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HitdaBreakz

10/11/2004

TERRY CALLIER - LOOKIN' OUT




Lookin' Out tanto pode significar literalmente "olhar para fora", como a capa do CD nos quer fazer crer, com Terry Callier a olhar para uma rua - provavelmente a sua Chicago - por trás daqueles vidros que indiciam um café ou um bar, daqueles do quadro de Hopper, uma imagem que é tão comum nos Estados Unidos. O local perfeito para o peoplewatching ou o citywatching. Lookin' Out tem também outro significado, mais profundo - ou seja, mais de acordo com a voz de Callier. Lookin' Out também significa que Callier se sente numa posição diferente em relação aos outros que, agora, também eles, seus contemporâneos, fazem música, permitindo-se a ele próprio (e merecidamente) o estatuto de veterano para, com o seu novo disco, transmitir uma ideia de "como se fazia" (e não, como podiam estar a pensar, de "como devia ser feito"). E os outros, os rapazitos de 20 e 30 e 40 anos, que andam nestas andanças, deviam aceitar este tributo à excelência da Chicago Soul por um homem que ultrapassou eras musicais como uma lição, não apenas de música, mas de vida.

Callier nunca foi homem para ficar parado a olhar para as coisas, relatá-las na sua música e deleitar-se a deixar o mundo passar. O seu álbum What colour is love? (Cadet, 1973), a sua obra prima (a que não é estranho o facto de ter sido produzido por Charles Stepney), mantém-se hoje como um pilar dessa ideia de que a música soul serve outro propósito que não apenas o relato das emoções, dele ou dos outros. Serve o propósito de nos criar, ela própria, emoções por nós desconhecidas, novos mundos que não nos pertenciam e que nos são oferecidos. E é isso que encontramos neste álbum, Lookin' Out. Esta contínua capacidade de Callier de fazer ambas as coisas, de juntar a música ao sentimento, de ter a legitimidade dos anos para sabermos que sente o que canta, que não é uma imberbe Joss Stone a cantar as emoções dos outros. No fundo, canta a soul como deve ser cantada. E haverá outra maneira?