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HitdaBreakz

5/09/2007

Disco Gold # 8: Cerrone


A história de Cerrone é igual a tantas outras, diferenciando-se apenas no ligeiro “pormenor” da sua persistência. Nascido em 1952 numa modesta família, Cerrone cedo começou a deixar bem claro qual a sua inclinação artística aproveitando os lápis na escola ou os talheres em casa para batucar em tudo quanto era sítio. Não demorou muito para o pai perceber que lhe devia comprar uma bateria. Depois de passar pela fase clássica das bandas de adolescência, Cerrone registou a sua primeira conquista quando, aos 18 anos apenas, convenceu Gilbert Trigano a contratar bandas de rock para as suas estâncias Club Med. No início dos anos 70, os Kongas, primeira banda de Cerrone, eram um nome regular no Papagayo Club de St. Tropez. E é possível imaginar as festas animadas pelos Kongas, ouvindo o seu álbum de estreia de 1974: uma mistura energética de percussões de inspiração africana com algum do rock progressivo da época.

O lado mais “rock” dos Kongas foi também a razão para Cerrone sair. Havia no seio do grupo demasiados conflitos artísticos. Durante algum tempo, Cerrone trabalhou como músico de estúdio e angariava o seu sustento com duas lojas de discos – Import Records – onde vendia importações dos Estados Unidos. O facto de estar a par dos mais recentes desenvolvimentos musicais inspirou-o e apontou-lhe a direcção a seguir. Cerrone investiu então em oito longos meses de produção paga do seu bolso e criou “Love In C Minor”, o seu álbum de estreia. Quando uma ronda pelas principais editoras não surtiu o efeito desejado, Cerrone imprimiu ele próprio 20 mil cópias que distribuiu através da sua loja ao mesmo tempo que o promovia junto dos clubes. O resto, apetece dizer, é história: o rastilho acendeu-se e, depois de licenciado nos Estados Unidos através da Atlantic, “Love In C Minor” haveria de terminar a carreira com mais de 3 milhões de cópias vendidas. Até 1978, o som de Cerrone foi sempre crescendo. Primeiro com “Cerrone’s Paradise”, o segundo álbum, e depois com “Supernature”, um álbum que vendeu 8 milhões de cópias graças ao single “Give Me Love” e que tornou o som de Cerrone obrigatório nos clubes de todo o planeta. Em 78, Cerrone ganhou tantos prémios na cerimónia Disco Forum da Billboard que chamaram a essa festa “Cerrone Show”.

Ainda em 1978, o álbum “The Golden Touch” regressava a uma sonoridade mais próxima de “Love In C Minor”, mas acrescentava o facto de as letras não serem simplesmente funcionais, insuflando mensagem nas palavras que sobrevoavam a música. Cerrone fechou a década com os álbuns “Angelina” e “In Concert” e em ambos pressentia o fim do disco sound aproximando-se mais de um som rock.

A primeira metade da década de 80 não tratou mal Cerrone. Discos como “Cerrone 7”, com o tema “Hooked On You” onde brilhava uma jovem Jocelyn Brown, ou “Cerrone 9: Your Love Survived” conseguiram manter acesa a chama do sucesso. Mas depois de 1985, ano de edição de “Cerrone 11: The Collector”, o músico afastou-se só ressurgindo já na década de 90 com “Way In”. Os discos editados na primeira metade da década de 90, mostraram Cerrone a tentar encontrar o pé no seio de uma indústria já muito diferente. Mas foi talvez em 1996 com a edição de um Best Of com remisturas da autoria de notáveis como Frankie Knuckles, Danny Tenaglia e David Morales que se começou a compreender a verdadeira extensão do legado de Cerrone, idolatrado pela geração que tinha criado o impacto global da House Music. Já em 2001, a visita guiada à carreira de Cerrone pelas mãos de Bob Sinclar anunciava o inevitável: o regresso de um herói do “french touch”, um baterista e produtor que muito tempo antes de Dimitri From Paris, Daft Punk ou Modjo já havia exportado música para pistas de dança de todo o planeta.

(Adaptação de um texto de 2003 para a Dance Club)