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HitdaBreakz

6/02/2005

BELEZAS RARAS


A raridade e a beleza não são sinónimos, embora haja quem confunda a propriedade de algo raro com a obtenção de algo belo. A verdade é que isto não é certo, principalmente quando a grande maioria dos melhores discos alguma vez feitos são discos comuns. Stevie Wonder não é raro.
Curtis Mayfield não é raro. Beatles não é raro (ou nem tudo é raro, antes assim). Os Beach Boys não são raros. John Coltrane não é raro. Charlie Parker não é raro. Rara é a beleza que está contida em muitos dos discos que todos estes nomes criaram. Resumindo: rara é a beleza dos discos, mas todos nós podemos ter essa beleza rara porque os discos são facilmente encontráveis.

Mas isto não quer dizer que não existam discos raros que contenham, eles próprios, uma beleza singular incrustada nas suas linhas. E, infelizmente para tantos de nós, há discos raros que são puro e simplesmente fabulosos mas inatingíveis. Inatingíveis pelo preço, inatingíveis pela quantidade de discos que foram feitas, inatingíveis por estarem fora de Portugal.

Amen reedições! O digga ainda há dias vos falou das reedições dos mais do que fabulosos álbuns dos Invaders e de Demon Fuzz, discos que aconselho mais do que podem imaginar. Mas, infelizmente para tantos de nós outra vez, há mais. E é de algumas dessas pérolas negras que trata este post.


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THE FREDRIC - PHASES AND FACES (Forte, 1968)

Oriundos do estado do Michigan, os Fredric são uma daquelas raras bandas capazes de resumir todo um universo de melodias que nos alimentam a alma num único momento especial. Mas, e aqui é que está a beleza rara do álbum, nenhum deles parece saber como o fazer, já que o álbum é uma ingénua correspondência de melodias singulares e originais a uma estrutura musical incapaz de as sustentar. Ou seja, o álbum alimenta-nos a alma mas deixa-a a suplicar por mais deste alimento.

Por isso, para mim, este álbum dos Fredric tem todos os ingredientes da perfeição pop mas falta-lhe o cozinheiro que lhe dê todo o espaço de que um álbum com tanto para dizer precisa, mas que parece ter demasiada pressa em o dizer.

THE FREDRIC - Morning Sunshine [audio]


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THE MIGHTY RYEDERS - HELP US SPREAD THE MESSAGE (Sun Glo, 1978)

Este é o disco que está no topo da minha (extensa) lista de "quero isto". E como podia ser de outra forma? Bastam segundos a ouvir o Evil Vibrations para ter de ser assim. E basta o Evil Vibrations para esquecermos que, à volta dele, há todo um outro conjunto de temas que dão expressão ao álbum.

É que o resto do álbum podia ser tudo Paul Mauriat (desculpa, digga, tu sabes que gosto de ti mas Mauriat... ok, aquele tema, mas é só esse...) e ia para o topo da minha lista de "preciso disto" sempre. Mas não, o resto do álbum é a sofisticação que o funk pode ter em pessoa e a definição de tudo aquilo que o disco podia ter sido, uns anos depois.

O grande e incontornável senão deste álbum é o facto de só ir para casa de outra pessoa por perto de 200 contos. É dos álbums de funk mais raros de sempre.

THE MIGHTY RYEDERS - Evil Vibrations (pt. 1) [audio]
THE MIGHTY RYEDERS - Evil Vibrations (pt. 2) [audio]


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THE GROWING CONCERN - THE GROWING CONCERN (Mainstream, 1968)

Por último, isto. Tenho muita dificuldade em ser capaz de exprimir em palavras tudo o que este álbum já me deu mas vou tentar. É que quarenta anos depois, este álbum continua tão perfeito como o era quando, em 1968, foi criado. Foi editado na Mainstream, uma editora que começou no jazz mais straightforward de gente como o Dizzy Gillespie e, tempos mais tarde, evoluiu para o jazz não tão acessível como o do Frank Foster e o seu brutal e muitas vezes samplado The Loud Minority (que foi a minha primeira compra no eBay, tal o desejo de o ter) e para o psicadelismo dos Big Brother & The Holding.

E é neste último género que, se calhar, melhor encaixam os Growing Concern. Mas, sinceramente, isto tem tantas interinfluências que qualquer comparação com o psicadelismo mais r&b dos Big Brother é injusto para ambas as bandas. E os Big Brother foram únicos por tudo o que conseguiram por si só. E os Growing Concern devem mais aos Left Banke que aos Big Brother.

Estes Growing Concern não são, nem de perto nem de longe, os monstros que os Big Brother são mas, apesar de só terem um álbum, foram capazes de cristalizar nele tudo o que mais aprecio na música deste período. É um álbum do final dos anos 60 e, por isso, tem o som característico dos álbuns psicadélicos desta altura, mas dá-nos bem mais do que à primeira vista possa parecer. O álbum é daqueles raros álbuns que nos obriga a criar, dentro de nós, todo um mundo surreal que parece não nos pertencer mas ao qual temos acesso através da música.

E é um álbum de estreia, imaginem só. As más línguas dizem que Bob Shad, dono da Mainstream, cortou com a banda porque achou que não ia ter sucesso nenhum com eles. A verdade, e só pode ser esta a verdade, foi que Bob Shad teve plena noção de que a banda nunca iria voltar a fazer algo semelhante. Não se consegue melhorar a perfeição.

THE GROWING CONCERN - The edge of time (pt. 1) [audio]
THE GROWING CONCERN - The edge of time (pt. 2) [audio]
THE GROWING CONCERN - Hard hard year (pt.1) [audio]
THE GROWING CONCERN - Hard hard year (pt. 2) [audio]