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HitdaBreakz

5/14/2005

CAPAS


Capas. Muitas vezes são elas que nos fazem comprar discos enquanto estamos naquelas garagens poeirentas. "Hmmm, não conheço isto... mas bela capa! Vai para o lote...". A capa tenta ser, na maior parte das vezes, o espelho do disco. Tenta, através de uma representação visual, mostrar graficamente aquilo que se passa musicalmente. Nem sempre esta correspondência é conseguida : há albuns com capas terríveis e com música inacreditavelmente bela e há capas fantásticas com música imerecedora de tal trabalho. Mas as capas tentam sempre reflectir nela a singularidade do trabalho musical, tentam ser únicas. São elas que diferenciam um disco de outro quando ambos não estão a dar música e, portanto, é essa função diferenciadora que quem desenha capas tem em mente quando as realiza.

Mas há um maravilhoso mundo paralelo a este. Um mundo onde as capas não se querem diferenciadas, querem-se iguais ou muito semelhantes a outras capas. Basta ver algumas capas da série 1000 da KPM para se perceber que não houve qualquer vontade diferenciadora entre um KPM 1100 ou um KPM 1219. Vontade diferenciadora essa que também não é partilhada por outras editoras de library music, como a Theme ou a Impress (a Bruton, por exemplo, já tem um cuidado diferente, não diferenciando os discos apenas com palavras mas também com imagens e cores diferentes para várias séries... mas, para ser sincero, acaba por ser quase tudo a mesma coisa... ou se lê a contracapa e se vê quem é que está nos discos tema a tema ou pode-nos escapar um grande disco com enorme facilidade). Fossem todas como a Montparnasse e as suas capas coloridas!

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À direita, temos o Big Beat e à esquerda temos o Sounds of toilets flushing vol. 4. O drama!

Outra modalidade nestas capas semelhantes são as citações a outras capas. O designer, ao colar a capa de um disco a uma outra capa, quer, por norma, associar o disco da capa que está a desenhar ao som de um outro álbum conhecido. Como se dissesse : "isto tem a ver com isto", induzindo o pensamento de quem vê o álbum, de forma consciente, para todo o universo evocado pelo disco citado.

Exemplo imediato disto é a capa do disco do Dan Nakamura no álbum Lovage ou do disco do Armando Teixeira enquanto Balla. Ambos pretendem remeter para todo o universo chanson de que Serge Gainsbourg é um dos seus maiores expoentes - por isso, nada mais certo do que citar o Serge Gainsbourg no. 2 (1959). Prestem atenção a este Serge Gainsbourg no. 2. Além do Serge (não é a obraprima como é o Melody Nelson mas não é nada mau), este disco conta com a presença de Alain Goraguer e da sua orquestra. Quem é Alain Goraguer? La Planete Sauvage, amigos... La Planete Sauvage.

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Outro exemplo perfeito desta confluência entre o original e a citação é a edição limitada do Camel Bobsled Race (Mo'Wax 1997), o disco onde o turntablista QBert pega nos temas do DJ Shadow e a transforma num mix. A capa é, claro, uma referência mais do que assumida ao Death Mix, um set do Afrika Bambaataa. E a glosa vai ao pormenor de copiar a contracapa e a label no disco (delicioso o cuidado ao detalhe que tiveram até na substituição do texto da contracapa, sem esquecer a substituição do "Your friend Paul Winley" por "Your friend James Lavelle" e de, apenas neste disco, a Mo'Wax ser a James Lavelle's Records - apenas e só para respeitar a Paul Winley's Records). Fica assim, como quem não quer a coisa, a referência para prestarem muita atenção à curta mas importante (quer historica quer musicalmente) discografia da Paul Winley's Records. Fundamental.

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Outros exemplos famosos de citações bem conhecidas é a referência ao "The In sound from way out", da dupla Jean Jacques Perrey e Gershon Kingsley, por parte dos Beastie Boys. Ou ainda o EP dos Jurassic 5 que é a cópia daquelas capas de singles para djs da Prism. Ou Kruder & Dorfmeister a fazerem de Simon & Garfunkel no mais perto a que a dupla austríaca chegou a um álbum. Mas, diferentemente do que tinhamos no Camel Bobsled Race, aqui não temos correspondência perfeita entre a música do que é copiado e a música do que copia. Nada no G-Stoned nos remete para os Simon & Garfunkel a não ser a capa. Ok, a Prism é a antepassada da Cold Chillin', aceito a crítica. No entanto, a Prism é também a casa de coisas bem fora do universo do hiphop oldschool dos J5 (os Lime, que adoro, por exemplo, editaram na Prism).