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HitdaBreakz

4/25/2005

KEB DARGE: KING OF FUNK




Keb Darge, que regressa às edições na BBE com Kings of Funk, compilação em que partilha a responsabilidade do alinhamento com Rza dos Wu-Tang Clan, é unanimente apontado como papa do Funk. Para este escocês, cuja carreira como DJ já vem de longe, o Funk poderá estar mesmo à beira dos lugares cimeiros das tabelas de vendas.

Gostava que começasses por me contar a ideia por trás deste novo álbum de título Kings of Funk.
A Barely Breaking Even (BBE) vai lançar uma nova série de compilações com títulos como Kings of Hip Hop, Kings of Disco, Kings of Soul e, claro, Kings of Funk. E, como sempre acontece, eu recebi um telefonema a perguntar-me se queria fazer parte desta nova série. Eu respondi que sim, claro. Propuseram-me dividir a escolha do alinhamento deste volume dedicado ao funk com o Rza e eu aceitei porque para mim está sempre tudo bem.

Planeias continuar a trabalhar com convidados ao nível da elaboração dos alinhamentos em volumes futuros?
Claro! O Paul Weller, por exemplo, divide comigo a responsabilidade do alinhamento da compilação Kings of Soul. Muita gente não sabe, mas o Paul Weller é um grande coleccionador de Soul e tem uns largos milhares de singles desse género. E para mim, que toco sempre Soul e Funk nos meus sets, é natural estar envolvido numa compilação assim. As pessoas hoje vêem-me como uma espécie de embaixador do Funk em regime de exclusividade, mas para mim as coisas são diferentes. A Soul está na origem da minha actividade como DJ!

Kings of Funk é uma compilação bem diferente das anteriores em que te envolveste. Talvez seja mais apelativa para um público mais vasto. Foi um passo natural ou planeado?
Compreendo porque achas que é mais apelativo. Talvez por ter coisas como os MFSB

… e a Sharon Jones e os Quantic
… sim. Bem, para mim é simples. Eu não faço nenhum esforço especial para escolher coisas obscuras. Gosto de boa música e encontrar boa música para estas compilações que as pessoas ainda não conheçam às vezes pode implicar ir buscar nomes menos conhecidos. Mas se eu puder ajudar a divulgar música feita agora que possui o mesmo espírito dos anos 60 ou 70, então tanto melhor. Os discos da Sharon Jones e de Quantic caem nesse território: música fantástica feita agora que ainda não possui o reconhecimento devido. E a verdade é que os coleccionadores de Funk não se podem queixar porque nos últimos anos têm saído coisas absolutamente incríveis, como a Sharon Jones, os New Mastersounds.

Várias das pessoas com quem tens trabalhado têm algum tipo de ligação ao universo do Hip Hop – como o Pete Rock, o DJ Shadow ou agora Rza. Sentes que o Hip Hop é o tipo de música que melhor traduz no presente a vibração original do Funk?
Não. O Hip Hop está até um pouco afastado do real universo do Funk. Desses todos, o DJ Shadow é uma excepção. Só o Josh, ou DJ Shadow como é conhecido, é que é um verdadeiro conhecedor. Apesar de ser muito novo, ele possui um enorme respeito pela história do Funk e conhece realmente as raízes do género. Há dealers americanos com que eu lido que já há 20 anos vendem discos ao Josh. Para os outros produtores, o Funk é apenas uma fonte de breaks. Basta ver a selecção do Rza… Conheço imensa gente que se limita a procurar um single raro por causa de quatro segundos de bateria, quando os restantes 3 minutos são absolutamente brilhantes. Confesso que isso me faz alguma confusão.

Porque é que a força do Funk se manteve intacta até hoje?
Porque é boa música. Simplesmente isso. O Funk nasceu como uma forma de traduzir a vibração de uma época e por isso era uma música extremamente honesta, sem artifícios. Essa é a característica que lhe permitiu atravessar as décadas e manter a vitalidade. Hoje em dia, grande parte da música que se escuta nos clubes não vale nada. É feita com um propósito quase artifical, para seguir esta ou aquela nova tendência. Mas o Funk nasceu para traduzir o som das ruas, sem esse tipo de preocupações. E eu acredito que daqui a 200 anos as pessoas ainda vão ouvir James Brown ou Marvin Gaye. Só a grande música tem essa capacidade de resistir ao tempo.

Enquanto coleccionador, o que é que te leva a dizer que este é um single de Funk e aquele é apenas um single com um tema de soul um pouco mais rápido?
Pois é… é muito difícil explicar a diferença. Está tudo na atitude, não há grandes definições. Já me aconteceu passar uma semana inteira num grande armazém americano, ouvir milhares de singles e apenas escolher 5 ou 6 para trazer para casa. Provavelmente, outra pessoa à procura do mesmo que eu traria outros singles. Mas para mim os que eu escolhi eram os que traduziam a pureza do Funk. Essa energia sente-se, mas não se descreve.

A comunidade de coleccionadores de Funk continua agitada?
Pode-se dizer que acalmou um pouco. Mas eu já sei o que vai acontecer com essa comunidade, porque vi os mesmos ciclos de entusiasmo e acalmia acontecerem na cena da Northern Soul. Acho que nos próximos anos essa comunidade vai de novo alargar-se, vão aparecer novos coleccionadores e os preços vão voltar a subir em flecha!
Ainda continuas a embarcar em expedições aos Estados Unidos à procura de discos?
Já não vou tanto aos Estados Unidos porque a Internet e o Ebay mudaram as regras do jogo. Ainda procuro discos, mas em locais como o Japão, um lugar para onde muito do Funk americano começou a ir há muitos anos e onde é possível encontrar coisas fantásticas. Mas o que mais acontece é os dealers ligarem-me a dizerem que encontraram um novo single para mim, tocam-no ao telefone e eu logo decido se me interessa.

Qual foi o preço mais alto que já pagaste por um single de Funk?
Paguei três mil libras (cerca de 4500 euros) por uma cópia do Save the Youth dos Mellow Madness. Na comunidade dos coleccionadores de Funk a nível mundial só se conhece outra cópia desse single. Mas digo já que não é saudável andar a pagar esse tipo de dinheiro por Funk 45s. Para mim o que interessa é a música e valorizo da mesma maneira um single de 1000 libras ou um que acabou de sair e que é fantástico e custa apenas 5 libras.

Qual é a tua opinião da nova cena Funk?
Fantástica! Pessoas como o Gabriel Roth têm mantido o espírito do Funk bem vivo. Ele é um produtor de excepção, ao nível do melhor do James Brown e cada novo disco que ele produz é uma bomba, como acontece com o novo da Sharon Jones. Basta ouvir How do I Let a Good Man Down. É um tema brilhante que faz todo o sentido nos dias que correm, mas que retém aquele espírito original. Brilhante!

E só para terminar, achas que chegará o dia em que será possível ver Funk de novo no topo das charts?
Claro que sim. Eu tenho tocado um pouco por todo o mundo e a reacção é sempre a mesma. Há sede de Funk, quer em clubes underground de Xangai quer na festa de aniversário da Rainha da Holanda, em que eu toquei. Posso dizer-te que há duas condições que eu acho necessárias para que qualquer tipo de música chegue aos tops: ter promoção de TV e rodar no circuito dos Festivais. A Sharon Jones e eu próprio estamos neste momento a negociar uma digressão por alguns festivais europeus e ela já tem aparecido na televisão. Se calhar, quando as major repararem no que se está a passar e colocarem a sua força de marketing por trás de um grupo de Funk, isto poderá explodir de novo.