<$BlogRSDUrl$>
.

HitdaBreakz

1/23/2008

20 anos de JB


Neste último Natal completaram-se 20 anos de uma importante, embora meramente pessoal, ocasião: a entrada na minha colecção de discos do meu primeiro título de James Brown. "The LP of JB" é uma compilação lançada pela Polydor e impressa em Hannover, na Alemanha. Além da música continha duas coisas importantes: uma capa onde o Padrinho da Soul surgia em toda a sua glória e uma contracapa carregada de preciosas notas que contextualizavam a carreira de James e anotavam cada um dos títulos presentes nesta colecção. Ou seja, "The LP of JB" representou a proverbial ponta de um longo fio que até aos dias de hoje vou desenrolando.
Em 87 várias coisas importantes aconteceram na minha vida, mas a mais importante terá sido a entrada na faculdade e a chegada a uma nova cidade. Na altura os meus gostos musicais oscilavam entre os Smiths e Laurie Anderson e o Tom Waits e os Talking Heads e coisas assim (de que ainda hoje gosto, como é óbvio). Os discos na colecção ainda se encontravam abaixo da centena (que me lembro de atingir em 88!), mas possuia já todas as certezas do mundo em relação a um futuro ligado à música. Nesse Natal, como é natural, regressei a casa e num passeio pela baixa de Coimbra lembro-me de ver "The LP of JB" na montra da Discoteca Nova Almedina. Quando o meu irmão me perguntou o que é que eu queria como presente de Natal não hesitei e indiquei-lhe este disco. Para não haver surpresas - quem precisa de surpresas na Noite de Natal quando já está munido de todas as certezas? - fui com ele à loja e deixei-o apenas escolher o embrulho.
Em 20 anos este álbum rodou centenas, se calhar milhares de vezes. "Doing it to Death", "Soul Power", "It's a Man's World", "Papa's Got a Brand New Bag", "I Got The Feelin'", "Mother Popcorn", "Sex Machine"... clássicos atrás de clássicos de alguém a quem não reconheci imediatamente o carácter absolutamente revolucionário que imprimia na sua música. A minha primeira abordagem foi pelo sentimento e pela energia. Um pouco mais tarde, com a entrada do Hip Hop na era dourada do sampling, comecei a identificar em passagens de gente como De La Soul ou A Tribe Called Quest excertos daquelas canções de James Brown que tão bem conhecia... E o retrato começou a ficar mais nitído.
Nestes 20 anos construí uma imagem muito clara de James Brown, depois de ler longamente sobre ele, de escrever sobre ele e sobretudo de ouvir não apenas a música que ele criou mas também a que ele "provocou": o funk serviu de banda sonora a profundas transformações na paisagem americana. E continua a servir de inspiração para tanta música grande que - em vários géneros - nos vai obrigando a balançar o corpo e a cabeça. Vinte anos depois, essa compilação de James Brown continua a ter um lugar especial numa colecção que entretanto foi crescendo bem para lá da marca 100. Ainda assim, esta compilação continua a estar ao alcance do braço e livre do pó que se acumula noutras referências não tão desfrutadas, por assim dizer.