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HitdaBreakz

4/19/2005

DJ SHADOW EM LIVRO




Surgem agora notícias que dão conta dos planos de edição, no próximo mês de Setembro, de um livro sobre Endtroducing, o seminal álbum de estreia de DJ Shadow, da autoria de Eliot Wilder. Mais ao menos ao mesmo tempo, a Universal planeia a reedição desse clássico, numa versão remasterizada, para assinalar uma década de continuada influência desse álbum. O que é pretexto mais do que suficiente para algumas considerações, um par de reminiscências e uma curta viagem ao passado que um dia inaugurou o futuro.

A minha relação com DJ Shadow começou bastante tempo antes disso, com a aquisição numa já há muito defunta loja de Campo de Ourique do maxi In Flux, o tal da edição em picture disc que hoje vale uma pipa de massa. Lembro-me perfeitamente da minha ida a essa loja, de nome Question of Time e pertença de um famoso DJ de techno de nome João Daniel, algures no início de 93. E lembro-me que essa visita rendeu três objectos: a compilação Trance Europe Express que tinha acabado de sair e que com faixas de Orb, Material ou Sabres of Paradise representava o expoente de um certo som da época, a minha primeira mala de discos e o já referido maxi de DJ Shadow.

Eu sabia perfeitamente o que queria fazer com a mala de discos (enchê-la todos os sábados na Feira da Ladra), para que servia o vinil quádruplo da compilação Trance Europe Express (escrevi um artigo para o Se7e sobre esse disco, ilustrado com imagens roubadas ao livro de 192 páginas que acompanhava essa monstruosa edição), mas o maxi de Shadow foi um verdadeiro choque. Não se enquadrava no Hip Hop que já ouvia pelos menos desde 86, quando comprei o meu primeiro disco dos Mantronix, nada tinha a ver com as alucinadas explorações electrónicas do espaço enunciadas pelos artistas que preenchiam a compilação já referida, enfim, soava inteiramente a carta fora do baralho. Pouco tempo depois um artigo na britânica Mixmag aproveitava esse desenquadramento estético de In Flux para inventar um novo rótulo que ainda hoje subsiste: Trip Hop. Como todos os rótulos que se possam inventar para uma floresta olhando apenas para uma árvore, "Trip Hop" foi uma designação que nunca realmente chegou a fazer nenhum sentido e que deu a DJ Shadow uns bons 4 ou 5 anos de trabalho de negas em entrevistas até que a sua natural auto-inclusão no universo do Hip Hop fosse respeitada.



Lembro-me que o tempo passou depois a correr, com edições na Mo'Wax divididas com Krush, o épico What Does Your Soul Look Like e depois, no início de 1996, o lançamento de Endtroducing, um disco absolutamente novo, que inaugurava um universo inexplorado a golpes de imaginação e MPC 60II (igualzinha à que o Dub tem...). Prova do absoluto brilhantismo desse disco reside no facto de quase não parecer que se estão prestes a cumprir 10 anos sobre a sua edição original. É que, uma década volvida, Endtroducing continua a ser o dogma, o ponto que define a fasquia pela qual todos os outros discos de Hip Hop que dispensam o lado mais narrativo do rap são julgados. E se Endtroducing teima em não envelhecer é igualmente porque não foi ainda totalmente compreendido e absorvido pelas gerações que lhe sucederam: o diggin' continua em alta e, basicamente, apoiado nos enunciados que Shadow nunca se cansou de repetir desde essa altura. Poucos discos terão a força para, completamente sós, inaugurarem de forma tão decisiva, um território e um modus operandi novo. Mas Endtroducing foi de facto o manual de uma revolução cujos efeitos perduram. E passados quase 10 anos, continua tão actual como antes. Tão futurista como sempre. Venha de lá essa reedição. E o livro, já agora!


Factura da primeira MPC de DJ Shadow!