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HitdaBreakz

2/12/2006

Isto é arte?


Quando olhamos para uma instalação duma cama desarrumada e vemos alguém disposto a pagar milhares de euros por ela, é-nos complicado destrinçar aquela cama desarrumada da nossa própria cama desarrumada e porque é que aquela cama desarrumada vale tanto e nós temos de pagar para que nos façam a nossa. Outro dia, contaram-me que num centro de artes e espectáculos cá em Portugal, uma instalação composta por uma sanita, devidamente vandalizada com um martelo pelo artista na base, foi, por sua vez, "vandalizada" pela senhora das limpezas que, zelosa do seu dever, achou que se tinha partido e que aquele pedaço da base da sanita mais não era do que lixo. O artista, por sua vez, achou por bem pedir uma indemnização já que sentia a sua obra de arte violada.

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"Mas basta dar com um martelo noutra sanita e voila! temos obra de arte outra vez", pensam alguns de vocês. Mas não pensa assim o artista e quem lhe pagou a indemnização. O facto de ser uma sanita não é despiciendo de interesse porque de certeza que todos fizeram a associação à "Fonte" de Duchamp, expressão mais conhecida da arte conceptual.

Numa estrutura puramente musical, o "tudo pode ser arte" de Duchamp não tem grande defesa por aqui.
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Não pensem que falo de coisas como o Imaginary Landscape # 4 de John Cage, onde são sintonizados 12 rádios, ou os resultados tantas vezes surpreendentes do In C do Terry Riley, cuja validade estética/teórica é incalculável. Mas não consigo entender o "tudo é arte" quando o "tudo é arte" é um conjunto de arrotos, devidamente contextualizados, claro está, mas que, qual rei vai nú, não passam disso. Como se o termo "arte" tivesse tanto de elástico como de injusto, legitimando, no mesmo esforço, os arrotos e o 4'33", como se ambos fossem uma e a mesma coisa. "Mas,", insurge-se quem arrota, "quem és tu para me dizer o que é ou não é arte?".

O que é belo? O que é arte? Quando é que algo é arte? O que é o bom gosto e o mau gosto?" Quando é que podemos dizer que o disco do Tony Carreira é um mau disco quando há milhares de pessoas que discordam de nós, jurando com todos os bilhetes do Pavilhão Atlântico, que não, que o Tony Carreira faz música boa? E quando é que podemos dizer que o "Ascensions" do John Coltrane é bom quando o mostramos a alguém e nos diz que aquilo é uma confusão e não se percebe nada? Quem tem razão? Teremos todos razão?

A propósito desta eterna questão do "o que é arte", o Centro de Formação do Centro Cultural de Belém abriu as inscrições (6 a 16 de Fevereiro) para um pequeno curso intitulado "Quem tem medo da obra de arte?". Administrado por David Santos ao longo de dois finais de semana (6a e sábado), ele que é crítico de arte e assistente de História de Arte do IADE, o curso aborda exactamente as questões acima descritas. Infelizmente, a maioria das questões artísticas são indevidamente monopolizadas pela pintura, pela escultura, pela arte de instalações, algo que contesto desde sempre. No entanto, não há como negar muita música como arte pelo que, extrapolando os mesmos conceitos para a música, o curso terá o seu campo de aplicação aumentado para os leitores do blog.

Quem tem medo da obra de arte?
Sextas-Feiras, 18h-20h; Sábados, 11h-13h
Centro Cultural de Belém,
Lisboa


10, 11,17 e 18 Março

Quem tem medo dessa experiência aparentemente desconcertante a que chamamos arte? O receio de opinar é um sentimento comum quando falamos de arte moderna e contemporânea, mais ainda quando nos deparamos com manifestações de criatividade ou anti-criatividade absolutamente estranhas às nossas convicções.

O curso estrutura-se em 4 momentos:

1. "O que é arte?" A interminável busca de uma definição.

2. Limites e virtudes das principais teorias da arte.

3. Do "isto é belo?" ao "isto é arte?":
Kant após Duchamp, a teoria de Thierry de Duve

4. Do "isto é arte?" ao "quando há arte?":
a teoria de Nelson Goodman.

Concepção e Docência: David Santos IADE
Custo da inscrição: 130 € (inclui participação no curso, documentação de
apoio, Certificado de Frequência)
Nº de vagas: 30
Prazo de recepção das candidaturas: entre 6 e 16 Fevereiro 2006
Apresentação de candidaturas: As candidaturas devem ser formalizadas
através do preenchimento de um boletim de inscrição, disponível nas recepções do
CCB, ou no Centro de Formação.

Informações Inscrições: Centro de Formação – tel. 213 612 400 Fax. 213
612 894