3/28/2005
BREAK DA SEMANATM : LYN COLLINS - THINK (ABOUT IT)
Do universo do James Brown, pode parecer uma estrela de segundo plano mas é complicado ser-se primeiro plano com nomes nesse universo como o do próprio Padrinho da Soul, Fred Wesley, Maceo Parker ou Bootsy Collins. Ou seja, ser segundo plano aqui é ser primeiro plano em qualquer outro universo. Até parece que a Lyn Collins resumia-se a ser parte da entourage do James Brown, como era a Marva Whitney ou a Vicky Anderson antes dela, e, claro, ao Think.Com a passagem para quem sabe onde da Lyn Collins a semana passada (EDIT : foi a 13 de Março, mais propriamente), sentia algum peso na consciência por não ter dito, aqui no HdB, nada em relação a ela. O digga já a tinha homenageado num post abaixo.
Esta é a minha homenagem.
Segundo plano no universo do James Brown. Um só tema em nome próprio muito conhecido. Parece pouco mas não é. Ser parte da trilogia feminina do funk mais famosa de todos os tempos, é por si só, um feito. E o Think chega para a tornar imortal em nome próprio aos olhos de todos. Para além de, no caminho, ter feito da Lyn Collins a mulher mais samplada no hiphop, sem dúvida nenhuma ("it takes two to make a thing go right").
É que Think, o tema em questão, é, por si só (e merecidamente), um dos melhores temas de sempre produzidos pelo James Brown. JB que se faz ouvir ao longo do tema todo, a liderar a banda, a curtir com a banda. Vê-se que é música feita com prazer, que é música feita para dar prazer. Vê-se que é funk. Como é possível não se gostar deste groove aparentemente tão simples mas que nos diz tanto? Como aguentar o corpo ao ouvir o Think? Baixo, bateria, pandeireta, orgão, guitarra, vozes, sopros, num registo quase hipnótico a que se chama groove, parando, criando pequenos focos de tensão e ansiedade a quem ouve ("hit me!"), e arrancando como se nada fosse.
Vou dividir o tema para escuta em três partes. A primeira parte [audio] é precedida por uma guitarrada e a voz oh-tão-forte-e-segura da Lyn Collins a falar, quase como se fosse um sermão (também daí vem o nome dela de Female Preacher). Só vão conseguir ouvir a parte final, mesmo antes do arrancar de toda a locomotiva James Brown. Notem que toda a maneira de Lyn se exprimir vocalmente nunca é totalmente a cantar, diria até que é mais um falar cantado, quase sempre na mesma nota, oscilando mas voltando sempre lá. É também por isso que, para além de lhe chamarem Female Preacher, lhe chamam uma das primeiras MCs femininas.
A segunda parte [audio] é a parte final do tema, que inclui um segundo break do tema. Uma segunda amostra daquilo que é o nosso Break da SemanaTM. É nesta altura que podemos ver a forma como James Brown é o mestre do funk. A maneira como ele gere o silêncio para criar os tais pontos de ruptura é hoje mimicada por tudo o que é música de dança ("hit me!").
Por último, temos, então, o Break da SemanaTM .
BREAK DA SEMANATM : LYN COLLINS - Think (about it) [audio]
Lyn Collins 1948 - 2005