<$BlogRSDUrl$>
.

HitdaBreakz

6/03/2006

Concerto atrás de concerto


A variedade cultural que Lisboa tem em relação ao resto do país é gritante. Tendo vivido os últimos anos em Coimbra, que já, pasme-se, ostentou o nome de Capital da Cultura, a oferta que Lisboa dá a quem nela vive está a anos-luz da parca actividade cultural de outras cidades do país, com apenas o Porto a acompanhar. Coimbra, por exemplo, apenas com um TAGV, que faz verdadeiros milagres com as verbas que tem, e com as actuações dos melhores djs e bandas nacionais e internacionais nas duas principais discotecas da cidade (a Via e o Vinyl) a oferecerem algo diferente a quem lá vive. Infelizmente, a Academia anda cada vez com menos vontade de ser o motor cultural que já foi, tornando a Queima e a Latada cada vez mais parecidos com feiras populares.

Exemplo dessa diversidade cultural foi esta semana passada. Com o Rock In Rio e com o Super Bock Super Rock a tomarem conta dos meios de comunicação, seria de esperar que Lisboa fosse incapaz de aceitar qualquer outro evento musical a acontecer na mesma data. Mas a verdade é que não.

Photobucket - Video and Image Hosting
A presença/estreia do vibrafonista António Bastos no combo de jazz em que se tornou Rocky Marsiano foi razão suficiente para que o concerto que deram por ocasião da programção cultural da Feira do Livro tivesse interesse redobrado. Contando agora com o input sonoro de beats, scratch, saxofone, guitarra e vibrafone, Rocky Marsiano continua ancorado no disco mas, com as diferentes linguagens e escolas que cada elemento traz para o projecto, começa a ser algo mais do que apenas isso, o disco. E com as actuações a ganharem uma solidez cada vez maior, é notória a cumplicidade que existe agora entre os músicos.

No dia seguinte e no mesmo local, Fuse tem uma plateia rendida à sua frente, com as suas rimas tão próprias a serem ouvidas em stereo, repetidas que eram por quem estava sentado. Sem nunca perder a noção de espectáculo, não deixa de ser curioso ouvir as verdades não escritas sobre o modo como vivemos. Ditas daquela maneira, às vezes fazem falta. Metem-nos no nosso lugar.

Photobucket - Video and Image Hosting
Outra coisa que nos mete no nosso lugar é a programação da ZDB. Às vezes olho para ela e, sabendo do rigor das escolhas, só dá mesmo para pensar que há tanta coisa boa ainda por conhecer. Não há mérito melhor de um espaço do que ter quem siga os seus conselhos quando não se conhece o nome, aceitando-os como o conselho de um amigo em quem confiamos. "Vai ver, vais gostar". E nós vamos. Não foi o caso desta vez, a banda era conhecida e a razão para o interesse redobrado prende-se muito com o soberbo disco já aqui falado, o EmbryoNNCK, parceria entre a No Neck Blues Band e os Embryo. Esse disco não era o mote do concerto mas o deleite ao o ouvir e o facto de ter perdido o primeiro concerto dos NNCK cá em Portugal, foi razão suficiente para sair de casa numa 2a feira à noite. E ainda bem porque a 3a feira soube bem melhor por causa disso. A banda demorou a encontrar-se (não deve ser fácil tocar a uma 2a feira), mas, quando se encontrou, já na 2a parte do concerto, era tudo o que queriamos ouvir.

Outro espaço verdadeiro-serviço-público é o Lux. Com um som novo capaz de fazer um ruído soar a uma sinfonia de Mozart, toda uma estética forte e uma programação única, variada, actual e onde a palavra "qualidade" é o mais fraco dos elogios que se lhe pode dar, o Lux é, sem dúvida nenhuma, o espaço nocturno de referência de todo um país. Sem descurar toda a prata da casa, não há muitos sítios no mundo onde, no mesmo dia, se pode ouvir Mathew Jonson e Theo Parrish. Ou os Munk e Derrick May, como vai acontecer brevemente. Mas é das ESG que trata este post. A aparente simplicidade do seu funk é desarmante mas a palavra chave da frase é "aparente". Groove puro, do princípio ao fim, e a pista do Lux que tinha virado plateia voltou a ser pista.

Photobucket - Video and Image Hosting
Para finalizar uma intensa semana de concertos ao vivo, uma das pérolas da electrónica estreou-se em Portugal com uma actuação ontem no Op Art. Com o eixo Kompakt a perder o seu fôlego criativo, os próximos passos em frente na electrónica germânica têm passado pelas novas editoras e por grupos singulares. Nenhum grupo encerra ambas as definições como Sleeparchive que é editora e projecto ao mesmo tempo. Com a actuação a rodar à volta dos EPs já editados e partilhando a simplicidade de meios das ESG, Sleeparchive deu, sozinho, o concerto de techno do ano. Podem fechar as listas, não é preciso ver mais nada.