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HitdaBreakz

3/22/2005

O MAIS RARO JAMES BROWN


Nós aqui pelo HdB temos uma fixação enorme por todo o universo jamesbrowniano, não só porque o funk, de que ele é indubitavelmente o seu maior expoente, é uma das vértebras de toda a música pop feita desde o fim dos anos 60, mas também pela longevidade desta carreira, capaz de milhentas mutações ao longo dos tempos, sem nunca perder o funk. Toda a carreira do James Brown é um manual de funk : basta estudar as várias fases para se conseguir agarrar a essência do que é contido na palavra funk em todas as suas possíveis mutações.

Por isso, temos, ao longo dos tempos, exposto esta carreira, de uma forma constante, aqui no HdB, conscientes de que o nome James Brown ainda tem um longo caminho a percorrer até ser visto como o verdadeiro génio que é e que esta é a nossa pequena contribuição para o espalhar desta nossa certeza quase axiomática de que James Brown é um deus.

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A discografia completa de James Brown é algo que é muito simples de se obter. Basta uma ida a um qualquer motor de busca e associar as palavras James Brown com a palavra discografia. No entanto, há pequenos factos que as frias discografias não conseguem explicar. Como, por exemplo, este disco do James Brown, o Love, Power & Peace, que aparece como editado pela Polydor em 1992, apesar de ser um disco supostamente feito ao vivo no Olympia de Paris em 1971, como diz a capa. Estranho, no mínimo.

A verdade é bem mais interessante. Sim, a primeira vez que este disco viu a luz do dia foi em 1992, apesar de ter sido gravado em 1971. É que este é um disco muito importante, tão importante que a Polydor o editou já na década de 90, como que reconhecendo a importância dele.

E porque é que é importante? Bom, em primeiro lugar, porque é o último álbum do James Brown para a sua anterior editora, a King. Aliás, este álbum era suposto ter saído pela King (tem número de série na discografia da King e tudo...) mas, por causa do contrato do James Brown com a Polydor, acabou por não ser editado.

Em segundo lugar, porque é, ao contrário do Sex Machine Live, por exemplo, o concerto inteiro. No Sex Machine Live, há a compilação de vários temas ao vivo tocados em locais distintos. Aqui, no Love, Power & Peace, temos o concerto todinho disponível aos nossos ouvidos, permitindo-nos compreender bem melhor toda a dinâmica do que seria ver James Brown ao vivo na década de 70, quando o funk ainda era ingénuamente puro. E não podemos esquecer que ouvir funk em casa é como ouvir house em casa. Não tem qualquer problema se o fizermos mas apanhamos apenas metade da história. É que a música de dança é música que faz muito mais sentido ouvida ao vivo, no seu palco principal. Por isso é que é tão importante ouvir discos do James Brown a tocar ao vivo, para conseguirmos voltar a um passado que não nos pertence e ver não só a música tocada mas a reacção de quem as ouve - uma e outra não são indissociáveis quando falamos de funk.

E o lineup! São os JB's originais, Fred Wesley, Jabo Starks, Phelps Collins, Bootsy Collins, Chesse Martin, Bobby Byrd, enfim... tanta tanta música imortal que ainda está para vir desta gente toda. Não sei se é a primeira vez que temos o Bootsy Collins em disco mas não devo andar longe da verdade, já que ele tem, nesta altura, 19 anos.

Ritmo, meus amigos, é tudo ritmo. Com duas baterias a tocar ao mesmo tempo, como podia não ser? Give it up or turn it loose, Sex Machine, Ain't it funky now, Soul Power, Superbad e a prova de que a matriz do funk não é apolítica ou asocial,como tantos consideram, em Get up, get into it, get involved. Clássico atrás de clássico, ao vivo e em 1971. E não é só isso, é a verdadeira intensidade com que toda a banda rebenta com cada música, os solos de guitarra, o ritmo, a força que James Brown sozinho tem, as reacções do público (nem parecem franceses), tudo isto fazem desta gravação, algo de imortal na discografia do James Brown. Live at the Apollo (aquele que é considerado O álbum ao vivo do James Brown), lamento imenso mas... esta é que é a sessão ao vivo das sessões ao vivo do James Brown.

Para os coleccionadores do James Brown, fica uma última achega. Lembram-se de eu lá atrás ter dito que o disco tinha número de série na King? Pois bem, se existe número de série e se existe uma gravação em fita (se a Polydor editou o CD é porque existe, certo?), é provável que existam cópias físicas do disco também...

E existem. São 3 discos em test pressing (prensagens de teste, para ver se está tudo bem com a prensagem) e são considerados os discos mais raros do James Brown. O número de série na King é King LP 1137. O disco é igual ao CD mas contém um extra que não encontro no CD : uma versão inédita em estúdio do Who am I, que só existe nesta prensagem de teste e que não sei se já viu a luz do dia até hoje. Estes três test pressings do Love, Power & Peace podem ser vossos, se alguma vez o virem, por à volta de 1000 dólares (qualquer coisa como 200 contos). O que são 200 contos se puderem ter uma das 10 ou 20 cópias físicas em vinil deste disco?