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HitdaBreakz

1/20/2006

Hey boy, hey girl, freestyle dj, here we go!


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Se o título de dj freestyle tem sido reivindicado maioritariamente por djs capazes de (em muitos casos, brilhantemente) fazer cruzamentos de géneros tão diferentes, quer em estrutura quer em termos de tempo, como o jazz, o funk, a house e o reggae, e utilizá-los numa pista de dança, hoje em dia, um emergente género doutro tipo de dj freestyle parece ganhar cada vez mais peso.

Com a democratização do reedit a que temos vindo a assistir nos últimos tempos, já é possível fazer-se um set de temas de géneros completamente diferentes mas que seguem as regras estruturais da música de dança (tempo, métrica, estrutura). Mais do que facilitarem a vida aos djs, o que os reedits fazem é facilitar a vida a quem ouve música na pista, habituados que estão os ouvidos e a cabeça à continuidade que os djs costumam apresentar e com a qual a própria dança na pista está mais do que adaptada.

Outra razão é a normal evolução da música de dança. Se nos anos 90, a discografia completa dos géneros que associamos à dança (house, techno) tinha pouco mais de 10 anos, estamos, neste momento com 20 anos de música e um crescimento exponencial, de ano para ano de edições, de editoras e de artistas no mundo inteiro. O que é essencial tirar desta ideia é que a dança atingiu a maioridade. Com cada ano que passa, vai deixando cada vez mais discos para trás, prontos a serem redescobertos numa próxima oportunidade. O que, com os ciclos e contraciclos nos gostos das pistas, pode ser já amanhã. Este jogo do "o que ontem não era válido, hoje já será" faz com que os próprios discos já tocados sejam, num futuro próximo, passíveis de serem retocados. Mas já não precisam do reedit que os temas anteriores ao nascimento da house e da techno precisam muitas vezes. Já foram construídos dentro do paradigma que lhes deu origem, já nasceram com as regras do jogo definidas. Só para dar um exemplo disto que acabei de dizer, temos o "French Kiss" do Lil' Louis, um tema que a maioria dos leitores do blog conhece (e quem não conhece, faça o favor de se apresentar ao disco o mais depressa possível). Não é preciso nada no tema já que o original tem a estrutura (e falamos apenas da estrutura) de um tema actual. Menos óbvio, o "Baby wants to ride" do Frankie Knuckles. E muitos outros exemplos existem - basta pegar no catálogo de editoras como a Pagan ou a Greyhound e pérolas dos anos 90 que fazem sentido em 2006 começam a aparecer por todo o lado.

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Mas se isto é verdade para os temas antigos, existe outra razão, para mim, ainda mais forte para ver-mos cada vez mais estilos a se cruzarem nas malas dos djs. A verdade é que se vivem tempos musicalmente interessantes em tantos eixos ao mesmo tempo que não é possível ignorar determinados campos em detrimento de outros. Principalmente quando, como acontece cada vez mais, os extremos se tocam. Não há como ignorar a disco quando se é habituée do minimal - há produtores, com Villalobos à cabeça, a fazer a ponte entre os dois. E não é puxar demasiado a corda (até é, mas...) se disser que Moodymann o faz também, com um método de produção que já deve estar patenteado de tão singular que é. O electro do antes e do depois, com clash ou sem, o acid house de hoje e de ontem a confundir-se com o italo deste século e do passado. Detroit e Chicago são como Roma e todas as estradas vão lá dar. E a mais pequena produção siberiana usa os sons da remistura do produtor da moda no disco da Madonna. Tudo exemplos de como o constante cruzamento entre géneros, que podemos ouvir todas as semanas nas rodelas novas que saem, fazem criar uma Pangeia feita de discos com algo em comum.

Com o antigo novamente a ser novo através da inusitada quantidade de reedits que por aí andam, o não-tão-novo a recuperar legitimidade e o novo a soar a tudo isto junto e, no mesmo minuto, a nada disto, o que temos são todas as décadas da música de dança a poderem interagir entre si, falando a mesma língua franca. E é aqui que o dj vê o seu papel de divulgador ainda mais afirmado pois é ele que, tendo à sua disposição de uma forma relativamente coerente, todas as fases por que a sua música tem passado, é a ele que o papel de filtro volta a caber. Ao invés de ser um mero espelho do disco da semana ou do último pulsar do underground, o dj ganhou a liberdade de poder encaixar aquilo que é feito hoje com aquilo que lhe deu alma. Mas mais, com toda esta interligação, o dj ganha a capacidade de poder, ele próprio, sair das amarras que, infelizmente, têm sido muito fortes à volta de um género, com um dj de house a ser apenas um dj de house e um dj de techno a dar a quem o ouve apenas techno. E, sinceramente, mais free que isto não há.