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HitdaBreakz

9/04/2005

Comunidade com unidade


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Existem ligações óbvias entre algumas das considerações deste texto e outras que se teceram a propósito da mixtape dos Soulsavers, por isso mesmo aconselho-vos a lerem primeiro este texto, antes de prosseguirem por aqui.

A participação no Fórum do Hit da Breakz tem excedido as expectativas pelo que dei por mim a pensar sobre toda esta actividade em torno do Diggin' nos últimos dias. Hoje, enquanto explorava a oferta na Feira de Oeiras, dei por mim numa situação em tempos completamente anormal, mas nos últimos tempos cada vez mais usual: ter que esperar pela minha vez para me atirar às crates. E não uma nem duas vezes, mas pelo menos três. Empiricamente falando, há uma conclusão directa a tirar daqui: há mais gente a comprar vinil. Não, não vou procurar estabelecer uma relação directa entre o blog Hit da Breakz (que só tem um ano...) ou o fórum (que só tem um mês...) e o número crescente de pessoas que não se importam de sujar os dedos em feiras à procura de velhas rodelas de plástico preto. Quanto muito, a existência do blog e a tal participação acima do esperado no fórum são um reflexo desse crescimento de interessados e nunca o contrário. Mas a verdade incontornável é só uma: longe vão os tempos em que alguém me avisava da existência de um disco num spot qualquer (numa Cash Converters, por exemplo) e eu o apanhava uma semana ou duas depois de recebida a informação. Agora é necessária uma rapidez digna de um Lucky Luke para se apanhar qualquer coisa. Uma horita a mais na cama pode significar menos um LP de James Brown ou menos um maxi da Cold Chillin' na colecção.

Há mais gente à procura de discos e as razões são muitas e variadas: a música em CD é cara, várias correntes musicais actuais incentivam a pesquisa do passado impresso em vinil, a informação disponível (net, revistas, jornais, rádio, amigos, etc) lança luz sobre objectos que em tempos pareciam ser relíquias ultrapassadas, desinteressantes e sem qualquer valor e, finalmente, há uma agitada comunidade Hip Hop que impõe aos seus DJs e produtores a procura de matéria prima para as suas colecções. Claro que no meio deste complexo cenário o Hit da Breakz desempenha também um pequeno papel, não o vou negar (até porque os comentários deixados aos posts do blog durante este ano não me deixam mentir). Decerto que já se venderam por aí discos em feiras e lojas por causa de pistas deixadas por aqui ou de sugestões oferecidas por mim e pelo Dub. E é aí que eu quero chegar. Leiam mais um bocadinho...

Será que, como já me perguntaram, é aconselhável lançar luz sobre spots onde é possível apanhar discos, sobre artistas, correntes, géneros, editoras, álbuns e singles específicos e assim tornar mais difícil a tarefa de encontrar bons discos por quase nada no terreno? E havendo, na cultura do DJ, uma história continuada de secretismo (em relação a discos, mas também aos locais onde é possível adquiri-los), fará sentido falar tão abertamente e revelar segredos que nos poderão custar o próximo Holy Grail? Estas questões foram-me recentemente colocadas por um amigo e são, obviamente, pertinentes. Mas a verdade é que me lembro de uma época em que parecia que eu era a única pessoa do mundo que procurava discos de funk e de disco e de jazz. Claro que não era. Mas era a sensação que obtinha por estar constantemente a pegar nos discos que mais ninguém queria. E foi a ideia com que fiquei quando a Lollipop fechou: parecia que mais ninguém a não ser eu e uma meia dúzia de outros lunáticos estava interessado em comprar funk, disco, afro-beat, jazz (foi uma boa época para o jazz em vinil porque todos os grandes coleccionadores se desfizeram das rodelas pretas em favor das outras, prateadas e mais pequenas...), grooves com sabor a Brasil, peças de easy listening swingante e outras coisas do mesmo género. Por isso mesmo, foi nessa época (93-98) que a minha colecção mais se dilatou. E ultimamente tenho-me queixado cada vez mais do quão difícil é apanhar alguma coisa de jeito, não é? Os discos existem e têm que estar a ir para algum lado e não é cá para casa (bem, alguns já sabem o caminho e acabam por cá vir ter...).

Voltando à questão: se de facto há mais gente a procurar este tipo de música impressa em vinil, será sensato divulgar tanta informação? Será sensato dizer: "hei, eu apanhei este disco excelente naquele spot; vão lá também, pode ser que tenham sorte?" A resposta só pode ser uma: claro que sim. Ou melhor: claro que não, porque isto nem sequer é uma questão de sensatez. Afinal de contas, haverá algo de mais insensato do que gastar domingos a torrrar ao sol à procura de discos velhos (mesmo quando são discos do Tim Maia) quando a praia está ali ao lado? Não é uma questão de sensatez ou de falta de bom senso. É uma questão de comunidade. É que pela primeira vez em muito tempo, sinto que faço parte de uma comunidade feita de gente que partilha os mesmos interesses, a mesma música, a mesma paixão. Quando recebo mails de gente de Leça da Palmeira, ou do Algarve ou de duas ruas acima da minha casa a falar dos mesmos discos de que eu gosto, a pedir ou oferecer informação, a concordar ou a discordar de uma opinião sinto que afinal há mais gente assim: insensata e apaixonada. E isso sabe bem. Mesmo que me faça roer as unhas quando uma dessas pessoas me conta que apanhou um grande álbum num local onde dantes eu não encontrava ninguém.