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HitdaBreakz

5/24/2007

O adeus da Skool: sábado , dia 26


Por causa desta cultura muito portuguesa (e católica...) da culpa e do sofrimento, sempre me surpreendeu ver como a morte era tratada nos filmes americanos: cemitérios que mais parecem jardins, velórios que mais parecem festas... E um constante realçar dos aspectos positivos da vida de quem acabou de desaparecer em vez da mais mórbida atitude mediterrânica face a idêntica situação. Por isso mesmo, vou optar pela via americana na hora de me despedir da Skool.

Conheci muitas lojas em Lisboa ao longo destas minhas duas décadas de relação com esta cidade e cada uma tinha - ou tem - uma personalidade diferente, embora as melhores possam reclamar um traço comum - a paixão. É quando se sente que a paixão de quem opera atrás do balcão começa a saltar para as prateleiras onde se arruma o stock que as melhores lojas se começam a definir. Nesse momento, a divisão proporcionada pelo balcão parece meramente acidental e o cliente torna-se amigo ou pelo menos cúmplice de quem está atrás do balcão. Fala-se a mesma língua, partilha-se a mais recente descoberta, recebem-se conselhos de forma aberta, entende-se mutuamente a sede de música, coisa que não iniciados não conseguem compreender. Passar na loja torna-se um ritual.

Na Skool - como em apenas meia-dúzia de outras lojas que conheci desde que cheguei a Lisboa - era assim: falava-se muitíssimo de música, descobriam-se coisas, revelavam-se paixões. Naquele espaço que nunca foi adequado aos sonhos que nele se criaram, o Zé cruzava caminhos do rock ao disco, do hip hop ao funk, da electrónica aos velhos sopros do jazz e do reggae sempre com o mesmo fervor. A Skool era uma loja de música só limitada pelo seu tamanho. E criou uma família de amigos no ano em que esteve aberta. Só não se inventou um aperto de mão secreto ou uma linguagem codificada, mas os clientes reconheciam-se uns aos outros: "vais à Skool? Encontramo-nos lá daqui a pouco..."

De forma inteligente - e, ao que parece, americana... - o José Soares escolheu encerrar as portas com uma festa. Parece-me a melhor opção: a loja nasceu por causa do amor à música e será ao som da música que encerrará as suas portas. Não sem antes dar aos seus clientes uma última oportunidade de levar alguns fantásticos discos para casa: modernos e clássicos a preços "irrecusáveis", como diz o flyer. Bem, encontramo-nos lá no sábado, dia 26, a partir das 15 horas...