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HitdaBreakz

8/04/2007

Outlines: Paris está a arder


Das experiências conduzidas pelos Sa-Ra Creative Partners, Platinum Pied Pipers, Plant Life e Spacek tem-se vindo a definir uma nova sensibilidade que também encontra eco nalguns momentos da variada discografia dos 4 Hero: música negra, moderna, aberta aos estímulos do hip-hop e da generalidade das tipologias electrónicas sintonizadas com as pistas dos clubes. A singularidade desta música está na sua reverência à história da música negra (funk, soul, disco, jazz…) e na sua simultânea e singular abertura a tudo o que é novo, sem fundamentalismos exclusivos: abraça-se o house, abraçam-se as técnicas mais modernas de produção, abraça-se o rap e a nova soul. Sem quaisquer pruridos e com uma generosidade total. A música parece responder apenas a uma vaga noção de vibração universal e o que importa é a obediência ao groove. Os franceses Outlines – Irfane e Jerome, de Estrasburgo – são os mais recentes filhos desta escola e “Our Lives Are Too Short” é o álbum de estreia na alemã Sonar Kollektiv.
Quando se questionam os Outlines sobre as suas influências, eles não escondem de onde vêm e depressa nomes como A Tribe Called Quest, Nas, 4 Hero, Bill Withers, Curtis Mayfield e Charlie Mingus surgem no seu discurso. O que faz pleno sentido: esta é música que traduz o presente, mas que não renega o passado. Não é aqui que vão encontrar gestos de ruptura.
O nome Outlines começou a fazer-se notar quando do nada surgiu o maxi “Just a Lil’ Lovin’”, um monstro de soul com mais do que uma piscadela ao terreno do broken beat, mas com uma gestão orquestral completamente devedora dos ensinamentos do hip-hop. Aliás, se alguma sombra se espalha sobre todo o álbum é mesmo a da cultura inventada no Bronx: “Listen to the drums” declara amor aos breaks e ainda há Rza dos Wu-Tang no enorme “Now That I’m Free” e o parisiense Beat Assailant (que soa como Jay-Z!) em “Show Me” e “Waiting on Line”. O hip-hop aqui, no entanto, é como uma tela sobre a qual se vão espalhando diversas cores. E é nessa riqueza cromática que reside a mais valia de um disco que não tem pretensões algumas, nunca reclama a invenção de um terreno novo, mas que é sofisticado nas ideias orquestrais que vai expondo em cada uma das suas 14 faixas (a 15ª é um bónus – remistura dos Outlines para “Lucky Boy” de Dj Mehdi). Disco perfeito para embalar o Verão… Paris está mesmo a arder!

OUTLINES Our Lives Are Too Short Sonar Kollektiv/Symbiose


Texto publicado originalmente na revista Blitz