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HitdaBreakz

2/24/2005

FUNK ME UP




O FUNK é muitas coisas para muita gente, mas deveria, sobretudo, ser uma coisa para toda a gente: uma espécie de língua franca rítmica passível de ser encontrada em praticamente todo o lado - dos gritos guturais de James Brown até às linhas de baixo e metais cozinhados por Pete Rock, dos breaks de bateria de John Bonham até às escorregadias guitarras dos Talking Heads, dos sintetizadores carregados de ácido de Morgan Geist até às baterias sincopadas dos Neptunes. Como o rock and roll, que também nunca desapareceu, o FUNK também nos oferece uma atitude específica, de liberdade através do groove, de igualdade pelo ritmo. O FUNK, como o ar, rodeia-nos. Acontece apenas que às vezes temos dificuldade em identificá-lo. Mas há funk e há FUNK! E é de FUNK que nos apetece falar hoje.
Por variadíssimas razões, para muita gente o FUNK é um género menor: tantas vezes é instrumental e por isso mesmo despido de um sentido poético a que o legado dos songwriters nos habituou. E, de novo tantas vezes, quando há uma voz que acompanha o ritmo incansável - gerado pelas secções rítmicas, guitarras, metais e hammonds a trabalhar em conjunto - essa voz pode limitar-se apenas a metáforas mais ou menos primárias sobre o ritmo, falando-nos de arranhões de galinha, de touros possantes ou de penguins esguios. Os "Chicken Scratchs", "Funky Bulls" ou "Funky Penguins" do acervo FUNK são apenas uma outra maneira de reiterar o que a banda faz: emprestar à voz o mesmo sentido rítmico da componente instrumental, reforçar com a voz humana e a amplificação oferecida pelo microfone e a electricidade o mesmo apelo à ondulação ritmada na pista de dança. O FUNK é, entre tantas outras coisas, um som de comunidade, de terra, de coisas comuns do dia-a-dia. O FUNK é vida. Talvez por isso mesmo o FUNK seja universal. E, uma vez mais, talvez tenha sido por isso que o FUNK tenha revelado capacidade de atravessar géneros e fronteiras e sedimentar-se no rock e no jazz, no reggae e na música electrónica, em África (ver o texto de Fela Kuti, mais abaixo), na Europa e na Ásia (Bollywood está cheia de FUNK assim como os filmes de Kung Fu!) e até no espaço sideral (alguma das séries de ficção científica - de Star Trek a Espaço 1999 - dispensou o funk nas suas bandas sonoras?).
Sobre o que é este texto afinal? Sobre nada. Ou sobre um entusiasmo que me assalta de cada vez que o FUNK me surpreende quando surge do nada em discos de Library feitos por senhores de meia idade ingleses ou em singles de cançonetistas franceses ou nas bandas sonoras dos filmes eróticos que condimentaram a revolução de costumes italiana dos anos 60 e 70 ou... A verdade é que há cada vez mais gente a procurar no FUNK essa tal linguagem universal, cada vez mais gente a procurar FUNK em discos usados nas Feiras de Velharias, cada vez mais gente a abandonar-se na pista quando o FUNK desce ao Mercado. A próxima sessão dos Loop Diggaz no Mercado está marcada para dia 25 de Março. Antes, na Oficina do Cais do Montijo, a dia 11 de Março, a sopa de FUNK será igualmente servida a todos os que têm fome de ritmo. Não há desculpas. O FUNK está mesmo em todo o lado. É só preciso saber encontrá-lo. Aqui no HdB não falta. Em generosas doses (quase) diárias. Sirvam-se!

Sam & The Soul Machine - Slow Motion (picado de Home of The Groove)