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HitdaBreakz

4/05/2005

QUESTÕES À VOLTA DO VINIL (parte I de III)


O digga meditava noutro post em relação ao futuro do diggin', levantando questões bem interessantes.


Será que estamos a caminho do fim da edição de discos em vinil?

Será que o mercado da música de dança e das reedições é suficiente para manter a chama acesa?

Será que se arranjará uma maneira mais barata e menos penosa para o ambiente de fazer discos como os do vinil?

Será que essa solução enjeitará uma revolução em si mesma?


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É que o problema da produção em vinil é interessante. Com todas as edições a serem praticamente apenas realizadas em formato CD, o vinil passou a ser considerado um subproduto musical, uma coisa de nicho, um artefacto antigo que nos lembra tempos remotos. Mas o que toda a indústria foi incapaz de perceber no meio da década de 80 foram duas questões fundamentais : o hiphop e a música de dança.

Ambas remetem para o vinil, cada uma à sua maneira. O hiphop usa o vinil como matéria prima, indo buscar, através do diggin', a base sonora para a sua maneira peculiar de fazer música. A música de dança usa as particularidades que a prensagem de um tema na totalidade de um dos lados lhe proporciona (melhor som, mais corpo e, fundamentalmente, uma impressionante diferença nos graves em relação ao formato digital). E é com estes dois parâmetros que a indústria não contava, toda ela interessadíssima no facto de se passar tudo para digital.

Mas isto é nos anos 80. Hoje em dia, podemos acrescentar outra questão que pode salvar o vinil da extinção : a pirataria. Com a facilidade de acesso que qualquer pessoa tem a todos os CDs virgens de que precisa, cada um de nós se pode tornar numa pequena fábrica de prensagem de CDs. Dizia o Tozé Brito e muito bem que um dos principais problemas do formato digital é que, ao vendermos um CD, estamos a dar às pessoas o master da gravação. E isto é verdade, sem tirar nem pôr. Nunca na história da música se tinha feito tal coisa. E, tendo o master, a cópia digital do master é um master também. Não perde qualidade, como acontecia quando faziamos uma cópia de uma cassete para a outra.

Isto não acontece com o vinil. Ainda estamos longe de ter acesso ilimitado quer a discos em vinil virgens quer a processos de prensagem tão em conta como um simples gravador de CDs. Isto pode funcionar a favor do vinil se a indústria, um dia, considerar o vinil uma alternativa eficiente para combater a pirataria. Não seria totalmente eficaz, claro, sempre dá para gravar um disco em vinil para mp3 mas tornaria o processo ligeiramente mais complicado.

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Um dia vou ser pequena como um leitor de CDRom.

Mas isto é a indústria a falar e estou a usar argumentos da indústria com um único fim : salvar o vinil. Para mim, que sou consumidor compulsivo de vinil, não sei o que me aconteceria se, um dia, tivesse que lidar só com o formato digital da coisa.

É uma questão económica também : tendo acesso a vinil em qualquer Cash Converters a um preço acessível como 1 euro o álbum, não há possibilidade de voltar atrás e ouvir CDs. Posso comprar 50 álbuns por 50 euros, o preço de dois álbuns em CD. Posso comprar um álbum por dia. Posso comprar dois, se me apetecer. Posso comprar um álbum em vez de um jornal. Posso comprar um álbum em vez de dois cafés. São estas as contas que faço e é uma liberdade enorme poder fazê-lo.

Claro que para as coisas modernas, terei de comprar CDs (ou vinil, quando existe) e pagar os preços normais. Mas sinto o diggin' como um complemento para poder apreciar melhor os CDs de música moderna que aparecem. Compreendo melhor um álbum actual se perceber de onde vem do que se o ouvisse apenas e só, sem coordenadas. E isso sinto que seja rentabilizar ao máximo o dinheiro que gasto com discos novos. Comprar o Unclassics do Morgan Geist e perceber que aquilo vem da fusão do electro, do electric boogaloo, do italo, do funk e do disco só é possível se tiver tido acesso a discos desses géneros antes. E, graças ao diggin', tive.

(continua)