<$BlogRSDUrl$>
.

HitdaBreakz

3/06/2006

Outro ponto de vista : Jazzanova em entrevista


Por ocasião do lançamento da nova compilação "The remixes 2002-2005", a revista Dance Club falou com Jurgen, dos Jazzanova, para saber o que o colectivo pensa sobre a arte de remisturar e sobre as novas questões artísticas que a remistura não só permite mas coloca.

Outro ponto de vista : Jazzanova em entrevista

Image hosting by Photobucket

Dance Club : Com apenas um álbum na vossa discografia mas já com um considerável número de remisturas, poderiamos pensar que os Jazzanova preferem remisturar a compor originais. É assim?

Jazzanova : Há muitas maneiras de olhar para o processo de remistura. O nosso entendimento do que deve ser uma remistura é muito semelhante ao de compor um tema original. Partilham o mesmo procedimento criativo e o mesmo esforço e por isso não são assim tão diferentes. A diferença está no ponto de partida para cada uma dessas vertentes. No caso da remistura, o ponto de partida é as partes do tema a remisturar e no tema original não. Por isso, para os Jazzanova, gostamos de fazer originais mas também gostamos, de igual modo, de fazer remisturas.

DC : Em que sentido as remisturas que os Jazzanova fizeram entre 2002 e 2005 são diferentes das que encontramos no “Remixes 1997-2000”? Notaram alguma alteração na maneira como remisturam outros artistas?

J : A maioria das remisturas que fizémos recentemente e que encontras no “Remixes 2002-2005” são remisturas uptempo e mais pensadas para serem tocadas nas pistas. Mas a ideia base, o nosso próprio processo criativo, é o mesmo : construir temas à volta de um crescendo que surpreenda ou fazer alguma mudança nos arranjos e esconder, na nossa composição, referências ao artista original ou à letra do tema remisturado, se essa letra existir, para que as possam encontrar na remistura de forma dissimulada.

Image hosting by Photobucket
DC : Há quem pense que a arte da remistura perdeu a sua inocência. Com a tendência crescente de a remistura conter quase nenhuns dos elementos do tema original, muitos artistas utilizam a remistura apenas como montra do seu próprio trabalho. Qual é a vossa posição neste debate que ainda hoje continua?

J : A arte de remisturar mudou muito ao longo dos anos. Hoje em dia, é uma arte por direito próprio e eu acho que é óptimo quando os remisturadores se exprimem através do seu trabalho de remistura. A ideia original de se fazer uma remistura, a ideia inocente de que falas, era tornar o tema original num tema que possa ser utilizado numa pista de dança. E isto não mudou. Para além de não ter mudado, a remistura é, agora, vista como uma nova interpretação do tema original por parte do remisturador, um olhar diferente ao tema original.

DC : Que influência poderá ter na arte de remisturar a evolução tecnológica a que temos assistido com software como, por exemplo, o Ableton Live, que já permite a criação fácil e quase imediata de remisturas de qualquer tema?

J : Isso que dizes é verdade. Podemos até pegar num tema qualquer e trabalhar nele consoante a reacção da pista. Seja como for, a arte de remistura continua a ser a mesma. O remisturador tem de decompor a remistura primeiro. Não interessa em que software, o processo de decomposição tem de acontecer. Depois, pode usar as pistas áudio do tema a remisturar enquanto está a actuar ou misturar essas pistas de áudio com outros temas. Mas, fica a pergunta, será que o resultado é uma nova composição ou será que é um novo arranjo para o tema anterior ou, porque não, apenas um mashup? Será que podemos chamar a isto uma remistura?

No entanto, estamos apenas a focar a questão no suposto remisturador, que pode usar o seu trabalho de forma muito diferente. É que todas as outras pessoas continuam a ter de comprar ou arranjar a remistura como um trabalho completo.

Image hosting by Photobucket
DC : Se na primeira compilação era possível identificar conexões estéticas entre todos os nomes, neste novo volume, essa aparente fronteira estética foi cruzada, com remisturas para grupos como os Calexico ou os Free Design. Isto é fruto de alguma mudança nos gostos dos Jazzanova ou meramente é reflexo do seu status actual enquanto remisturadores muito conhecidos?

J : Na primeira compilação, o que encontras são artistas que nós conhecíamos pessoalmente ou que de alguma forma estavam connosco relacionados. Mas, à medida que a nossa reputação foi crescendo, foram surgindo oportunidades para remisturar artistas que pura e simplesmente não conhecíamos pessoalmente, como os Calexico que referes. Musicalmente, cruzar fronteiras musicais é algo que nos dá muito prazer. Gostamos de dar o nosso ponto de vista a estilos completamente diferentes dos nossos.

DC : Com dois volumes de remisturas na vossa discografia e com tantos grandes nomes já remisturados por vocês, quem é que falta nessa lista? Que nomes gostariam os Jazzanova de acrescentar à impressionante lista de nomes já remisturados?

J : Ainda temos uma lista enorme de nomes que gostaríamos de remisturar, demasiado grande para a estar a dizer! Tivémos agora a oportunidade de remisturar o Common, que era um nome que estava nessa lista. Acabámos de fazer uma remistura para o “Go”, que é um tema do seu último álbum de originais. Mas não penses que só pomos nomes grandes na lista. Se gostarmos de um tema e tivermos tempo para o fazer, fazemos. Por isso, sintam-se à vontade para perguntar!

Esta entrevista foi realizada por José Belo e publicada originalmente na edição de Fevereiro da revista Dance Club.