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HitdaBreakz

4/06/2005

QUESTÕES À VOLTA DO VINIL (parte II de III)


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Vou defender agora um ponto complicado e sensível para muitos de vocês que andam na internet e, como amantes da música que são, têm ou tiveram, nalgum ponto das vossas vidas, contacto com o formato mp3. Sei que nem toda a gente concordará comigo mas sei que isto que digo é, para mim, uma posição clara e pensada e ajuda a entender também a minha posição de defesa de um formato considerado por muitos como ultrapassado como o é o vinil.

Aviso, desde já, que sou tudo menos perito em compressão áudio. Nem sequer um curioso, pouco me interessa, ou mesmo nada, as diferenças técnicas da compressão a 192k ou a 128k. O mp3, para mim, não é nunca um formato definitivo. Vejo sempre o mp3 como algo de imperfeito. Ontem, quando dizia que quando comprávamos um CD na loja, estávamos, inadvertidamente, a comprar também o master, não posso dizer o mesmo em relação ao formato mp3. O mp3 não é o master, é uma cópia de segunda categoria do master. O mp3 é a cassete do formato digital só que não perde qualidade quanto mais a tocamos.

O mp3 é, para mim, enquanto objecto final, uma pequena falta de cortesia para com o trabalho importante que é o da mistura e o da masterização, conceitos que pouco dizem à maioria dos ouvintes de música mas que é dos mais importantes em todo o processo da criação de um disco. E o mp3 desrespeita, de certa forma, este trabalho. Tenho muita gente amiga que se diz incapaz de perceber a diferença entre um mp3 a 192ks e o original em CD, por exemplo. Mas, e falo por experiência própria, a diferença, apesar de diminuta, é notada. Principalmente na franja sonora, onde os sons mais agudos e os mais graves perdem espaço e deixam de cumprir a sua função de poderem ser sentidos mais do que ouvidos (porque também se sente o som, toda a nossa estrutura óssea, porque é nos ossos que a sentimos, vibra com um bom grave). Mas não só. Todos os que usam mp3s sabem que mesmo o som no meio do espectro sonoro se torna menos nítido, menos brilhante. E quando se junta uma cacofonia de instrumentos, a confusão que poderia ser clara, torna-se baça, com sons a perderem-se e outros a roubarem espaço. Como se de uma má mistura se tratasse.

O que é verdade é que a grande maioria das pessoas considera o mp3 um produto final. Algo que substitui o disco. E, por muito que se entenda que não, por muito que eu defenda que o som é isto e aquilo, que não tem capa, que não tem aqueloutro, a verdade é esta : o mp3 satisfaz o comum dos ouvintes de música, que são aqueles que neste momento me estão a chamar audiófilo e a pensar que tenho fios de ouro a ligar o pré-amplificador Krogbreschneider VI2 a válvulas ao meu amplificador Grauphone versão 3 porque a 2 tinha cromados em prata em vez de ser em cobre (não tenho nada disto e todos os nomes são inventados por isso não googlem nada disto...). E satisfazendo o comum dos ouvintes de música, tem necessariamente de ser um produto substituto do disco original.

Não falei nem uma vez do campo económico da questão, da importância que o mp3 pode ter no desfalque da indústria musical, porque há valores contraditórios em relação a isto e não me queria meter por aqui. Não vou entrar no campo do "o mp3 está a matar a música!" porque sei que, na generalidade e por enquanto, isto não é verdade. Sei que quem usa o mp3 como amostra do trabalho do músico, o faz como forma de ponderação na compra do disco ou do artista A ou do artista B ou do artista C. Sinceramente, como amostra, acho que o mp3 é um excelente subproduto musical e uma grande forma de publicitar o trabalho de uma forma rápida e justa.

Também sei que existe um número bem considerável de pessoas que ouve mp3s que são verdadeiros amantes de música, capazes de ver a diferença entre um vulgar CDR com mp3 lá dentro e um disco como objecto unitário de arte/cultura, capaz de encerrar em si um sentimento de posse de algo belo. E é este sentimento de propriedade do que é belo que não existe no mp3. Nenhum de nós olha para o mp3 como nosso. Como poderíamos olhar o mp3 como nosso se ele é fruto da comunidade onde o fomos buscar, seja ela o Soulseek, o Napster, o que for?

Porque muitos de vós estarão a dizer "mas não é melhor pertencer a uma comunidade do que permanecer sozinho?", esquecendo-se que comprar um disco não nos torna isolados, antes nos torna também parte de uma comunidade. Mais importante do que isso, tornamo-nos, ao comprar um disco, parte de uma comunidade capaz de, por si só, criar mais música.

Tenho noção de que é aqui que está o busílis da questão, na questão de ver o álbum como objecto final de algo artístico e o mp3 como uma cópia (nuns casos legal, noutros pirateada) desse objecto de arte. E aceito que há muito que discutir em relação a isto. Estou mais do que aberto a contrariarem o meu pensamento porque tenho noção de que está longe de ser definitivo em relação a este último ponto.

Até porque, como sabem, a questão das netlabels vem dar uma grande volta em relação ao mp3 como objecto final. No entanto, adianto já que é bem diferente o download de um mp3 de uma netlabel de um download de um mp3 de uma música que existe em formato físico, realizado por uma editora tradicional.

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O que é que eu tenho a ver com isto?

Desta maneira, olho para o mp3 como olho para um livro fotocopiado : é útil, cumpre a sua função mas não é meu, é emprestado pelo António, pela Maria ou pelo Joaquim. E todos nós sabemos o que acontece aos livros fotocopiados : não os consideramos livros mesmo, consideramos uma cópia do livro. Não vejo muitos (nenhuns?) livros fotocopiados nas estantes das casas que visito, e acho que isso diz muito da importância que damos à cópia. Penso da mesma maneira em relação ao mp3.