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HitdaBreakz

4/13/2006

Metro Area parte 2


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E no momento em que o nome Metro Area aterra entre nós, como podem ler aqui, parece-me que se pode recuperar este texto sobre o álbum dos Metro Area, que já tem um bom par de aninhos, mas continua impressionante. Este texto foi originalmente publicado na Dance Club.

EM BUSCA DO G.R.O.O.V.E.


Uma das grandes conquistas do disco sound foi o eliminar das barreiras entre os territórios do músico, do produtor e do DJ e nomes como François Kevorkian, Tom Moulton ou Larry Levan foram cruciais nesse processo. Algures entre o ponto em que François K tocava bateria por cima dos sets de Walter Gibbons no Galaxy 21, em que Tom Moulton inventava a moderna música de dança com a descoberta acidental do 12 polegadas e em que Larry Levan transformava a relação entre DJ e publico numa celebração espiritual, algo de muito especial aconteceu. O talento do músico, do engenheiro de som, do produtor e do DJ servia uma entidade apenas: o G.R.O.O.V.E. E enquanto a Indústria se divertia a perverter o conceito original do disco sound depois do sucesso de “Saturday Night Fever” oferecendo-nos dancing queens avulsas, uma série de visionários preferiam socorrer-se das técnicas de dub jamaicanas para insuflarem espaço nas produções da época, abrindo depois sulcos profundos no vinil dilatado até às doze polegadas para que o DJ pudesse trabalhar o seu público devoto até ao êxtase e à libertação final.
Hoje, é possível ver na pop lustrada de Kylie uma reedição das estratégias agressivamente comerciais que resultaram no lado kitsch, mas funcional do disco sound. Mas há ainda quem se dedique de corpo e alma a prolongar no tempo as experiências originais de transmutação do groove em música de união espiritual da pista de dança. Um dos casos mais flagrantes é, sem dúvida, o projecto Metro Area que reúne o veterano Morgan Geist e Darshan Jesrani.
Natural de New Jersey, Morgan Geist é um nome que desde meados dos anos 90 explora os caminhos mais contaminados de soul do Techno de Detroit e que descobriu, através das máquinas, uma ligação entre a espiritualidade do jazz, a demanda do groove do disco sound e o imediatismo do R&B ou Hip Hop. Nos Metro Area esses fios condutores são operados com mão de mestre, até à criação de um som que só se pode descrever como Novo. A editora alemã Force Inc. sugeriu recentemente “Digital Disco” como uma possível designação para esta sonoridade através de uma compilação onde os Metro Area marcam presença ao lado de outros estetas da “revolução” como Akufen. Mas ainda assim Morgan Geist mostra-se resistente a essa tentativa de baptismo que lhe parece limitadora. Talvez porque tenha um entendimento demasiado vasto da música e reconheça como influências estilos tão distintos como disco, boogie, techno, soul, Hip Hop, new wave ou nomes como Patrick Adams, os discos da Emergency Records do início dos anos 80, a Salsoul, a West End, Larry Heard ou o espírito original que reinava no Loft de Nova Iorque.
E apesar da vastidão do campo de referências, aquelas coordenadas apontadas por Morgan Geist numa entrevista a uma publicação online são bastante claras quando se ouve “Metro Area”, um disco onde se cruza instrumentação real (flauta, cordas, vozes...) com tecnologia, onde os avanços da electrónica mais recente surgem fundidos com conquistas da época mais experimental do disco. Ouvindo-se “Square Pattern Aura” é impossível não pensar na linha de baixo de “There’s No Stoppin’ Us” de Ollie and Jerry incluído na banda sonora do clássico “Breakin’” tal como é óbvia a dívida melódica que a flauta de “Machine Vibes” tem para com “Come Let Me Love You” um clássico superior da Prelude assinado por Jeanette “Lady” Day.
Tal como acontecia na época do disco sound, também em “Metro Área” a música é o resultado de um processo de depuração. Morgan Geist explicou recentemente ao New York Times que vê os temas do álbum de estreia dos Metro Area como dubs de músicas que realmente não existem. Na época do disco, Tom Moulton foi um dos responsáveis pelas primeiras “extended mixes”, uma técnica através da qual a canção original era muitas vezes despida de vozes e reforçada no plano rítmico deixando o baixo e a bateria conduzir a acção, tal como no dub jamaicano. Muitas das faixas de “Metro Area” soam exactamente como se fossem remisturas ou “extended mixes” de temas que na realidade não existem. Morgan Geist e Darshan Jesrani são ambos DJ’s, com uma noção apurada da economia da pista de dança e por isso mesmo, depois do processo incial de gravações, cada tema foi sendo “esculpido” na mesa de mistura, através de uma depuração de elementos supérfluos. Um método análogo ao da época do disco em que DJ’s, como François K ou Larry Levan eram convocados a fazerem a mistura final de muitos temas exactamente por terem uma noção precisa do que funcionava na pista de dança.
E isso é o que define a música dos Metro Área: grooves depurados, desenhados à escala das pistas mais inteligentes, devedores do passado, mas informados pelo futuro.
Geist e Jesrani assinam em “Metro Area” uma obra prima. Música cerebral e física, sem tempo, poderosa, concreta, irresistível. Um dos melhores álbuns do ano...!