HitdaBreakz

DIGGIN.PT: MÚSICA COMERCIAL

Se o título Música Comercial vos levou a pensar - nem que por um segundo apenas - que o Hit Da Breakz tinha mandado a toalha ao chão e iria começar a escrever sobre os Toranja e o Rui Veloso numa tentativa desesperada de ganhar mais leitores, então, caros amigos, estão profundamente enganados a nosso respeito. Nada disso. O que aqui nos trás é bem pior do que as vossas mais pessimistas suposições.
DJ Shadow (se acham que nós por aqui temos uma pequena obsessão com este senhor, então, para variar, estão certos) deve ter achado que estava na hora de começar a dar uso aos singles promocionais de marcas quando deu vida aos seus exemplares de Slurpee em Brainfreeze e Product Placement, os dois sets de 45s que assinou e editou juntamente com Cut Chemist. É compreensível. Qualquer digger que gaste quantidades de tempo pouco saudáveis em feiras ou caves poeirentas vai começar a cruzar-se com discos das mais estranhas proveniências e com os conteúdos mais inesperados. Eu aliás, já comecei a construir uma pequena colecção de "esquisitices" que inclui desde um 10 polegadas de batimentos cardíacos a um álbum da Elektra com um curso de código morse passando por exemplares variados de discos de hipnotismo e spoken word avulsa. No meio desses objectos estranhos, os singles criados para promover marcas até acabam por parecer normais. E às vezes são mesmo a única coisa que vale a pena trazer para casa, tal o deserto de potenciais discos com interesse. Em primeiro lugar porque evocam uma infância distante, do tempo em que a televisão era a preto-e-branco e o Eládio Clímaco um jovem espadaúdo. Depois, porque nunca se sabe se os tipos contratados para gravarem o single/anúncio nos prepararam alguma surpresa.
Trago então aqui alguns exemplos e convido desde já quem nos lê a avançar outras sugestões que porventura possa conhecer. O primeiro exemplo contém o mítico hino das Páginas Amarelas. Com assinatura de Thilo Krasmann (o homem do fabuloso Thilo's Combo) e Rui Ressurreição (grande nome, hein?), o single inclui a versão vocal e versão instrumental do "hino" das Páginas Amarelas, em bossa nova meio-envergonhada, com um arranjo que inclui piano eléctrico e flauta, o que é sempre de louvar. Não é especialmente interessante, mas também não é de deitar fora.

O segundo exemplo já vocês conhecem e pertence aos colchões Molaflex. Os executivos dessa famosa marca de colchões felizmente limitaram-se a pagar a um tipo da rádio (a voz é-me familiar, mas não sei quem é...) para fazer uma introdução e deixaram Os Nómadas entregarem-se com alma ao Ray Charles. Este é, sem dúvida, o melhor single dos que aqui apresentamos.

Finalmente, há o flexi disc da Shell. Os flexis, como sabem, eram discos de plástico maleável usados como promoção (há muitos da Selecções do Readers Digest ou do Circulo de Leitores, por exemplo). Este disco específico é da responsabilidade do maestro Jorge Costa Pinto e é apresentado num luxuoso package em gatefold que inclui um livrinho e tudo. Dois arranjos para dois produtos da Shell. Um em jazz outro em Cha Cha Cha. Nada de deitar fora, principalmente para os amantes do lado mais Lounge desta cultura.

Outro exemplo de que me lembro é do tema Campari incluído na compilação Portugal Deluxe e assinado pelo Thilo's Combo. Infelizmente não possuo o EP original.
Com excepção do single d'Os Nómadas, que é realmente interessante de um ponto de vista meramente musical, os outros dois singles aqui apresentados não são descobertas tremendas, mas acionam de facto algumas memórias aos que, como eu, cresceram com aquela época mítica da televisão portuguesa, quando só havia dois canais disponíveis e a emissão abria às seis da tarde. Thank God for Cable!

Páginas Amarelas - vocal
Páginas Amarelas - instrumental
Felizes Vamos com Shell Viajamos - arranjo jazz 1
Felizes Vamos com Shell Viajamos - arranjo jazz 2
Felizes Vamos com Shell Viajamos - arranjo cha cha cha
Molaflex com Os Nómadas