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HitdaBreakz

3/12/2008

DJ Harvey em entrevista


nota do hitdabreakz

esta entrevista foi conduzida pelo jornalista Andy Beta, resultante de um trabalho para a Spin Magazine e pode ser lida, no seu formato original, no blog do Andy. Subentende-se pelo prólogo, que ou é a entrevista na sua totalidade, sem cortes, ou então aquilo que não coube na entrevista publicada. Pelo menos, é assim que a entendo mas quem tiver a edição original e me possa esclarecer a dúvida, força, a caixa de comentários é toda tua.


DJ Harvey
por Andy Beta

A minha entrevista com o veterano DJ Harvey, que revitalizou a arte do reedit com os seus cruciais Black Cock Edits no início dos anos 90, foi, provavelmente, a maior vítima do apertar de espaço que a SPIN teve. Como ele é um punk rocker original, havia muita coisa falada sobre a relação entre o punk e o disco que não foram faladas na entrevista.

Há ou não há um renascer do disco?

Nunca desapareceu. Nunca desapareceu, nunca parou. As pessoas estão é a ficar um pouco mais atentas à disco mas ela nunca foi a lado nenhum. É muito maior e melhor do que alguma vez foi.

Há alguma história secreta, onde a disco aparece momentaneamente e depois volta para o underground?

Não, disco é só uma palavra grande para definir uma coisa : música de dança. É um nome que apanha tudo na música de dança. Mas continua com o teu raciocínio.Estou só a pensar em disco-edits, italodisco, space disco, as cenas baleáricas, um nome que apanha tudo, mesmo.

Mas tu estás num plano onde olhas para estas coisas de maneira diferente, onde vês o que vem e vai de uma outra forma.

Não sei. A disco veio e nunca mais desapareceu. O Paradise Garage surge exactamente depois daquela queima de discos nos estádios de baseball a que chamaram a “morte do disco”. Exactamente quando devia ter desaparecido, explodiu.

Já não sei com quem falei sobre as diferenças em 1977 entre o punk e a disco.

Não são iguais? (risos). Vindo de uma perspectiva hardcore… No Reino Unido, estavam mais alinhados mas os punks na América não gostavam de disco. E eu gosto de fazer a vida negra aos punks americanos. Ainda por cima, adoram dizer mal do punk inglês, especialmente na Califórnia. Como punks, nós adorávamos o disco, porque era suposto não gostares de disco.

Como verdadeiro punk, tu deves fazer sempre o contrário daquilo que é esperado. Não quero bater mais no ceguinho (risos) em relação aos punks americanos porque eles sentem apaixonadamente tudo o que rodeia a sua cena mas para seres mesmo mesmo punk, tens de ser do contra. Se és punk em part-time, não és punk.

É como seres guerreiro só aos fim de semana.

O punk é um estado de alma, como o disco. Estão até muito interligados, como expressão de liberdade através da dança e da maneira como te vestes.

Tu eras baterista...

Fiz um disco em 1978 com uma banda punk chamada Ersatz.

Vieste à América e descobriste as festas de hiphop, foi isso?

Em 1985, nós saímos à descoberta do hiphop. Ouvíamos os discos importados que estavam a chegar . Os Clash andavam com o Futura. Foi essa a ligação inicial. Eu e um amigo meu andavamos de Manhattan até ao Bronx à procura do hiphop, percebes? Bem divertida essa tarde, no parque em 1985, irmão, woooh!

Então chegaste ao disco pelos breaks?

A disco fez parte dos anos em que estava a crescer, se preferires. Estava em todo o lado, na TV, na rádio, toda aquela loucura à volta do “Saturday Night Fever”. Estava à tua volta. Era a banda sonora da minha adolescência.

Os Sex Pistols surgem no mesmo ano que o “Saturday Night Fever”.

Acabei de me lembrar que no “Saturday Night Fever, a primeira coisa que o John Travolta diz é “fuck you, you cunt!” [na realidade, diz “fuck the future”] e eu fiquei tipo “WOOOOOOW!”. Ele era um punk jovem no seu próprio mundo. É difícil de concretizar mas o punk e a disco estavam juntos. Se vires o “The Great Rock'n'Roll Swindle”, tens os Sex Pistols e os Tavares a tocar juntos num clube. Era assim tão próximo.

O ser do contra do punk e a alegria da disco andam juntos, na realidade, especialmente em todo este novo punk, o electroclash e coisas parecidas, que fez com que miudos que nunca pensariam vir a gostar de house music, agora adoram o som cósmico. Está a re-ligar-se outra vez. Blondie com o Grandmaster Flash. “Queen of the Rappin’ Scene” foi um momento interessante.

Estavas em Nova Iorque?

Estive lá pouco tempo em 1985. Tinha uma namorada na 5ª Avenida. Andava sempre a tomar grandes doses de ecstasy, na altura. Andávamos no hiphop, era tudo pastilhas e todas essas coisas. Nunca vivi em Nova Iorque e acho que não conseguiria lá viver. Até porque dá cabo do meu fígado. Adoro ir a Nova Iorque e adoro a cidade. Mudou um pouco, agora é uma cidade mais conservadora (risos). Nós fartávamo-nos de bombar os comboios. Isso acalmou um bocado. Estavas a tentar levar a cidade de uma forma mais ligada às artes. E era suja na altura. Tinhas que te sujar todo e arriscar a vida para seres um artista de graffiti, na altura.

Em que altura é que começaste a ir ao Loft?

Não foi nessa altura. Fomos a provavelmente todos os clubes interessantes, excepto o Paradise Garage. Andávamos à procura de hiphop, não era de disco. Só fui ao Loft no princípio dos anos 90. Mas acho que estou a divagar.

Vês o rock e a disco como duas pontas opostas do mesmo espectro?

Não, não vejo. Todas as grandes bandas de rock que existiram fizeram um disco de disco. Estás a ver a Jerry Hall, depois de uma noitada no Studio 54, a chatear o Mick Jagger “faz algo que nos faça dançar!”. Rock’n’roll é uma forma de música de dança. Nos anos 50, “é o beat, daddy-o, é o ritmo da selva”. Estão muito ligados. Sinto que as divisões por géneros tendem a ajudar os jornalistas a concretizar determinados movimentos, sejam eles rock, punk ou disco. Mas são o mesmo espírito.É tudo sobre o ritmo, mais do que um género per se. Qualquer artista que sobrevivesse os anos sessenta estava a fazer um disco de disco no final dos anos setenta.

E os Black Cock edits? Thom Bullock (dos Rub’n’Tug) creditou-te como responsável. Como é que isso aconteceu?

Tornando-me amigo do Larry Levan. Costumávamos estar juntos e ele tinha vários edits que eu queria ter e não conseguia. Por isso, decidi fazer os meus. O Danny Krivit fazias os seus, havia mais algumas pessoas a fazê-los. Não havia outra maneira de faze a coisa, tinhas de fazer edits por ti próprio. Foi assim que a Black Cock apareceu. Começámos como o Danny os fazia, a cortar fita. Consegui arranjar um disco duro quase primitivo, com 4 MB, conseguias ter lá 4, 6 minutos de música, ficar com a onda de som e cortá-la num Atari.

As primeiras coisas foram feitas em fita, as restantes em computadores. Hoje, as pessoas esquecem-se disso. Fazer reedits não é uma maneira fácil de fazer discos. Há gente que destruiu temas pura e simplesmente porque tornaram a quebra enorme, demasiado grande. O que torna uma quebra tão boa é aquilo que a precede. Se não tens isso, então a quebra não vai ter o impacto que devia ter.

A história que leva a ela.

Exacto. Já pensei várias vezes em pegar num disco com uma quebra fantástica e tirá-la e só repetir a parte foleira. Assim, vais ter toda a gente a ouvir o disco à espera que aconteça a quebra, que não acontece, e crias ali um enorme momento de tensão.

Nunca têm um orgasmo.

Tu arrásta-las antes de elas se virem. Tornou-se esta maneira fácil de criar discografia. Faço-o de tempos a tempos mas não tenho editado nada do que faço. É que os reedits são algo de muito muito importante. A edição de um filme ou de uma banda sonora pode fazer ou matar a coisa. Não é fácil, não é uma maneira fácil de fazer discos. Parece que é, as pessoas fazem-no, há toneladas de discos de reedits hoje em dia. “Oh, não sei fazer música, ‘bora lá procurar o que há”… as pessoas fazem edits de coisas que há em 12 polegadas.

A cena dos reedits está demasiadamente cheia?

Tudo se torna assim com o tempo. Há o bom e o mau e tu procuras entre eles para encontrar o que se ajusta ao teu gosto. Há quase um género chamado de “reedits de disco”.


Dos que fazem hoje reedits, de quem é que tu gostas?

Bem, de ninguém (risos). Ninguém me vem à cabeça. Danny Krivit, Paul Simpson são as minhas maiores influências nos reedits. As coisas do Paul Simpson são incríveis. O Walter Gibbons e o Tom Moulton são pessoas a quem presto também a minha homenagem. As pessoas hoje ainda não apanharam a coisa. É apenas uma coisa fácil que as pessoas fazem. O Paul Simpson é um pouco um herói esquecido.

Não me lembro de ver o nome dele citado.

As primeiras coisas dele são fenomenais. Estou a tentar lembrar-me de alguém recente que faça coisas que me ponham “WOOOOOOW!”. Não é que não toque coisas de hoje ou que não te façam chegar lá, não é isso.

É uma forma de arte em extinção?

É isso, um pouco. As pessoas não andam a fazer as coisas como deve ser, fazem tudo demasiado fácil.

O computador torna tudo demasiado fácil?

É fácil fazer edits com o computador mas não é fácil fazer com que eles funcionem. Há menos desculpas agora. Cortar fitas demora tempo, é chato e difícil, demora dias e dias até ficar como queres. Hoje em dia, consegues fazer um edit numa noita. Não é propriamente o fim do mundo haver tanto edit mau nas lojas. Não estou acordado de noite preocupado com o triste estado do disco de hoje em dia.

O que é que te preocupa então?

O que é que me mantém acordado? Amor e cenas dessas.

Nem me digas nada. Isso é daquelas coisas que nunca fica mais fácil.

Mas é isso que me faz ficar acordado. Um pouco de amor, um pouco de romance, é por coisas dessas que vale a pena estar acordado à noite.