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HitdaBreakz

2/17/2007

Entrevista: Hans-Peter Lindstrom


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Há uns meses, a propósito da então eminente edição de It's a Feedelity Affair, deparei-me com a oportunidade de entrevistar Lindstrom por email. A troca de missivas durou um par de semanas, com algumas pausas "dramáticas" do lado de Hans-Peter que andava com a agenda justificavelmente preenchida. Ainda assim as respostas chegaram. Houve até a oportunidade de pôr Lindstrom a ouvir alguns clássicos portugueses. Dos UHF, por exemplo! O material obtido com esta entrevista já foi usado em artigos nas revistas Blitz, Op. e Dance Club, mas só agora tenho a oportunidade de o publicar na íntegra. A título de complemento encontram uma biografia de Lindstrom aqui e uma discografia no inevitável Discogs. Boa leitura!

Para começar, quero saber se a banda de covers dos Deep Purple é facto ou mito.
Definitivamente facto. Queria até enviar-te uma foto, mas infelizmente não estou a conseguir encontrá-la. Eu sentava-me atrás de um enorme orgão Hammond e o Jon Lord era o meu mentor. Todos os meus amigos gostavam dos Deep Purple, Whitesnake, Rainbow e cenas assim…
Sentes falta de tocar com uma banda?
Tenho saudades de tocar numa banda quando tudo já está montado no palco. Isso dá-me a experiência perfeita. Não sinto falta nenhuma de carregar com coisas, dos ensaios, da parte de organizar os concertos, etc… Não tenho planos para montar uma banda, pelo menos de momento.
A tua biografia sublinha o facto de não teres sido criado com música de dança e a cultura de clubes, mas a tua música tem uma óbvia relação com o passado. Isso aconteceu por acidente ou olhaste para o passado e estudaste atentamente o Disco e o Space Rock e coisas assim?
Eu cresci com os hit singles que eram tocados na radio norueguesa entre 82 e 84. Música pop com muitos elementos pós-disco. Algum do Hip Hop dos primórdios. Depois comecei a tocar piano clássico e piano para coros de Igreja. Depois dos meus anos Heavy Metal interessei-me pela fusão do Dave Grusin e do Lee Ritenour. E depois country e folk de Hank Williams, Bob Dyland e Arlo Guthrie. Mas estes géneros não são os mais fáceis de criar quando se tem apenas um sampler à mão. Por isso decidi mergulhar nos mistérios da electrónica.
Encaras-te como um músico ou um produtor?
Sou mais produtor do que músico. Na verdade não sou bom executante de nenhum instrumento. O teu som é muito analógico e orgânico, mas apoias-te muito nas novas tecnologias para gravar a tua música. Como é que consegues o som daqueles discos dos anos 70 que eram gravados em grandes estúdios?
Sou um grande fã dessas gravações dos anos 70, mas não sei se realmente consigo soar assim, se consigo recriar esse som. Nem sei sequer se estou interessado em copiar esse som, até porque me parece impossível. Mas sim, acho que estou a tentar usar algumas das técnicas de gravação de antigamente. E recentemente comecei a livrar-me de algum do meu equipamento digital mais barato para o substituir por máquinas a sério. Mas não acredito em usar exclusivamente cenas vintage e muito caras. Na minha opinião – ou talvez na minha imaginação – os melhores produtores são os que conseguem fazer grande música em setups muito simples e baratos.
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“Cosmic” parece ser uma palavra-chave nos dias que correm. Como é que a tua música se liga às experiências do Baldelli? Achas que há um fio de ligação entre o que ele tocava no final dos anos 70 e nos anos 80 e o que tu fazes hoje? Ouviste as cassetes dele?
Sim, é muito interessante pensar que muitos djs adoptaram um certo estilo de uma area geográfica e temporal muito específica. O bom nisto é que “Cosmic” é visto como um género muito aberto que pode incluir tanto a Nina Hagen como o Steve Reich. Tenho que admitir que fui muito inspirado por aquelas velhas cassettes dos DJs italianos desde que as descobri em 2005. Sobretudo porque descobri muita música que nem sequer imaginava que existia. Mas também pela forma como aqueles djs tocavam: tempos lentos, a equalização de marca do Baldelli, a enorme variedade de estilos. Não sou obcecado por aquelas cassettes e não passo montes de tempo no ebay à procura daqueles discos. Aliás nem preciso de saber quem são os artistas nas cassettes, só me interessa poder ouvir a música.
Qual é o perfeito ambiente para a tua música? Auscultadores? O sistema de som de um clube? A aparelhagem de casa?
Penso que soa melhor nos auscultadores. Mas também acho que se safa num sistema de som de um clube. Isso é importante para mim – tentar que a minha música soe bem em diferentes ambientes.
Quais são as maiores diferenças entre o teu trabalho a solo e o teu trabalho com o Prins Thomas?
Eu trabalho muito lentamente e posso andar de volta de algumas faixas durante meses ou até anos. Porque, na verdade, nunca fico 100 por cento satisfeito com as minhas músicas e acho que há sempre um pormenor qualquer que podia ser melhorado. A minha música é talvez estruturada de forma mais tradicional que as produções do Thomas que é também muito mais confiante no seu trabalho do que eu. Eu estou sempre a pensar: “bem, isto ainda não está no ponto…”
“It's a Feedelity Affair” inclui produções fantásticas. Qual é que achas que foi a principal evolução no teu trabalho desde os teus primeiros temas até aos mais recentes?
Talvez o facto de já ser capaz de não depender de samples hoje em dia, uma vez que já sou capaz de gravar e tocar tudo sozinho . E também porque os computadores hoje são muito mais potentes isso permite-me encará-los como gravadores multi-pistas e poupar uma fortuna em equipamento de gravação convencional.
“Gentle as a Giant” é – penso eu – uma pequena homenagem aos prog rockers Gentle Giant e “Contemporary Fix” cita “Il Veliero”. É esta a tua forma de homenagear o passado? De o tornar de novo presente?
Sim, de certa forma é isso. Penso que quando gosto muito de uma música isso me inspira… às vezes até demais. Gosto muito quando há referências ao passado na nova música. Para mim isso faz todo o sentido.
Tens editado muita coisa. És um produtor disciplinado? Passas muito tempo em estúdio?
Sou muito disciplinado e trabalho demais. É algo bom, penso eu, mas também aborrece muito a minha namorada. Hum… O ano passado fiz coisas demais e isso resultou em sobre-exposição. Ainda passo muito tempo em estúdio, mas já não respondo "sim" a todos os pedidos. Em vez disso, estou a tentar divertir-me mais quando faço música e tento passar mais tempo a experimentar coisas e a aprender sobre o processo de gravação. Se não me puder divertir quando estou em estúdio penso que isso se vai reflectir na música, que perderá certamente alguma coisa.

Em termos de remisturas qual foi a tua maior encomenda até agora?
Bem, houve um par de “pedidos de estrelas” que quase quase aconteceram, mas não me importo que não tenham ido em frente. Prefiro sinceramente trabalhar na minha própria música.
E do universo da pop quem gostarias de remisturar?
Adorava poder meter as minhas mãos nas multi-pistas de qualquer uma das faixas dos Abba.
Quais são os próximos passos no teu calendário? Vai haver um novo álbum de Lindstrom & Prins Thomas?
Sim, estamos a trabalhar num novo álbum de Linstrom & Prins Thomas e ao mesmo tempo estou a trabalhar no meu novo álbum a solo. Também há um par de remisturas e mais algumas coisas em que estou a pensar!
Qual é o teu comentário à corrente avalanche de discos de reedits?
Quando feitos pelas pessoas certas alguns reedits podem ser melhores do que os originais e disfarçados de “novos lançamentos” alguns destes reedits podem mesmo vir a ser tocados por aqueles DJs que só querem novidades. Além disso, a cena dos reedits é muito mais interessante do que a dos mash-ups que foi apenas uma piada.
Quem são os teus heróis musicais? Grupos, produtores…
Shuggie Otis, Todd Rundgren, Led Zeppelin, Bob Ezrin, Van Dyke Parks, Curt Boettscher e muitos outros…
Compras muitos discos usados?
Costumava comprar muitos, mas hoje já não tenho tempo para andar nas lojas de segunda-mão. Mas isso não é bem um problema porque, para ser honesto, não posso dizer que tenha escutado mesmo bem todos os discos que comprei ao longo dos anos.
Costumavas pagar muito por discos? Onde os compravas?
Sou um tipo das ferias da ladra e nunca paguei demasiado pelos discos (e nunca comprei online).
Há assim algum disco que gostasses mesmo de ter que se ande a revelar complicado de arranjar?
Sim, há muitos que gostava de ter em vinil e que ainda não encontrei. Porém, o formato já não é uma preocupação para mim. O vinil é bom, mas o mais importante é poder ouvir a música. Por isso mesmo, hoje em dia dependo muito dos Mp3. Não conseguiria viver sem o meu iPod de 60Gb.

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Tês clássicos de Disco que todos deveriam ter.
Boney M – Take the heat of me
Bee Gees – Children Of The World
Michael Jackson – Thriller

Três maxis de disco actual.
Todd Terje – Eurodans
Chateau Flight – Baroque
Studio – Life’s a beach

Produtores actuais a ter debaixo de olho.
Todd Terje
Daniel Wang
Brennan Green
Metro Area
Idjut Boys
Prins Thomas
Joakim
Rub’n’Tug

Clube favorito em que tenhas tocado.
Club Yellow in Tokyo é sempre fantástico.

Equipamento favorito no teu estúdio.
O Omniharp. Mas está avariado! Tenho que o arranjar rapidamente!