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HitdaBreakz

9/15/2005

The break boys


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Originalmente, o Hip Hop estabeleceu-se como uma cultura apoiada em quatro elementos primordias – a expressão musical personificada pelo DJ, a vertente poética do MC, a tradução plástica do mundo efectuada pelo Writer e, finalmente, a linguagem corporal do B-Boy ou Breaker. Hoje, como é óbvio, a Indústria do Rap é apenas um reflexo pálido desta ideia idílica de uma cultura multi-disciplinar, cujas bases foram lançadas no Bronx de Nova Iorque na primeira metade dos anos 70. Num mundo feito de mensagens – escritas ou faladas, aurais ou visuais – apenas as cifras poéticas do MC se revelaram passíveis de serem encaixadas num produto para venda – o CD. As artes codificadas do DJ – que corta o vinil numa tentativa forçada de criar a utopia do “endless break” – do Writer – que recusa ser esmagado pelo anonimato da grande cidade espalhando pelas paredes o seu nome de guerra em intrincados caracteres – ou do B-Boy – que traduz no espaço o som dos dilatados “breaks” de bateria oferecidos pelo DJ – dificilmente poderiam ser embaladas com a mesma eficácia comercial que as rimas sincopadas do MC. E por isso o Hip Hop transformou-se numa sinédoque e de um prisma de múltiplas faces, rapidamente se passou a entender esta cultura multi-dimensional pelo lado mais directo e vendável do Rap.

Assim, de todas as vertentes originais do Hip Hop, o B-Boying é, provavelmente, a menos celebrada. Apesar de tudo, ainda houve uma época no Hip Hop em que o nome do DJ precedia o do MC – DJ Jazzy Jeff & The Fresh Prince, Eric B & Rakim, Pete Rock & CL Smooth… – e o plasticismo particular do Graffiti criou ou influenciou artistas que conseguiram penetrar no sério mundo das Artes, como aconteceu com Keith Haring, Basquiat ou até Futura 2000. Mas os B-Boys – exceptuando o curto período, na primeira metade dos anos 80, em que o Breakdance tomou de assalto os quatro cantos do globo, mercê de “exploit movies” como Breakin’, Electric Boogaloo ou Beat Street – permaneceram essencialmente na sombra.
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Os compêndios oficiais revelam que o Hip Hop nasceu no Bronx, algures na primeira metade dos anos 70 (Novembro de 73, de acordo com Afrika Bambaataa…). Kool Herc foi um dos primeiros DJ’s a perceber que a pista se agitava de forma mais descontrolada quando os discos de funk que tocava chegavam àquela parte em que a canção se despia de todos os adornos deixando apenas uma das combinações possíveis de baixo, congas e bateria para carregar o groove. Geralmente, esses “breaks” dos discos duravam apenas escassos compassos, mas Kool Herc percebeu muito rapidamente que se arranjasse duas cópias do mesmo disco, poderia alternar entre os espaços de “break” de ambos, prolongando assim o impacto do pulsar rítmico na pista de dança. O Hip Hop foi depois erguido em torno desta simples ideia: o DJ foi obrigado a desenvolver skills que lhe permitissem manter o “break” fluído e o MC apareceu para, em cima desses “breaks”, incentivar a multidão à festa. Na pista de dança, os elementos mais dotados, capazes de traduzir mais acrobaticamente esses “breaks”, ficaram conhecidos por Break-Boys ou B-Boys.

O mais interessante no B-Boying – como foi levemente aflorado no clássico Beat Street (já disponível em reedição DVD) – era o facto de entre todas as expressões particulares da Cultura Hip Hop ser a que melhor personalizava o espírito de batalha idealizado por Afrika Bambaataa. Este pioneiro do Hip Hop no Bronx tinha um passado ligado à cultura de gangs como membro dos Black Spades e encontrou no Hip Hop um espaço para encenar os confrontos territoriais de uma forma não violenta. DJ’s, MC’s, Writers e, sobretudo, B-Boys de diferentes “boroughs”, “representavam” o seu bairro defendendo as suas cores em utópicas batalhas coreografadas de forma a que o vencedor se notabilizasse pelos skills que havia desenvolvido pela prática, treino e talento e os vencidos só se magoassem mesmo no orgulho (8 Mile, com Eminem, encena esse espírito primordial da batalha em confrontos de “Freestyle” entre MC’s). As mais espectaculares destas “batalhas” foram as que opuseram diferentes “crews” de B-Boys. No filme Beat Street são os Rock Steady Crew e os New York City Breakers que se encontram bem no centro da pista de dança, enquanto Jazzy Jay – o DJ eleito de Bambaataa – fornece o combustível rítmico que incendeia os corpos.

Munido de um conjunto imenso de munições – o Uprocking, os Power Moves e, sobretudo, o Freeze (o equivalente no B-Boying à punchline do MC) – o melhor B-Boy é o que consegue desafiar as leis da física com windmills e backspins aprendidos em filmes de Kung Fu, levando ao extremo a procura da individualidade num crescendo de movimentos que tem no Freeze (o momento em que o B-Boy remata a sua performance, parando bruscamente em atitude desafiadora) o seu auge.

Hoje, o B-Boying continua bem vivo e há mesmo uma espécie de “campeonatos” que todos os anos geram uma quantidade assinalável de vídeos. Mas é na recuperação da memória original do Hip Hop – através da recente reedição de DVD’s como Beat Street, Wildstyle, Graffiti Rock ou Style Wars – que se podem encontrar os heróis primordiais dessa vertente, como Crazy Legs ou Mr. Wiggles. O B-Boy é, obviamente, muito mais do que um dançarino. É o mais puro dos seguidores do Hip Hop e o único que sente na pele – e nos músculos e ossos – a real vibração das batidas que o funk legou e que o DJ transformou!

10 CLASSIC B-BOY BREAKS

01. Incredible Bongo Band - Apache
02. Herman Kelly & Life - Dance to The Drummer's Beat
03. Jimmy Castor Bunch - It's Just Begun
04. Jackson 5 - Hum Along and Dance
05. Melvin Sparks - Get Ya Some
06. Commodores - Assembly Line
07. James Brown - Funky Drummer
08. Candido - Candido's Funk
09. Rhythm Heritage - Theme from SWAT
10. Rufus Thomas - Do The Funky Penguin


Nota: Texto orginalmente escrito para a revista Umbigo.