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HitdaBreakz

11/25/2005

Regresso à (velha) escola


Estar numa sala de aulas e ouvir alguém falar de diggin', MCs, graffiti ou ver uma MPC e perceber como é que de um simples disco se chega a um beat é algo que nunca me aconteceu enquanto aluno. E se me tivesse acontecido, gostando eu de música como gosto, devia ser daquelas raríssimas aulas (tipo educação física quando era jogo de futebol) em que o toque era a pior coisa do mundo.

Não sei quantos dos nossos ouvintes naquelas manhãs e tardes em que participámos tiveram essa mesma sensação quando acabou a pequena aula mas eu, que estava do lado dos que deviam dizer umas coisas, aprendi mais do que divulgei. Quando se tem ao lado os poços de informação sobre o assunto como o são os meus companheiros na aventura de vida que é a Loop, não podia ser de outra maneira.

E a viagem que foi feita aos primórdios do hiphop, e principalmente a ouvir, todas as manhãs, o Busy Bee a servir de MC do Grandmaster Flash, fez-me relembrar o quanto gosto das sonoridades do início do hiphop.

Claro que há três nomes que saltam logo à cabeça quando falamos em "início do hiphop" : Sugarhill Gang com "Rapper's Delight", Grandmaster Flash com "The Message" e Kurtis Blow com "The Breaks". Mas há tanto mais do que isto! Ficam aqui dois ou três.


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Grandmaster Flash & The Furious Five - Superrapin' (Enjoy)


A síntese perfeita daquilo que é, para mim, um grande disco desta era. Festivo nas rimas e com um clássico break por baixo, neste caso o Seven Minutes of Funk da Whole Darn Family. E aquele flow oldschool que é puro amor. "We're gonna make five MCs sound like one".


Whodini - Freaks come out at night (Jive)

O Freaks come out at night é posterior ao grande sucesso que foi Magic's Wand, já que data de 1984 mas não é por acaso que está aqui.

Dos vários clássicos que os Whodini fizeram, havia muitas hipóteses para colocar nesta lista mas é no Freaks come out at night que encontro as maiores pontes para o som que hoje ouvimos em tantos discos de música de dança, por exemplo. Ouvir a linha de baixo dos Whodini e ouvir a linha de baixo de tantos discos gravados hoje é uma e a mesma coisa.


Dr. Jeckyll & Mr. Hyde - Genius Rap (Profile)

É só pegar no instrumental do Genius of Love dos Tom Tom Club, rimar por cima como só se rimava nesta altura e temos o clássico feito. Andei anos atrás disto até que me apareceu num caixote, acompanhado do E.T. Boogie do Extra T.


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Crash Crew - High Powered Rap (Mike & Dave Records)

Há uma história curiosa à volta deste tema. O High Powered Rap foi gravado pelos próprios Crash Crew, que o editaram e puseram cá fora, vendendo cópias do disco a partir da mala do carro ou no final dos espectáculos.

Usando o agora clássico break dos Freedom (o Get up and dance), o tema foi um pequeno sucesso local mas nada mais do que isso. O que aconteceu depois é que foi interessante. É que o Grandmaster Flash e os Furious Five gravaram, em 1980, o clássico Freedom, que usa a mesma base sonora para a Sugarhill, naquilo que é o seu primeiro registo discográfico.

Isto na altura deu algum brado entre os dois grupos, com acusações de parte a parte e que a má reputação da Sugarhill Records não ajuda a resolver. A verdade nunca será descoberta mas fica aqui como curiosidade apenas.

Outra curiosidade é o aparecimento do nome "Mix Master Mike" no topo da label. Claro que não é o mesmo mas tem a sua piada.


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Rammelzee vs K-Rob - Beat Bop (Tartown)

Clássico indiscutível, é, provavelmente, o momento mais alto da carreira de Rammelzee, recentemente relançada com uma edição na sempre atenta editora alemã Gomma. Uma obra prima ainda hoje incompreendida e injustamente esquecida, Beat Bop é um hipnótico groove pulvilhado de efeitos sonoros que vão entrando e saíndo do tema e afectando tudo ao seu redor.

E é exactamente essa estrutura flexível de todo o tema que lhe dá o toque incomum (para não dizer único) e manifestamente pioneiro. Com uma capa feita pelo Jean Michel Basquiat, é um daqueles discos que tanto ficam bem num prato a tocar ou numa parede com uma moldura.