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HitdaBreakz

6/05/2005

O RENASCIMENTO SEGUNDO HARRY WHITAKER


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Este post bem que pode ser considerado um Belezas Raras parte dois. É que o disco de que trata este post, o Black Renaissance, é a mais pura conjugação desses dois elementos : a beleza e a raridade. A raridade é um dado absoluto : é uma edição ridiculamente pequena para os nomes que tem de, pasme-se, uma editora japonesa, no ano de 1976. A beleza, essa, é também absoluta, para mim - que disco!

Harry Whitaker é pianista, compositor e produtor, intimamente ligado ao universo mais cintilante de Roy Ayers, nome consagrado de um jazz com J grande e que, na altura, era revolucionário pela fusão de estilos em que estava alicercado - quando lhes chamam conservadores, lamento, mas estão errados. Tratados musicais como o He's coming não estão ao alcance de meros mortais e muito menos são conservadores. É também a Harry Whitaker, amigo e irmão de armas de Ayers, que devemos a sua excelência. Mas é também o nome em que devemos pensar quando olhamos para a carreira superestrela da Roberta Flack.

No entanto, é este o seu momento de glória. Body, Mind & Spirit pode ser entendido como um grito de revolta, gravado num take, no dia do aniversário do nascimento de Martin Luther King, assassinado anos antes. Todo o álbum é um apelo de Whitaker para o afrocentrismo, com o segundo tema a fazer um apelo vocal ao ritual mágico e, no caminho, a lembrar, por segundos, quer a mensagem de Dee Dee Bridgewater no The Loud Minority de Frank Foster quer toda a mensagem do protorap dos Last Poets, ainda mais evidente quando pontuado que está pela percussão de Mtume.

E com Woody Shaw no solos de trompete, o álbum podia estar, por si só, tocado pela qualidade. Mas, com a linha de baixo de Buster Williams associada ritmicamente à bateria de Billy Hart e ao piano de Whitaker, ambos os temas têm, neles, a solidez e o corpo de que o álbum precisa. Solidez essa que permite ainda espaço para os excelentes solos do já citado Shaw mas também de Azer Lawrence. Os dois temas do álbum desenvolvem-se à volta destes elementos de forma quase ondular, com momentos de tensão e de quebra e de regresso entusiasta, como se de um renascimento, efectivamente se tratasse.

Apesar de serem irmãs uma da outra e de conjugarem todos estes elementos em si, o tema-título é, para mim, uma viagem diferente do segundo tema. Diferente no sentido de quer a linha de baixo quer os acordes de Whitaker darem azo a que todos os outros elementos do tema se desenvolvam num sentido que me agrada bem mais do que aquele que é seguido no segundo tema, que, para mim, se desenvolve num plano mais terreno. Que não é, nem de perto nem de longe, a viagem espiritual que o primeiro tema permite.

Mas mais do que falar dele, nada como ouvirem. Felizmente para todos nós, a Luv 'n' Haight (subeditora da Ubiquity Records... que, por sua vez, deve o seu nome a Roy Ayers e a... Harry Whitaker, por tabela) reeditou o Black Renaissance, há um par de anos. No entanto, antes de comprarem o álbum, vão ter hipótese de o ouvir na totalidade, cortesia de um site de Taiwan que colocou o Black Renaissance online.

Assim, liguem o som do computador, clickem nos links e percebam por vocês a razão por que este é um dos álbuns mais injustamente esquecidos e um dos álbuns de jazz a que mais volto. Os links permitem-vos ouvir a totalidade dos dois temas que compõem o Black Renaissance. Na edição original em vinil, cada lado do álbum continha estes temas - no lado A, o Black Renaissance e no lado B, o Magic Ritual.

Black Renaissance - Black Renaissance [audio]
Black Renaissance - Magic Ritual [audio]