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HitdaBreakz

12/04/2006

Jazz Bridges # 1


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Indo Jazz Fusions (Atlantic, 1967)
Joe Harriott, John Mayer Double Quintet


A proposta para esta coluna é muito simples e revelada logo no título escolhido: as pontes a que me refiro são aquelas construídas por músicos, escolas e épocas que levaram o jazz ao encontro de sonoridades, sensibilidades e técnicas exteriores à sua prática mais reconhecidamente comum.
A primeira proposta recai sobre um disco de 1967 assinado pelo duplo quinteto de Joe Harriott e John Mayer. Apesar do duo estar baseado no Reino Unido, a Atlantic de Ahmet Ertegun foi um catalizador importante no aparecimento da aventura de fusão entre as linguagens da música indiana clássica e do jazz. Nessa época, o Oriente exercia um enorme fascínio na cultura ocidental, com Ravi Shankar a liderar uma espécie de “invasão” das Américas por parte de um verdadeiro exército de gurus apostados em responder à sede de expansão de horizontes da geração dos baby boomers. Talvez fosse esse o ângulo de Ertegun para justificar esta aposta.
John Mayer nasceu em Calcutá em 1930 e aí estudou violino até que mais tarde se mudou para Inglaterra a fim de prosseguir os seus estudos. Respondendo a um desafio do produtor Denis Preston, em 1965, Mayer criou a música que levou Ertegun a querer apostar num álbum que fizesse colidir os mundos da música indiana e do jazz. Preston sugeriu para essa aventura o nome de Joe Harriott, saxofonista-alto nascido na Jamaica já com carreira estabelecida e reconhecida sede de alargamento de horizontes expressa na sua música. E foi a partir desse momento que uma intensa ligação se estabeleceu entre os dois músicos.
A ideia de usar as diferentes texturas e escalas da música indiana como forma de libertação dos modos ocidentais não era nova e pelo menos já desde finais dos anos 50 que músicos como Eric Dolphy e John Coltrane estendiam o seu interesse até à Índia, inspirados pela música de Ravi Shankar (ele próprio um pioneiro na ligação dos mundos do jazz e da música indiana que no início da década de 60 gravou com músicos como Gary Peacock e Bud Shank). Mas Mayer, a força por trás de toda esta aventura, tinha em mente algo de mais ambicioso – uma perfeita fusão de ambas as linguagens que obrigaria músicos indianos e músicos de jazz a encontrarem-se em território novo.
O primeiro resultado desta experiência foi o álbum “Indo-Jazz Suite” em que ainda se sentia o colectivo a adaptar-se às ideias de Mayer, mas quando este volume inaugural das “Indo-Jazz Fusions” foi editado em 1967 (os dois volumes estão disponíveis num CD com edição da Redial) o duplo quinteto já se encontrava em “full swing” – “Partita” é uma impressionante peça de 17 minutos em que Harriott se encaixa de forma perfeita na estrutura hipnótica desenhada por Mayer. No segundo volume de “Indo-Jazz Fusions” há que registar a colaboração adicional de Kenny Wheeler, um gigante do panorama trompetístico britânico.
Harriott faleceu em 1973 e poucos resultados pode colher da duradoura influência que as suas explorações com John Mayer exerceriam sobre novas gerações de músicos, mas o violinista continuou a gravar até praticamente à data da sua morte, em 2004, e viu a sua música ser reconhecida com diversos prémios, incluindo grammys. A música que ambos gravaram na segunda metade da década de 60 permanece como um tributo valioso à liberdade: Harriott, que começou a explorar contextos mais free logo no início dos anos 60, encontrou nas composições de Mayer o combustível ideal para a libertação do seu fogo interior. E a música continua viva. Em CD e vinil. Basta procurá-la.

(texto publicado originalmente no # 8 da revista Jazz.Pt)