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HitdaBreakz

7/01/2005

BRIAN JACKSON - Pt3


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E pronto: parte final do tríptico dedicado a Brian Jackson. Onde se fala do espírito, da alma e da transcendência.


Uma coisa é certa – o Hip Hop mergulhou liberalmente nas águas que Gil Scott-Heron e Brian Jackson agitaram durante o tempo em que trabalharam juntos. Seria difícil encontrar um disco clássico de Hip Hop que não tenha samplado um beat, roubado um riff ou pedido emprestado algumas palavras daquele duo. E nos dias de hoje pode ouvir-se a sua influência em grupos como os Jurassic 5 ou Blackalicious sendo óbvia a sua influência em MC’s como Lyrics Born e Gift of Gab. No que lhe diz respeito, Jackson não se importa que outros usem o sem trabalho, mas com uma ressalva.

“Em primeiro lugar – não me importo que me samplem. Eu também o faço e não tenho problema algum com loops e samples. Mas, por outro lado, tenho algum problema com quem usa samples apenas por preguiça. Ouves uma coisa de que gostas e queres pegar nisso e fazer algo a partir daí, ótimo. Nós próprios fizemos isso. Não tínhamos um computador ou um sampler onde pudéssemos colocar ficheiros wave, mas samplámos com os nossos ouvidos. Voltando à Tradição, penso que é muito importante manter a tradição de tocar instrumentos. Até eu me preocupo com a possibilidade da electricidade poder faltar porque não posso carregar com um Steinway às costas (risos). E até mesmo um fender Rhodes não vai longe sem electricidade. A mim parece-me preocupante o facto de ser tão simples parar a música. Por isso tens que a ter nas mãos e tens que a ter no teu cérebro.”

Jackson passou a sua vida a fazer música que lida com o mundo de uma forma consciente e esse espírito revolucionário, televisionado ou não, ainda arde de forma intensa dentro dele.

“Quando falas de algo que é consciente aquilo a que de facto nos referimos é ao conhecimento. Conhecer não apenas o nosso ser, mas o nosso ambiente – um conhecimento dos resultados das nossas acções e das acções dos outros,” explica Jackson. “Quando penso em música consciente penso em música que aborda assuntos importantes, música que fala daquilo que sentimos, música que se dirige aos outros numa tentativa de começar ou de continuar um diálogo, música que informa.”
“Por exemplo, muitas das nossas canções no início, ou de facto sempre, falavam acerca da causa e do efeito. Se não fincarmos o pé e não exigirmos o nosso direito de protestar então um dia ser-nos-á roubado. Se não exigirmos o nosso direito à privacidade ou o direito a sentirmo-nos seguros em casa, então isso acabará por nos ser tirado. Se não abordarmos os assuntos da comunicação tal como a tentativa dos media nos controlarem as mentes e as mentes dos nossos filhos, então perderemos a capacidade de lutar a qualquer nível se não tivermos consciência do que está a ser feito para nos impedir de pensar.”


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Isto leva-nos a uma breve dissertação de como a América tomou o caminho errado durante a revolução Industrial de meados do século XIX quando os poderes instituídos deram às corporações os mesmos direitos que ofereciam aos indivíduos. Foi aí que alguns dos problemas sistemáticos que hoje enfrentamos foram originalmente criados.
“Não o sabíamos naquela altura,” Jackson declara. “Não estávamos conscientes de o quanto as acções do governo e daqueles ligados ou governo ou com meios foram desenhadas para nos manipular, para nos submeter a uma ordem que nos colocava à mercê de quem quisesse abusar de nós.”

“Quando eu era criança – e eu sou provavelmente da primeira geração em que a televisão funcionou como uma babysitter – o que eu percebi, de tanto ver televisão, foi que as mensagens que recebíamos faziam de nós ainda melhores consumidores,” comenta Brian. “O grande objectivo dos media é fazer de nós melhores consumidores – levar-nos a gastar o nosso dinheiro, a endividar-nos cada vez mais e a consumir a propaganda que nos impõem diariamente. É o revisionismo histórico, não é? Se quiseres falar do 1984 de George Orwell perceberás que o melhor sistema para a imposição de um revisionismo histórico já está a funcionar. Basta fazer um documentário de 4 horas sobre qualquer coisa para convencer as pessoas de que certas coisas não aconteceram como pensávamos que tinham acontecido e essa passa a ser a história oficial.”

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É fácil esquecer que a nossa sociedade tem um design infame e que é necssário combater isso com algo igualmente elaborado, daí a resposta de Brian – música. A sua biografia oficial termina com esta frase: “esta música não me pertence e no momento em que eu começar a tentar ser dono dela tudo terminará.”
Ele desenvolve: “Muitas vezes , as pessoas chegam ao pé de mim e dizem-me que realmente adoram a minha música. E não param de dizer ‘a tua música, a tua música’. E o que eu sempre tento dizer, da forma mais humilde possível, é que esta música me usa como veículo, aparece através de mim.”
“Quando um músico toca do coração, muitas vezes realmente nem sequer está presente. Isso acontece-me. Ouço algumas performances ou solos que fiz e não me lembro de ter feito aquilo. Umas vezes gosto do resultado, outras nem por isso. Obviamente, quando estou a ouvir aquelas coisas, e por estranho que pareça, as coisas de que eu gosto são aquelas de que eu menos me lembro. O que me leva à conclusão de que quanto mais consegues aceder a um estado meditativo, mais consegues chegar a um estado de passagem, onde deixas a música fluir através de ti, deixas os teus antepassados dizer-te o que fazer, deixas os espíritos entrar e não planeias nada nem ficas obcecado com isso. Eu estudo já há quarenta e tal anos. E se eu não sei o que vou fazer agor então o melhor é soltar-me. E quando me solto, os espíritos e a energia da música aparecem e permitem-me ser eu o instrumento. Eu não toco um instrumento – eu sou um instrumento."

Entrevista e texto de Dennis CookJamBase, Califórnia


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