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HitdaBreakz

12/25/2006

RIP James Brown


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James Brown faleceu no passado dia 24 de Dezembro, aos 79 anos, vítima de pneumonia. E o mundo perdeu um dos mais incríveis génios musicais que o século XX conheceu. DJ Shadow chamou-lhe “inventor da música moderna”. O mundo conhecia-o por “Godfather of Soul”, “Soul Brother Nº 1”, “Mr Dynamite”, “The Hardest Working Man on Showbusiness”. James Brown era filho dos campos de algodão da Geórgia, filho da segregação, filho das igrejas, do sofrimento, mas também filho do Civil Rights Movement, filho do orgulho negro, filho do Rhythm n’ Blues, do Gospel e de Ray Charles. Mas era igualmente pai do funk e por conseguinte avô de praticamente toda a música que hoje se faz ouvir nos clubes onde existem pistas de dança.
A morte não pode mascarar a personalidade complicada de James Brown, odiado por muitos dos músicos com que trabalhou por ser defensor de uma disciplina de ferro que se traduzia em multas sempre que em concerto alguém falhava uma entrada, uma nota, uma pontuação do ritmo. James também cumpriu pena de prisão por ter disparado sobre a sua mulher e teve ao longo dos anos altercações diversas com agentes de espectáculos, outros músicos, jornalistas… Mas nada disso diminui a força da sua música. Desde que os seus discos começaram a obter sucesso – nos alvores da década de 60 com clássicos como “Please Please Please” – que se percebeu que James Brown não era um artista convencional, como os outros. A sua personalidade emanava um enorme poder e James Brown tornou-se mesmo um dos símbolos da nação negra, capaz de um grau de unificação tão espantoso que a sua música foi o principal catalizador de um adeus pacífico ao reverendo Martin Luther King, após o seu assassinato a 4 de Abril de 1968: a transmissão televisiva de um concerto com apelos à calma de James Brown foi suficiente para manter as comunidades afro-americanas em casa e impedir muitos motins.
Na década de 70, a música de James Brown endureceu e tornou-se a banda sonora predilecta das conquistas do Civil Rights Movement. Com “Cold Sweat”, editado em 1967, James Brown tinha inventado o funk, que em poucos anos se tornaria o verdadeiro som das ruas da América negra. E nessa época, James Brown tornou-se um dos mais bem sucedidos artistas negros, com direito a tudo o que o sucesso facultava – limusines, espectáculos maiores do que a vida com verdadeiras orquestras em palco, mulheres, uma editora própria (a People) e até uma estação de rádio. O sucesso, no entanto, nunca impediu James Brown de cantar directamente para o seu povo. Frases de combate como “Say it Loud, I’m Black and I’m proud” serviram para cerrar os punhos da afirmação negra. O que permitiu ao cantor reter todo o respeito do seu público, mas também de músicos que nunca deixavam escapar uma oportunidade de tocar com o “Godfather”. Bootsy Collins, Bobby Bird, Maceo Parker, Fred Wesley ou Clyde Stubblefield são todos lendas em nome próprio que cresceram na sombra de James Brown. Este homem, que acompanhou Muhamad Ali à Nigéria em 1970, costumava dizer aos seus músicos: “Rapazes, há quatro “Bs” na música: Bach, Beethoven, Brahms e Brown”. A única coisa comparável ao ego de Brown era a própria música.
Com a década de 80, James tornou-se um dos símbolos da nascente geração Hip Hop que não se cansou de lhe samplar a obra (mantendo viva a sua música), assinou discos com Afrika Bambaataa, gravou a banda sonora de um dos filmes da série “Rocky”, fez um cameo em “Blues Brothers” e manteve a chama bem viva até à data da sua prisão. Na última década após a sua libertação, James Brown voltou ao activo e encheu grandes salas de espectáculos um pouco por todo o mundo (incluindo Portugal, onde actuou no Casino de Espinho, em 2002). A máquina de ritmo imparável, a verdadeira “Sex Machine”, continuava bem oleada e tão relevante como antes. Os Black Eyed Peas gravaram com ele o grande tema “Music”, deixando claro que as novas gerações não o tinham esquecido. Não podiam, tão forte era o alcance da sua música.
O mestre do funk desapareceu na véspera de Natal de 2006.