5/08/2007
Jazz Bridges # 4: Strata East
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Em recente entrevista ao site “All About Jazz”, Tolliver descreveu a década de 60 como um período entusiasmante: “havia tanta coisa a acontecer.(…) Havia diferentes idiomas dentro de um género, o avant garde e a música free, o bebop ainda e, claro, a música de John Coltrane e Miles. Era uma época incrível. E também havia a cena política(…)” Como a Tribe de Detroit e a Black Jazz de Chicago, também a Strata East nasceu da mais elementar necessidade. Tolliver e Cowell formaram o quarteto Music, Inc com com Cecil McBee e Jimmy Hepps e registaram um álbum que foi recusado em praticamente todas as editoras que contactaram. Esse seria o primeiro lançamento da Strata East.
Tratando-se de veteranos do jogo do jazz, tanto Tolliver como Cowell sabiam o que fazer: prensaram o disco em vinil de qualidade, desenharam uma capa simples (o preto e branco garantia custos reduzidos na gráfica e era eficaz) e garantiram uma boa rede de distribuição. E quase imediatamente começaram a chover ofertas de outros discos para editar. O que era suposto ser aventura de um álbum só transformou-se numa operação que editaria mais de meia centena de títulos que ajudaram a definir um dos lados mais interessantes que o jazz teve para oferecer durante a década de 70. Hoje há vários exemplos de editoras geridas por artistas, mas na década de 70 não havia propriamente uma tradição desse tipo de operação e por isso Charles e Stanley podem reclamar justamente o papel de pioneiros.
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Infelizmente, hoje em dia não é muito fácil encontrar os discos que a Strata East editou na década de 70 (e foram perto de 7 dezenas). Em 94 e 97 a Soul jazz editou dois volumes de uma antologia da Strata East, mas, inexplicavelmente, esses preciosos olhares sobre a história da editora de Charles Tolliver e Stanley Cowell estão hoje descatalogados. Paradoxalmente, a Strata East continua activa (http://www.serecs.com/), mas parece estar limitada a edições de Charles Tolliver. Talvez o facto de os discos se terem perdido numa confusão de direitos (os artistas financiavam os próprios masters) torne complicado o acto de reeditar este fantástico catálogo. Pelo que resta o vinil, que em sites como o Ebay pode nalguns casos chegar às várias centenas de dólares. Boa sorte!
Texto originalmente publicado no # 11 da revista Jazz.Pt.