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HitdaBreakz

2/14/2006

Slum Village People


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Os Slum Village têm um novo álbum na rua, o quarto da sua carreira. E um dos registos mais interessantes de 2005 no que ao Hip Hop diz respeito.



O nome Slum Village é quase sinónimo de militância Hip Hop. Este grupo deu ao mundo o enorme talento de Jay Dee, um dos mais celebrados produtores dos últimos anos, e enquadrou-se desde o início com a facção mais “consciente” do Hip Hop. Do line up original já só resta o rapper T3 (a quem se juntou para o novo álbum o também Mc Elzhi), mas o novo álbum, quarto na carreira dos Slum Village, recupera muita da força do disco de estreia e recoloca este grupo bem no centro das vozes mais relevantes da actual geração Hip Hop. E foi porecisamente com T3, a meio de uma digressão nos Estados Unidos, que trocámos algumas ideias que ajudam a esclarecer o estado de espírito presente dos Slum Village. Diz ele que escrever rimas é como andar de bicicleta. Falámos, claro, com um Lance Armstrong do Hip Hop.

Os Slum Village passaram por diversas mudanças de line up ao longo dos anos. Mas todas estas transformações parecem ter dado força ao grupo. Vocês são o tipo de pessoas que encontram motivação na adversidade?
É verdade, definitivamente chega-se sempre a um ponto em que é necessário provar aos cépticos que ainda somos capazes de o continuar a fazer, de carregar o peso de um nome nos ombros. E posso dizer que as críticas e a adversidade que enfrentámos em tempos mais recentes foram certamente uma fonte de inspiração para a abordagem a este novo álbum.
Parece-me um pouco estranho dar ao novo álbum o título simples de “Slum Village”. Parece ser uma forma de reafirmar uma identidade ou de dizer às pessoas que nova vida foi injectada neste grupo. Estou muito longe da verdade?
Não. Dar ao álbum o título “Slum Village” foi basicamente uma forma de dizer: “Olhem bem! Isto somos nós – T3 e Elzhi. É pegar ou largar!” Embora os membros antigos dos Slum Village sejam parte de um legado incrível o grupo hoje é assim e isto é o que nós fazemos, o que nós queremos ser - parte integrante da história dos Slum Village que se continua a desenhar a cada dia.
Os beats dos BR Gunna são incríveis. Como é que se estabelece a relação entre o lado musical e poético nos Slum Villa? Haverá no álbum beats desenhados para ideias de letras específicas ou são as letras que se adaptam aos beats?
Penso que as duas formas de estabelecer essa relação são válidas. O nome BR Gunna cresceu à volta dos Slum Village e a música deles tem definitivamente aquele lado “soul” e aquela vibração positiva por que os Slum Village são conhecidos por isso quando eles nos passam cds de beats podemos sempre encontrar material que se revela ser o complemento perfeito para um conceito ou uma rima que poderemos já ter na cabeça. Mas também há temas instrumentais que nos inspiram a criar propositadamente para esse groove e que despoletam ideias e conceitos de rimas ou de refrões.
E como é que surgem as letras? Nalguns temas dá a impressão que vocês tinham o coração directamente ligado às canetas…Há muitas maneiras. Por vezes há beats que nos agarram e nos obrigam a começar a escrever imediatamente e outras vezes as palavras surgem mais devagar e obrigam-nos a pensar nelas, na melhor forma de comunicar uma ideia. Por vezes é como andar de bicicleta, algo que sabemos fazer instintivamente e outras vezes é como tentar resolver um puzzle muito complexo. Desde que a nossa ideia surja clara no fim da rima, todos os métodos são bons.
Como é que classificariam este novo LP no contexto da vossa carreira? Parece-me ser o disco mais sólido dos Slum Village desde a vossa estreia.
Sem dúvida este é o nosso melhor trabalho desde “(Fantastic) Volume 2”. Embora haja temas tanto no “Trinity” como no “Detroit Deli” que nós sentimos serem bons clássicos. Mas este álbum, enquanto um todo, representa o Hip Hop e os próprios Slum Villa ao máximo, da primeira à décima quarta faixa.
Os Slum Village viram acontecer enormes mudanças e não apenas no seio do grupo, mas igualmente na paisagem Hip Hop que tem vindo a ganhar cada vez mais força nos últimos anos. Fazendo parte da indústria há tanto tempo, diriam que houve uma perda de inocência por parte desta cultura?
O Hip Hop perdeu a inocência há muito, muito tempo e a pureza desta cultura também se perdeu um pouco. Parece haver homens de negócios em excesso e cada vez menos talento. Por um lado isso é bom, porque eu pessoalmente adoro ver negros a ganharem dinheiro e a conseguirem chegar a algum lado, mas, para ser honesto, muita da porcaria que para aí anda faz os meus ouvidos sangrarem.
O espantoso Dwele aparece no vosso novo álbum e ele é obviamente um membro da grande família Slum Village. Com que outros artistas é que vocês se relacionam hoje em dia, tanto em termos de colaborações próximas como em aspectos mais espirituais de identificação?
Nós relacionamo-nos sobretudo com artistas que estão realmente sintonizados com a música e a cultura do Hip Hop. Tipos como o Common, Talib Kweli, Mos Def, Kanye West, Little Brother, Pharoahe Monch, Devin The Dude, MF Doom, Musiq Soulchild, os Roots, Jean Grae, Amp Fiddler,. Artistas que não têm receio de serem eles mesmos e de representar esta cultura fenomenal apesar das pressões da indústria para alterarem a sua visão. Nem todos podem ser o Jay-Z e alguém tem que ser o Immortal Technique, percebes o que quero dizer?
Descreve-me um dia típico na estrada antes de um concerto dos Slum Village.
Um dia na vida dos Slum Villa quando andamos em digressão? Pode variar, mas normalmente chegamos a uma cidade e vamos logo para o hotel. Se tudo correr bem teremos hipótese de relaxar um pouco (é muito raro) e depois teremos provavelmente que falar com alguma imprensa, talvez participar num programa de rádio para promover o concerto. Depois vamos até à sala do espectáculo para fazer o soundcheck e testar alguma ideia que possamos ter tido no dia anterior e regressamos ao hotel se houver tempo ou ficamos por ali a descansar até à hora do show. Depois do concerto, dependendo da cidade, poderá haver uma festa, mas normalmente arrumam-se as coisas, regressa-se ao hotel e preparamo-nos para fazer o mesmo noutra cidade no dia seguinte. Não há mistério nenhum.
E há planos para virem até à Europa?
Sim, deveremos estar na Europa em Fevereiro e depois de novo em Maio. Adoramos a Europa porque os fãs percebem realmente de música e estão mais interessados no lado artístico do que na fama e no hype, como acontece aqui nos Estados Unidos.
Sabes que o Kanye ressuscitou o debate dos beats samplados versus beats tocados com sintetizadores. Como MC qual é a tua posição?
Boa música é boa música, quer seja samplada quer não. O que se passa com os samples e o que faz deles algo de especial é o facto de fazerem parte de músicas que nos acompanharam toda a vida, que sempre estiveram ali ao nosso alcance à espera de um produtor que as fizesse reviver. Também me agrada a ideia do sampling trazer de volta artistas que poderiam estar esquecidos e dar-lhes uma nova oportunidade face a um público que nunca testemunhou aqueles talentos antes. Mas a música original também é especial porque sai sempre da alma de alguém e é criada a partir do nada. Mas, como eu disse, boa música é boa música.
Ok e o que é que estão a preparar agora?
Faremos outro LP já este ano e temos ambos mixtapes que serão editadas na Europa muito em breve: a minha tem por título “The Olio” e a do El é a “Witness My Growth”. Fiquem atentos. Também vamos aparecer no novo álbum de Pete Rock e temos mais um par de trunfos escondidos que não vamos revelar já, mas 2006 será um bom ano para os Slum Villa!
Muito bem, e para acabar: o Hip Hop é uma cultura com mais de três décadas, como é que vês o futuro do Hip Hop daqui a 10 ou 20 anos?
Se tudo correr bem daqui a 10 ou 20 anos o Hip Hop estará de novo mais próximo da essência, mas tão evoluído como seria de esperar de qualquer cultura em 2016 ou 2026. Muito provavelmente todos os géneros musicais estarão interligados. E podem confiar que os Slum Village ainda andarão por cá, seja de que forma for, para garantir que o Hip Hop não desaparece.

Nota: entrevista recentemente publicada no Blitz!