. Mas a prova mais clara de que a música que Byrd criou nesse período merece toda a nossa atenção vem do facto de ter redescoberto pertinência no presente. Gente como Madlib ou James Murphy tem percursos muito diferentes. Que ambos – e outros - citem a obra “menor” de Donald Byrd só pode significar que há que reavaliar o que este trompetista fez no período em que o planeta inteiro parecia estar a dançar.
Ora aqui estão quase sete minutos de um revelador vídeo que nos mostra Quincy Jones e Herbie Hancock a mexerem numa das peças que na transição dos anos 70 para os anos 80 anunciava definitivamente o futuro - o Fairlight CMI, um dos primeiros samplers do mundo. E Herbie (somos íntimos, trato-o pelo primeiro nome...), como sempre, dá um show de balanço e groove.
Já imaginaram como seria um lugar onde o Hip-Hop e seus parentes (funk, soul, reaggae...) tivessem lugar para se manifestarem todos os dias? Todos os dias?
Em Amesterdão existe um lugar assim. O De Duivel é a Casa da "música negra" na capital holandesa. Desde 1992 que é assim...
É também a minha segunda casa aqui. 3 vezes por mês tenho a oportunidade de restabelecer o meu equilíbrio, o meu "karma musical". E o sentimento de auto-satisfação que sinto após cada set é lindo. Porque são poucos (talvez nem existam) os sítios onde te pedem que toques o Big Daddy Kane ou o primeiro álbum do Paris, ou onde alguém ao teu lado passa horas a fumar erva e a rimar ao som de praticamente tudo que tocas...