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HitdaBreakz

6/29/2005

BRIAN JACKSON EM DISCURSO DIRECTO Pt.1


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Descobrimos online, no site da JamBase, uma rara e preciosa entrevista com o grande Brian Jackson, o único homem a ver o seu nome ao lado do de Gil Scott-Heron numa série de álbuns seminais a que o Hip Hop nunca se cansou de prestar vassalagem ao longo dos anos. Cheio de trabalho ao lado de lendas do reggae como Scientist e U-Roy ou dos renascidos Digable Planets, Brian Jackson está de volta. E esta é uma entrevista reveladora da sua alma e consciência que aproveitámos para apresentar por aqui no HdB. Será mostrada em duas partes e esta é a primeira. Boa leitura!


Brian Jackson é um tipo humilde. Apesar de ser responsável pela criação dos moldes que o hip hop moderno e a soul actuais têm seguido, ele minimiza os seus créditos nessa área. “Eu limito-me a dizer: ‘eu toco um pouco.’ Normalmente, às pessoas que dizem isso, dêm-lhes um pouco de espaço. Percebes o que quero dizer?”, pergunta Jackson. “Eu sou apenas um estudante de música e para a estudar às vezes tenho mesmo que me sentar para tentar perceber o que já foi feito. Assim que o faço, torna-se parte de mim instantaneamente. Nem preciso de pensar mais no assunto. E através desse tipo de osmose eu torno-me mais quem de facto sou.”

Desde o início dos anos 70 até ao princípio dos anos 80, Jackson foi o principal combustível criativo para o lendário Gil Scott-Heron, tocando e compondo trabalhos marcantes como The Revolution Will Not be Televised e Johannesburg. Desde então ele colaborou com e produziu artistas como os Kool And The Gang, George Benson, Roy Ayers e o fabricante de hits britânico Will Downing. Tudo o que Brian Jackson faz emerge daquilo a que ele chama “A Tradição”, que encontra as suas origens em África.

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“Tudo remonta ao batimento do coração, ao ritmo que foi ensinado e passado de geração em geração pelos guardiões originais do conhecimento e da cultura. Eles chamavam-se griots,” explica Jackson. “Um griot era a pessoa que era eleita pela aldeia para manter a história do povo e para se certificar que todos sabiam o que se passava – basicamente traduzia a sociedade em música e o acto de dançar também acompanhava a sua actividade. Pensando bem nisso, percebo que essa foi a forma mais eficaz de retratar os sentimentos, emoções e disposição de uma comunidade, pequena ou grande.”

Ele continua: “Mudámo-nos para a América e muita da nossa linguagem foi-nos roubada. A capacidade de trocar informação foi posta em causa porque viemos de muitos lugares diferentes. Éramos de muitos lados e não falávamos a mesma linguagem e o único elemento comum era o ritmo e a música. Foi a partir daí que nos desenvolvemos. Por exemplo, nos campos quando os escravos falavam de revolta o denominador comum em termos da planificação e da comunicação era a música. Estas mensagens foram sempre transmitidas através da música. Por isso, a Tradição de que eu falo é a tradição de informar e de preservar a cultura e as ideias e conceitos e sentimentos de uma comunidade. Estamos a falar num sentido mais amplo agora. Estamos a falar da comunidade do Homem. Estamos a falar do mundo inteiro. Se algum dia quisermos unir as pessoas, a nossa melhor possibilidade reside na música. É nessa Tradição que estamos a falar.”

A música de Jackson com Scott-Heron em álbuns incríveis como Pieces of a Man ou The First Minute of a New Day ainda nos obriga a fazer “aaahhhh”. A sua música está cheia de verdade e compreensão, factores muitas vezes ausentes de muita da música moderna. Jackson toca percussão e flauta, mas é fundamentalmente conhecido como um teclista, principalmente pelo seu espantoso e muitas vezes samplado trabalho no piano eléctrico Fender Rhodes.

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“As pessoas vêm falar comigo e dizem ‘aquele som de Rhodes… Essa era a tua marca.’ O primeiro disco que ouvi com aquele Rhodes foi “Miles in The Sky” com Herbie Hancock e pensei imediatamente que aquele era um dos instrumentos mais cool que eu alguma vez tinha ouvido e eu tinha que ter um. Ao tocá-lo eu ainda era eu, mas era um instrumento electrónico e o instrumento electrónico coloria o que eu fazia e eu coloria o seu próprio som também. Tinha tanta influência em mim como eu tinha nele por isso o crédito não é totalmente meu.”

“Sou um estudante da progressão,” declara Jackson. “Quando ouço o que as pessoas fazem agora eu ouço o que eu próprio tentei fazer. Ouço as minhas influências. Eu era alguém que estava apenas a tentar copiar e imitar e estudar e aprender com os meus heróis. Ouço isso como uma continuação. Nunca ouço música como uma coisa parada no tempo. Uma das coisas mais divertidas que eu tentava fazer quando era mais jovem, e ainda o faço, era ouvir um músico e tentar perceber quem é que ele ouvia. Quando ouço o Herbie, por vezes consigo ouvir nele o Óscar Peterson ou o Wynton Kelly.”

Um dos seus projectos correntes é uma digressão já planeada para o final do Verão com os gigantes do reggae U-Roy e Scientist. Brian comenta: “Conheço muita gente que ficará surpreendida por eu ir fazer uma coisa assim, mas a verdade é que eu sou um estudante de toda a música. Se tem um ritmo, se tem uma batida, então eu estudo-a. Estudei muito o reggae desde os anos 70. As raízes do reggae estão em África e na América e essas são duas músicas que eu tenho vindo a tentar combinar à minha maneira. O reggae faz o mesmo com um ângulo diferente, por isso, naturalmente, eu tenho curiosidade em relação a esse estilo.”
“O que eu vou fzer com o U-Roy é adicionar efeitos espaciais que podem nem ser reconhecíveis como vindos do Fender Rhodes, mas serão,”
revela Jackson. “Às vezes é isso que acontece – investe-se na textura. Uma das coisas que aprendi ao trabalhar com instrumentos electrónicos é que tens à tua disposição uma paleta mais variada. Em vez de teres apenas o vermelho, o azul, o verde e o amarelo, tens todas aquelas cores intermédias. Tens muitas mais cores com que podes pintar e texturas com que podes jogar.”

Brian também está a tocar com os renascidos Digable Planets como teclista convidado. Entusiasmado com a colaboração, ele afirma: “A primeira pessoa dos Digable Planets que conheci foi a Lady Bug. O que eu lhe disse foi que pensava que era uma ligação fantástica porque eu vejo-a como uma ligação entre a geração da spoken word representada por mim e pelo Gil e a geração mais nova que voltou a trazer a spoken word para a ordem do dia. O que eu sempre desejei ver foi essa ponte, essa ligação completa. Por isso é que trabalho tantas vezes com artistas mais jovens que estejam interessados na mesma profundidade de expressão que nós usávamos.”

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