<$BlogRSDUrl$>
.

HitdaBreakz

6/08/2005

THE GRODECK WHIPPERJENNY LP




No mais recente número da Wax Poetics há uma longa entrevista com uma importantíssima figura dos anos 70: o músico e arranjador David Matthews. Matthews alcançou notoriedade por ter arranjado muitos dos mais importantes discos de James Brown na década de 70, trabalhou que arranjou depois de Brown ter despedido Pee Wee Ellis. David Matthews nasceu no Kentucky rural e apaixonou-se pelo jazz muito cedo, tendo subido a pulso pelo circuito das bandas ao vivo (que tocavam tudo e mais alguma coisa, dependendo do público que tinham à frente). Foi num clube de Cincinatti, onde tocava seis noites por semana, que James Brown o descobriu no final da década de 60. E de repente, este músico branco viu-se no centro do turbilhão de criatividade negra comandado por James Brown. Matthews fez imensos trabalhos para o Padrinho da Soul (Get on The Good Foot, Talkin' Loud and Sayin' Nothin', Sho Is Funky Down Here...), orquestrou discos para Vicky Anderson e, mais tarde, substituiu Bob James e Don Sebesky como director musical da CTI, trabalhando com gigantes como Idris Muhammad.

Conta Eothen Alapatt na Wax Poetics que Matthews estava na comitiva de James Brown que visitou Lagos, Nigéria, no início dos anos 70, onde tomou contacto com a música de Fela Kuti. O grande mestre africano impressionou tanto o jovem Mathhews que, de regresso aos States, ele não se cansava de mostrar cassetes de Kuti aos músicos de James Brown, procurando que eles capturassem o espírito primal daquela música.

Matthews produziu e arranjou o álbum Sho is Funky Down Here, um dos mais experimentais trabalhos de James Brown. E na entrevista à Wax Poetics revela que o envolvimento de Brown nesse disco foi marginal, tendo ele tratado de tudo no estúdio. O que só prova que Brown sabia dar-lhe espaço de manobra. Esse disco do Soul Brother Nº 1 foi produzido seguindo um seu desejo de editar alguma música "underground", que reflectisse o psicadélico estado de alma na época. E no mesmo mês em que Sho is Funky Down Here foi gravado, David Matthews assinou igualmente a obra prima conhecida como The Grodeck Whipperjenny.

Monstro de fuzz funk psicadélico, este álbum há muito que assegura uma das mais altas posições nas wants lists dos mais respeitados diggers de todo o mundo. O que é o mesmo que dizer que o original custa uma pipa de massa. Felizmente, The Grodeck Whipperjenny foi recentemente reeditado, o que nos permite estar agora aqui a falar neste álbum.

Ouvindo o disco, pensa-se imediatamente em colocá-lo no imenso e fabuloso "saco" do rock psicadélico. No entanto, e uma vez mais na entrevista da Wax Poetics, Matthews revela que o conhecimento que tinha dessa corrente naquela época era superficial e limitava-se a bandas com que se cruzava ao vivo (Vanilla Fudge) ou ouvia na rádio (Strawberry Alarm Clock). O que só torna este álbum, puramente experimental no sentido como explora alternativas ao rock e funk convencionais, num caso ainda mais espantoso de criatividade. Talvez a educação jazzística ajude a explicar o ímpeto exploratório de David Matthews. Mas provavelmente tudo se deveu a factores bem mais simples: alguma erva ou ácidos no est´´udio, tempo disponível e liberdade de movimentos. O certo é que The Grodeck Whipperjenny é uma desconcertante obra que traduz na perfeição um período na história em que as fronteiras eram alegremente esbatidas e tudo era válido. Há aqui, ainda, uma lição para aprender.