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HitdaBreakz

5/28/2006

A remistura do edit da remistura


Está-se num ponto da música em que se encara a remistura no mesmo sopro como se encara a música original. As versões das músicas têm sido essenciais para ajudar a fazer com que se ultrapassem géneros, para que se cruzem nas pistas, para que interessem quem não se interessaria pelo original, ajudando, no caminho, a tornar a música numa enorme pangeia onde tudo é remisturável. Como se isso quisesse dizer que tudo é válido, que tudo tem a ver com tudo.

"Não quer?". Nem por isso. Se, na sua génese, a remistura implicava tornar algo amigo das pistas, com a gigantesca quantidade de temas feitos especificamente para serem dançados a sair todas as semanas, a remistura pode (e deve) ser apenas e só música, sem os espartilhos que fazer alguém dançar implica. Música diferente porque directamente inspirada pelo trabalho de outros e longe de ser uma cover. Mas música. Já não tem de ser o 4 por 4 com a quebra por cima a fingir de refrão, pode acrescentar algo diferente.

Há cuidados que muitos remisturadores não têm, aplicando invariavelmente, as suas mesmas ideias para uma remistura de rock como para uma remistura de minimal, como se a remistura fosse "a minha visão sobre isto", como se a remistura tivesse de ser mais um passo na coerente discografia de cada artista. Mas, novamente, não tem de ser assim.

"Sim, mas é pela visão que têm sobre a música que os remisturadores são pretendidos". Verdade, a mais pura das verdades. É pelo trabalho que têm desenvolvido até aí que se convidam artistas para remisturar algo. Fica a ilusão de que os artistas têm mais do que uma maneira de ver a música, que têm mais do que um interesse e que são capazes de reflectir isso na sua música.

Carl Craig, conotado, desde sempre, com o techno de Detroit, sempre foi capaz de ir mais além, da Innerzone Orchestra à Detroit Experiment, e, com isso, entregar remisturas tão diferentes como a que fez para os Throbbing Gristle (o retrofeel ácido de "Hot on the heels of love") ou para Terry Brookes. Em cada uma delas, mais do que a visão de Craig (que, claro, não deixa de ser omnipresente em ambas), o que se nota é o tratamento diferente para coisas diferentes. É que é impossível olhar para os Throbbing Gristle e para Terry Brookes da mesma maneira, um e outro invocam universos diferentes. Como podiam as remisturas dar visões iguais, mesmo que tenham vindo do mesmo remisturador? Os Jazzanova são outro bom exemplo de como a arte de remisturar é isso mesmo - arte - com o colectivo artístico a assumirem estudar cada objecto remisturado ao mais ínfimo pormenor, desde as influências à discografia do remisturado, acrescentando-lhe, depois, o seu próprio ponto de vista. Mesmo que não cumpram ipsis verbis com todas as premissas deste contrato, é inegável que cada remistura é encarada como mais do que outro trabalho.

Mas isto é o mundo perfeito. Bem mais fácil é colocar a nossa fórmula rapidamente sejam eles qual forem os ingredientes. Com cada homogeneização sonora, a saturação artística para quem ouve tantos trabalhos de remistura anda a tornar-se inevitável e, muito depressa, é-se incapaz de distinguir esta remistura daquela, quando o produtor é o mesmo. Com os produtores da moda a trabalharem cada vez mais e a produzirem cada vez menos coisas diferentes (ou seja, "cada vez mais do mesmo"), novas maneiras de abordar a remistura são urgentes.

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Se é com um maior cuidado no trabalho da remistura, como o fazem o Carl Craig ou os Jazzanova, que muito provavelmente isto chegará a melhor porto, custa um pouco ver que para os nomes sonantes a solução é tentar arranjar mais nomes sonantes para meter na parte de trás do disco. Como fez o Tiga ao convidar o Joakim para fazer um edit à remistura dos DFA para o "(Far from) Home". Tudo junto, dá um ridículo "Tiga - (Far from) Home (DFA remix (Joakim reedit)), como se o aumento do número de parêntesis fosse directamente proporcional ao interesse artístico da coisa e da causa. Não deixa, também, de ser irónico assentar que nem uma luva a crítica atrás feita de repetição formulaica e de desinteresse no seu trabalho mais recente a dois intervenientes da história. Uma pista : nenhum dos dois é o Joakim.