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HitdaBreakz

7/20/2007

Zombi: synth power


Devo a descoberta dos Zombi, um duo que edita discos numa etiqueta de heavy metal e que passa a vida em digressões com gente como Isis, Fucking Champs ou The Dillinger Escape Plan, a um fórum de Internet com uma ligeira obsessão por disco sound. O baterista e teclista A.E. Paterra e o baixista e teclista Steve Moore, nativos de Pittsburgh, criam música com uma identidade muito vincada, mas que tem a virtude de se prestar a diversas leituras.
A filiação estética dos Zombi é óbvia e aponta para as décadas de 70 e 80 dos Van Halen, dos Tangerine Dream e, sobretudo, dos Goblin, grupo italiano especializado na criação de bandas sonoras para filmes de terror, como por exemplo “Dawn of the dead”, o clássico de George A. Romero produzido por Dário Argento que foi rodado em Pittsburgh e que na Europa recebeu o título “Zombi”… Os sombrios teclados de Claudio Simonetti nos discos dos Goblin são provavelmente a mais forte influência no som dos Zombi. Não exactamente ao nível do estilo – o teclado de Simonetti assumia por vezes o papel que noutras bandas de rock progressivo era entregue às guitarras: ouça-se “Profondo rosso”, por exemplo – mas antes ao nível das texturas. Nos Zombi os teclados são sempre planantes, mais devedores do som que John Carpenter explorava nas bandas sonoras dos seus filmes. Da discografia dos Goblin, Paterra e Moore subtraem essencialmente o peso, a densidade e a atmosfera.
Além de uma série de edições extremamente limitadas (por vezes com alguns eps em vinil a não se estenderem para lá dos 150 exemplares), os Zombi contam com dois momentos essenciais na sua discografia: “Cosmos” (2004) e “Surface to Air” (2006) de onde foi extraído o excelente EP “Digitalis” (numa prensagem extremamente limitada de 500 exemplares). O primeiro álbum, “Cosmos”, é mais espacial, a começar nos títulos das suas seis peças que remetem para outras tantas constelações e continuando na toada atmosférica a sugerir alguns dos momentos mais interessantes da carreira dos Tangerine Dream. Mas o que em “Cosmos” é procura e exploração, em “Surface to air”, um dos melhores álbuns de 2006, é já linguagem cristalizada: os monumentos de ritmo construídos pela bateria sólida e rockeira de Paterra e pelo baixo fluído de Moore são sustentados pelas planantes bases analógicas dos sintetizadores e não o contrário, como seria de esperar. Ao baixo de Steve Moore é entregue em determinados momentos o protagonismo “solista”, pormenor que mantém a ligação dos Zombi ao particular universo rock habitado por bandas como Hawkwind ou Uriah Heep. Os Zombi criam música carregada de referências, facto que justifica a sua aliança a uma editora de heavy metal como a Relapse, a natural vizinhança desenvolvida com bandas como os Trans Am ou os Fucking Champs (que exploram igualmente ideias muito próprias de metal) ou até a atenção de que são alvo junto de quem cultiva agora uma oblíqua perspectiva do disco sound. Mas todas essas referências são pilares que sustentam uma identidade cuja força está precisamente na conjugação de referências até agora incompatíveis. Dizem os próprios Zombi no seu site: “criativamente, caímos algures entre Pink Floyd e Giorgio Moroder.”

Cosmos
(CD Relapse 2004/Importação Skool 2007)
Surface to air
(CD Relapse, 2006. LP Hypertension records, 2006. Ambos importação Skool 2007)


Texto publicado originalmente no número 22 da revista Op.