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HitdaBreakz

3/10/2005

MANDRILL: UNITED COLORS OF FUNK (Funk Basics # 2)




Dois meses depois, eis finalmente a segunda edição da série Funk Basics, desta vez dedicada aos Mandrill. Como os War ou a Family Stone de Sly, também os Mandrill eram um grupo multi-cultural, característica que ultrapassava em muito a mistura de cores de pele para se instalar de forma profunda na sua música. E, como é óbvio, é um grupo que se impõe em qualquer discografia de Funk que queira ser digna desse nome.

Banda que encontrava no palco a sua verdadeira casa, os Mandrill nunca cederam em disco o lugar do espírito exploratório da jam session a uma eventualmente mais comercial aproximação linear ao formato clássico de canção. Talvez por isso mesmo nunca tenham conhecido o grande sucesso que mereciam e, talvez por isso também, o seu nome esteja hoje adormecido nos arquivos da história do Funk.

As biografias oficiais indicam que os Mandrill se formaram em Brooklyn em 1968 pela mão dos irmãos Ric Wilson (sax e voz), Lou Wilson (trompete e voz) e Carlos Wilson (trombone e voz). Oriundos de uma família panamiana com claras vocações musicais que emigrou para os Estados Unidos e educou os seus filhos no histórico bairro de Bedford-Stuyvesant (Bed-Sty, para os que ouvem o bairro citado em rimas de temas de Hip Hop), os irmãos Wilson cedo mostraram talento musical. Ric já tinha iniciado carreira como cardiologista quando o grupo finalmente se cristalizou. Ensaiando no salão de cabeleireiro onde a sua mãe trabalhava, os irmãos não demoraram muito a acrescentar ao seu grupo outros músicos. Claude "Coffee" Cave tomou conta dos teclados, Omar Mesa assumiu o lugar de guitarrista e Bundie Cenas o de baixista, ficando a bateria para Charlie Padro. O nome veio do primata da África Ocidental que possui uma organização familiar muito definida, tal como os Mandrill.

O contrato chegou em 1970, dando aos Mandrill a hipótese de mostrar a sua incrível fusão de Funk, grooves latinos, africanos e das caraíbas, rock e psicadelismo. Aliás, essa mescla de sonoridades foi mais tarde decisiva para o aparecimento do P-Funk, sonoridade sobre a qual exerceram uma enorme influência (uma versão embrionária dos Parliament-Funkadelic acompanhou mesmo os Mandrill ao vivo nos seus primeiros concertos).

O primeiro álbum do grupo foi o homónimo Mandrill, editado em 1970, e a partir daí o grupo atravessou toda a década de 70 com uma sólida discografia, onde o seu som distinto foi explorado em toda a sua glória, tendo dado a origem a vários samples para a história discográfica do Hip Hop (e não só...).

Mandrill: (Polydor 1970)
* "Peace and Love (Movement II)"
Meat Beat Manifesto's "Drop"
* "Peace and Love (Movement V)"
Meat Beat Manifesto's "MindStream"

Mandrill Is: (Polydor 1972)
* "Lord of the Golden Baboon"
Black Eyed Peas ft Esthero's "Weekends"
EPMD's "Rampage"
* "The Universal Rhythm"
Beck's "Hotwax"

Just Outside of Town: (Polydor 1973)
* "Mango Meat"
Abstract Tribe Unique's "The Scandal: Then & Now"
Jungle Brothers's "Straight out the Jungle"
Mic Geronimo ft DMX, Fatal, Cormega & Ja's "The Usual Suspects"
Ministere Amer's "RCA"
* "Two Sisters of Mystery"
Public Enemy's "By the Time I Get to Arizona"
Renegade Soundwave's "Blue Eyed Boy"
* "Fat City Strut"
Avalanches's "Radio"
Eric B & Rakim's "Beats for the Listeners"
Jaz's "Jaz O"
Schoolly D's "Am I Black Enough for You?"

Composite Truth: (Polydor 1973)
* "Don't Mess with People"
Boo-Yaa T.R.I.B.E.'s "Don't Mess"
DITC's "Get Yours"
Yo-Yo's "Dope Femininity"
* "Fencewalk"
Cypress Hill's "The Funky Cypress Hill Shit"
De la Soul ft Da Beatminerz's "The Hustle"
Ice Cube's "Jimmy Hatz Commercial"
Public Enemy's "Bedlam 13:13"
Schoolly D's "King of New York"
Ultramagnetic MC's "Stop Jockin Me"

Mandrilland: (Polydor 1974)
* "After the Race"
Smif-N-Wessun's "Get it On"
* "Khidja"
Dynas's "Urbanomics"
Quasimoto's "Green Power"


Eis alguns dos discos dos Mandrill, presentes na minha colecção.


MANDRILL - Mandrill (Polydor, 1970)
O primeiro álbum dos Mandrill abre logo com o que parece ser uma declaração de intenções: sólido groove funk, percussões afro-latinas, espírito jazz insuflado pelo Hammond e uma tensão que é puro rock (e para rock carregado de Blues ouça-se Warning Blues...). O lado B, esse é inteiramente ocupado por uma espécie de sinfonia afro-jazz de título Peace and Love (Amani Na Mapenzi) que nos seus cinco andamentos se espraia por diversos ambientes. Fica aqui um excerto do último andamento (audio)!


MANDRILL - Mandrill Is (Polydor, 1972)
Ainda mais sofisticado do que o primeiro álbum, Mandrill Is apresentou a primeira mudança no grupo, quando Fudgie Kae Solomon substituiu Cenas no baixo. Talvez por estarem mais seguros, os irmãos Wilson dão aqui maior predominância aos metais, com o Funk a instalar-se na sonoridade do colectivo de uma forma mais assumida. E em Git It All há até um break (áudio) de bateria!


MANDRILL - Just Outside of Town (Polydor, 1973)
Este é o álbum do monstruoso Mango Meat (áudio), uma bomba atómica de Funk com balanço das caraíbas que ainda hoje consegue destruir pistas. E, como podem ver na lista de samples acima, foi usado pelos Jungle Brothers e tudo. Mas não pensem que é um disco de apenas uma faixa, porque temas como Fat City Strut ou Two Sisters of Mystery também se revelam irresistíveis. Talvez seja este o melhor álbum dos Mandrill!


MANDRILL - Composite Truth (Polydor, 1973)
Composite Truth marcou a chegada de um novo baterista, Neftali Santiago, ao colectivo e o apogeu do grupo em termos comerciais, com o hit Fencewalk (áudio). O grupo iria entretanto sofrer mais alterações, com a entrada de Dougie Rodriguez (da banda de Santana!) para substituir Mesa.
Talvez as constantes exigências da vida na estrada tenham ditado as variadas alterações de line up. O grupo ainda editou o duplo álbum Mandrilland (1974) e os simples Solid (1975), Beast from The East (1976) e The Greatest (1977) (os dois primeiros para a United Artists e o último uma banda sonora para um filme de Muhammad Ali). Este período foi marcado pelo abandono de todos os membros originais do grupo, salvo os irmãos Wilson e o teclista Cave.


MANDRILL - We Are One (Arista, 1977)
Álbum de estreia na Arista, We Are One foi marcado por mais uma série de flutuações na formação e também por uma aproximação mais decisiva dos Mandrill ao som comercial da época, tendo eles registado no tema Funky Monkey (áudio) um dos seus maiores êxitos, muito graças à aproximação aos ritmos mais Disco Sound.


MANDRILL - New Worlds (Arista, 1978)
Apesar da força de temas como Mean Streets (áudio), este New Worlds marcou o princípio do fim do grupo com a adesão a um som mais estilizado, para condizer com os tempos. Os Mandrill ainda haveriam de participar na banda sonora do filme de culto The Warriors (alguém tem por aí uma cópia em DVD deste filme que me possa emprestar?) e gravar mais um par de discos menores, antes de se separarem em definitivo no início dos anos 80. Mas para a história ficaram as suas viagens a um mundo submerso no groove onde as fronteiras imaginárias de África e das Américas se cruzavam em temas carregados de acidez.