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HitdaBreakz

3/14/2005

DIGGA'S DIGGIN' CHART # 3


E já é tempo de uma nova Diggin' Chart aqui pelo Hit Da Breakz (e já com algum atraso, que este mês tem sido particularmente agitado...). Embora a maior parte das fontes continue extremamente seca, a verdade é que até vão surgindo umas preciosidades por aí. Por vezes é mesmo necessário vasculhar bem sítios já visitados, metermo-nos no carro para nos aventurarmos pela CREL fora ou simplesmente ter uma paciência de santo. Mas os discos vão surgindo, embora já não com a regularidade e intensidade de há uns tempos. Enfim, chega de queixas.

O interessante nestas expedições de Diggin' é o factor surpresa. Nunca se sabe o que se procura nem o que se poderá encontrar e isso é que torna este jogo tão aliciante. Por exemplo, quem me poderia ter garantido que num armazém carregado de móveis, que só nos abriu a porta (estava fechado, imagine-se) porque o Dub meteu a sua melhor cara triste e afirmou a pés juntos que tinha vindo de Coimbra propositadamente, iria encontrar um registo "live" da grande Nina Simone? Ou que ainda há bombas prontas a despoletar na nossa cara nas mais do que pilhadas Cash Converters? Ainda há vida nos crates estafados deste país, ainda há grooves para encontrar, melodias enormes para descobrir e muita música para nos apaixonar. Só é preciso saber onde procurar, ter muita paciência e algum tempo disponível. Por aqui tem bastado a paciência, porque sabedoria nunca é suficiente e o tempo é cada vez mais escasso. Ainda assim, Fevereiro garantiu estes discos:


NINA SIMONE - At The Village Gate (LP, Colpix Records, s/data)
Verdadeira preciosidade esta. Nina Simone é uma das maiores referências do século XX. Uma voz absolutamente transcendente, sempre próxima do arrepio, sempre maior do que a vida, a história e o universo. Nina Simone canta os Blues como ninguém e neste álbum, que me parece ser dos anos 50 (não há data nesta edição francesa), ela soa de forma absolutamente mágica. Mais um álbum para acrescentar à minha colecção desta artista, mais um motivo para a respeitar de forma ainda mais profunda. Deixo-vos um pequeníssimo excerto de Zungo de Olatunji.

Zungo (audio)


DAVE NEWMAN - Fathead Comes On (LP, Atlantic, 1962)
O jazz foi sempre uma forma de traduzir o presente e só aqueles que o querem ver encerrado num museu é que não acreditam nisso. Por isso, em 62, Dave Newman não escondia a força que os rhythm n' blues insuflavam na sua música e assinava interpretações carregadas de swing (ou groove, consoante o lado da barricada em que se encontrem) ao lado de gente como Marcus Belgrave (trompete) ou Hank Crawford (piano). Em sax alto ou tenor ou ainda flauta, como no grande Unchain My Heart, Dave "Fathead" Newman só sabe desfilar classe. E ainda bem!

Unchain My Heart (audio)


ISOTOPE s/título (LP, Gull, 1974)
E um pouco de rock progressivo também pode surgir, mesmo que a princípio só o nome da banda desperte alguma atenção. Estes Isotope, editados na muitas vezes interessante Gull Records, levavam a sério o rótulo jazz rock, com uma bateria devedora de Billy Cobham (e de outros mestres, afinal de contas Nigel Morris, o baterista, tinha estudado com Philly Joe Jones...), paisagens bem cool feitas de rendilhados de Fender Rhodes e um carácter sempre musculado, como convém. Há momentos, como acontece na faixa de abertura Then There Was Four, em que as notas se sucedem a mil à hora, mas também há fases de maior acalmia e reflexão, em que o grupo parece querer investir na construção de atmosferas. Um bom álbum, este.

Then There Was Four (audio)


GINGER BAKER - Horses and Trees (LP, Celluloid, 1986)
Horses and Trees é um álbum de 1986 na Celluloid de Bill Laswell. Obviamente, o homem dos Material assina a produção deste álbum do antigo baterista dos Cream (que haveria de tocar com os PiL de John Lydon e que já se tinha cruzado com Fela Kuti). Os suspeitos do costume da trupe de Laswell estão todos presentes (como Foday Musa Suso, Nicky Skopelitis, Shankar, o ex-Parliament Bernie Worrell ou Ayib Dieng. E o resultado é um álbum de poderososos temas ancorados na bateria ultra-musculada de Baker. Destaque para Mountain Time, onde a bateria de Ginger Baker surge acompanhada apenas pelo chatan e talking drums de Ayib Dieng e pelos cowbells de Daniel Ponce!

Mountain Time (audio)


WALKER BROTHERS - The Immortal Walker Brothers (LP, Fontana, 1967)
Álbum dos Walker Brothers que afinal não eram nada irmãos, nem sequer ingleses como o som deles sugeria. Estes californianos, conseguiram no entanto singrar no mercado inglês sendo, durante um curto espaço de tempo, alvo de uma adoração semelhante áquela que era devotada aos Beatles e aos Stones. Com um reportório composto essencialmente por baladas, este grupo, apoiado na voz principal de Scott Walker, trabalhou com arranjadores como Reg Guest (que também deu alguns hits a Dusty Springfield) e alcançou um estatuto de culto. E este álbum reúne alguns dos seus maiores sucessos, incluindo o atípico Land of 1000 Dances que gente como Fats Domino ou Wilson Pickett também incluiu no seu reportório.

Land of 1000 Dances (audio)


TREVOR HORN, PAUL MORLEY WITH THE ART OF NOISE - Beat Box (12", Island, 1984)
Este tema é um clássico imortal. A dada altura podia ouvir-se nas boom boxes de todos os b-boys do planeta. E não era para menos: os Art of Noise conseguiram traduzir na perfeição um tempo de vertigem tecnológica, utilizando os primeiros samplers com arte e mestria. Com o apoio do mesmo Trevor Horn que deu ao mundo os Buggles e os Frankie Goes To Hollywood, os Art Of Noise criaram pequenas bandas sonoras de modernidade recorrendo á estética da colagem que hoje continua a ser revisitada. E neste maxi, além do grande Beat Box, ainda se pode ouvir o não menos enorme Moments in Love. Pura história!

Beat Box (audio)


LEE "SCRATCH" PERRY - Syncopate Hot Plate (12", On-U Sound, 1987)
Que se poderá dizer de Lee Perry que ainda não tenha sido dito? É um gigante a que nunca, mas mesmo nunca, se deve voltar a cara. Por isso, encontrar um maxi de sua autoria, ainda por cima com selo da mítica On-U Sound deve ser motivo para efusivos festejos. Neste maxi, datado já dos anos 80, Perry trabalha com Mad Professor e conta com produção do patrão da On-U Sound, Adrian Sherwood. E o resultado é pura pressão Dub!

Jungle (drums) (audio)


BILLY PRESTON - Live European Tour (LP, A&M, 1974)
Péssima prensagem (inglesa, estranhamente) para um álbum de Billy Preston que quase sempre soou mais interessante quando se apresentava como side man (e ele trabalhou com toda a gente, dos Beatles a Quincy Jones). Mas neste álbum - ao vivo em diversas salas europeias - Preston é líder e a música padece de todos os excessos que o palco num contexto rock pode sugerir, mesmo tratando-se Preston de um soul man e de um teclista que sabe mostrar-se carregado de groove noutros momentos. Aqui tudo é fogo de artifício, mas ainda assim há alguns momentos interessantes.

Outa-Space (audio)


BRASS CONSTRUCTION - Movin' (12", UA, 1975)
Produto típico do génio de Randy Muller, este maxi dos Brass Construction é um verdadeiro clássico que ainda recentemente foi incluído num artigo da Wax Poetics precisamente sobre Muller a quem essa revista chamou "disco architect". Fruto de uma intensa jam session em estúdio, Movin' ainda é capaz de rockar pistas nos dias que correm. E é um produto de uma das últimas feiras da zona de Oeiras, por isso andam mesmo por aí algumas cópias!

Movin' (audio)


WATSONIAN INSTITUTE - Master Funk (LP, This Record Co., 1978)
Produzido e composto por Johnny Guitar Watson, este é um típico disco de late 70's funk (com aproximações ao Disco Sound em todos as suas faixas), com temas instrumentais desenhados para causar estragos nas pistas de dança. Consegui-o numa troca com um vendedor de discos que costuma visitar as feiras do concelho de Oeiras e só peca por ser a edição espanhola. Trata-se de um álbum carregado de grooves dançantes, predominantemente instrumentais, sem grandes preocupações revolucionárias, mas excelentemente executado por uma equipa liderada pelo próprio Guitar Watson (e daí o nome do colectivo).

Coming Around (audio)