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HitdaBreakz

6/26/2005

MEGAMIXES 101


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Hoje em dia todos os grandes DJ's de rádio (os poucos que sobreviveram à ditadura das playlists - como Tim Westwood ou Gilles Peterson) têm os seus exclusivos garantidos pelos próprios grupos que buscam algum tipo de exposição. Gilles Peterson até tem compilado alguns desses exclusivos nas suas compilações (vide Worldwide Exclusives). Mas houve um tempo de inocência na era da rádio (algures entre finais dos anos 70 e meados dos anos 80) em que a popularidade de um DJ se media pela sua capacidade de apresentar algo de novo e exclusivo a um público sedento de novidades e que mantinha com a rádio uma relação muito intensa e nada passiva. Claro que o poder da rádio era outro (a MTV estava ainda na sua infância) e a própria filosofia deste meio de comunicação pouco ou nada tinha a ver com as estações formatadas que hoje somos obrigados a engolir. Nessa época, em cidades como Nova Iorque ou Londres, os DJ's tinham que fazer pela vida e sem uma indústria tão aguerrida como a de hoje não se podia esperar que os exclusivos viessem dos próprios artistas. Por isso mesmo, os DJ's de rádio - e alguns DJ's de clubes - criaram a arte da MEGAMIX, normalmente o ponto alto dos seus programas, onde mostravam alguns dos seus mais recentes hits, misturados de uma forma muito particular.

Como esta: KISS FM HARDEST MIX

As Megamixes, trabalhos de puro cut n' paste, surgiram muito antes do sampling ser uma realidade concreta e implicavam um duríssimo trabalho de edição feito à velha maneira dos mestres da música concreta, como Pierre Henry. Fita magnética, um Reel To Reel como o que surge no topo deste post - da Tascam ou de outra marca - uma lâmina bem afiada e cola. Basicamente, o autor de uma determinada megamix tinha que gravar para fita todos os temas que queria usar, cortar fisicamente a fita em cada segmento que queria usar e ir colando, como se estivesse a montar um gigantesco puzzle. Algumas megamixes, como as que eram assinadas por Chep Nunez, um dos mestres desta arte, eram extremamente complexas, obrigando a dezenas de horas de trabalho, com colagens de inúmeros pequenos segmentos de fita para obter os efeitos de repetição que nos ofereciam. Nunez ficou famoso pelo seu trabalho de edição em discos de gente como os Mantronix, muito antes dos computadores terem tornado todo este trabalho muito mais simples.

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Quem quiser aprender um pouco mais sobre a nobre arte do Cut n' Paste poderá começar pelo excerto deste excelente artigo de Neil McMillan publicado originalmente na revista britânica Big Daddy e republicado na sua sucessora Grand Slam. Basicamente conta-nos a história da arte do corte e costura de som na música do século XX, das origens mais experimentais dessa actividade até ao seu impacto na Geração Hip Hop. E detém-se em mestres do género, como Double Dee & Steinski, que assinaram algumas das melhores megamixes de sempre. Exactamente o tipo de sonoridade que gente como Dj Shadow ou Cut Chemist decidiu homenagear com o seu contributo para as históricas Lessons!

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Para a dupla de Double Dee & Steinski tudo começou em 1982 quando responderam a um passatempo da Tommy Boy que desafiava fãs do projecto G.L.O.B.E & Whiz Kid para remisturarem o single Play That Beat (Mr. DJ). Double Dee & Steinski ganharam o desafio de caras com o agora clássico (e absolutamente brilhante) Lesson One: The Payoff Mix. Seguiram-se mais duas "lições": Lesson Two: The James Brown Mix e Lesson Three: The History of Hip Hop onde o génio dos dois manipuladores (com formação na área da publicidade) fazia colidir tudo e mais alguma coisa possível de meter em fita magnética - sons de cartoons, funk, rock, anúncios publicitários, entrevistas televisivas, etc. O resultado era quase uma visão caleidoscópica da história do som gravado onde as regras eram inventadas ao sabor do próximo golpe nas bobines de fita.

Não acreditam? Fica a prova:

LESSON 1

LESSON 2

LESSON 3

Claro que quando, por pura coincidência, tanto DJ Shadow como Cut Chemist assinaram uma Lesson 4, a ideia era homenagear os pioneiros Double Dee & Steinski, verdadeiros expoentes da arte da colagem e da colisão de sons sobre fita magnética! Shadow e Chemist levaram essa ideia mais longe e em tempos recentes ajudaram a dupla Dee & Steinski a voltar ao activo e até recriaram ao vivo - com gira-discos em vez de fita magnética - as históricas lições dadas originalmente na década de 80!

Fica aqui a "lição" de Cut Chemist: LESSON 4

Houve, claro, muitos outros grandes mestres da arte da Megamix. Como Omar Santana ou os Latin Rascals de Albert Cabrera e Tony Moran que gravaram aliás em Bach To The Future um dos maiores clássicos de sempre do Electro!

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Hoje em dia, claro, a arte da Megamix - para rádio ou vinil - continua bem viva (os Coldcut foram um dos expoentes do género em Inglaterra, por exemplo, e recentemente, os DJ Food fizeram em Raiding the 20th Century - de que já falámos aqui no HdB - a definitiva homenagem ao género) e basicamente pode ver-se a sua descendência sempre que se escuta uma colagem de sons de origem distinta, seja num contexto Hip Hop ou não. De certa maneira, até a recente tendência dos Mash Ups pode ser vista como directa descendente da arte das Megamixes onde muitas vezes já se podia escutar mais do que uma canção a ocupar o mesmo espaço!

Há um site absolutamente imprescindível para aprofundar conhecimentos sobre a arte da Megamix. Tem por título MASTERMIX e é de lá que estamos a linkar todo este áudio. Leitura absolutamente imprescindível, com muita e detalhada informação sobre dezenas de Megamixes clássicas. Não percam tempo e aproveitem! Boa viagem.