tag:blogger.com,1999:blog-77360042024-03-12T23:06:04.309+00:00hit da breakzNo <b><i>hit da breakz</i></b> escreve-se sobre <i>diggin'</i>. Para os apaixonados de Hip Hop e todas as outras formas de música onde a colagem desempenha um papel importante. Sejam bem vindos a um mundo de Holy Grails, Samples, Loops e Grooves... Tudo embalado em vinil de primeira qualidade!diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.comBlogger771125tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-88883554385949913792008-09-09T19:48:00.002+00:002008-09-09T20:19:16.179+00:00HDB TV<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dxc6CKyI0N_Nd8b1O1XO46_2HU4uoo5eE8F5nV-laSbzpmTHBVSg2yruJVyKPKWl2xcfOha3A0Bhag' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe>D-Marshttp://www.blogger.com/profile/15995998786436090235noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-66085391108453037812008-06-25T09:41:00.004+00:002008-06-25T09:46:02.812+00:00Rocky Marsiano - viagem musical. Esta 6a na FNAC<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwvkiJLt2xxNtwN8Rk1BocGjlNBAt5Pr7r0149NvtXGNbJ6A1iGkgHV9C6jwnV7AugGR8rAQ1KJAVMsy8jx01SOu3VFjulxh_emaGAou4Z5ii6vuy10bPB_OjV4HKM5SNA51jn/s1600-h/rocky+pic.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5215752137467558434" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwvkiJLt2xxNtwN8Rk1BocGjlNBAt5Pr7r0149NvtXGNbJ6A1iGkgHV9C6jwnV7AugGR8rAQ1KJAVMsy8jx01SOu3VFjulxh_emaGAou4Z5ii6vuy10bPB_OjV4HKM5SNA51jn/s320/rocky+pic.jpg" border="0" /></a> Esta 6a, pelas 18:30, na FNAC do Chiado farei uma viagem musical pelo universo jazz/funk/soul/hip-hop que me inspira sempre que "visto a pele" do Rocky Marsiano.<br />O convite partiu da própria FNAC e eu achei-o bastante original.<br /><br />Posso garantir que a viagem será bastante interessante para todos os amantes dos Breakz...D-Marshttp://www.blogger.com/profile/15995998786436090235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-24114369897569341122008-06-23T15:10:00.007+00:002008-06-23T15:38:58.288+00:00HTB Tv: Behind The Scenes no Hip Hop Pessoa<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyrME-dlARX0JEoJU6GJPSvmSDYhJs1qLjtO-upEGQeOLzIgrfTMerdLiLsehYEobFGhRvp4m8yXW8M-kcwmwkieyNpUUkIkshVBlttPhQWP6lyb0KCuTzoJkr7f76rpevN57m/s1600-h/Lisboa+12,+13+Junho+053.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5215097795354909474" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; CURSOR: hand" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyrME-dlARX0JEoJU6GJPSvmSDYhJs1qLjtO-upEGQeOLzIgrfTMerdLiLsehYEobFGhRvp4m8yXW8M-kcwmwkieyNpUUkIkshVBlttPhQWP6lyb0KCuTzoJkr7f76rpevN57m/s320/Lisboa+12,+13+Junho+053.jpg" border="0" /></a><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0l4kJ-bTLyhcnmy4kW3lrA_CDAbRVsbsLEhHCFlng0xVpIrcikOf9IPFgLKLHZDkXkpXPpvYZR7biV03ggzUFNpIpY1ElmxLWzKuaVCaPr3STdRlV6Tac9-06jI2rCHVf7MnQ/s1600-h/Lisboa+12,+13+Junho+049.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5215097799512187410" style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 264px; CURSOR: hand; HEIGHT: 320px" height="320" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0l4kJ-bTLyhcnmy4kW3lrA_CDAbRVsbsLEhHCFlng0xVpIrcikOf9IPFgLKLHZDkXkpXPpvYZR7biV03ggzUFNpIpY1ElmxLWzKuaVCaPr3STdRlV6Tac9-06jI2rCHVf7MnQ/s320/Lisboa+12,+13+Junho+049.jpg" width="306" border="0" /></a><br /><div></div><br /><p><br /><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dxCDDhS3N_IBuI7xf9PRO_vR6pZgvlLUnRjuVKFCRcb106ck9fVcGSDX3tEq2jl7FfeJWzexY5Od1Y' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></p><br /><p>Para quem perdeu um grande espectáculo no passado dia 13, aqui fica um "cheirinho" do excelente ambiente que reinou durante o jantar conjunto dos artistas, técnicos e produtores do evento.</p><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='278' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dxfu_Ia9owf2t_cyuHVxf3y0Nd4IWVne_Pbv4t39ROeNRkILWD97Uaf71fPRiyKFLZTWfVcCdO6Kv8' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe><br /><p>Um forte abraço para: Fuse, Mase, Sagas, Rodrigo Amado e T one, Ride, D_Fine, Raptor, Nomen e Rui Murka (claro que faltam nomes - mas cairam no esquecimento , desculpem)!</p>D-Marshttp://www.blogger.com/profile/15995998786436090235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-61512610496178060092008-06-18T12:37:00.003+00:002008-06-18T13:40:11.038+00:00HTB TV<p><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dwg08Csa4X6zSV6Z6leQ3rgLVIcStgCSGDOtFj3dVMBFn-oI8WhUOPXxA2fj01OLJ9jNcA9uOID5bQ' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></p><p>A HTB TV está de volta com um mini-filme feito há poucos dias na Meca do diggin em Amsterdam, a Wax Well Records. O Delay, uma das caras da loja, mostra-nos um dos seus mais recentes bolos.</p>D-Marshttp://www.blogger.com/profile/15995998786436090235noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-6616390539865323032008-06-12T09:16:00.004+00:002008-06-12T11:24:17.692+00:00Fernando Pessoa e Hip Hop, 13 Junho<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://img.photobucket.com/albums/v354/dabreakz/net_P.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://img.photobucket.com/albums/v354/dabreakz/net_P.jpg" border="0" alt="" /></a>No próximo dia 13 de Junho completam-se 120 anos sobre o nascimento de Fernando Pessoa. Para celebrar a data, a Casa Fernando Pessoa e a Câmara Municipal de Lisboa decidiram lançar um desafio à editora Loop:Recordings e marcar um encontro entre os escritos do poeta e algumas das mais aplaudidas vozes do movimento Hip Hop nacional. <br /><br />O primeiro resultado desse desafio será o espectáculo que no próximo dia 13 tomará conta do Terreiro do Paço, ali mesmo ao lado do Martinho da Arcada tão caro a Fernando Pessoa. A partir das 18 horas haverá música e graffiti para evocar a obra de Fernando Pessoa.<br /><br />Melo D, Maze e Fuse dos Dealema, Raptor, Rocky Marsiano, Rodrigo Amado, Sagas, Dj Ride, T-One, D_Fine e Viriato Ventura (pai de Sam The Kid) serão os artistas que marcarão presença no palco montado no Terreiro do Paço. As actividades começarão às 18 horas, com DJs da Loop (Rui Miguel Abreu, José Belo, D-Mars, DJ Ride) a darem música à cidade enquanto painéis alusivos à iconografia pessoana serão pintados por Nomen, um dos mais reputados writers de graff nacionais. Às 22 horas começará o concerto propriamente dito.<br /><br />Entretanto, estão a ser dados os retoques finais num álbum de homenagem a Fernando Pessoa que a Loop:Recordings deverá editar em Setembro. Este projecto nasce igualmente do desafio lançado pela Casa Fernando Pessoa. Tem direcção artística de D-Mars (aka Rocky Marsiano) e envolve artistas como Pedro Laginha (actor, vocalista dos Mundo Cão) em colaboração com DJ Ride, Marta Hugon em colaboração com os Spill de André Fernandes, Kalaf em colaboração com o trio do saxofonista Rodrigo Amado, D_Fine e Rocky Marsiano, Maze com o DJ Soma, Fuse, Melo D, Sagas, Raptor e Sam The Kid com o seu pai, Viriato Ventura. <br /><br />Todos estes projectos partiram de diferentes abordagens aos textos de Pessoa para uma viagem de redescoberta das suas palavras e ideias. A edição em CD deste projecto deverá ser acompanhada de um DVD com entrevistas aos diversos artistas envolvidos e imagens do concerto do próximo dia 13.<br /><br /><blockquote><span style="font-weight:bold;">HIP HOP PESSOA<br />Dia 13 de Junho</span><br /><br />18 horas – início com djs e graffiti<br />22 horas – concerto<br /><br />Entrada livre</blockquote>diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-77074597923030461842008-06-10T18:25:00.003+00:002008-06-10T18:47:46.155+00:00Diggin' in Africa: as aventuras de Frank Gossner<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.bitemyphoto.com/item/image/22686/BigMamaUnice.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.bitemyphoto.com/item/image/22686/BigMamaUnice.jpg" border="0" alt="" /></a>No novo número da <a href="http://www.parqmag.com/">revista Parq</a> (descarregável em pdf no link indicado atrás), assino um texto sobre Frank Gossner, mentor do fabuloso blog <a href="http://voodoofunk.blogspot.com">Voodoo Funk</a> (onde há vários sets feitos a partir dos discos descobertos no terreno que todos deveriam descarregar!) que dá conta das suas expedições em África para encontrar vinis que a memória local há muito perdeu. Essas viagens servirão de leit motiv para um documentário que se encontra actualmente em fase de montagem e pós-produção. Para me documentar para o artigo em questão entrevistei o ultra-prestável Frank que a partir de um cyber-café na algo agitada (política e militarmente) Guiné Conakry me respondeu com detalhe e paciência extrema. Prestes a mudar-se para Nova Iorque, com a sua colecção de discos, os seus cães e a sua mulher, Frank desvendou um pouco do seu mundo. Estas são as suas respostas:<br /><br /><blockquote><span style="font-weight:bold;">Antes da primeira questão, dá-me um pouco de informação sobre o teu passado: quando começaste a tua actividade de DJ, como se iniciaram os teus hábitos de coleccionador, etc.</span><br />Tenho coleccionado discos de vários géneros desde que era criança. Sempre amei a música. Comecei a pôr música como DJ em Berlim por volta de 1994. Fazia umas festas conceptuais que eram uma espécie de Sleazy Listening dos anos 60 com projecção de velhos filmes de Sexploitation e com go go girls. Eu estive envolvido no lançamento do disco “Vampyros Lesbos – Sexadelic Dance Party” com faixas de Manfred Hübler & Siegfried Schwab que foram usadas pelo realizador espanhol de Sexploitation Jesus Franco para os filmes “Vampyros Lesbos”, “She Killed In Extasy” e “The Devil Came From Akasava”. Fiz também as festas promocionais para esse disco. Viajei muito por toda a Alemanha com uma trupe de bailarinas go go, uma jaula de go go cromada feita de propósito e algumas caixas cheias de bandas sonoras de clássicos de Sexploitation, Pop francês dos anos 60 e funk movido a órgão Hammond. Em 1996 levei esse conceito para Nova Iorque onde me mantive a fazer a festa “Vampyros Lesbos” semanalmente durante quatro anos e também uma festa mensal em Filadélfia.<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://i116.photobucket.com/albums/o36/voodoofunk/10-1.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://i116.photobucket.com/albums/o36/voodoofunk/10-1.jpg" border="0" alt="" /></a><span style="font-weight:bold;">Quando é que te apaixonaste por afro-beat e música africana em geral?</span><br />Quando vivia em Nova Iorque na segunda metade dos anos 90 passei muito tempo a fazer diggin’ e a procurar singles obscuros de soul e funk. Regressei a Berlim em 2000 e comecei aí uma festa funk chamada Soul Explosion. Continuei e voar para os Estados Unidos para procurar mais singles pelo menos uma vez por ano. Numa dessas viagens descobri a Smith’s Record Store em Filadélfia. Uma loja que se tinha mantido intocada e inexplorada por outros coleccionadores apenas por causa da zona perigosa em que se encontrava e por causa do algo assustador dono, Stan, que não era doido pela companhia de gente branca. Para minha sorte, os preconceitos raciais dele não se estendiam aos europeus e por isso fui o primeiro coleccionador de funk a ter acesso ao seu inacreditável armazém no andar de cima. Numa visita mais tarde, expliquei ao Stan que a minha mulher tinha recebido uma oferta de emprego para a embaixada alemã da Guiné Conakry e que se calhar por causa disso poderia mudar para África por um par de anos. O Stanj disse “hey, bom para ti… deixa cá ver, penso que tenho para aí algures um monte de discos africanos…” Ele levou-me ao seu escritório onde uma parede inteira estava coberta por estantes com discos e mostrou-me alguns lançamentos na editora nigeriana Tabansi. Comprei-lhe o lote inteiro de para aí duas dúzias de discos porque as capas me intrigaram. Uma inspecção mais minuciosa em casa revelou que apenas um dos discos continha material mais funky, mas era um disco incrível: “Na Teef know the road of theef” de Pax Nicholas & The Nettey Family. O líder da banda tocava percussões para o Fela Kuti na altura e as quatro faixas soam inegavelmente a Fela, pelo menos um bocadinho, mas têm um som meio trippy que lhes confere uma aura única e muito funky. Tem até um par de breaks de bateria muito bons. Descobri depois que este disco era tão raro que ninguém tinha ouvido falar dele. A minha curiosidade acerca de discos africanos foi então espicaçada e se antes eu estava preocupado a pensar no que iria fazer nos três anos que iria viver para África, agora sabia que iria passar o tempo a viajar e a procurar mais discos como aquele.<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://i116.photobucket.com/albums/o36/voodoofunk/shrinejpg.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://i116.photobucket.com/albums/o36/voodoofunk/shrinejpg.jpg" border="0" alt="" /></a><span style="font-weight:bold;">É difícil viajar em África? As expedições para procurar discos foram complicadas, tiveste problemas de segurança?</span><br />Viajei extensivamente pela Serra Leoa (8 viagens), Ghana (5 viagens) e Benim (9 viagens). Também fui ao Mali e à Costa do Marfim em várias ocasiões. Viajar em África é bastante diferente de viajar na Europa ou nos Estados Unidos. Na maior parte das vezes não há comboios e a maior parte das pessoas usa os “bush táxis” que normalmente são carros todos rebentados onde entra tanta gente quanto é possível (num carro pequeno isso significa 4 ou 5 pessoas na parte de trás mais duas pessoas no lugar ao lado do condutor!). Ás vezes há autocarros grandes que ligam as cidades mais importantes, alguns têm até ar condicionado e os atrasos são normais – se for de algumas horas apenas ninguém fala em atraso. Um atraso em África começa para aí nas doze horas e isso acontece muito frequentemente. Atravessar fronteiras pode ser um pesadelo, a corrupção está muito espalhada e os empregados do estado dependem dos subornos pois têm famílias para alimentar e é frequente passarem meses sem que recebam ordenado.<br />Não viajei na Nigéria. Lagos é demasiado perigosa para andar a correr por vários bairros com os bolsos cheios de dinheiro. Se andam a procurar discos tens que ter sempre dinheiro contigo para fazer uma compra caso uma oportunidade se apresente. Tenho sempre que ir onde quer que o meu guia local me leve. Provavelmente podes ter alguma segurança em Lagos se te mantiveres em certas zonas da cidade, mas não seria possível fazer qualquer tipo de diggin’ a sério e directo. É por isso que contrato pessoas para me procurarem discos na Nigéria e depois mos levarem até Cotonou no Benim que fica a três curtas horas de distância.<br />Em termos de segurança, nunca tive nenhum problema sério. Quer dizer, uma vez fui assaltado por alguém armado com uma faca em Cotonou, mas isso aconteceu por minha culpa: foi estúpido apanhar um táxi-motorizada para me levar através da zona mais perigosa da cidade durante a noite. O momento mais assustador foi quando tive que deixar a Guiné por causa de violentos confrontos entre gente que protestava contra o governo e as forças armadas. Viajar longas distâncias através de um país africano sob lei marcial não é algo que me apeteça repetir tão cedo.<br /><span style="font-weight:bold;">A música africana ainda é muito pouco conhecida fora de África, embora várias compilações e reedições tenham começado a aparecer nos últimos anos. Assim sendo, como é que sabes o que procurar? Ou compras discos por instinto?</span><br />Comecei por coleccionar apenas discos de funk africano e afrobeat que pudesse usar para a minha actividade de DJ. Eu tinha uma enorme lista de discos que procurava e passava cópias a toda a agente. Ainda assim, muitas das melhores coisas que encontrei foi em discos que nem sabia que existiam. Ando sempre com um gira-discos portátil comigo e sem ele estaria perdido.<br />Nos últimos tempos tenho comprado também outros tipos de música africana: há demasiadas coisas boas por lá para me limitar apenas ao lado mais funky da música.<br /><span style="font-weight:bold;">Quando é que a ideia de fazer um documentário surgiu?</span><br />Para minha surpresa, fui contactado por vários produtores de cinema que mostraram interesse em filmar as minhas expedições em África. Escolhi trabalhar com a Leigh Iacobucci porque ela já tinha vivido uns meses em Accra e parecia estar mais acostumada aos hábitos africanos. Em África, muita gente não quereria que lhes tirassem uma foto. As pessoas não querem sentir-se culturalmente exploradas por uns tipos brancos que lhes apontam as câmaras sem lhes oferecerem um pequeno presente e que depois vendem as imagens a alguma estação de televisão ou a quem lhes proporcione um certo lucro. A maior parte dos Ocidentais também não entende a forma que muitos africanos ocidentais têm de valorizar uma fotografia. Se alguém te tira uma foto então passa a ter uma cópia da tua aparência. Isto pode ser perigoso até porque as fotografias são muitas vezes usadas por feiticeiros para lançar feitiços que podem resultar em qualquer coisa: para te apaixonares por uma determinada pessoa, para teres muito sucesso no teu negócio, mas se encontrares o feiticeiro certo para determinado trabalho também podes fazer com que alguém perca a visão, fique louco ou morra. Tudo o que é preciso para que isso aconteça é um pouco de dinheiro, uma fotografia e um nome. Pode ser superstição e podemos tentar rir-nos disto, mas praticamente toda a gente por aqui (Frank ainda estava na Guiné quando respondeu a estas perguntas) acredita nestas coisa, mesmo as que têm educação e estudos. Se não exibires a atitude certa e se não andares com o tipo certo de pessoas, nunca serias capaz de conseguir fotos reais e autênticas.<br /><span style="font-weight:bold;">Há algum tipo de plano para a estreia do documentário?</span><br />Ainda não, a montagem vai levar alguns meses, mas tenho a certeza que faremos algumas festas de lançamento com muita música e dança.<br /><span style="font-weight:bold;">Além dos sets incríveis que fazes para o teu blog, alguma vez usaste os discos que encontras para contribuir para alguma compilação?</span><br />Haverá uma reedição do álbum de Pax Nicholas no final do ano e já há planos para outros lançamentos.<br /><span style="font-weight:bold;">Estás a mudar-te de novo para Nova Iorque: vais dar uso à tua colecção e criar uma noite de afro-beat por lá?</span><br />NYC é a minha segunda casa. Tenho mais amigos lá do que em qualquer outro lugar do mundo. Propuseram-me um programa de rádio semanal na WFMU que começará em Outubro e que será perfeito para mim, até para poder tocar alguns dos discos que encontrei e que não são talhados para os clubes. Também tenho planos para criar uma noite afrobeat regular. A minha primeira data em Nova Iorque será já a 12 de Julho no APT.<br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://i116.photobucket.com/albums/o36/voodoofunk/borderjpg.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://i116.photobucket.com/albums/o36/voodoofunk/borderjpg.jpg" border="0" alt="" /></a><span style="font-weight:bold;">Podes dar-me o TOP 5 das tuas descobertas em África?</span><br /><br />01. <span style="font-weight:bold;">The Poly Rythmo LP com Vincent Ahehehinnou</span> (ALS 005).<br />Provavelmente o mais raro e mais cru dos álbuns da Poly Rythmo e todas as faixas são incríveis. <br /><br />02. <span style="font-weight:bold;">Marijata - This is Marijata</span><br />Depois das compilações “Ghana Soundz” na Soundway Records, todos os DJs queriam ter uma cópia disto… A maior parte das pessoas não sabe no entanto que além do tema “No condition is permanent” que aparece na compilação, há no disco mais duas faixas funky perfeitas para os clubes e um tema soul muito bom. <br /><br />03. <span style="font-weight:bold;">Stanislas Tohon - Dans le tchink systeme</span><br />Álbum de estreia do Stan que até aos dias de hoje permanece um dos mais populares cantores do Benim. Este é muito, mas mesmo muito complicado de encontrar e contém a bomba Afro-Latin-Funk “Paix Lo” que já agitou pistas de dança em Madrid, Berlin e NYC.<br /><br />04. <span style="font-weight:bold;">Pax Nicholas & The Nettey Family - Na teef know the road of theef</span><br />“You” é provavelmente uma das canções afrobeat mais cativantes que já ouvi. <br /><br />05. <span style="font-weight:bold;">Djimmy Ferry - Egbemi black</span><br />O Djimmy passou a maior parte da sua juventude em França, antes de regressar ao Benim onde gravou uma série de singles de garage-funk e um LP. A maior parte das gravações dele sofrem de péssima qualidade sonora, mas não este single. Também é a melhor faixa dele, na minha opinião. “Egbemi black” foi gravado em 1970 e soa a MC5 com James Brown a cantar em Yoruba.<br /></blockquote><br /><br />Imagens cortesia de Frank Gossner e do blog <a href="http://voodoofunk.blogspot.com/">Voodoo Funk</a>.diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-41413228877437397132008-06-06T13:40:00.001+00:002008-06-06T13:41:33.302+00:00The Disco Handbook<object codebase="http://download.macromedia.com/pub/shockwave/cabs/flash/swflash.cab#version=9,0,0,0" id="doc_687278596755464" name="doc_687278596755464" classid="clsid:d27cdb6e-ae6d-11cf-96b8-444553540000" align="middle" height="500" width="100%"> <param name="movie" value="http://documents.scribd.com/ScribdViewer.swf?document_id=3242075&access_key=key-13hfqxfrsfz761nrnf7o&page=&version=1&auto_size=true"> <param name="quality" value="high"> <param name="play" value="true"> <param name="loop" value="true"> <param name="scale" value="showall"> <param name="wmode" value="opaque"> <param name="devicefont" value="false"> <param name="bgcolor" value="#ffffff"> <param name="menu" value="true"> <param name="allowFullScreen" value="true"> <param name="allowScriptAccess" value="always"> <param name="salign" value=""> <embed src="http://documents.scribd.com/ScribdViewer.swf?document_id=3242075&access_key=key-13hfqxfrsfz761nrnf7o&page=&version=1&auto_size=true" quality="high" pluginspage="http://www.macromedia.com/go/getflashplayer" play="true" loop="true" scale="showall" wmode="opaque" devicefont="false" bgcolor="#ffffff" name="doc_687278596755464_object" menu="true" allowfullscreen="true" allowscriptaccess="always" salign="" type="application/x-shockwave-flash" align="middle" height="500" width="100%"></embed> </object><div style="font-size:10px;text-align:center;width:100%"><a href="http://www.scribd.com/doc/3242075/The-Disco-Handbook">The Disco Handbook</a> - <a href="http://www.scribd.com/upload">Upload a Document to Scribd</a></div><div style="display:none"> Read this document on Scribd: <a href="http://www.scribd.com/doc/3242075/The-Disco-Handbook">The Disco Handbook</a> </div><br /><br />Não vão vocês precisar de um manual de sobrevivência, uma noite destas...diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-84216152347640750052008-05-28T10:23:00.002+00:002008-05-28T10:33:48.307+00:00Jimmy McGriff R.I.P.<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://wwws.mmjbdata.com/graphics/www.mmguide.musicmatch.com/artist_image/amg/drp200/p242/p24234bg9ta.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px;" src="http://wwws.mmjbdata.com/graphics/www.mmguide.musicmatch.com/artist_image/amg/drp200/p242/p24234bg9ta.jpg" border="0" alt="" /></a><a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Jimmy_McGriff">Jimmy McGriff</a>, organista de excepção que marcou o lado mais "groovy" do jazz, faleceu no passado dia 24. Fica aqui a homenagem HdB a mais este mestre do balanço. Como quase sempre faço, iniciei a pesquisa de Jimmy McGriff no disco duro do meu próprio computador, procurando saber se tinha por acaso escrito sobre algum dos seus álbuns. Curiosamente, os ficheiros que responderam aos parâmetros da minha procura são aqueles onde tenho listados os breaks da minha colecção (há breaks nos álbuns "Groove Grease" e "Electric Funk"), o que já diz muito da natureza da música deste senhor que neste momento deve estar a trocar impressões com Jimmy Smith sobre como tocar Hammond em cima de uma nuvem... Paz à sua alma.<br /><br /><a href="http://www.theatreorgans.com/grounds/groove/mcgriff.html">Daqui</a>:<br /><br /><blockquote>"They've always classified me as a Jazz organist which I am not," states Jimmy McGriff. "I'm more of a Blues player. That's what I really feel." <br />With innumerable Top Ten albums to his credit, there is no mistaking McGriff's status as a legend. A master of the Hammond B-3, his renditions of Jazz and Blues classics along with his own compositions like "All About My Girl", "Kiko", "Vicki" and "Granny’s Lane", have made him a Blues original. <br /><br />James Harrell McGriff was born in Philadelphia, a city known for its world-class Jazz musicians - particularly its organists. He was surrounded by music while he was growing up: his mother and father both played piano while cousins Benny Golson and Harold Melvin were beginning to work on their own musical paths. <br /><br />Jimmy started out playing acoustic bass and alto sax. By the time he had finished high school, he was playing drums, vibes and piano, as well! At that point in his life, the bass seemed to be holding his interest and Big Maybelle gave him his first steady job working with her at Philly's famous Pep's Showboat. <br /><br />The influence of neighbor Richard "Groove" Holmes was dynamic though, and he studied privately with him. Jimmy also studied organ at Philadelphia's Combe College of Music and at Julliard. In addition, he studied privately not only with "Groove", but with Milt Buckner and with classical organist Sonny Gatewood. <br /><br />An A&R rep for Sue Records heard Jimmy playing organ at a small club in Trenton, NJ, offered him a contract and Jimmy was on his way to becoming an international favorite. <br /><br />Jimmy's arrangement of "I Got A Woman", on the Sue label, made it to the top five on both Billboard's R&B and Pop charts ... and the hits have kept coming year after year. <br /><br />There are close to 100 albums with Jimmy McGriff's name at the top as leader. He has recorded for Sue, Solid State, United Artists, Blue Note, Groove Merchant and recently for Milestone, Headfirst and Telarc. <br /><br />In his prolific career, Jimmy has recorded with George Benson, Kenny Burrell, Frank Foster, JJ Johnson and even a two-organ jam affair with the late "Groove" Holmes. <br /><br />Jimmy McGriff has performed in concert with Count Basie, Wynton Marsalis, Dizzy Gillespie, James Moody, Lou Donaldson, and the Thad Jones-Mel Lewis Big Band. He also toured and recorded with the great Buddy Rich for two years in the mid 70's. <br /><br />Jimmy's television credits include programs with Nancy Wilson, the PBS favorite, "Club Date", and some fun with Paul Shaffer on Late Night with David Letterman. <br /><br />Currently Jimmy performs around the world with his own Quartet, carving his own distinctive organ niche. Incorporating traditional gospel with a spiritual feel, he often teams up with musical buddy Hank Crawford in concert and on records. <br /><br />Jimmy McGriff has received numerous awards over the years. Whether these accolades refer to him as a Blues master or a Jazz legend, McGriff fans will tell you that he just reaches for your heart and soul with his music and always comes up with a "feel-good" gettin' down sound! </blockquote><br /><br /><br /><object width="425" height="355"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/yhDBDCZhNHY&hl=en"></param><param name="wmode" value="transparent"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/yhDBDCZhNHY&hl=en" type="application/x-shockwave-flash" wmode="transparent" width="425" height="355"></embed></object>diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-45424399153359210572008-05-19T08:40:00.003+00:002008-05-19T08:43:47.321+00:00Filme do ano<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.arthurrussellmovie.com/arthurposter_web.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px;" src="http://www.arthurrussellmovie.com/arthurposter_web.jpg" border="0" alt="" /></a>Matt Wolf’s documentary, “Wild Combination: A Portrait of Arthur Russell,” reconstructs the emergence and all too quick dissolve of the musician and composer, who died of AIDS in 1992—as well as the rise and fall of the downtown New York community that nurtured him. A young man from Oskaloosa, Iowa, with bad acne scars and a cello, Russell landed in downtown New York in 1973, after a short stint in a commune in San Francisco and occasional collaborations with Allen Ginsberg. In the words of his peer Philip Glass, Russell was “one of the more eccentric of our community.” Wolf has dug up rare footage that will make some New York natives tremble: pictures of the Loft, the informal dance party that some claim as the birth of disco itself, and short films of Russell performing by himself, seated with his cello and singing the unearthly ballads that were exactly the “Buddhist bubblegum” music he told Ginsberg he wanted to make. “Wild Combination” has its New York première at the Kitchen May 15-17. ♦<br /><br /><span style="font-style:italic;"><blockquote>Texto de Sasha-Frère Jones na New Yorker.</blockquote></span>diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-40497136659054854232008-05-15T07:49:00.002+00:002008-05-15T08:01:42.217+00:00Rocky Marsiano Hoje no Lux 15/5<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://img.photobucket.com/albums/v354/dabreakz/IMG_5126.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://img.photobucket.com/albums/v354/dabreakz/IMG_5126.jpg" border="0" alt="" /></a><blockquote>Esta noite (15 de Maio), ao vivo no <span style="font-weight:bold;">Lux</span>, <span style="font-weight:bold;">Rocky Marsiano</span> apresenta <span style="font-weight:bold;">"Outside The Pyramid"</span>, o novo álbum na Loop:Recordings. Apareçam!</blockquote><br /><br />Hip Hop e Jazz são frutos da mesma árvore e por isso andam juntos praticamente desde que no Bronx se começaram a imaginar os enunciados originais da cultura que deu ao mundo Afrika Bambaataa, o dj de scratch, rimas inflamadas e ritmos traduzíveis em acrobáticos gestos físicos. O cruzamento dessas duas linguagens tem portanto uma história longa e episódios notáveis como “Rockit” (quando Herbie imaginou um futuro eléctrico com a ajuda de Grandmixer DST), “Jazzmatazz” (quando Guru percebeu que a cadência da palavra podia seguir os mesmos ritmos da imaginação de estetas como Donald Byrd) ou até “Drunk Trumpet” (quando Kid Koala afirmou que um velho pedaço de vinil chegava para erguer um discurso próprio).<br />Em 2005, quando a produção Hip Hop nacional ainda procurava uma identidade própria, D-Mars assinou um dos factos do ano com “The Pyramid Sessions”, um álbum que deixava de lado a armadilha narrativa em que se podia tornar o discurso rap para longe das palavras olhar para o jazz a partir de um sampler, de uma colecção de discos e do esboço de uma vontade de partilha de ideias que o levou a colaborar, entre outras pessoas, com o guitarrista T-One (líder dos funkers Mr. Lizard) e Rodrigo Amado (saxofonista com uma carreira notável no mundo do novo jazz). O resultado foi muito positivo: “The Pyramid Sessions” era puro Hip Hop, mas estendia o olhar para lá das margens que por cá já se começavam a desenhar nessa cultura.<br />Sem que existisse um plano prévio nesse sentido, as ideias expostas em “The Pyramid Sessions” acabaram por ser decisivas para a transformação de Rocky Marsiano num colectivo que percorreu palcos de todo o país e não só: concertos na Fundação Calouste Gulbenkian, Casa da Música, Lux, Music Box, Maus Hábitos e no festival Interparla em Madrid deixaram claro que o que tinha nascido de um processo solitário de orquestração de samples tinha pés para se afirmar em palco. E mais: o que no disco eram calculados gestos de corte e colagem, ao vivo transformavam-se em intensas sessões de improviso, com os ritmos fornecidos por D-Mars a afirmarem-se como a âncora que mantinha o colectivo seguro à terra.<br />Agora, D-Mars e o seu alter-ego Rocky Marsiano têm novo álbum: gravado entre Amesterdão, cidade para onde o produtor luso-croata se mudou nos últimos dois anos, e Lisboa, “Outside the Pyramid” posiciona-se a um tempo como a continuação lógica do registo de estreia e como algo de completamente diferente. O tema “The End of Something”, por exemplo, soa, paradoxalmente, ao início de algo completamente novo: toada jazzy, pontuação hip hop, pormenores de orquestração inteiramente cinemáticos e, de repente, o sinal de diferença – um rasgo de electrónica a projectar o conjunto para a estratosfera sem que nada o indicasse. Há igualmente piscadelas de olho ao Brasil (“Break ‘Em Off!” e “Zum Zum Zum”), excursões pelo domínio do funk (“Rocky’s Funk Anthem” com a certeira colaboração de D_Fine) e objectos não identificados que colocam esta música em território ainda não devidamente cartografado (“The Meeting” tema apropriadamente baptizado onde uma cadência house sustenta um encontro entre um pulsar jazzy e o que parecem ser salpicos de blaxpoitation e de abstracção pura; e ainda “Amstel Hustle” com mais electrónica a deslocar o centro de gravidade).<br />Fora da pirâmide, D-Mars volta a encontrar o saxofone de Rodrigo Amado, a guitarra de T-One e a voz de D_Fine. Novas adições resultantes da experiência de palco são os nomes de DJ Ride e do guitarrista André Fernandes, dois excelentes músicos que privilegiam igualmente a inventividade. O trompete de Joep van Rhijn é já o resultado da vivência holandesa, onde D-Mars se tem concentrado na produção e na sua actividade como DJ.<br />“Outside the Pyramid” é de facto um álbum onde se aperfeiçoam ideias e experiências enunciadas no álbum de estreia, mas é igualmente um disco que ousa olhar para lá do terreno aí definido. É igualmente um disco que reforça o lugar singular de D-Mars no panorama musical nacional – com um percurso iniciado nos Micro, este produtor soube encontrar para si um lugar muito próprio enquanto produtor no sentido clássico do termo. Já não apenas o produtor de beats que buscam um MC, mas o produtor de corpo inteiro que entende os segredos de estúdio e da arte de condução de músicos em estúdio.<br /><br />www.myspace.com/looprecordings<br />www.myspace.com/rockymarsianodiggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-6828268578381193122008-05-05T09:52:00.003+00:002008-05-05T10:07:26.198+00:0030 anos de rodas de aço<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://files.turbosquid.com/Preview/Content_on_1_11_2004_07_41_31/1200mkii_brazil_1.jpg70781A32-C070-4E35-BCC65BD907BE27C5.jpgLarge.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://files.turbosquid.com/Preview/Content_on_1_11_2004_07_41_31/1200mkii_brazil_1.jpg70781A32-C070-4E35-BCC65BD907BE27C5.jpgLarge.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><blockquote>O aniversário de um gira-discos é mais importante do que se possa pensar: nas três décadas em que o Technics SL-1200MK2 tem estado activo o mundo mudou e um pouco por sua causa: o Hip Hop e o culto crescente do dj como super-estrela devem tudo a estas rodas de aço que a partir do Japão tomaram conta do mundo.</blockquote><br /><br />Numa época de gadgets cada vez mais fantásticos, no sentido George Lucas do termo, e do desaparecimento da música do terreno do palpável, é admirável perceber que uma invenção com três décadas continua, teimosamente, a ser ferramenta talhada para a descoberta e a invenção. Foi há 30 anos que a Matsushita, fabricante japonês da marca Technics, colocou no mercado o modelo SL-1200MK2 que, ainda hoje, é usado por djs de todo o mundo.<br />A série 1200 da Technics está no mercado desde 1972 e por isso equipou muitas das cabines de Nova Iorque fundamentais na construção da arquitectura Disco Sound que dominaria boa parte dessa década. Mas só em 1978 é que surgiu no mercado o modelo que ainda hoje serve de base à versão mais comum, a 1210. A Technics introduziu poucas alterações no seu gira-discos desde 1978 sendo sobretudo sensível a pequenas modificações sugeridas pelo próprio uso que os djs lhe davam. As rodas de aço, como Grandmaster Flash lhes chamou, são, na verdade, o pilar técnico de uma revolução.<br />Meros 15 anos após o aparecimento dos Beatles, no Bronx nasceu outro tipo de culto: nos bairros sociais de uma das mais devastadas zonas da cidade de Nova Iorque, multidões reuniam-se para observar não um grupo de rapazes com guitarras, baixos e baterias, mas pioneiros como Afrika Bambaataa e Jazzy Jay, Kool Herc, Grandmaster Flash e Grandwizard Theodore, DJ Hollywood, DJ Breakout e outras lendas que mesmo dispensando instrumentação convencional conseguiam concentrar em si as atenções como verdadeiras estrelas.<br />Nesta altura o Hip Hop começava a impor os seus códigos, mas a partir de Manhattan outro tipo de revolução já estava em marcha e o dj como shaman, capaz de conjurar espíritos e manipular emoções pela forma como sequenciava os seus discos, começava a adivinhar-se. Em locais como o Gallery ou o mítico Studio 54 as pessoas reuniam-se em torno de um tipo, muitas vezes italiano, para dançar e estilhaçar convenções arcaicas de identidade sexual e social. No virar da década, o poder e alcance do dj era uma realidade incontornável e nomes como o de Larry Levan ecoavam como se de semi-deuses se tratassem.<br />Entretanto, em Chicago e Detroit outras revoluções desenhavam-se tendo igualmente o Technics 1200 como principal ferramenta. O House e o Techno nasceram ambos a partir das explorações de DJs como Frankie Knuckles, Ron Hardy ou Electrifying Mojo que em clubes ou na rádio apontavam a direcção pela forma com que usavam os seus gira-discos: mais do que meras ferramentas, os pratos onde se colocava o vinil eram extensões da própria personalidade dos djs.<br />As bases para uma nova ordem, que se tornou evidente depois da explosão da cultura de clubes no arranque dos anos 90, estavam lançadas e o dj como super-estrela tornou-se realidade. Obviamente muitos dos grandes nomes que hoje fazem o circuito mundial de super-clubes, funcionando como uma espécie de jet-set do mundo dos djs, há muito dispensaram o vinil como suporte principal da música que tocam. Mas graças a novas tecnologias como o Serato, mesmo armados com laptops esses djs continuam a utilizar o gira-discos como interface principal para a sua própria relação com a música: podem ter eliminado essa incurável fonte de problemas para a coluna que são as toneladas de vinil que tinham que se carregar para os clubes, mas não dispensaram as rodas de aço que permitem a manipulação da música.<br />Claro que para a comunidade mundial de gira-disquistas o Technics SL-1200MK2 continua a ser uma referência. Estes guerreiros que nasceram do Hip Hop, transformaram o gira-discos num autêntico instrumento levando a que DJs passassem a ser vistos na companhia de músicos “convencionais”: desde que Herbie Hancock recrutou Grandmixer DST para “Rockit” que uma nova tribo emergiu e passou a realizar calculadas experiências de manipulação de tempo e espaço a partir dos Technics. Por causa disso, algures no virar desta década anunciou-se que no Japão a venda de gira-discos tinha ultrapassado a das guitarras eléctricas. Ser DJ passou, pelo menos durante um certo período, a ser um objectivo mais desejado do que ser o novo Van Halen ou Slash.<br />Hoje, são várias as marcas – Vestax, Gemini, Numark, Stanton… – que competem no mercado que a Technics inventou sozinha. E os novos modelos de gira-discos que continuam a surgir no mercado todos os anos funcionam como monumento à longevidade de um pedaço de tecnologia que de facto revolucionou o mundo da música.<br /><br />Publicado originalmente no número 2 da revista <a href="http://www.parqmag.com/">Parq</a>.<br /><br /><object width="425" height="355"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/EXu7TJhjhZ0&hl=en"></param><param name="wmode" value="transparent"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/EXu7TJhjhZ0&hl=en" type="application/x-shockwave-flash" wmode="transparent" width="425" height="355"></embed></object>diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-82303851315346196052008-05-02T10:08:00.002+00:002008-05-02T10:15:24.585+00:00Novo álbum de Al Green<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.algreenmusic.com/paste.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.algreenmusic.com/paste.jpg" border="0" alt="" /></a><br />Há um novo álbum de <a href="http://www.algreenmusic.com">Al Green</a> a rebentar por aí, razão mais do que suficiente para encarar cada novo dia com uma dose renovada de entusiasmo. Notícia abaixo retirada do site de Al Green. E Massagem visual cortesia do YouTube.<br /><blockquote><br />Musical collaborations happen all the time. From Alicia Keys and Maroon 5 to The Killers and Lou Reed to Jamie Foxx and Rascal Flatts, many fans cease to so much as bat an eye when told news of a new pairing between musicians. <br /><br />However, that's because most musical match-ups aren't nearly as cool as this one. Soul legend Al Green has new album (due May 27), which he worked on with The Roots' ?uestlove. Other artists featured on the album include John Legend, Corinne Bailey Rae, and neo-soul singer Anthony Hamilton. <br /><br />Luckily, ?uestlove seems to recognize the need for Green to make good with younger, hipper artists, all without crossing the line and transforming his persona and sound completely. In a recent Billboard.com article, ?uestlove is quoted as saying, "I'm not saying Al Green wants to do his version of [Chamillionaire's] 'Ridin'..."</blockquote><br /><br /><object width="425" height="355"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/_TyvtHJVJBI&hl=en"></param><param name="wmode" value="transparent"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/_TyvtHJVJBI&hl=en" type="application/x-shockwave-flash" wmode="transparent" width="425" height="355"></embed></object><br /><br /><object width="425" height="355"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/ETopypZRmLA&hl=en"></param><param name="wmode" value="transparent"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/ETopypZRmLA&hl=en" type="application/x-shockwave-flash" wmode="transparent" width="425" height="355"></embed></object>diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-44393892598519617512008-05-01T15:03:00.004+00:002008-05-01T15:20:17.827+00:00Wax Poetics # 28<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.undergroundhiphop.com/store/covers_large/WP028MZ.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.undergroundhiphop.com/store/covers_large/WP028MZ.jpg" border="0" alt="" /></a>Há um novo número da <a href="http://http://www.myspace.com/waxpoeticsmagazine">Wax Poetics</a> nas ruas, o 28º, razão mais do que suficiente para se encararem as próximas semanas com um sorriso nos lábios. Há mais uma torrente de informação para descodificar, mais um monte de fotos para deliciarmos os nossos olhos, mais uma data de referências para acrescentar ao nossos processadores pessoais. Nas capas (há duas...) estão Al Green e Q-Tip, duas diferentes gerações, mas igualmente dois bons exemplos do tipo de coordenadas que guiam esta revista.
<br />A propósito, aqui fica um texto que saiu na última Op. sobre a edição em livro dos primeiros 5 números da Wax Poetics:
<br />
<br /><blockquote><span style="font-weight:bold;">A bíblia</span>
<br />
<br />É um mundo estranho este, em que uma revista dedicada a objectos coleccionáveis se torna ela própria objecto de desejo capaz de angariar somas consideráveis em leilões no eBay. Mas é exactamente isso o que se passa com os primeiros números da Wax Poetics, revista dedicada ao mundo do vinil, criada a partir da paixão de uma série de diggers para se assumir como a bíblia de toda uma cultura subterrânea onde o Graal é preto, redondo e impossivelmente funky.
<br />Agora, a Wax Poetics, a “pedido de várias famílias” que pressionavam para que os primeiros números voltassem a ser impressos, resolveu reunir os melhores artigos dos primeiros cinco números da revista, publicados entre 2001 e 2003, e editá-los sob a forma de um livro que leva o título apropriado de “Wax Poetics Anthology, Vol. 1”. A transformação dos conteúdos da revista dirigida por André Torres em livro tem diversos significados. O mais importante dos quais é o facto de, pelo menos simbolicamente, a visão do mundo da Wax Poetics adquirir um estatuto de referência definitiva sobre os assuntos que aborda. Por outro lado, também se reconhece a espessura do pensamento impresso naquelas páginas, assumindo-se a responsabilidade de o passar a este outro formato, mais sério. Mas esse foi sempre um ponto de honra desta revista de que se espera para breve o 26º número: uma escrita de qualidade, que não esconde a paixão pelo objecto da sua atenção e que ainda assim não abdica de rigor histórico e jornalístico.
<br />Logo no primeiro (e hoje muito valioso) número, a Wax Poetics deixava muito claro que as lentes escolhidas para olhar para o passado eram as que o hip hop disponibilizava (provavelmente montadas numa armação Cazal…): o artigo sobre Idris Muhammad dava início a uma série onde outros notáveis bateristas como Bernard Purdie, Clyde Stubblefield ou Jab’O Starks viam a sua obra analisada e o seu crucial contributo para a arquitectura hip hop realçado; por outro lado, homenageava-se a série de compilações Ultimate Breaks & Beats, para muitos o verdadeiro mapa genético de uma cultura erguida a golpes de sampler e gira-discos. A Wax Poetics versa portanto sobre a paixão que o hip hop despertou nos seus colaboradores para os complexos universos do funk e do jazz, do reggae e da soul, da bossa nova e das múltiplas encarnações do afro-beat, da folk e da música experimental, do vinil. As páginas e páginas ilustradas com capas de discos perdidos dão-lhe igualmente uma deliciosa dimensão voyeurística (a expressão “record porn” roda na internet e descreve precisamente isso) que garante ao leitor um misto de prazer e angústia devido ao estatuto praticamente inalcançável de muitas daquelas obras. Finalmente, a arte da colecção, tão importante nas constantes reavaliações do passado que fornecem, afinal de contas, matéria para reinterpretação do presente, é humanizada e enaltecida nestas gloriosas páginas. Na vertigem destes tempos modernos rendidos ao vazio dos MP3, sabe bem ter uma referência assim. Na mesa da sala.</blockquote>
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<br />E, já agora, na <a href="http://current.com/"><span style="font-weight:bold;">Current TV</span></a>:
<br /><object classid="clsid:D27CDB6E-AE6D-11cf-96B8-444553540000" width="400" height="400">
<br /><param name="movie" value="http://current.com/e/88881583" /><param name="wmode" value="transparent" /><param name="allowfullscreen" value="true" /><param name="allowscriptaccess" value="always" /><embed src="http://current.com/e/88881583" type="application/x-shockwave-flash" width="400" height="400" wmode="transparent" allowfullscreen="true" allowscriptaccess="always"/></object>diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-26031284139346632212008-04-27T00:17:00.004+00:002008-04-27T00:29:14.891+00:00Rock Technicolor<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://blitz.aeiou.pt/users/0/50/053c5a02.jpeg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://blitz.aeiou.pt/users/0/50/053c5a02.jpeg" border="0" alt="" /></a>Há quatro décadas que o mundo convive com a exploração de dimensões alternativas na música popular. O Rock Psicadélico impôs-se no período 67/68 como um sonho de expansão movido a LSD e electricidade e rendeu obras-primas que ainda hoje servem de referência. Dos Beatles e dos Jefferson Airplane até aos Stereolab e, mais recentemente, Radiohead, há uma linha que conduz até ao infinito e mais além. Texto: Rui Miguel Abreu<br /><br /><br />A indústria de nostalgia construída em torno dos anos 60, praticamente após o momento em que a utopia Beatles se dissolveu para dar origem à mais “negra” década de 70, nunca encaixou da melhor forma o facto de esse ter sido um período de intensa transformação e por isso perpetuou uma ilusão de harmonia que dava conta dos cabelos compridos, da música melodiosa, do pacifismo, do amor e da realidade multicolor, mas esquecia os abismos de feedback, as drogas, os confrontos com a polícia e vias políticas mais radicais. Na verdade, não houve uma década de 60, mas várias. E uma das mais interessantes é a que assistiu ao nascimento do movimento Psicadélico que registou o seu maior impacto no rock, mas que soube alastrar-se igualmente até ao jazz e à soul e a todos os outros géneros que lograram olhar para dentro antes de se lançarem para fora. <br />Em 1968, ao escrever sobre a histórica Convenção Nacional Democrata de Chicago, o poeta Allen Ginsberg confessava que o seu país o fazia sentir-se “num beco sem saída”. Os assassinatos de Martin Luther King, Jr e de “Bobby” Kennedy, em Abril e Junho, respectivamente, tinham deixado a América em estado de choque e a Convenção Democrata era vista como uma derradeira esperança para acalmar uma nação imersa em protestos e a contas com uma guerra no outro lado do mundo. Mas a Convenção terminou em violentos confrontos com a polícia, muitos deles liderados pelo notório activista anti-Vietname Abbie Hoffman, fundador dos Yippies (membros do Youth International Party). Um dos mais publicitados gestos de Hoffman foi a sua tentativa de reunir 50 mil pessoas em 1967 para através da energia psíquica fazer levitar o Pentágono e terminar a guerra no Vietname. Dois anos depois, porém, Hoffman conseguiu pelo menos arrancar um “fuck you” de Pete Townshend quando interrompeu o concerto dos The Who em Woodstock para protestar contra a prisão de John Sinclair, manager dos MC5 e líder do White Panther Party. <br />A CIA, bastante activa nesta época com o programa Cointelpro desenhado para desmantelar grupos organizados como os Black Panthers ou para perseguir intelectuais “subversivos” como o escritor negro LeRoi Jones ou até mesmo Allen Ginsberg – que escreveu que enquanto tudo isto se passava J. Edgar Hoover almoçava regular e tranquilamente com membros da Máfia em Nova Iorque… –, prendeu Sinclair por este ter passado dois “charros” de marijuana a agentes sob disfarce. Isto levou a enormes protestos na Crisler Arena de Ann Arbor em 1971 onde figuras como John Lennon, Bob Seeger, Stevie Wonder e Archie Shepp se reuniram para exigir a libertação do homem que levou os MC5 a darem um concerto livre em frente ao local onde se realizou a Convenção Democrata de Chicago. Sinclair tinha fortes ligações à música – John Drake, dos Amboy Dukes (grupo compilado na definitiva Nuggets: Original Artyfacts From The First Psychedelic Era, 1965-1968), escreveu o clássico “Journey To The Center of the Mind” sob o efeito de LSD fornecido pelo manager dos MC5. Para se ter acesso a essa droga, mesmo em 68, havia que ter ligações: “tinhas que conhecer alguém que conhecesse alguém para chegares até ao ácido. O alguém que eu conhecia era o John Sinclair,” recordou Drake quando entrevistado por Jim Derogatis, autor de “Kaleidoscope Eyes: Psychedelic Music From The 1960s to the 1990s”.<br /><br />LSD<br /><br />A Dietilamida do Ácido Lisérgico, ou LSD, é uma substância que foi sintetizada em laboratório pela primeira vez por Albert Hofmann, um cientista suíço que a 19 de Abril de 1943 resolveu experimentar 250 microgramas do seu próprio produto antes de se dirigir a casa de bicicleta, o único meio de transporte disponível na época da guerra. Depois do que se poderá descrever como uma viagem alucinante, o investigador chegou a casa e anotou os efeitos da droga: “Pouco a pouco comecei a apreciar as cores improváveis e as formas que persistiam por trás dos meus olhos fechados. Imagens fantásticas e caleidoscópicas surgiram em mim, explodindo em fontes coloridas.” A viagem de bicileta de Hofmann entrou para o folclore pop graças a temas de gente como os Beach Boys (“I Just Wasn’t Made For These Times”), Pink Floyd (“Bike”) e Tomorrow (“My White Bicycle”).<br />O primeiro vector de disseminação do LSD foi puramente académico, com artigos em revistas de psiquiatria a chamarem a atenção de escritores como Aldous Huxley, o homem de “Admirável Mundo Novo” e “As Portas da Percepção”, este último o livro que deu nome aos Doors de Jim Morrison. Não demorou para o LSD chegar à Califórnia: o psiquiatra Oscar Janiger e o filósofo Alan Watts começaram a testar os efeitos da droga – um dos pintores a quem Janiger deu LSD afirmou que a experiência teve o mesmo efeito que 4 anos na escola de arte. A elite de LA apressou-se a bater à porta do doutor: Anais Nin, Jack Nicholson, James Coburn, Cary Grant e até o maestro André Previn estão entre os notáveis que, de acordo com Jim Derogatis, sentiram no espírito os efeitos do LSD. Timothy Leary não tardaria também a experimentar o químico, colocando Harvard no mapa. As universidades revelaram-se mesmo pólos fundamentais para a divulgação do fármaco – Ken Kesey, mentor dos Merry Pranksters que haveriam de promover os famosíssimos “Acid Tests, descobriu o LSD como voluntário em experiências promovidas pela CIA na universidade de Stanford. Na rota de disseminação do ácido lisérgico seguiu-se Nova Iorque, cidade com uma extremamente activa cena underground de poetas beat e músicos folk desejosos de alargar a sua visão interior. Peter Stampfel, dos Holy Modal Rounders do Lower East Side de Nova Iorque, era um desses músicos. O seu tema “Hesitation Blues”, de 1963, é supostamente o primeiro a mencionar a palavra “psychedelic”! No ano seguinte, Bob Dylan cantava em “Mr. Tambourine Man” “take me for a trip upon your magic swirling ship…”. Os tempos estavam a mudar.<br /><br />Acid Tests<br /><br />Em 1964, a América aguardava ansiosamente algo que a subtraísse ao torpor em que os benefícios económicos do Plano Marshall a haviam mergulhado: carros luxuosos, casas nos subúrbios, aparelhagens com som estereofónico e filhos suficientes para darem origem a um baby boom e a um novo mercado feito de adolescentes que ajudou a propagar o rock and roll. A televisão ainda era a preto e branco, tal como a sociedade e, de certa forma, a música: os concertos tinham lugar em teatros, de luzes bem acesas para se ver o palco e as canções tinham que valer por si mesmas – sem adereços de qualquer espécie. A British Invasion liderada pelos Beatles teve o mérito de mostrar à América que o mundo tinha avançado para lá de 1959, mas nada fez para mudar a forma como a música era apresentada aos baby boomers.<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.bookofjoe.com/images/2007/06/23/koolaid_1stused_front.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.bookofjoe.com/images/2007/06/23/koolaid_1stused_front.jpg" border="0" alt="" /></a>Em 1968, Tom Wolfe, arauto do New Journalism, publicou o livro “The Electric Kool-aid Acid Test”, que Gus Van Sant vai agora adaptar ao cinema (ver caixa). Nesta obra, o autor de “A Fogueira das Vaidades” descrevia as festas promovidas pelos Merry Pranksters de Ken Kesey, que era uma verdadeira celebridade na América graças ao sucesso de “Voando Sobre um Ninho de Cucos”, a sua primeira novela inspirada na experiência como cobaia nos testes de LSD em Stanford. “Começou como uma festa,” escreveu Wolfe sobre o primeiro Acid Test, de 1965, “com filmes projectados nas paredes e luzes e fitas e os Pranksters a fornecerem eles mesmo a música, e isto para não mencionar o LSD.” Algures entre o primeiro Acid Test e a edição do álbum de estreia dos Grateful Dead em 1967 – eram eles a banda residente nas festas de Ken Kesey – nasceu o rock psicadélico e o concerto de rock moderno, autêntico happening de imersão total num mundo de som, imagem, cor e volume. Alguém tinha, finalmente, apagado as luzes da sala para acender as do espírito.<br /><br />Beatles & Beach Boys<br /><br />Brian Wilson experimentou LSD pela primeira vez em 1965. O ácido chegou-lhe às mãos através de Augustus Stanley que nesta altura operava o primeiro laboratório “caseiro” de fabrico deste químico quando não estava ocupado a tratar do som ao vivo dos Grateful Dead. “As minhas ‘trips’ levaram-me até às portas da consciência e depois para o outro lado,” escreveu o líder dos Beach Boys em “Wouldn’t It Be Nice”. A fragilidade emocional e psíquica de Brian Wilson foi bem documentada ao longo da história: nesta época, o cantor acreditava que o futuro da pop passava pelas suas criações e pelas dos Beatles, com quem mantinha uma relação simultânea de admiração profunda e competição cerrada. Depois de ouvir Rubber Soul, Wilson colocou a fasquia muito alta e resolveu deixar de acompanhar a sua banda ao vivo para se concentrar no trabalho de estúdio.<br />Até “I Want to Hold Your Hand”, de 1964, os Beatles e praticamente todos os outros grupos musicais gravavam ao vivo em gravadores de duas pistas. Quando Brian Wilson entrou em estúdio para gravar Pet Sounds a tecnologia já tinha evoluído bastante e o líder dos Beach Boys tinha à sua disposição gravadores de quatro e oito pistas. As bases instrumentais de Pet Sounds foram todas gravadas ao vivo no gravador de 4 pistas e depois misturadas para uma única pista do gravador maior. Nas sete pistas restantes, Wilson gravou as vozes dos seus companheiros e pormenores adicionais que ajudassem a realizar a sua visão de “sinfonias de bolso”. <br />Com efeitos de “reverb” e “phasing”, instrumentos electrónicos primitivos como o theremin (usado em “Good Vibrations”) e a possibilidade de manipular a fita de acordo com experiências já realizadas no âmbito da escola francesa de música concreta ou nos laboratórios da BBC por pioneiros como Delia Derbyshire, os músicos tinham finalmente a possibilidade de duplicar os efeitos provocados pela ingestão de LSD e manipular as noções de tempo e espaço em música, transformando o estúdio na mais fundamental das ferramentas de criação.<br />Os Beatles, no álbum Revolver, editado apenas 3 meses depois de Pet Sounds, em Agosto de 66, também mergulharam declaradamente no oceano psicadélico que se estendia à sua frente. John Lennon tinha experimentado LSD pela primeira vez no final de 1965, usando inclusivamente o manual correcto para isso – “The Psychedelic Experience”, o livro que Tomothy Leary tinha elaborado como um guia para a abertura das portas da percepção a partir do “Livro Tibetano dos Mortos”. Meses mais tarde, Lennon escreveu “Tomorrow Never Knows” inspirado directamente nessa “viagem”, usando até várias frases do livro de Leary na letra desse tema.<br />Menos de um ano depois, os Beatles editariam Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, álbum conceptual onde o estúdio – e já não o palco – se assume como central no processo de criação. Canções como “Lucy in the Sky with Diamonds” (LSD…) ou “A Day in the Life” mostram claramente que os Beatles abraçaram a experiência psicadélica, inclusivamente levando-os a perder a imagem de “bons rapazes” quando começaram a atirar com frases como “o LSD abriu-me os olhos” para uma imprensa sedenta de escândalo. Ainda assim, havia também outra imprensa que não lhes poupava elogios: o crítico Langdon Winner, citado por Greil Marcus, escreveu que “o mais próximo que a Civilização Ocidental esteve da unidade depois do Congresso de Viena em 1815 foi na semana em que Sgt Pepper’s foi editado. Em todas as cidades da Europa e da América as aparelhagens e a rádio tocavam… e toda a gente ouviu.”<br /><br />São Francisco<br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.beatmuseum.org/ginsberg/images/ginsbrg1.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.beatmuseum.org/ginsberg/images/ginsbrg1.jpg" border="0" alt="" /></a>É na cidade de São Francisco que se deve procurar o epicentro do terramoto psicadélico. Por um conjunto alargado de razões – incluindo rendas baixas na zona delimitada pela rua Haight e a avenida Ashbury, locais para tocar como o clube The Matrix, pertença de Marty Nalin dos Jefferson Airplane, ou velhos salões de baile como o Avalon e o Fillmore e uma atmosfera permeável à extravagância – esta cidade revelou ser o perfeito viveiro para uma geração de bandas que entendia que o rock podia e devia ser transformado.<br />Uma das mais notórias bandas de São Francisco, os Jefferson Airplane, emergiu do circuito folk da cidade e cedo aderiu ao caderno de estilo psicadélico procurando influências vindas de fora da esfera rock – como a música indiana e a literatura de Lewis Carroll, por exemplo. Foi com a entrada da antiga vocalista dos Great Society, Grace Slick, que o grupo adquiriu notoriedade. Canções como “White Rabbit” e “Somebody to Love” levaram os Jefferson Aiplane até às capas da Newsweek e da Time, revistas que na época procuravam os novos símbolos para a geração do “Verão do Amor”. E de repente, “psychedelic” era uma palavra usada pela América suburbana.<br />Apesar da notoriedade dos Jefferson Airplane, São Francisco era suficientemente grande para albergar outras bandas com propostas musicais bem diferentes. Os Greateful Dead cresceram nos Acid Tests e transformam-se num grupo que a partir dos blues partia para intensas sessões de improviso e criação onde o jazz, o rock, a erudição de Stockhausen, o country e o LSD eram sempre ingredientes activos. <br />Os Dead, juntamente com os Jefferson Airplane e os Quicksilver Messenger Service, estiveram entre as bandas de rock que animaram o histórico Human Be-In, um evento que teve lugar em14 de Janeiro de 67 para reagir contra a lei de proibição de consumo de LSD promulgada uns meses antes. No Golden Gate Park de São Francisco congregaram-se as tribos, como se referia na capa do primeiro número do San Francisco Oracle, importante veículo de contracultura impresso entre 66 e 68 em Haight-Ashbury, e além dos grupos de rock subiram também ao palco poetas como Allen Ginsberg e agitadores como Timothy Leary que no seu discurso proferiu a famosa frase “Turn on, tune in, drop out” que se tornaria num dos mais duráveis símbolos “destes” anos 60.<br /><br />Nuggets<br /><br />Como em todas as coisas, um pouco de perspectiva beneficia sempre qualquer olhar. E foi com uma distância confortável que em 1972 a Elektra, etiqueta do grupo Warner, editou a crucial compilação Nuggets: Original Artyfacts From The First Psychedelic Era, 1965-1968. Organizada por Jac Holzman, fundador da Elektra, e por Lenny Kaye (mais tarde guitarrista de Patty Smith e produtor de renome com trabalhos de Suzanne Veja ou Kristin Hersh no seu currículo), essa compilação revelou ser extremamente influente e até visionária: uma das primeiras vezes que o termo “punk rock” foi utilizado foi precisamente nas notas de capa assinadas por Kaye. No entanto, a geração agregada em Nuggets era significativamente diferente daquela que a partir de São Francisco perseguia os efeitos hipnóticos do LSD nas suas canções. “Essas bandas estavam mais viciadas no pedal Gibson Fuzztone, o primeiro Fuzztone que saiu, do que em qualquer droga,” afirmou Kaye ao autor de “Kaleidoscope Eyes”. “A menos que se vivesse em Nova Iorque ou San Francisco, duvido que se conseguisse ter acesso a LSD. Muito daquilo era apenas desejo. Isso é que fazia aquelas bandas serem maravilhosas – havia milhões delas e se elas fossem ouvidas a 5 quarteirões de distância isso de certa maneira estragaria o que estavam a fazer.”<br />Tal como os inúmeros grupos de funk que cresceram na sombra de James Brown e que só mais tarde viram a sua validade assegurada nas compilações que os recuperaram, também esta geração psicadélica precisou de tempo para se revelar. No entanto, nem todos os grupos compilados em Nuggets eram obscuros: os Electric Prunes, os Standells ou os Count Five (cujo hit “Psychotic Reaction” serviu de título a uma antologia de textos de Lester Bangs) chegaram perto dos lugares cimeiros da Billboard. Mas o impacto maior destes grupos foi registado nas gerações seguintes e na influência que surtiram sobre a escola punk, sobretudo a americana. A primeira edição em 72 e a segunda em 76 surgiram no timing certo para marcar todos os que a partir dos Ramones investiram na arte das canções com dois acordes.<br /><br />Psych UK<br /><br />A explosão pop em Inglaterra liderada pelos Beatles e Rolling Stones teve como consequência directa uma abertura enorme nos clubes e editoras e por isso muita música realmente desafiante foi lançada nessa época. Donovan, considerado por muitos como a resposta britânica a Bob Dylan, é um dos mais interessantes exemplos de psicadelismo em terras de Sua Majestade: “Sunshine Superman”, “Mellow Yellow” (tema que incluía arranjos de John Paul Jones e vozes sussuradas de Paul McCartney) e, sobretudo, “Hurdy Gurdy Man” (resposta a “Mr. Tambourine Man” de Dylan com a colaboração de Jimmy Page e John Bonham que estavam prestes a formar os Led Zeppelin com John Paul Jones) são destaques numa carreira que se revelaria demasiado curta. Donovan era originário da cena folk britânica – onde militavam artistas como Bert Jansch, Nick Drake, Fairport Convention ou a Incredible String Band – um dos pilares da imposição do psicadelismo no Reino Unido (tal como tinha acontecido também nos Estados Unidos). O outro pilar fundamental da primeira geração psicadélica britânica foi, sem dúvida, o clube UFO.<br />Fundado por Joe Boyd, produtor americano que ajudou a impor várias carreiras notórias na cena folk-rock britânica (incluindo as de Nick Drake e Richard Thompson), e pelo fotógrafo e jornalista inglês John Hopkins, o clube UFO operava na cave do número 31 de Tottenham Court Road e rapidamente se afirmou como ponto de passagem obrigatório no circuito underground de Londres da segunda metade dos anos 60. Os Pink Floyd foram a primeira banda contratada para actuar no clube UFO e o seu impacto foi tremendo. Neste clube, a música combinava-se com a projecção de filmes experimentais, slides, shows de luzes, bailarinos e o que mais fosse possível encaixar no espaço de forma a fazer de cada noite um evento único. Os Pink Floyd rapidamente cresceram para lá dos limites do clube, mas outras bandas como os Tomorrow, <br />The Crazy World of Arthur Brown, Procol Harum e os Soft Machine de Kevin Ayers e Robert Wyatt forneceram a dose de rock psicadélico necessária para manter o clube a funcionar.<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.beatbooks.com/beatbooks/images/items/18573.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.beatbooks.com/beatbooks/images/items/18573.jpg" border="0" alt="" /></a>Em 29 de Abril de 1967, John Hopkins foi também um dos organizadores do equivalente britânico do Human Be-In, o 14 Hour Technicolour Dream. Tratou-se de um evento desenhado para recolher fundos para o International Times (jornal da contracultura londrina) em que participaram os Pink Floyd, Yoko Ono, John Lennon, Soft Machine e The Pretty Things, entre vários outros nomes de relevo. Esse acontecimento está parcialmente documentado no filme “Tonite Let’s All Make Love in London” de Peter Whitehead, outro dos artefactos históricos da era psicadélica.<br />Tal como nos Estados Unidos, também em Inglaterra os ventos psicadélicos sopraram mais fortes entre 1967 e 1968, com bandas de topo como os Rolling Stones, os Cream e a Jimi Hendrix Experience a contribuírem também com trabalhos decisivos para o legado psicadélico.<br /><br />Psych Now<br /><br />Sendo a “primeira era” do rock psicadélico o produto da conjugação de circunstâncias – políticas, históricas, sociais, estéticas, etc – tão específicas, será possível ver esse psicadelismo na música actual? Obviamente que sim. Jim Derogatis estendeu a visão de “Kaleidoscope Eyes” até aos anos 90 (o livro foi originalmente editado em 1996), identificando herdeiros da chama psicadélica no Krautrock dos anos 70 (Amon Düül I e II, Ash Ra Tempel, Can, Neu), nos pioneiros da electrónica (Beaver and Krause), no Bowie da fase berlinense, no John Cale da década de 70, no P-Funk de Bootsy e dos Funkadelic, no rock alternativo dos anos 80 e 90 (Butthole Surfers, Cocteau Twins, Julian Cope, Dinosaur Jr, Feelies, Dream Academy, Dream Syndicate, Hugo Largo, Mercury Ver, Low), na cena Madchester (The Charlatans), no britpop (Blur e Oasis), no Hip Hop (De La Soul, Digable Planets, PM Dawn) e na nascente cena de dança erguida em torno da cultura rave (The Aphex Twin, Orbital, Orb, Irresistible Force, Moby). A sua “selected psychedelic rock discography” é suficientemente abrangente e generosa para citar ainda os R.E.M., Prince, as Bangles, os Big Star, Peter Gabriel, Flaming Lips e os Jesus and Mary Chain, entre outros. Se Derogatis editasse agora uma versão “revista e aumentada” do seu livro, certamente não deixaria de incluir a nova geração folk de gente como Devendra Banhart, Sufjan Stevens, James Yorkston ou Tuung. E certamente também seria capaz de ver na música dos Radiohead, Black Angels, Map of Africa ou Six Organs of Admittance uma intemporal marca psicadélica. Quando o rock procura novas texturas, estruturas e atitudes, quando os arranjos se abrem ao estranho e ao exótico, quando os mundos desenhados são mais interiores do que exteriores é sempre possível adivinhar-lhe algo de psicadélico. <br />Na introdução de “Kaleidoscope Eyes”, Jim Derogatis escreveu que em plena época da explosão punk Lester Bangs desenhou uma linha que ligava os três acordes e a atitude enérgica de “La Bamba” de Ritchie Valens a “Louie Louie” dos Kingsmen, “No Fun” dos Stooges e “Blitzkrieg Bop” dos Ramones. Uma visão panorâmica do psicadelismo é igualmente possível, como defendeu Derogatis enquanto apontava uma linha que liga “o drone hipnótico dos Velvet Underground ao confuso remoinho dos My Bloody Valentine; as experiências artísticas dos Beatles aos fluidos e estranhos samples dos PM Dawn; a demência dos 13th Floor Elevators à loucura grungy dos Flaming Lips; e os sons e imagens dos Acid Tests de Ken Kesey às raves dos anos 90.” Acrescente-se agora que essa linha também pode ligar a singular marcação rítmica do Donovan de Hurdy Gurdy Man ao DJ Shadow de Endtroducing.<br />Como é óbvio, hoje as portas da percepção continuam abertas e há sempre quem queira passar para o lado de lá e fazer música que acompanhe a experiência. Mais do que um som, o psicadelismo traduz uma atitude de permanente curiosidade e descoberta por esse mundo caleidoscópico que se transforma permanentemente em frente dos nossos olhos. Mesmo quando os temos fechados. Há portanto quatro intensas décadas de psicadelismo para explorar. Façam uma boa viagem.<br /><br /><br /><span style="font-style:italic;">Texto publicado originalmente na revista <a href="http://www.blitz.pt">BLITZ</a></span>diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-38719516486041508972008-04-24T02:49:00.007+00:002008-04-24T03:22:56.828+00:00O ritmo da vida de James MasonHá discos que encontramos sem querer. Estão nas feiras, nas lojas, são oferecidos por amigos. Outros temos mesmo que os procurar porque não aparecem. "<strong>Rhythm of life</strong>" de <strong>James Mason</strong> é disco que ajuda a provar a lei da oferta e da procura (pouca oferta, muita procura - preço sobe). A procura surge porque "Rhythm of life" bebe da mesma água jazzfunk de que <strong>Roy Ayers</strong> é quase fonte. Não é à toa que o mago do vibrafone é a última pessoa a quem Mason agradece neste seu único trabalho a solo. Ouvido o disco, percebe-se que é apoiado na visão de Ayers que "Rhythm of life" se alicerça. Também é óbvia a influência de Ayers na composição quando Mason faz parte dos <strong>Ubiquity</strong>, participando da primeira fila em clássicos como "Running away", tema que, sozinho, já é um tratado de jazzfunk.<br /><br />Mason, no entanto, sabe percorrer caminho por si só. Menos polidos, menos redondos que as obras perfeitas de Ayers (e de certeza que o orçamento em estúdio era bem diferente numa <strong>Chiaroscuro</strong> que numa <strong>Polydor</strong>), os temas de "Rhythm of life" têm, no entanto, estrutura sólida e um trabalho de groove camada sobre camada absolutamente incrível que encontra nessa rugosidade de som um insólito aliado. E toda a gente sabe que ouvir funk gravado num estúdio de topo nunca soa como o funk deve soar. Pelo menos Mason sabia.<br /><br /><object width="425" height="355"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/3_BQLsiZp80&hl=en"></param><param name="wmode" value="transparent"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/3_BQLsiZp80&hl=en" type="application/x-shockwave-flash" wmode="transparent" width="425" height="355"></embed></object><br /><br /><strong>James Mason - Sweet power you embrace</strong>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-88895916082158928652008-04-15T22:51:00.006+00:002008-04-15T23:11:00.912+00:00Universal TechnoCom todo o realce que a maneira de olhar para a música de dança que os pioneiros de Detroit (não só a Santíssima Trindade de Juan Atkins, Derrick May e Kevin Saunderson) tem tido, principalmente desde o Verão do ano passado, a história não contada do que é Detroit e da sua influência nos sons de hoje são, sem dúvida nenhuma, algo que complementa toda a percepção da música. <br /><br />Este documentário, realizado por uma estação francesa de televisão, ajuda a perceber quem são as pessoas por trás do género. Como chegaram onde chegaram e porque é que chegaram onde chegaram. Detroit por si só é resposta, como diz Juan Atkins, tal como uma Detroit diferente foi provavelmente resposta para Berry Gordy e a sua Motown. Mas alarga o espectro para incluir testemunhos de gente como os Autechre, que são ingleses, e o japonês Ken Ishii sobre a maneira como o som de Detroit os influenciou.<br /><br /><object width="425" height="355"><param name="movie"value="http://www.youtube.com/v/RSX_r0u3uzE&hl=en"></param><param name="wmode"value="transparent"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/RSX_r0u3uzE&hl=en" type="application/x-shockwave-flash" wmode="transparent" width="425" height="355"></embed></object><br />Universal Techno pt. 1 - Juan Atkins e Derrick May<br /><br /><object width="425" height="355"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/MHsCGRP6dtM&hl=en"></param><param name="wmode" value="transparent"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/MHsCGRP6dtM&hl=en" type="application/x-shockwave-flash" wmode="transparent" width="425" height="355"></embed></object><br />Universal Techno pt. 2 - Kevin Saunderson e Derrick May<br /><br /><object width="425" height="355"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/sukNJwO94UY&hl=en"></param><param name="wmode" value="transparent"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/sukNJwO94UY&hl=en" type="application/x-shockwave-flash" wmode="transparent" width="425" height="355"></embed></object><br />Universal Techno pt. 3 - Jeff Mills, Derrick May e Ken Ishii<br /><br /><object width="425" height="355"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/JYD_7etGCrQ&hl=en"></param><param name="wmode" value="transparent"></param><embed src="http://www.youtube.com/v/JYD_7etGCrQ&hl=en" type="application/x-shockwave-flash" wmode="transparent" width="425" height="355"></embed></object><br />Universal Techno pt. 4 - Autechre, Mad Mike e Kenny LarkinUnknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-70571694994038965762008-04-13T20:47:00.002+00:002008-04-13T21:04:34.712+00:00Tim Sweeney: o homem do Beats In Space<a href="http://www.beatsinspace.net/Tim%20Sweeney-web.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.beatsinspace.net/Tim%20Sweeney-web.jpg" border="0" alt="" /></a>O <strong>Beats in Space</strong>, programa que <strong>Tim Sweeney</strong> mantém na WNYU (89.1FM, para os que se encontrarem na Grande Maçã) e que o planeta pode sintonizar em <a href="http://www.beatsinspace.net">www.beatsinspace.net</a>, é um marco incontornável da modernidade electrónica. Desde 1999 que Sweeney explora os territórios mais entusiasmantes da música pop contemporânea. O facto de no site já mencionado, Tim manter arquivados não apenas o áudio, mas igualmente as playlists de cada uma das emissões dá bem conta do messiânico trabalho de amor que suporta o Beats In Space.<br />Em Dezembro de 99, quem tivesse sintonizado a WNYU numa terça à noite teria descoberto um apresentador tímido e reservado, mas com uma paixão pela música suficientemente generosa para incluir Tom Zé, Dj Krush, Goldie, Steve Reich e as aventuras dos Global Communication de Mark Pritchard e Tom Middleton. Fast forward para finais de Fevereiro de 2008 e a sede de descoberta parece manter-se inalterada: Chaz Jankel, edits de Pilooski para Del Shannon e guest mixes de Mark Seven e Márcio Vermelho. A quantidade de informação incluída no site Beats in Space e o notório empenho em descobrir em cada momento os mais relevantes Djs para as suas guest mixes – de Trevor Jackson e Kieran “Four Tet” Hebden até Nitedog, Lovefingers, In Flagranti e Dj Kent (para manter a amostra limitada a 2008…) – não significam que a dedicação de Tim Sweeney a Beats In Space seja exclusiva. Além de aceitar convites como o do Lux para trazer a sua colecção de discos até algumas das melhores cabines de DJ do mundo, Tim tem igualmente uma intensa ligação à DFA de James Murphy e Tim Goldsworthy. E produz bandas sonoras para alguns jogos de computador, como o Grand Theft Auto: San Andreas. Tim mantem-se ocupado. Mas isso acontece porque procura constantemente desafios.<br />Quando chegou a Nova em 1999 para estudar Tecnologia Musical na famosa NYU, Tim não demorou muito a propor um programa de rádio, que arrancou primeiro no emissor de Onda Média da universidade e só dois anos depois foi “promovido” à frequência de FM onde ainda se encontra. Uma das primeiras pesoas que Tim Sweeney conheceu em Nova Iorque foi Steinski, verdadeira lenda da estética cut n’ paste e autor, com Double Dee das míticas “Lessons”. Naturalmente (em Nova Iorque estas coisas são naturais…), Tim conseguiu um estágio no estúdio de Steinski (onde se produz muita publicidade) e dedicou-se a fundo a analisar a sua monstruosa colecção de discos. Em 2002, Tim Sweeney era uma espécie de DJ oficial de Double Dee & Steinski e nessa qualidade conseguiu uma primeira parte de DJ Shadow no Roseland Ballroom (a mesma sala em que os Portishead gravaram o seu álbum ao vivo).<br />Passo seguinte: conseguir uma residência num bar. Isso aconteceu no The Plant, onde um dia Tim entregou uma das suas mixes. Do outro lado do balcão estava Luke Jenner (“everybody’s got to make a living…” como dizia Kool G Rap), dos The Rapture, que apresentaria Tim aos cabecilhas da DFA. Estágio seguinte: Plantain Studios, onde Tim Goldsworthy e James Murphy estavam a reinventar o futuro à imagem da DFA. Daí a colocar o saxofone na remistura DFA para “Dance to The Underground” dos Rádio 4 ou a misturar o catálogo da DFA a pedido da revista Muzik foi apenas um passo (talvez dois…).<br />Um sete polegadas auto-editado (assinado pelos Spaceman e com capas feitas à mão!), beats no álbum de regresso do mutante Rammellzee, “The Bi-Conicals…”, e um maxi com re-edits de Munich Machine e Boney M (assinado como The Flying Squad) são outras pistas para se entender um universo pontuado por diferentes referências – hip hop, punk-funk, disco – que, como aquele que o Hubble observa, se encontra ainda em expansão. O ano passado, em entrevista a Zé António Moura para a Blah Blah Blah, Tim Sweeney tinha revelado uma personalidade entusiasmada (e entusiasmante) pelas possibilidades permanentemente em aberto no mundo da música. Tim afirmava que os seus programas de rádio vivem muito do improviso e da música nova que vai comprando em cada dia. Os seus sets são pensados da mesma forma: ao sabor de cada momento, erguidos em torno daqueles discos que descobertos há 5 minutos parecem ter-nos feito falta toda a vida. Os Beats no Espaço de Tim são os que fazem a música ser ainda terreno priveligiado de ideias, de criação e de inconformismo. Sintonizem-se com ele em www.beatsinspace.net ou então na pista do Lux. E, naturalmente, perceberão que a paixão é uma coisa contagiante.<br /><br /><em>Texto escrito para a revista Blah Blah Blah do Lux a propósito da recente visita de Tim a Lisboa.</em>diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-66571182494307732282008-03-26T10:58:00.002+00:002008-03-26T11:39:37.996+00:00DJ Shadow + Cut Chemist: Hard Sell em Madrid<a href="http://img.photobucket.com/albums/v354/dabreakz/hardsell.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://img.photobucket.com/albums/v354/dabreakz/hardsell.jpg" border="0" alt="" /></a>Depois de uma tarde de diggin' com <strong>Mr. Cookie</strong>, <strong>Nery</strong> e <strong>X-Acto</strong>, uma longa caminhada deixou-nos à porta do <strong>La Riviera</strong>, um clube que já deve ter visto melhores dias (parece um sobrevivente da era das danceterias que não sofre obras desde a inauguração), mas que se encheu (estariam lá umas 2 mil pessoas...) para receber <strong>Kid Koala</strong>, <strong>DJ Shadow</strong> e <strong>Cut Chemist</strong>.<br />Tirando um anúncio numa das muitas revistas gratuitas que existem por toda a Madrid (talvez na Go) nada indicava que o espectáculo <strong>Hard Sell</strong> ia passar pela capital espanhola - não vi um único cartaz, nem sequer nas lojas de discos, a anunciar o evento. E no entanto, havia um guichet só para os compradores internacfionais de bilhetes (deviam ser bastantes). A palavra, obviamente, chegou a quem devia ter chegado.<br />As "operações" começaram às 20:45 (!!!), com a actuação de <strong>Kid Koala</strong>. E que actuação: em 3 giradiscos (no final usou ainda um quarto), e sem efeitos ou pedais, Koala deu uma lição na arte de manipulação sem rede, pleno de bom gosto, dispensando mesmo os beats numa tocante versão de "Moon River".<br />A noite, no entanto, era de Shadow e Chemist. Depois de um <a href="http://www.youtube.com/watch?v=je1QjRbDu1E">filme de introdução</a> da autoria de <a href="http://www.holofonic.com/">Ben Stokes</a>, a viagem começou: só com 45s, com 8 giradiscos, efeitos e pedais de loops, Shadow e Chemist desenharam um novo mapa para se guiarem. Esta dupla já tinha mostrado o que pode fazer com uma boa colecção de 45s e muita imaginação em "Brainfreeze" e "Product Placement", mas "Hard Sell" é farinha de outro saco. Já não importa o funk e a raridade dos artefactos, mas sim a imposição de novos desafios - há segmentos de "Hard Sell" em que se percebe a procura de novos caminhos, nomeadamente quando encenam o que soa a um estudo sobre a essência do ritmo. Logo depois é a homenagem a pérolas Hip Hop de Pharcyde, Wu-Tang, Digable Planets e De La Soul que importa: descobrem-se os sampels originais e reconstroem-se os beats numa sentida homenagem, como se dissessem que mesmo não sabendo para onde caminham, nem Shadow nem Chemist esquecem de onde vêm.<br />O concerto (é disso que se trata também, a aproximação à dinâmica de um show de rock é por demais evidente) é uma espécie de montanha russa de emoções, que nos carrega até ao alto e nos deixa cair, num constante movimento entre estímulos diferentes: electro, country, doo wop, rock, funk, disco, Queen, Doors. Foo Fighters, Blur e Metallica... As referências são mais do que muitas. E o resultado é assombroso.<br />Para referência futura saí de lá com o DVD de "Hard Sell at the Hollywood Bowl", que vem acompanhado de um livro com muitas imagens e um longo texto de <a href="http://blogs.guardian.co.uk/arts/author/angus_batey/profile.html">Angus Batey</a>. De Madrid trouxe ainda vários discos (incluindo um álbum do português Fausto que não parecia conseguir encontrar por cá...!!!) e uma tonelada de revistas, incluindo a versão espanhola da Esquire com <strong>Barack Obama</strong> na capa...diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-81963421839488512272008-03-22T10:18:00.002+00:002008-03-22T10:23:57.806+00:00Rub-N-Tug: That Kind of Party<a href="http://www.losanjealous.com/wp-content/uploads/2006/11/rubntug.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.losanjealous.com/wp-content/uploads/2006/11/rubntug.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><strong>Eric Duncan</strong> e <strong>Thomas Bullock</strong> são <strong>Rub-N-Tug</strong>, herdeiros modernos de um espírito singular nascido no Loft de Nova Iorque. Autores de compilações de referência e culto crescente, Rub-N-Tug já deixou marca na música de gente tão diferente como Coldplay ou Beastie Boys. <br /><br /><br />David Mancuso inventou Nova Iorque no seu Loft, criando uma utopia com a alta definição das suas Klipschorn e uma cuidada selecção musical que privilegiava uma certa espiritualidade em detrimento da funcionalidade exigida pela pista de dança. Das festas Love Saves The Day de 1970 até aos dias de hoje vai muito mais do que a simples distância das décadas. O Disco pode ter beneficiado da visão de Mancuso, mas o gesto de Travolta simbolizou uma nova ordem de escala planetária que já não contemplava lugares de intimidade desarmante como o Loft. Depois do Paradise Garage, o Disco esmoreceu até que, a partir de Chicago e Detroit, outros pulsares redefiniram o mundo. Com o tempo, dançar a partir das escolhas de um DJ tornou-se no gesto em que se apoia toda uma indústria que debita mix-CDs e DJ-stars com a cadência própria de uma bem oleada linha de montagem. Nova Iorque passou a ser um lugar quase imaginado, preso à realidade por ideias isoladas, como o Body and Soul, que nunca negaram ter o Loft como miragem permanente.<br /><br />Eric Duncan e Thomas Bullock – Rub-N-Tug – não esqueceram essa Nova Iorque, mesmo não estando lá em 1970 a ajudar David a encher os balões que decoravam o Loft. <br /><br />"We're into having a party. Music and having a drink and a good time. Our friends and family in New York all kind of gathered about us when we started to play jams. The first Rub-N-Tug night was a loft jam at the AsFour Siver Cage - a crazy night with 40 cases of champagne on the fire escape, fights broke out while we scratched records. At one point T played the keyboard with his bare ass. You know that kind of party. That's how it started; may it continue as it began." – Rub-N-Tug<br /><br />Como muito bem explicou José António Moura no texto que assinou a propósito da passagem de Rub-N-Tug pelo Lux em 2007, as relações pessoais são o verdadeiro motor da ideia de Eric Duncan e Thomas Bullock, gesto revolucionário de regresso à essência numa época de calculadas associações. Mas tal como no Loft de Mancuso, que se impôs como uma festa privada que só aceitava novos frequentadores por convites directos de membros estabelecidos, a rede de relações Rub-N-Tug surgiu como uma forma de reinventar a cidade e de redescobrir a própria música.<br />O primeiro encontro de Eric e Thomas aconteceu em Los Angeles, mas a atracção da Big Apple era irremediável. Quebrando as regras e criando atalhos, Eric e Thomas rapidamente se encontraram num Loft (claro…) que antes havia sido um salão de massagens chinês, um… rub and tug. E as festas começaram a atrair as atenções de quem ainda procurava ecos da tal ideia perdida de Nova Iorque.<br /><br />Ao ignorarem o livro de estilo dos DJs modernos em “Campfire”, a colectânea com que Eric e Thomas alinharam pelo caminho redescoberto por Dj Harvey em 2001 (com a compilação “Sarcastic Disco”), Rub-N-Tug encenaram, de forma simbólica, um regresso à Nova Iorque primordial com a música e a atmosfera genuína construída pela tal rede pessoal de amizades a ocuparem o centro das atenções e das intenções. E voltou-se a pensar em Disco não como um género, mas como um verdadeiro lugar – uma pista – onde a música comanda as suas próprias ligações, de forma orgânica e sem necessidade da observação de códigos feitos de bpms ou de concordâncias estéticas: Aphrodite’s Child, Bronx Dogs, Patrick Adams, Cozy Powell e Daniel Wang… Diferentes épocas, géneros, nacionalidades… Diferentes. Descontínuos. Desligados. Errados. Mas absolutamente vibrantes, como se supõe que eram as festas Love Saves The Day.<br /><br />Uma passagem mais assumidamente “housy” pela série Fabric (número 30) não interrompeu a demanda singular de Rub-N-Tug que em “Better With a Spoonful of Leather” desacelerou o pulsar da pista até ao hipnótico balançar em gravidade zero preconizado por Beppe Loda e Daniele Baldelli. Em comum, a procura de uma abordagem distinta à arte de encadear discos em frente de pessoas.<br /><br />O ano passado e após uma longuíssima espera que gerou delirantes especulações, Thomas e DJ Harvey editaram um álbum na Whatever We Want. Map of Africa fantasia o Rock como Rub-N-Tug fantasia Nova Iorque. E de uma forma tão inteligente que se demarca de qualquer tentação revisionista. «Map of Africa», o LP, foi editado sem qualquer foto promocional da “banda”, sem qualquer entrevista ou vídeo-clip, sem um único concerto ou qualquer outra coisa que não a música. Rub-N-Tug também é assim: o melhor segredo que conhecemos, o melhor cartão de vista de uma Nova Iorque que não existe nos roteiros ou nas páginas das revistas. Só no centro da pista de dança, naquele preciso momento em que o disco certo sucede ao que nos parecia ser errado.<br /><br /><em>Texto publicado originalmente na revista Blah Blah Blah do Lux a propósito da última vinda de Rub-N-Tug a Portugal.</em>diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-28401490764430234772008-03-19T11:14:00.002+00:002008-03-19T11:28:08.153+00:00RBMA Taster: dia # 3<a href="http://www.newcenter.com/tastefest/2006/media/photos/PURE_DETROIT_STAGE/WAAJEED.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.newcenter.com/tastefest/2006/media/photos/PURE_DETROIT_STAGE/WAAJEED.jpg" border="0" alt="" /></a>O último dia do Taster da Red Bull Music Academy teve lugar no passado sábado, com um verdadeiro "Detroit Day": <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Juan_Atkins">Juan Atkins</a> e <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Waajeed">Waajeed</a> foram os lecturers convidados para fechar em beleza o último dia de actividades.<br />No sábado, depois de três dias de convívio muito próximo, os 50 convidados já estavam em velocidade de cruzeiro e o ambiente era fantástico: podia perceber-se no ar a densidade de criatividade, com todos os cantos ocupados com gente a fazer música, a passar música, a partilhar música, a ouvir, pensar e respirar música. Hip Hop, Dubstep, House, Techno, Reggae... eram muitas as coordenadas que se iam atravessando e o ambiente de pura vontade de realizar alguma coisa. Muito interessante.<br />Juan Atkins assinou a primeira das lectures desse dia. Visivelmente cansado (a agenda deste senhor é impressionante!), ainda assim revelou histórias interessantes sobre a época em que começou a fazer música, com meios ainda muito primitivos: a memória dos settings dos seus teclados analógicos era inexistente e por isso guardavam-se esses settings fotografando com polaroids os próprios sintetizadores! Atkins é obviamente uma lenda viva, um dos pioneiros da transformação de Detroit na meca electrónica que é hoje. os aplausos que recebeu foram, pois claro, mais do que mereceidos.<br />A lecture da tarde pertenceu a Waajeed, homem dos excelentes Platinum Pied Pipers (que estão a trabalhar num novo disco), patrão da <a href="http://bling47.com/index.cfm">Bling 47</a> e companheiro próximo de outras lendas de Detroit como os Slum Village e Jay Dee, o homem que lhe ofereceu a sua primeira MPC. Um dos momentos altos da comunicação de Waajeed foi aliás quando permitiu que a plateia ouvisse algumas das mensagens que Jay Dee lhe deixava no seu gravador de chamadas. Verdadeiramente comovente. Waajeed forneceu ainda muito material para consideração para todos os produtores na sala, falou de dedicação e disciplina, mostrou a sua visão do empreendedorismo e tocou muita música, incluindo beats onde a influência do techno de Detroit se faz sentir de forma muito óbvia.<br />No final, pode dizer-se que esta iniciativa da Red Bull Music Academy Portugal correu a 100 por cento e superou todas as expectativas: não só a organização foi exemplar, como a matéria prima seleccionada deixou claro que estamos todos no bom caminho. Venha a próxima etapa: estamos todos preparados.diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-73957961684849419332008-03-15T08:56:00.004+00:002008-03-15T09:20:27.273+00:00RBMA Taster: dia # 2<a href="http://img.photobucket.com/albums/v354/dabreakz/rbma.gif"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://img.photobucket.com/albums/v354/dabreakz/rbma.gif" border="0" alt="" /></a><br />Ontem decorreu a segunda etapa do <strong>Taster</strong> que a <strong>Red Bull Music Academy</strong> trouxe até Lisboa e que terminará hoje (com as presenças de <strong>Juan Atkins</strong> e <strong>Waajeed</strong> dos <strong>Platinum Pied Pipers</strong>). As palestras de ontem centraram-se em <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Arthur_Baker_%28musician%29">Arthur Baker</a> e <strong>Carlos do Carmo</strong>. Dois nomes muito diferentes, mas que estiveram no Taster para partilharem uma muito similar paixão pela música.<br />Arthur Baker, como sabem, é uma lenda viva. Este é o homem que fez clássicos como <a href="http://www.youtube.com/watch?v=9h6pcqC6wrI">Planet Rock</a>, <a href="http://www.youtube.com/watch?v=woWQSTufLxE">Walking on Sunshine</a> ou <a href="http://www.youtube.com/watch?v=pMqUMrH9kb8">I.O.U.</a> e que há muito conquistou um lugar na história da música. Trabalhou com <strong>Afrika Bambaataa</strong>, produziu <strong>Bob Dylan</strong> e os <strong>New Order</strong>, remisturou os <strong>Stones</strong> e <strong>Springsteen</strong>, enfim, a sua discografia é <a href="http://www.discogs.com/artist/Arthur+Baker">monumental</a>. Arthur Baker é um excelente comunicador e a sala bebeu atentamente das suas palavras e experiência!<br />A tarde foi marcada pela palestra de <strong>Carlos do Carmo</strong>, outra lenda viva e referência maior da cultura portuguesa. Carlos do Carmo é igualmente um excelente comunicador que partilhou a sua longa história com uma sala rendida desde o primeiro momento. Carlos do Carmo é uma das presenças mais notáveis no documentário "Lusofonia: a (R)Evolução" que a Red Bull Music Academy de Portugal produziu e é, claro, um homem de cabeça aberta que abraçou, por exemplo, a ética e a estética do sampling. Sam The Kid "usou" samples de Carlos do Carmo na sua homenagem a Carlos Paredes e o fadista soube aplaudir os resultados. E isso deixa muito claro qual a sua posição face a esta cultura.<br />O dia de ontem prolongou-se também até ao Music Box, com um programa que incluia o projecto Tuga All Stars e Juan Atkins. Puro luxo.<br />Hoje é a jornada final desta incrível experiência. Mais informação para breve!diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-5186449476847624122008-03-13T10:43:00.002+00:002008-03-13T10:57:14.019+00:00RBMA Taster arranca hoje em Lisboa<a href="http://www.timeout.com/newyork/resizeImage/htdocs/export_images/613/613.x600.clubs.op.jpg"><img style="float:left; margin:0 10px 10px 0;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.timeout.com/newyork/resizeImage/htdocs/export_images/613/613.x600.clubs.op.jpg" border="0" alt="" /></a>É verdade, hoje o <strong>Red Bull Music Academy Taster</strong> arranca em Lisboa! Serão três dias recheados de acontecimentos pensados para dar às pessoas uma ideia do que é o espírito RBMA em acção: isso significa convidados de peso internacionais - incluindo o mítico <strong>Juan Atkins</strong>, padrinho do Techno de Detroit! - dj sets e um ambiente que convida à partilha de ideias, experiências e saberes. Tudo mesmo no centro de Lisboa. Report por aui ao longo dos próximos dias. Este taster acontce também no momento em que arrancam as candidaturas mundiais para a próxima RBMA que este ano terá lugar em Barcelona, depois de ter aterrado em Toronto em 2007. Mais informação <a href="http://www.redbullmusicacademy.com/">aqui</a>.<br /><br /><a href="http://www.redbullmusicacademy.com/TUTORS.9.0.html"><strong>Tutors</strong></a> - Nesta página poderão ter uma ideia do impressionante arquivo de palestras dadas pelos tutores convidados pela RBMA ao longo de uma década de actividades!diggahttp://www.blogger.com/profile/11760091706457471000noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-24785637185215798212008-03-12T04:51:00.008+00:002008-03-12T18:07:16.169+00:00DJ Harvey em entrevista<p><span style="font-size:85%;"><em>nota do hitdabreakz<br /><br />esta entrevista foi conduzida pelo jornalista Andy Beta, resultante de um trabalho para a Spin Magazine e pode ser lida, no seu formato original, no <a href="http://andybetablog.blogspot.com/2008/02/dj-harvey-interview.html" TARGET="_blank" >blog do Andy</a>. Subentende-se pelo prólogo, que ou é a entrevista na sua totalidade, sem cortes, ou então aquilo que não coube na entrevista publicada. Pelo menos, é assim que a entendo mas quem tiver a edição original e me possa esclarecer a dúvida, força, a caixa de comentários é toda tua.</em></span><br /><br /><strong>DJ Harvey <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9QedItE2NOBXAO-hH4TAP6Tr0ETPZkkMWpY9vl0mFWnYeaz0EChkE9jgQCqOXaTXYuZB9G0N8wcK1aAA7FyseN4Cc0HMyoahCWYYOUGFwp31TLvLB8hr2SgVm28QdJ2jby9qb/s320/DJH.jpg"><img style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand" height="349" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9QedItE2NOBXAO-hH4TAP6Tr0ETPZkkMWpY9vl0mFWnYeaz0EChkE9jgQCqOXaTXYuZB9G0N8wcK1aAA7FyseN4Cc0HMyoahCWYYOUGFwp31TLvLB8hr2SgVm28QdJ2jby9qb/s320/DJH.jpg" border="0" /></a><br /></strong><span style="font-size:85%;"><em>por Andy Beta</em></span><br /><br /><em>A minha entrevista com o veterano DJ Harvey, que revitalizou a arte do reedit com os seus cruciais Black Cock Edits no início dos anos 90, foi, provavelmente, a maior vítima do apertar de espaço que a SPIN teve. Como ele é um punk rocker original, havia muita coisa falada sobre a relação entre o punk e o disco que não foram faladas na entrevista.<br /></em><br /><strong>Há ou não há um renascer do disco?</strong><br /><br />Nunca desapareceu. Nunca desapareceu, nunca parou. As pessoas estão é a ficar um pouco mais atentas à disco mas ela nunca foi a lado nenhum. É muito maior e melhor do que alguma vez foi.<br /><br /><strong>Há alguma história secreta, onde a disco aparece momentaneamente e depois volta para o underground?</strong><br /><br />Não, disco é só uma palavra grande para definir uma coisa : música de dança. É um nome que apanha tudo na música de dança. Mas continua com o teu raciocínio.Estou só a pensar em disco-edits, italodisco, space disco, as cenas baleáricas, um nome que apanha tudo, mesmo.<br /><br /><strong>Mas tu estás num plano onde olhas para estas coisas de maneira diferente, onde vês o que vem e vai de uma outra forma.</strong><br /><br />Não sei. A disco veio e nunca mais desapareceu. O Paradise Garage surge exactamente depois daquela queima de discos nos estádios de baseball a que chamaram a “morte do disco”. Exactamente quando devia ter desaparecido, explodiu.<br /><br /><strong>Já não sei com quem falei sobre as diferenças em 1977 entre o punk e a disco.</strong><br /><br />Não são iguais? (risos). Vindo de uma perspectiva hardcore… No Reino Unido, estavam mais alinhados mas os punks na América não gostavam de disco. E eu gosto de fazer a vida negra aos punks americanos. Ainda por cima, adoram dizer mal do punk inglês, especialmente na Califórnia. Como punks, nós adorávamos o disco, porque era suposto não gostares de disco.<br /><br />Como verdadeiro punk, tu deves fazer sempre o contrário daquilo que é esperado. Não quero bater mais no ceguinho (risos) em relação aos punks americanos porque eles sentem apaixonadamente tudo o que rodeia a sua cena mas para seres mesmo mesmo punk, tens de ser do contra. Se és punk em part-time, não és punk.<br /><br /><strong>É como seres guerreiro só aos fim de semana.</strong><br /><br />O punk é um estado de alma, como o disco. Estão até muito interligados, como expressão de liberdade através da dança e da maneira como te vestes.<br /><br /><strong>Tu eras baterista...</strong><br /><br />Fiz um disco em 1978 com uma banda punk chamada Ersatz.<br /><br /><strong>Vieste à América e descobriste as festas de hiphop, foi isso?</strong><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRNCnzg9zltK-Pw8j4g6Z2BfW1rzemGz2dL5qYnI6XV6tAhEzlaoXdpuKedfErzWYXlX4bk60WN4svGVH3betiiwn_vhzWcgeGvY6Pvs80kpRI4x9ZIu3gopQNp_FTDwNKdjPZ0A/s320/DSC03405.JPG"><img style="FLOAT: left; MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 266px; CURSOR: hand; HEIGHT: 235px" height="186" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRNCnzg9zltK-Pw8j4g6Z2BfW1rzemGz2dL5qYnI6XV6tAhEzlaoXdpuKedfErzWYXlX4bk60WN4svGVH3betiiwn_vhzWcgeGvY6Pvs80kpRI4x9ZIu3gopQNp_FTDwNKdjPZ0A/s320/DSC03405.JPG" border="0" /></a>Em 1985, nós saímos à descoberta do hiphop. Ouvíamos os discos importados que estavam a chegar . Os Clash andavam com o Futura. Foi essa a ligação inicial. Eu e um amigo meu andavamos de Manhattan até ao Bronx à procura do hiphop, percebes? Bem divertida essa tarde, no parque em 1985, irmão, woooh!<br /><br /><strong>Então chegaste ao disco pelos breaks?</strong><br /><br />A disco fez parte dos anos em que estava a crescer, se preferires. Estava em todo o lado, na TV, na rádio, toda aquela loucura à volta do “Saturday Night Fever”. Estava à tua volta. Era a banda sonora da minha adolescência.<br /><br /><strong>Os Sex Pistols surgem no mesmo ano que o “Saturday Night Fever”.</strong><br /><br />Acabei de me lembrar que no “Saturday Night Fever, a primeira coisa que o John Travolta diz é “fuck you, you cunt!” [na realidade, diz “fuck the future”] e eu fiquei tipo “WOOOOOOW!”. Ele era um punk jovem no seu próprio mundo. É difícil de concretizar mas o punk e a disco estavam juntos. Se vires o “The Great Rock'n'Roll Swindle”, tens os Sex Pistols e os Tavares a tocar juntos num clube. Era assim tão próximo.<br /><br />O ser do contra do punk e a alegria da disco andam juntos, na realidade, especialmente em todo este novo punk, o electroclash e coisas parecidas, que fez com que miudos que nunca pensariam vir a gostar de house music, agora adoram o som cósmico. Está a re-ligar-se outra vez. Blondie com o Grandmaster Flash. “Queen of the Rappin’ Scene” foi um momento interessante.<br /><br /><strong>Estavas em Nova Iorque?</strong><br /><br />Estive lá pouco tempo em 1985. Tinha uma namorada na 5ª Avenida. Andava sempre a tomar grandes doses de ecstasy, na altura. Andávamos no hiphop, era tudo pastilhas e todas essas coisas. Nunca vivi em Nova Iorque e acho que não conseguiria lá viver. Até porque dá cabo do meu fígado. Adoro ir a Nova Iorque e adoro a cidade. Mudou um pouco, agora é uma cidade mais conservadora (risos). Nós fartávamo-nos de bombar os comboios. Isso acalmou um bocado. Estavas a tentar levar a cidade de uma forma mais ligada às artes. E era suja na altura. Tinhas que te sujar todo e arriscar a vida para seres um artista de graffiti, na altura.<br /><br /><strong>Em que altura é que começaste a ir ao Loft?</strong><br /><br />Não foi nessa altura. Fomos a provavelmente todos os clubes interessantes, excepto o Paradise Garage. Andávamos à procura de hiphop, não era de disco. Só fui ao Loft no princípio dos anos 90. Mas acho que estou a divagar.<br /><br /><strong>Vês o rock e a disco como duas pontas opostas do mesmo espectro?</strong><br /><br />Não, não vejo. Todas as grandes bandas de rock que existiram fizeram um disco de disco. Estás a ver a Jerry Hall, depois de uma noitada no Studio 54, a chatear o Mick Jagger “faz algo que nos faça dançar!”. Rock’n’roll é uma forma de música de dança. Nos anos 50, “é o beat, daddy-o, é o ritmo da selva”. Estão muito ligados. Sinto que as divisões por géneros tendem a ajudar os jornalistas a concretizar determinados movimentos, sejam eles rock, punk ou disco. Mas são o mesmo espírito.É tudo sobre o ritmo, mais do que um género per se. Qualquer artista que sobrevivesse os anos sessenta estava a fazer um disco de disco no final dos anos setenta.<br /><br /><strong><a href="http://farm1.static.flickr.com/209/508688955_b81fa03063.jpg"><img style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand" alt="" src="http://farm1.static.flickr.com/209/508688955_b81fa03063.jpg" border="0" /></a>E os Black Cock edits? Thom Bullock (dos Rub’n’Tug) creditou-te como responsável. Como é que isso aconteceu?</strong><br /><br />Tornando-me amigo do Larry Levan. Costumávamos estar juntos e ele tinha vários edits que eu queria ter e não conseguia. Por isso, decidi fazer os meus. O Danny Krivit fazias os seus, havia mais algumas pessoas a fazê-los. Não havia outra maneira de faze a coisa, tinhas de fazer edits por ti próprio. Foi assim que a Black Cock apareceu. Começámos como o Danny os fazia, a cortar fita. Consegui arranjar um disco duro quase primitivo, com 4 MB, conseguias ter lá 4, 6 minutos de música, ficar com a onda de som e cortá-la num Atari.<br /><br />As primeiras coisas foram feitas em fita, as restantes em computadores. Hoje, as pessoas esquecem-se disso. Fazer reedits não é uma maneira fácil de fazer discos. Há gente que destruiu temas pura e simplesmente porque tornaram a quebra enorme, demasiado grande. O que torna uma quebra tão boa é aquilo que a precede. Se não tens isso, então a quebra não vai ter o impacto que devia ter.<br /><br /><strong>A história que leva a ela.</strong><br /><br />Exacto. Já pensei várias vezes em pegar num disco com uma quebra fantástica e tirá-la e só repetir a parte foleira. Assim, vais ter toda a gente a ouvir o disco à espera que aconteça a quebra, que não acontece, e crias ali um enorme momento de tensão.<br /><br /><strong>Nunca têm um orgasmo.</strong><br /><a href="http://www.discopia.com/portal/illustrations/issue4/David.jpg"></a><br />Tu arrásta-las antes de elas se virem. Tornou-se esta maneira fácil de criar discografia. Faço-o de tempos a tempos mas não tenho editado nada do que faço. É que os reedits são algo de muito muito importante. A edição de um filme ou de uma banda sonora pode fazer ou matar a coisa. Não é fácil, não é uma maneira fácil de fazer discos. Parece que é, as pessoas fazem-no, há toneladas de discos de reedits hoje em dia. “Oh, não sei fazer música, ‘bora lá procurar o que há”… as pessoas fazem edits de coisas que há em 12 polegadas.<br /><br /><strong>A cena dos reedits está demasiadamente cheia?</strong><br /><br />Tudo se torna assim com o tempo. Há o bom e o mau e tu procuras entre eles para encontrar o que se ajusta ao teu gosto. Há quase um género chamado de “reedits de disco”. </p><br /><p><strong>Dos que fazem hoje reedits, de quem é que tu gostas?</strong><br /><br />Bem, de ninguém (risos). Ninguém me vem à cabeça. Danny Krivit, Paul Simpson são as minhas maiores influências nos reedits. As coisas do Paul Simpson são incríveis. O Walter Gibbons e o Tom Moulton são pessoas a quem presto também a minha homenagem. As pessoas hoje ainda não apanharam a coisa. É apenas uma coisa fácil que as pessoas fazem. O Paul Simpson é um pouco um herói esquecido.</p><strong>Não me lembro de ver o nome dele citado.</strong><br /><br />As primeiras coisas dele são fenomenais. Estou a tentar lembrar-me de alguém recente que faça coisas que me ponham “WOOOOOOW!”. Não é que não toque coisas de hoje ou que não te façam chegar lá, não é isso.<br /><br /><strong>É uma forma de arte em extinção?</strong><br /><br />É isso, um pouco. As pessoas não andam a fazer as coisas como deve ser, fazem tudo demasiado fácil.<br /><br /><strong>O computador torna tudo demasiado fácil?</strong><br /><br />É fácil fazer edits com o computador mas não é fácil fazer com que eles funcionem. Há menos desculpas agora. Cortar fitas demora tempo, é chato e difícil, demora dias e dias até ficar como queres. Hoje em dia, consegues fazer um edit numa noita. Não é propriamente o fim do mundo haver tanto edit mau nas lojas. Não estou acordado de noite preocupado com o triste estado do disco de hoje em dia.<br /><br /><strong>O que é que te preocupa então?</strong><br /><br />O que é que me mantém acordado? Amor e cenas dessas.<br /><br /><strong>Nem me digas nada. Isso é daquelas coisas que nunca fica mais fácil.</strong><br /><br />Mas é isso que me faz ficar acordado. Um pouco de amor, um pouco de romance, é por coisas dessas que vale a pena estar acordado à noite.Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-53786344326992018032008-03-12T04:02:00.006+00:002008-03-12T05:23:38.497+00:00Soul power<a href="http://www.nyse.com/images/press/spcCB031108h.jpg"><img style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 384px; CURSOR: hand; HEIGHT: 184px" height="178" alt="" src="http://www.nyse.com/images/press/spcCB031108h.jpg" border="0" /></a>Se há coisa que não tem acontecido muito no mercado bolsista são dias como o de ontem. Dias onde o Dow Jones teve a sua maior subida dos últimos 5 anos. Espanto para alguns, será que houve queda do valor do petróleo? Erro, o petróleo está no seu valor máximo histórico. Será o dólar a recuperar face ao euro? Erro, o euro está no seu valor máximo histórico face ao dólar. Será que o Obama ganhou a nomeação dos Democratas? Erro, só ganhou outro Estado (Mississipi) mas só o ganhou já o mercado tinha fechado. Será que foi a injecção de 200 mil milhões de dólares no mercado pelo Fed? Os mais respeitados analistas andam todos a dizer que foi por causa disto mas continuamos a pensar que estão errados.<br /><div></div><br /><div>Para nós aqui no hdb, a subida de 416.65, mais do que 3 e meio por cento, no Dow Jones só pode ter acontecido por uma e uma só razão - foi este o dia em que <strong>Kenneth Gamble</strong> e <strong>Leon Huff</strong> abriram a sessão. <br /><br />Nas imortais palavras de Margarida Rebelo Pinto, não há coincidências : é soul power, baby!</div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7736004.post-44623771887099591602008-03-03T00:21:00.004+00:002008-03-03T00:38:15.136+00:00Gilles Peterson e a sua colecção de discos<a href="http://trocabrahma.net/wp-content/photos/GillesPeterson.jpg"><img style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 320px; CURSOR: hand" alt="" src="http://trocabrahma.net/wp-content/photos/GillesPeterson.jpg" border="0" /></a><strong>Gilles Peterson</strong> tem sido companheiro de viagem durante tantos anos que já o sinto como parte da casa. E digo isto sem sequer o conhecer mas já são tantas as horas, ao longo destes anos todos, a ouvir quer o programa de rádio (bendita internet!) quer os seus sets como dj que até parece que somos amigos há anos. Gilles foi fundamental na forma como me relacionei com a música, na forma apaixonada como fala de discos e na maneira aparentemente simples (não é) como relaciona décadas umas com as outras através da música que se fazia e que se faz agora. O seu conhecimento de música é algo que se sente em cada disco que passa e foi com ele que descobri coisas que hoje me são tão queridas como os <strong>Rotary Connection</strong>, os <strong>Starcrost</strong> e os <strong>Jazzanova</strong> e tanta tanta gente ligada ao universo do downtempo inspirado directamente do hiphop.<br /><br />Talvez por isso, quando era puto, sempre fantasiei onde seria que o Gilles gravava o programa dele. Ou como seria a sua colecção de discos. E porque raio chamava ele "<strong>Brownswood Basement</strong>" a uma das mais interessantes rúbricas dentro do "<strong>Worldwide</strong>". Ao fim de tantos tantos anos, foi bom saber que há resposta para todas essas perguntas e que ela está <a href="http://www.residentadvisor.net/feed-item.aspx?id=925">aqui</a>.Unknownnoreply@blogger.com0