<$BlogRSDUrl$>
.

HitdaBreakz

2/11/2005

ELECTRO: THE PACMAN REVOLUTION



Vários - Essential Electro (9XLP Box, Streetsounds, 1984)

Quem cresceu nos anos 80 sabe bem do que era feita a paisagem da época: computadores com nomes futuristas como Amstrad ou ZX Spectrum, monitores com luz verde, jogos de Arcada chamados Space Invaders, séries de ficção científica na TV – Galáctica, Buck Rogers – mais naves espaciais no cinema – Guerra das Estrelas, Regresso Ao Futuro, ET... Enfim, na época ninguém tinha a cabeça na lua, mas nos confins do espaço, “onde o homem nunca foi antes”. Esta “paisagem tecnológica” surtiu, obviamente, efeitos ao nível da música.


Jonzun Crew - Lost in Space (LP, Tommy Boy, 1983)

No início dos anos 80, jovens como Juan Atkins, por um lado, e Arthur Baker, por outro, começavam a dar os primeiros passos na produção musical. Maravilhados pela estética do P-Funk de George Clinton, ele próprio um confesso viajante do espaço cujos shows ao vivo incluíam naves espaciais e extravagantes fatos de astronauta, Atkins e Baker atiraram-se de cabeça à tecnologia mais básica existente na época – a caixa de ritmos DMX, a Roland 808... – e começaram a fazer ruído sincopado.


Newcleus - Jam on It (12", Becket Records, 1984)

Paralelamente, nos bairros do Bronx, em Nova Iorque, jovens DJ’s começavam a inventar o futuro, tocando duas cópias do mesmo disco alternadamente para criar a ilusão de um break de bateria sem fim. No início, o electro procurava fazer a mesmíssima coisa com caixas de ritmos e sintetizadores: prolongar a batida até ao infinito, por um lado, e emular os sons produzidos por uma banda inteira de funk, capturando o espírito do groove nos circuitos integrados da maquinaria à sua disposição.


Egyptian Lover - Egypt, Egypt (12", Egyptian Empire, s/data)

Juan Atkins criou, juntamente com Rick “3070” Davies o projecto Cybotron que, praticamente sozinho, lançou as bases do Techno de Detroit em faixas como Clear ou Techno City. Entretanto, em Nova Iorque, Arthur Baker ajudava a traduzir a visão de Afrika Bambaataa para música, ajudando a criar o hino Planet Rock, uma faixa de Hip Hop tão poderosa que haveria de desempenhar o papel no advento de variadíssimos sub-géneros de música de dança apoiada em tecnologia electrónica, como o Electro, o Miami Bass, o Freestyle (derivação de sabor latino do Electro), o Techno ou até o Acid House...


Hashim - Al-Naafiysh (The Soul) (12", Cutting Records, 1983)

Quando o Hip Hop deixou de gatinhar e começou a andar pelo seu próprio pé, os artistas começaram a dispensar as “house bands” dos estúdios em que gravavam – responsáveis por um som ainda muito ligado ao funk e ao disco nos primeiros momentos da década de 80: ouça-se, por exemplo, Rapper’s Delight da Sugarhill Gang – e a mexer directamente nas tais caixas de ritmos que começavam a invadir o mercado. O resultado foi um mergulho instantâneo no futuro, com um funk sintético e fluído, capaz de incorporar as influências vindas da cena “synth-pop” europeia (grupos como Kraftwerk, Yazoo ou Depeche Mode eram ícones para qualquer jovem negro dos “Boros” de Nova Iorque), aproveitando o vocoder ou a capacidade de alterar o pitch de uma voz para dar o ar robótico ás faixas que depois eram adoptadas pelos B-Boys nos seus exercícios de desafio da gravidade conhecidos internacionalmente como “Breakdance”.


Warp 9 - Beatwave (LP, 4th & Broadway, 1983)

Filmes como Beat Street ou Breakin fizeram muito para levar a sonoridade electro a todos os cantos do mundo. E por um breve momento, grupos como Jonzun Crew, Warp 9 (que com o seu Nunk, contracção de New Wave e Funk, também apontaram para um futuro de misceginação), Latin Rascals (dupla igualmente crucial na história do cut n' paste com os seus edits aguçados!) reinaram supremos, debitando funk cibernético e futurista em pedaços de vinil que hoje são verdadeiras peças de colecção.


Latin Rascals - Bach to the Future (Lp, Tin Pan Apple Records, 1987)

O círculo completou-se quando Herbie Hancock, famoso pianista de jazz, resolveu levar ainda mais longe a sua paixão pela tecnologia já evidenciada desde os anos 70 nas suas gravações mais “eléctricas" (ouça-se Sextant, por exemplo) editando, com a ajuda de Bill Laswell e do DJ Grand Mixer DST, o álbum Future Shock de onde foi retirado o mega-sucesso Rockit, um dos primeiros hits criados pelo poder da MTV. Com um scratch infeccioso de DST (que todos os turntablists apontam como a razão que os levou a eles próprios a tentar scratchar) e um groove electrónico irresistível, Rockit foi, porventura, o maior dos sucessos de um género que nos fez acreditar que no futuro todos os robots teriam groove!.


Herbie Hancock - Rockit (12", CBS, 1983)

10 CLÁSSICOS DO ELECTRO

1. “Rockit” – Herbie Hancock
2. “Jam on It” – Newcleus
3. “Pack Jam” – Jonzun Crew
4. “Al-Naafyish (The Soul)” – Hashim
5. “Egypt Egypt” – Egyptiam Lover
6. “Nunk” – Warp 9
7. “Clear” – Cybotron
8. “Hip Bop Don’t Stop” – Man Parrish
9. “Bassline” – Mantronix
10. “Death of a Rascal” – Latin Rascals



Mantronix - Bassline (12", Sleeping Bag, 1986/Warlock, 1996)

Obviamente, o interesse pelos pilares old school da cultura Hip Hop e, mais recentemente, a procura das bases da corrente revolução electro, induziram um interesse mais profundo por este género de discos. Alguns já valem bastante dinheiro e, como no caso da caixa da Essential Electro que abre este post, é mesmo de pequenas fortunas que devemos falar (há uma no Ebay agora mesmo que podem verificar)!


Man Parrish - Hip Hop Be Bop (don't Stop) (LP, Impor 12 Records, 1983)