<$BlogRSDUrl$>
.

HitdaBreakz

7/20/2005

CAMARÃO : GOSTOS E COLECÇÕES REMISTURADAS


Image hosted by Photobucket.com

Quando falamos de álbuns, temos sempre a ideia de que é o som que vai aglutinar tudo. De que é a música que dele sai que ajuda a criar, em nós, a ideia de unidade, de hegemonia. Mas o que é que acontecerá se o ponto de aglutinação de todo um álbum é uma pessoa e a sua maneira de ver a música?

Não conseguimos olhar para um álbum que assume de antemão o seu cariz remisturador (declarado logo no título) de toda uma colecção de discos como algo uno e indivisível? Não podem puras canções, de estrutura clássica, como "Nas tuas mãos" aparecer ao lado, no mesmo suspiro, de ensaios onde a house e o funk (nas tuas mãos, Francisco Rebelo) se misturam (como "New Game")? É claro que podem.

O facto de Alexandre Camarão ter feito um álbum tão heterogéneo não deixa de ter, em todo ele, um fio condutor : os seus gostos. Porque é dos seus gostos pela música de dança mais alternativa que este álbum trata. Porque é dos seus gostos pelo jazz tanto da Alice Coltrane do passado como dos Cinematic Orchestra no presente que o álbum trata. Porque é dos seus gostos pela soul de Stevie Wonder, quando se declara que existe alguém para amar, que este álbum trata. Porque é dos seus gostos pelos novos cantautores portugueses, de Melo D a Marta Hugon, passando pela poesia urbana de Kalaf e pela voz assertiva de Joana Ruival, de que este álbum trata.

Se havia dúvidas que era dos seus gostos que o álbum tratava, essas dúvidas estão dissipadas quando é o próprio a afirmar que todo o álbum resulta das constantes idas à estante de discos na sua casa para servirem de alimento às canções do álbum. Porque é na colecção de discos que encontramos, no estado mais puro, todos os nossos gostos, confessáveis e inconfessáveis.

Uma colecção de discos é o reflexo disso mesmo : dos discos que, enquanto amantes de música, compramos para saciar essa nossa sede. Sede essa que tanto pode ser de soul vocal para um domingo de manhã como o pulsar em 4 por 4 tão característico da house para nos preparar para uma sexta-feira à noite. Porque nunca é igual a nossa sede. Como nunca são iguais os nossos gostos. Como nunca são iguais (nem homogéneas) as nossas colecções de discos.

E é também de sinceridade que o álbum é feito. Camarão abre as portas de sua casa a quem o ouve, convida-nos a entrar, mostra-nos a colecção de discos dele, mostra-nos a maneira dele de olhar para essa mesma música que sempre o acompanhou e diz "estes são os meus gostos, é disto que eu gosto, é muita coisa diferente, eu sei, mas é disto que eu gosto mesmo".

Como qualquer bom coleccionador de discos, o que ele faz em The Remixes é mostrar a quem o ouve aquilo que o toca. Explica, através da música (em vez de em palavras) aquilo que ele sente quando ouve os discos que lhe preenchem a casa. Esperando, sempre, que do outro lado alguém diga : "eu também gosto disto".

E eu, Alexandre, estou aqui para dizer : eu também gosto disto. Muito.

Image hosted by Photobucket.com

Camarão - The Remixes (Loop:Recordings, 2005)