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HitdaBreakz

1/06/2008

Map of Africa: fantasia rock


Comece-se isto como deve ser: o álbum de estreia dos Map of Africa de Thomas Bullock e (DJ) Harvey Bassett é uma obra-prima. O que não significa que seja um disco que beneficie de algum tipo de unanimidade. Longe, muito longe disso. Aos ouvidos de grande parte das pessoas, a maior parte das faixas de Map of Africa deve soar a R*ck FM, sobretudo para aquelas que chegam até aqui encaminhadas pela “outra” música a que Bullock (Rub n’ Tug) e Bassett (D Harvey) são normalmente associados. Na verdade, tanto os Rub n’ Tug como Harvey deveriam ser encarados como aventureiros exploradores das mais remotas margens da música de dança para quem este tipo de sonoridades não é território virgem. Em Campfire, uma das compilações que em tempos recentes se afirmou como bússula para a descoberta de uma outra forma de estar nas pistas, os Rub n’ Tug percorrem a distância que vai dos Aphrodite’s Child de Demis Roussos (sim, esse… 1) até aos Hot Chocolate passando por Flash and The Pan e Daniel Wang. Já Harvey, verdadeiro surfista dourado pelo sol do Hawai para onde se auto-exilou deixando a sua cinzenta Inglaterra para trás, ergueu em Sarcastic Disco uma verdadeira cartilha baleárico-cósmica que harmoniza Beach Boys, Severed Heads e os Double (sim, esses… 2) sem esforço aparente. O lado rock está lá, no lado mais trippy desses visionários sets. E os Map of Africa parecem apenas responder à pergunta “o que aconteceria se em vez de gira-discos tivéssemos guitarras?”. A resposta está aí, nas fantasias mais Harley Davidson de «Gonna Ride» e «Dirty Lovin», na evocação da Miami de 80, toda sol e cromados, de «Freaky Ways», na clonagem imaginativa dos Toto (sim, esses… 3) em «Map of Africa», na piscadela de olho aos Dire Straits (sim, esses… 4) em «Here Come The Heads» e na estranha familiaridade do balanço de temas como «Plastic Surgery» ou «Snake Finger». Acrescente-se a isto a sombra de palmeiras sobre areias brancas, a velocidade de descapotáveis vermelhos, o sexo mais ou menos explícito das imagens evocadas nas letras e o ar Clube Med de alguns dos grooves e começa-se a perceber para onde querem ir os Map of Africa.
Tendo em conta as referências, o que resulta realmente interessante é a seriedade com que Thomas e Harvey encaram este projecto. A intenção não é o realismo (nada naquele conjunto de referências é real – luz, maquilhagem um pouco de plástico e croma são suficientes), mas sim capturar a aura (hippie, sim…) daqueles discos errados que nos sets deles nos obrigam a colocar a mãe de todas as perguntas: “what the f*ck?”. Yeah.

Map of Africa
Map of Africa
Whatever We Want/Flur, 2007


O álbum dos Map of Africa encimou recentemente a lista de vendas da Flur e apareceu na lista de melhores do ano da revista Blitz, para onde escrevi este texto.