<$BlogRSDUrl$>
.

HitdaBreakz

1/31/2006

The Alan Parsons Project


Image hosting by Photobucket
Alan Parsons é a figura central do Alan Parsons Project, um grupo inglês dos anos 70 "perdido" entre o prog e a pop, sempre cientes de que a melodia faz milagres. Fazendo orquestrações sintetizadas como se fosse a coisa mais simples do mundo, o Alan Parsons Project é dono de temas capazes de mover almas, como o Mammagamma (tenho uma versão na Baby Records disto que destrói o original por completo... fujam dela!), o Nucleus ou o What goes up, ainda agora mesmo revistos pelos Quiet Village (será que o nome vem do tema do Les Baxter?... é que até nem é longe a ligação). Os discos são baratos e relativamente fáceis de apanhar, principalmente o Pyramid e o Eye in the sky.

Esta é a primeira parte da tradução para português da entrevista de Alan Parsons que se encontra na "The Complete Audio Guide To The Alan Parsons Project", uma caixa de 5 discos dos anos 70, destinada a promover o grupo junto dos djs de rádio. Nela, conta-se a história do início da carreira de Alan Parsons enquanto produtor de gente como os Beatles ou os Pink Floyd, até chegar ao Alan Parsons Project.

A recolha do texto original em inglês directamente do vinil é de Matt Braun.

[Entrevista 1: Lados 1-4]

[Intro: ouve-se "I, Robot" [audio]]

Image hosting by Photobucket

Alan Parsons : Fazer da música vida foi algo que nunca pensei que fosse acontecer. Na verdade, eu tinha as qualificações básicas para o fazer, tinha aprendido piano e flauta na escola e sabia tocar relativamente bem guitarra e tocava com bandas locais e, ao mesmo tempo, tinha um enorme interesse por electrónica. Estava sempre a construir rádios e aparelhos electrónicos em casa. Nunca me tinha era passado pela cabeça que podia combinar esses meus dois interesses num só e fazer algo de útil com isso. Depois de deixar a escola, passei algum tempo num laboratório de investigação trabalhando em cameras de televisão. Isto era na EMI de Hayes, em Middlesex.

Depois, passei para uma fábrica de produção de fita, que só fazia fitas em mono de álbuns disponíveis comercialmente. Foi aqui que ouvi, pela primeira vez, música em sistemas de som de alta qualidade. Um dos álbuns que ouvi lá foi o Sgt. Pepper’s e, sendo fã dos Beatles desde sempre, fiquei abismado com os sons que o álbum tinha. Decidi, por causa disso, que ia procurar como é que tinham conseguido chegar àqueles sons e como é que todo o álbum tinha sido feito. O problema é que tinha ouvido dizer que era muito difícil arranjar um emprego nos estúdios de Abbey Road. Mesmo assim, escrevi uma carta para ir trabalhar para lá e, 10 dias depois, fiquei muito surpreso por me convidarem por aceitarem.

[Canção : The Beatles, "A Day In The Life", do "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"]

AP : Depois de conseguir alguma experiência em Abbey Road, trabalhando com fita e andando de um lado para o outro a fazer favores para outras pessoas, não demorou muito tempo até conseguir concretizar o meu sonho de menino que era, claro, conhecer os Beatles. Mandaram-me ir até aos Apple Studios, na Saville Row, onde os Beatles tinham estado a trabalhar no “Let it be” com o Ben Johns como engenheiro.

Tinham tido algum azar com a primeira instalação do seu equipamento de estúdio, com este a não corresponder às expectativas iniciais dos Beatles e, por isso, alugaram o equipamento à EMI. Eu tive a sorte de ter sido enviado apenas para me certificar de que estava tudo bem e para ajudar nas bobines. Não conheci nenhum deles bem, nesta altura, mas bastava estar na mesma sala que eles e aperceber-me de como trabalhavam para me sentir realizado. Já eram evidentes os problemas dentro dos Beatles, por esta altura, e o filme trouxe isso cá para fora. Mas, para mim, foi uma experiência única poder estar ali e ver como eles trabalham, como gravam, ver como as suas ideias se iam desenvolvendo. E, claro, não me posso esquecer da última performance pública deles, no topo do prédio Apple.

[Canção : The Beatles: "Get Back" do álbum "Abbey Road"]

AP : Apesar de “Let it be” ser o último álbum dos Beatles, enquanto grupo, foi o “Abbey Road” aquele que foi gravado em último lugar. A minha participação em “Abbey Road” foi, outra vez, a de operador de bobines/assistente do engenheiro/o que quiseres. Deu para perceber que os Beatles nunca estavam os quatro em estúdio. Muitas vezes, era o Paul e o George Martin ou o George Harrison com o George Martin. Cada um deles, vinha e gravava a sua parte. Uma das coisas que me impressionou imenso foi o facto de eles não usarem apenas e só instrumentos convencionais para fazer um álbum. Eles concretizavam um enorme número de ideias estranhas, de processos estranhos para conseguirem os sons que queriam. Fiquei estupefacto quando vi o Ringo a soprar para dentro de um copo de água através de uma palhinha para conseguir o efeito subaquático do “Octopus’ Garden”. Fiquei igualmente surpreso quando vi martelarem uma bigorna para o “Maxwell’s Silver Hammer”.

[Canção : The Beatles, "Maxwell's Silver Hammer" do "Abbey Road"]

AP : A maioria dos artistas desta altura gravavam em horários mais convencionais. Cada sessão durava 3 horas, por exemplo, das 10 à uma ou das duas e meia às cinco e meia. E eu nunca sabia o que é que ia fazer no dia a seguir. Podia passar a manhã a ajudar numa sessão de uma orquestra e, à tarde, estar a trabalhar num musical de West End. No dia a seguir, podia estar a trabalhar com uma banda de blues progressivo. Mas estar em contacto com tantos géneros, injectar em mim coisas tão diferentes, foi uma experiência muito importante para mim. Foi um processo constante de aprendizagem, saber como artistas diferentes trabalhavam e como diferentes engenheiros e produtores trabalhavam.

Grande parte do primeiro álbum a solo do Paul McCartney foi gravado em vários locais como, por exemplo, na casa dele ou na sua quinta na Escócia. Mas ele veio a Abbey Road para fazer algumas canções. Uma delas chamava-se “Every Night” e a outra foi o clássico “Maybe I’m Amazed”.

Nota do HdB : O primeiro álbum do Paul McCartney, chamado McCartney, tem lá um break clássico, o Momma Miss America.

[Canção : Paul McCartney, "Maybe I'm Amazed," do "McCartney" [audio]]

AP : Ao álbum “McCartney” seguiu-se o “Ram” e depois o álbum dos Wings, o “Wildlife”, que ele gravou em Abbey Road. Foi com o “Wildlife” que eu iniciei a minha carreira de engenheiro de som porque, de vez em quando, o Paul desaparecia com a banda e pedia ao Tony Clark ou a mim para fazer umas gravações para ele poder ouvir para ter noção em que ponto estavam e para onde a banda iria a seguir. Uma das músicas do álbum fui eu que a misturei, num destes pedidos dele. Fiz uma rough mix da “I’m your singer” para ele ver o que é que fazia daquilo e fiquei muito feliz por ver a rough mix que tinha feito ir parar ao álbum.

[Canção : Paul McCartney, "I'm Your Singer," do album, "Wildlife"]

AP : Devo ter causado boa impressão nas gravações do “Wildlife” porque o Paul pediu-me para colaborar nalguns temas do seu próximo álbum, o “Red Rose Speedway”. Trabalhar com o Paul como produtor é muito diferente do trabalho que tinha feito com ele enquanto engenheiro. O Paul tinha sempre dúvidas em relação a todos os sons. Ele dizia “faz esta guitarra soar melhor” ou “faz a bateria soar melhor” mas não sabia descrever em termos técnicos o que é que ele queria que fosse feito para soarem realmente melhor, o que tornava o papel do engenheiro muito difícil. Apesar de, no final, tudo ficar bem.

Houve uma pequena pausa nas gravações por causa da tournée europeia, Holanda, Bélgica, Alemanha. E lembro-me perfeitamente da “Hi, Hi, Hi” ser tocada ao vivo de uma forma completamente diferente daquela que está gravada. Eu prefiro a gravação ao vivo, acreditem ou não, mas milhões de outras pessoas discordam.

[Canção : Wings, "Hi, Hi, Hi," do álbum "The Wings Greatest."]

AP: Apesar de haver algumas produções independentes a serem trabalhadas em Abbey Road, a maioria das sessões eram produções internas. Os próprios Beatles eram considerados “internos”, porque George Martin era funcionário da EMI. Houve uma série de outros produtores a tempo inteiro para a EMI, como o Peter Sullivan, o John Burgess ou o Ron Richards.

Este último teve imenso sucesso com os Hollies. Eu envolvi-me com os Hollies quando o Graham Nash sai do grupo e entra o Terry Sylvester. Um dos discos que trabalhei com eles foi o clássico “He ain’t heavy, he’s my brother”. E trabalhei também nquele que acho que é o melhor deles, o “The air that I breathe”.

[Canção : The Hollies, "The Air That I Breathe" do "The Hollies - Greatest Hits." [audio]]

AP : Acho que comecei a trabalhar em estúdios numa altura extremamente apaixonante. Era uma vez, havia o mono. Depois apareceu o stereo. Depois as 4 pistas. Depois as 8. As 16. E Deus disse “que se façam 24 pistas”, que é onde estamos agora. Mas foi apaixonante não só por ver os estúdios a desenvolverem-se mas, principalmente, ver os músicos a evoluirem com as mudanças. Acho que uma das bandas que mais me impressionou neste aspecto foram os Pink Floyd.

[em fundo : Pink Floyd, "Breathe," do álbum "Dark Side Of The Moon."]

Image hosting by Photobucket
AP : A primeira vez que me encontrei com eles foi no “Atom Heart Mother”, que eu pedi para misturar. O álbum tinha sido gravado em 8 pistas mas a quantidade de efeitos especiais e máquinas que estávamos a usar, nem dava para acreditar. Era como se todas as máquinas do prédio tivessem ligadas para que nós usássemos todos aqueles efeitos. E aquele foi, à altura, uma das minhas mais desafiantes funções : misturar o álbum dos Pink Floyd. Graças a Deus, isto levou-me a coisas maiores e ao álbum que teve a maior influência em toda a minha carreira, o “Dark Side of the Moon”. A banda tinha andado a tocar a peça em concerto já há algum tempo, bem antes de eles entrarem em estúdio e a gravarem. Mas houve algumas alterações feitas no estúdio. Muitos dos temas ficaram como estavam mas não foram gravados como soavam – o que quero dizer é que começávamos apenas com bateria e baixo e iamos acrescentando camada atrás de camada de guitarra e vozes, etc. Que é o método pelo qual os Pink Floyd ficaram conhecidos.

Acho que uma das razões para o álbum ter demorado tanto tempo a ser gravado (levou um ano do início ao fim das gravações) foi o facto de termos perdido horas e horas e horas apenas tentando com que cada efeito ficasse exactamente como nós queríamos. Por exemplo, na “Money”, tivémos que pegar numa régua e medir secções de fitas, cada uma delas com um determinado efeito, uma caixa registadora, uma mala com dinheiro a ser deixada cair ou um pedaço de papel a ser rasgado. Tinhamos de juntar estes efeitos, criando um seven-in-a-bar loop, que servia de base para o tema que a banda ia tocar.

[Canção : Pink Floyd, "Money" do "Dark Side Of The Moon"]

AP : Quando a banda tocava a “Time” em concerto, ela começava simplesmente com o Roger Waters a tocar os clicks de baixo, tal e qual os que estão na introdução do álbum. Mas eu tive a ideia de pôr uma data de relógios que tinha gravado numa loja de relógios há uns tempos. A ideia era que todos os clicks dos relógios tocassem ao mesmo tempo, o que era completamente impossível de se gravar em circunstâncias normais mas que, com um multipistas, conseguiamos sincronizar, de forma a que fizessem o tic-toc ao mesmo tempo e que disparasse o alarme dos relógios todos ao mesmo tempo. E é aí que depois o Roger Waters mete o seu click do baixo.

[Canção : Pink Floyd, "Time" do "Dark Side Of The Moon"]