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HitdaBreakz

1/26/2008

Alexandre Camarão



É sempre complicado olhar para uma discografia como a da Loop, que tanto me diz por razões que são conhecidas, e poder dizer assertivamente que este ou aquele álbum é um dos especiais. “The remixes”, o álbum do Alexandre Camarão para a Loop é, sem grandes dificuldades, um desses álbuns. Reduzido a uma frase, pego na que o Alexandre várias vezes repetiu quando o disco saiu - “este disco é uma remistura dos discos que tenho em casa na minha colecção”. Frase que, parecendo tão simples para quem a lê, a mim, que todos os dias trato e alimento a minha colecção de discos como se fosse um animal de estimação, diz-me muito. Uma colecção é muito mais do que um mero ajuntamento de discos, mas antes a expressão em quantidade dos nossos gostos. Uma colecção de discos é elástica para conseguir nela abraçar todos (mas mesmo todos) os gostos de quem a faz. Pelo que nela falta, consegue até mostrar aquilo de que nós não gostamos. E consegue ser bem mais do que isso porque nada consegue expressar tão bem a própria evolução dos nossos gostos ao longo da nossa vida. Talvez por isso, não haja palavras nenhumas que consigam definir aquilo que somos enquanto ouvintes do que os discos que temos.

Nos dias que correm, nem sequer é novidade o que se está a dizer. Com o sampler a custar tanto como um barril do petróleo, pegar nos discos que temos e fazer deles outro, é tão comum que nem sequer é rodapé. O que torna o disco do Alexandre diferente, para mim, e uma das muitas razões pelas quais olho para ele com o carinho com que o olho no meio dos outros discos que a Loop editou, é o facto de ser capaz de expressar as várias e diferentes linguagens e géneros que fazem parte do gosto do Alexandre num todo coerente. Isso, por si só, reduz-lhe drasticamente a companhia. Continua diferente quando o lado de expressão visual do Alexandre é expresso na capa. Percebo pouco de pintura, a música tira-me tempo para perceber os seus fundamentos como gosto de conhecer as coisas (a fundo). Mas, no alto da minha ignorância, não é difícil perceber que uma e outra, o lado musical e o lado visual, caminham em paralelo.

Num mundo onde as photo ops, os spin doctors, a notícia inventada, os “quero agradecer a Deus e aos meus fãs, sem eles não sou nada” das entregas de prémios, momentos como aquele que ouvir e ver "The remixes" proporciona, onde estamos cara a cara com um artista desta forma tão completa e complementada, são raros. São os discos da colecção a falar, mas é ele que ali está, carne e osso, olhos nos olhos, “eu sou assim”. Há todo o tipo de colecções mas muito pouca gente pode, como o Alexandre, dizer que a sua colecção falou por si. Num blog onde todos os dias falamos de discos e de colecções, o que o Alexandre fez é especial. Independentemente da música que lá está dentro e que subjectivamente tocará ou não quem a ouve (a mim, toca-me), pensar que uma colecção de discos fale por nós e diga aos outros quem nós somos desta maneira é especial para quem tem uma a ocupar uma sala da casa e que habitualmente fala disco a disco. Olha-se para ela, quer se queira quer não, de maneira diferente.

Tudo isto vem a propósito de o Alexandre Camarão, para além de professor, músico, pintor e ciclista é, desde o dia 31 de Dezembro de 2007, também blogger. Se a amostra até agora é reflexo de alguma coisa é a de que Alexandre está, no blog, a criar a sua colecção de escolhas de pinturas de outras pessoas. Conhecendo-o como “The remixes” o deu a conhecer, esperam-se resultados incríveis dessa colecção.