7/25/2006
Disco Gold # 2: The Residents - Diskomo
À superfície, nada parece ligar os
Residents a Disco e, na verdade, nada o prova musicalmente, apenas a genial doença conceptual que o grupo sempre deixou evoluir livre. Brincaram com coisas sérias (Beatles, Elvis, Terceiro Reich), inventaram muitas outras brincadeiras, a mais importante das quais foram as máscaras de olho gigante que nunca deixaram saber aos mortais quem eram os elementos do grupo. Existindo num loop muito próprio, Residents nunca soaram a ninguém que não eles mesmos. Disfarçaram sempre sob um tom de inépcia musical a constante subversão de regras, ideias e conceitos normalment aceites em música. Em 1979 editaram o álbum «Eskimo», três anos em preparação, a história de um povo no círculo árctico, as suas lendas e folclore traduzidas num álbum de música. Para
Diskomo, abreviando (podem ler o resto
aqui), o grupo construiu um medley com 6 pedaços do álbum e adicionou os típicos disparos laser Disco para maior credibilidade na pista de dança. O resultado é um beat constante, rápido, ornamentado pelas típicas melodias infantilóides que se tornaram marca registada dos Residents (por isso é que hoje, nos seus momentos mais loucos,
Fiery Furnaces parecem Residents) e, antes do fim, uma pequena pausa anuncia a parte final do tema, cerca de 2 minutos de Disco-Punk como nunca se tinha ouvido (nem depois). A marca infantil é retomada no lado B, «Goosebump», também uma colagem mas de lenga-lengas clássicas da
mãe-ganso acompanhadas por música exclusivamente tocada em instrumentos comprados no Toys R Us. Ouvir com atenção significa captar os 'tons sinistros' que muitas destas histórias e rimas têm quando deslocadas de contexto, às vezes apenas ligeiramente. O lado B não tem beat, mas para que não restem dúvidas quanto à intenção, a capa do disco exibe um círculo a imitar um autocolante onde se lê "Disco will never Die!" Em 86, Residents colam o ritmo de «Billie Jean» à letra de
«Kaw-Liga» de Hank Williams e, então sim, criam um hit de dança legítimo.
O segundo volume da série Disco Gold é assinado por José António Moura, colaborador das revistas Op e Slang, parte do projecto Major Eléctrico e uma das cabeças da cada vez mais incontornável Flur.
