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HitdaBreakz

7/29/2005

All The Breaks?


Há um novo site a causar burburinho entre diggers de todo o mundo. Chama-se All the Breaks e surge em apoio a uma curiosa edição em CD: uma compilação com 300 breaks - alguns clássicos, alguns obscuros, mas todos já usados em discos de Hip Hop - cortados e prontos a serem submetidos a um sampler.
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Obviamente, um objecto com estas características pode revelar-se uma excelente ferramenta de trabalho, mas pode originar igualmente alguns perigos. Sim, eu sei, nós próprios aqui no Hit Da Breakz temos uma rubrica chamada Break da SemanaTM em que apresentamos prova áudio da existência de breaks por aí, no terreno. Mas há uma razão para os oferecermos em tão baixa definição - porque a ideia é motivar quem nos lê a ir à procura dos discos e não apenas dos breaks (por outro lado, se tivéssemos um provider com capacidade suficiente de armazenamento, o mais provável sería oferecermos as canções inteiras, em toda a sua glória!).

A procura de breaks deveria ser apenas um meio para um fim e esse fim é o conhecimento. Por alguma razão, o Hip Hop produzido entre 88 e 93 resistiu ao tempo: nessa época de fervor sampladélico, o próprio Hip Hop explorou, investigou e estudou as suas raízes e, como é óbvio, mesmo que os samplers se detivessem apenas num break antes disso os giradiscos já haviam explorado álbuns inteiros. E esse estudo aprofundado da música - toda a música - acaba por sentir-se nos beats que gente como Large Professor, Diamond D, Prince Paul, Pete Rock, DJ Premier, Mark The 45 King e outros assinaram nessa época. Ignorar o essencial - a música - para nos concentrarmos apenas nos 4 segundos de um break é igualmente fechar os olhos à história. Como é óbvio, o facto de um disco ter sido originalmente editado entre 1966 e 1973 não faz dele um depósito de música relevante. Editou-se porcaria em todas as épocas e muitas vezes é preciso olhar para o presente para encontrar a depuração, a elegância e o génio, mesmo em discos de Funk (exemplos recentes como Sharon Jones ou Quantic Soul Orchestra confirmam isso mesmo - por vezes a música produzida actualmente pode ser ainda melhor do que a que a inspirou!). Mas o processo de descoberta - e consequente selecção - garante uma melhor possibilidade de eleger coordenadas e de as usar como uma ferramenta em favor da criatividade. E isto é válido para qualquer corrente que se entretenha a reequacionar coordenadas passadas: sejam eles o Hip Hop, Rock, o actual Punk-Funk ou a música de dança mais próxima do Disco e dos seus derivados (Electro, Hi-NRG, Ítalo...). Uma banda como os Sonic Youth, por exemplo, em que cada membro é um atento estudante do passado - do psicadelismo tropical dos Mutantes às experiências-limite de alguma música contemporânea, passando pelos mais abrasivos momentos da história eléctrica do rock - tem mais possibilidades de criar música relevante do que outra que tenha apenas a própria discografia dos Sonic Youth como referência primeira e última.

E é esse o sentido último do diggin'. Como diz o chavão, a viagem pode ser bem mais interessante do que a chegada ao destino. E aqui o Break é o destino e o diggin' a viagem, tantas vezes atribulada, que nos leva a redescobrir um passado imenso feito de grooves ou meras viagens interplanetárias através da música, feito de utilizações imaginativas da tecnologia, de pequenas revoluções íntimas ao nível da composição ou, muito simplesmente, de grande, grande música. 300 breaks num CD não são história. São apenas um convite à preguiça! Nas imortais palavras dos Liquid Liquid: Dig We Must!