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HitdaBreakz

1/05/2005

DIGGA'S DIGGIN' CHART # 1


Começam então aqui as Diggin' Charts, devidamente ilustradas, tanto com som como com imagens. Estas listas não pretendem mais do que dar a conhecer algumas das mais recentes adições à colecção, no que a discos com (e do...) passado diz respeito. Já há algum tempo que não fazia uma lista destas, por isso estes discos cobrem um período um pouco dilatado, de alguns meses. E cobrem, igualmente, um vasto terreno que começa no jazz polaco, se espraia até à música brasileira, passando pelo Kraut, pelas bandas sonoras e pelo inevitável funk. Afinal de contas, nem só de peixe vive o homem, certo?


ZBIGNIEW NAMYSLOWSKI QUINTET - Kujaviak Goes Funky (LP, Musa, 1975)
Apesar do título, este álbum revela uma visão invulgar: a tentativa de junção de um som nitidamente de fusão, com recurso ao funk tal como o jazz o ouve, com uma toada mais pastoral aprendida na música popular polaca. Zbigniew Namyslowski estava aqui em plena posse dos seus poderes de saxofonista e isso sente-se nos seus improvisos soltos que resultam na perfeição em cima de uma base sólida que locomove todos os temas com uma força imparável. O jazz polaco, como o Dub explicou aqui há uns meses, tem na sua história momentos de completa rendição ao groove. Este álbum não será um dos mais destacados exemplos, mas ainda assim inclui suficientes argumentos para não ser colocado de lado.

Appenzeller's Dance (audio)


JAROSLAW SMIETANA - Akumula-Torres (LP, Poljazz, 1983)
Este álbum, tal como o anterior, veio de uma troca que fiz com um tipo polaco que descobri num fórum americano de Hip Hop (viva a Internet!!!). Ele procurava CDs que não conseguia arranjar e eu sempre quis conhecer um pouco mais do mundo do jazz polaco. Juntando-se a fome à vontade de comer obtem-se o quê? Umas interessantes trocas internacionais! Munido de uma lista de nomes fornecida por mim, o meu amigo polaco descobriu-me estes discos. Aqui, o guitarrista Jaroslaw Smietana lidera o seu grupo Extra Ball nalguns momentos carregados de groove, como é o caso do tema de que forneço aqui em baixo um excerto. Talvez pelo facto de ter gravado com alguns pesos pesados americanos, Jaroslaw revela aqui nesta gravação um pouco tardia (os Extra Ball editaram desde 1975) um domínio perfeito dos materiais típicos da cena jazz-rock dos States. Ainda bem, digo eu!

Akumulatorres (audio)


ABSOLUTE ELSEWHERE - In Search of Ancient Gods (LP, Warner, 1976)
O mesmo Erich Von Daniken cujos escritos serviram de base ao documentário para o qual Peter Thomas assinou a banda sonora de que falámos aqui, inspirou este trabalho que foi rodeado de algum culto ao longo dos anos, principalmente por alguns adeptos de Prog e de Moog Records. Reza a lenda que Paul Fishman, o líder deste projecto, era ainda um adolescente quando o gravou, graças ao dinheiro do seu milionário pai. Essas histórias referem ainda que a presença do baterista dos King Crimson, Bill Bruford, se ficou a dever apenas a um irrecusável cheque do pai de Fishman. Seja como for, In Search of Ancient Gods é um interessante álbum de música electrónica, que usa com abundância os sintetizadores disponíveis na época, incluindo o mítico Mellotron.

Future Past (audio)


FAUST - So Far (LP, Polydor, 1972)
Tal como o álbum anterior, So Far, dos alemães Faust, chegou até mim por via de uma já longa história de trocas com um amigo de muitos anos. Este álbum foi reeditado em 2001 e por isso o seu conteúdo já foi dissecado inúmeras vezes, como por exemplo aqui. Importa dizer que ouvir So Far pode resultar numa experiência que altera a nossa percepção, tal a intensidade das visões feitas matéria sonora nele contidas. Para mim foi a prova de que se podia meter os Velvet Underground, Frank Zappa, free-jazz e tantas outras coisas que só o futuro revelaria no mesmo saco e soar delirantemente à frente de tudo e todos.

It's a Rainy Day, Sunshine (audio)


GOLDEN BOYS - Alguém na Multidão (LP, EMI-Odeon, 1966)
And now for something completely different, como diriam os outros. Os Golden Boys são um produto da época dourada da música brasileira, antes das explosões tropicalistas terem mudado a paisagem sonora do seu país. Em 1964, acompanhados pelos Fevers, os Golden Boys ainda não tinham gravado bombas como Berimbau (que Gilles Peterson incluiu recentemente na sua compilação In Brazil). E não possuiam aquele "suingue" malandro que Wilson Simonal já exibia. Mas ainda assim gravavam música com um balanço assinalável, carregada das cores quentes que o Brasil sempre oferece. Este álbum, tal como o de Les Baxter que mencionarei mais abaixo, veio recentemente de uma das edições da Feira de Paço de Arcos e custou pouco mais do que um café.

Se eu fosse você (audio)


GILBERTO GIL - Expresso 2222 (LP, Philips, 1972)
Este disco encontrei-o no meio de um lote bem interessante abrigado da chuva na mala de um carro de um senhor com ar distinto que conheci na feira de velharias de Azeitão. Logo para começar, Expresso 2222 revelou-me no título da sua primeira faixa, Pipoca Moderna, porque é que uma pessoa que eu conheço tem uma conta de Hotmail com uma designação tão curiosa... Gravado após o regresso do exílio em Londres, este álbum mostra um Gilberto Gil ainda mais sintonizado com o pulsar global do rock. Com grandes linhas de baixo, óptimo trabalho de guitarra e um ritmo imparável, Expresso 2222 é um dos melhores álbuns da carreira deste baiano. E esta edição original possui uma capa lindíssima a que a foto não faz justiça, em cartão recortado, que quando é todo aberto cria um efeito bastante original.

Back in Bahia (audio)


LES BAXTER - Sua Orquestra e Côro (LP, Som Maior/Crescendo, 1967)
Les Baxter, como tantos dos outros protagonistas da era da música exótica, fez carreira a partir de uma série de mentiras, gravando música de locais supostamente mágicos, próximos dos trópicos, com um enganoso rigor antropológico fabricado nos estúdios de Los Angeles. Provavelmente, com este álbum de música "brasileira" as coisas não foram diferentes. Já possuía este disco há uns anos numa reedição italiana, mas um original é sempre um original, correcto? Balanço orquestrado com classe e bossas novas para donas de casa dos subúrbios da space age. Soa bem, não soa?

Who will buy (audio)


JOHN BARRY - Goldfinger OST (LP, Sunset, 1964)
Não é uma edição original, antes uma reedição francesa de finais dos anos 70, mas quem poderia dizer que não ao Goldfinger de John Barry? O trabalho deste compositor para a série de filmes do agente mais impressionante de todos os tempos definiu para sempre o som que associamos a escaldantes intrigas internacionais em que se cruzam excêntricos génios do mal, beldades perigosas e a autoridade do mundo civilizado. E nem poderia ser de outra maneira: Barry era um génio à frente de uma orquestra, capaz de gerir com punho de ferro a tensão criada por arranjos inesperados. O tema cantado por Shirley Bassey é, claro, um bónus! E este disco encontrei-o há poucas semanas na Feira de Algés.

Bond Back in action again (audio)


TOWER OF POWER - East Bay Grease (Lp, Atlantic, 1970)
Se não estou em erro, já por aqui se falou nos Tower of Power, um fortíssimo grupo de funk formado por gigantes dos estúdios norte-americanos (que parece que estão de volta com novo álbum e tudo!). Neste álbum, editado na label San Francisco do mítico empresário hippie Bill Graham (o dono do clube Fillmore West onde despontou o psicadelismo), e apesar de uma invulgar ausência de breaks abertos, este grupo pratica o seu habitual funk comandado por metais (a secção de metais dos Tower of Power gravou em incontáveis discos de outros artistas) com uma força indiscritível. O tema Sparkling in The Sand foi mesmo samplado por Diamond D no clássico Sally's Got a One Track Mind. Os 5 euros que dei por este álbum na cada vez melhor Discolecção foram de facto bem gastos!

Back on the streets again (audio)


SOUL MANN & THE BROTHERS - Shaft (LP, Musidisc, s/data)
Apesar do estatuto de budget Lp, este álbum assinado por Soul Mann & The Brothers (edição original na Pickwick, que se especializou em discos que imitavam - por metade do preço - álbuns de artistas populares) goza de algum estatuto entre a comunidade mundial de diggers, talvez devido ao facto de já ter sido samplado por Dr Dre (no tema Xplosive com Kurupt e Nate Dogg). Pormenor interessante é que o facto de ser um disco gravado por anónimos músicos de sessão com um orçamento mais baixo do que o Danny DeVito resulta numa versão de Shaft sem as luxuosas cordas que Isaac Hayes incluiu no score original. Há uma atmosfera mais "solta" no disco, resultado óbvio de sessões gravadas à primeira, sem espaço para grandes ensaios. Mas isso é parte do charme deste tipo de discos. Claro que não substitui o original, mas para quem, como eu, colecciona versões de Shaft (toda a gente - e os seus pais... - parece ter gravado este tema!), este álbum é fundamental. E foi mais um a chegar até minha casa por meio de uma troca. Venham outros!

Be yourself (audio)