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HitdaBreakz

2/02/2005

DIGGA'S DIGGIN' CHART # 2


Mais um mês passou, embora, infelizmente, não tão recheado de fabulosas histórias de diggin' quanto eu gostaria. Gripes caseiras estrategicamente posicionadas ao fim de semana afastaram-me um pouco das feiras de velharias do concelho de Oeiras. Ainda assim, os três primeiros discos são da última feira de Algés e pelo menos dois deles são verdadeiras preciosidades. Por Lisboa ainda houve tempo de passar na incontornável Discolecção e em algumas Cash Converters, embora sem frutos assinaláveis, pelo menos em termos de quantidade. Por isso mesmo, e para compor o lote, há por aqui um par de recuperações, nomeadamente de discos já adquiridos há algum tempo, mas a que só recentemente dei a devida atenção.
Entretanto, houve tempo aqui por casa para passar em revista a colecção, reavivando a memória para algumas rodelas de vinil que já há muito tempo se encontravam arquivadas. Dizia em tempos Ed Motta - outro grande Digger que tem sobre a equipa do HdB a grande vantagem de ser igualmente um extraordinário músico e compositor - que não há nada melhor do que passar uma tarde de domingo de volta dos nossos discos de vinil, tratando deles e redescobrindo os mais antigos. De facto poucas coisas se igualarão a essa sensação. A não ser que possamos passar a tarde de domingo a procurar mais discos para tratar e mais tarde redescobrir. Mas para isso há que curar as gripes. Eis a chart...


PAUL MAURIAT - L'Amour Est Bleu (7", Philips, s/data)
Este disco deve ser mais comum do que exemplares da Bola em quiosques nacionais depois de uma vitória do Benfica. Este single, que é de edição nacional e indica por baixo do número de catálogo ser a 8ª série (significando que se prensaram pelo menos oito lotes deste disco), foi um tremendo êxito, depois do sucesso de Vicky Leandros no Festival da Eurovisão (e pronto, lá escrevi eu essas duas terríveis palavras - "Festival" e "Eurovisão" - aqui no HdB). Com assinatura do mestre Andre Popp, este tema mereceu dezenas de versões (incluindo uma pelo "nosso" Quinteto Académico de João Paulo, incluída no primeiro volume de Portugal Deluxe). Mas apesar de ser um disco comum, confesso que já há algum tempo que eu procurava esta versão de Paul Mauriat sem grande sorte, porque adoro o loop da bridge antes do refrão (cujo ar distinto é conferido pelo que soa como um cruzamento entre um Clavinet e um Cravo). Encontrei-o finalmente em Algés há um par de semanas. E a 20 cêntimos não há que enganar, certo?

L'Amour Est Bleu (audio)


SANFORD CLARK - Just Bluesin' (7", Warner, s/data)
Nunca tinha ouvido falar neste senhor, mas o Google lá me revelou ser uma figura menor dos primórdios do rock and roll que trabalhou debaixo da orientação de Lee Hazlewood durante bastante tempo. Este single, apesar de não incluir data na label, foi editado em 1964, oito anos depois do único êxito assinalável da carreira de Sanford Clark, nativo de Tulsa, no Oaklahama. O que me despertou a atenção, para além do preço de 50 cêntimos, foi a presença do nome de Lee Hazlewood e o título do tema Just Bluesin'. Já em casa, deu para perceber que o tema tem um mini-break e um excelente som de guitarra... bluesy. E como eu adoro aquele som seco de bateria, cru e pesado, considero este disco um achado. Pode ser que ainda valha uma troca valente com o meu amigo Paulo Furtado!

Just Bluesin' (audio)


JACK HAMMER - Colour Combination/Swim (7", Motown, s/data)
Da mesma caixa onde repousava o disco de Sanford Clark veio este fabuloso single de Jack Hammer. Conheço relativamente bem a Motown e nunca me havia cruzado com este nome. Já em casa, a agulha do gira-discos revelou que eu estava na presença de uma bomba. Não é muito comum este tipo de som mais primal e declaradamente funk numa Motown que alcançou o êxito por ser pop e sofisticada. São dois temas absolutamente fabulosos, uptempo e bem ao gosto da Northern Soul. Encontrei pouca informação online sobre este artista, mas uma pista intrigante é a sua inclusão, com outro tema, numa mais ou menos obscura compilação de British Soul. Seria ele inglês? Isso ajudaria a explicar o porquê do seu som diferir da norma que fazia a marca da Motown. Mas aumenta o espanto, quando consideramos as duas bombas funk aqui incluídas. Ainda por cima isto é uma edição nacional, por isso andam mais cópias por aí. Mantenham os olhos abertos!

Colour Combination (audio)
Swim (audio)


DON CHERRY - s/título(LP, Horizon, s/data)
Da Horizon, a editora deste álbum de Don Cherry que por não ter título é normalmente referenciado como The Brown Rice LP (que é o título da primeira faixa), já conhecia os Karma de que possuo dois interessantes álbuns de jazz funk. Mas não conhecia este álbum. Quando o ouvi na Discolecção recentemente, fiquei obcecado com o início do tema Brown Rice. Sabia que já o tinha ouvido, com um scratch em baixo, mas não fazia a mínima ideia onde. Foram preciso duas semanas para descobrir que este loop foi usado pelo DJ Rob Swift num tema da compilação Altered Beats de Bill Laswell. Neste álbum, sem data mas que o Google revela ter sido editado em 1975, o trompetista Don Cherry faz-se acompanhar por uma equipa de luxo que inclui Billy Higgins (bateria), Frank Lowe (saxofone tenor) e Charlie Haden (contrabaixo) e explora um lado mais ambiental e espiritual do jazz, convocando ainda assim uma imensa energia que transporta os temas até à beira da explosão. Muito, muito bom!

Brown Rice (audio)


SPINMASTERS - Bustin' Loose(12", Warner, 1988)
A Golden Age, principalmente aquele período de 88-93, é uma das minhas épocas preferidas no Hip Hop: os samplers começavam a aparecer e a história do funk ainda estava à mão de semear. Por isso não há que hesitar quando na secção de 1,75€ da Discolecção aparecem discos assim. Split 12" com Everlast no lado B, este maxi vale no entanto pelo fabuloso Bustin' Loose dos Spinmasters, protegidos de Ice-T que também produz este tema. Bustin' Loose foi construído em cima da canção do mesmo nome do mais tarde mestre do Washington Go-Go Chuck Brown. E o sample é de facto fabuloso porque toda a gente - dos Neptunes em Hot In Herre ao grande Stezo em Freak The Funk, passando por Eric B & Rakim em Eric B Made My day e os Coldcut no clássico Say Kids, What Time Is it? - o usou. Fica aqui a versão dos Spinmasters!

Bustin' Loose (audio)


TOUCHDOWN - Aquadance/Ease Your Mind (12", Warm Records, 1982)
Com este máxi aprendi que tudo o que me surgir à frente com selo da Warm Records merecerá a minha atenção. Jazz funk executado para pista de dança no lado B e um pedaço de céu punk funk no lado A tornam este 12" dos Touchdown (não perguntem que eu não sei quem eles são...) uma presença obrigatória na minha mala de discos, com resultados já comprovados nas noites dos Loop Diggaz no Mercado (a próxima é já dia 12 - marquem nas agendas!). Não há muito mais a dizer: ouçam!

Aquadance (audio)
Ease Your Mind (audio)


SURFACE NOISE - The Scratch (LP, Warm Records, 1981)
Nada sobre estes tipos no Google, mas este álbum é uma obra-prima. Com uma ligação a Portugal (mais concretamente a Azeitão, de onde deveria ser, a acreditar no apartado que aparece na contracapa, o senhor Cardoso que aparece referenciado nos créditos), esta editora Warm Records apresenta os seus discos em capas baratas e básicas, mas a música nela contida é entusiasmante. Este álbum foi criado por Chris Palmer (o nome é demasiado vulgar, mas poderá ser o mesmo Chris Palmer que tocou com os Egg de Dave Stewart em 1974...) e é um poderoso cocktail de funk, disco, jazz e electro, bem ao sabor do que os produtores mais informados faziam no início dos anos 80. Há um single deste tema, The Scratch, mas nunca se atravessou no meu caminho. Mais dia, menos dia...

The Scratch (audio)


XANADU & SWEET LADY/JOE GIBBS - Rapper's Delight/Rockers Choice (12", Joe Gibbs Music, 1979)
Outro grande pedaço de vinil saído directamente do Euro bin da Discolecção. Joe Gibbs colocou o seu nome em mais pedaços de história do reggae do que é possível contabilizar (assim de repente, vem-me á memória o fabuloso Uptpown Top Ranking da dupla Althea & Donna). Produtor da velha escola jamaicana, Gibbs sabia quando tinha uma oportunidade para facturar diante de si. Deve ter sido assim que este maxi nasceu. Trata-se de um óbvio cash in na febre de Rapper's Delight inaugurada pelos Sugarhill Gang. E com data de 1979, este maxi indica que Gibbs nem deve ter pensado duas vezes antes de pegar no telefone e ligar para as Xanadu & Sweet Lady para virem ao estúdio largar voz em cima do riddim que com a ajuda dos The Professionals tinha acabado de gravar! O resultado é espantoso: Rapper's Delight com balanço um pouco mais funk no lado A e o grande Rockers Choice (o mesmo tema, com outras rimas) mais reggae no lado B.

Rocker's Choice (audio)


BYRON LEE & THE DRAGONAIRES - Midas Touch (LP, Dragon, 1975)
Byron Lee é um gigante e uma lenda vida, com quase 50 de carreira anos no activo (o primeiro concerto com os seus Dragonaires aconteceu em 1956). Habituado a tocar para um público mais upscale (em hotéis, casinos, etc...), Byron Lee refinou a fórmula Ska-Roots-Rockers e nunca se escusava a incluir no reportório alguns clássicos. Este álbum data de 1975 e tem um grande balanço, cobrindo imenso terreno entre originais de Bob Marley (I Shot The Sheriff), Peter Tosh (You Can't Blame The Youth), Alton Ellis (Girl We Got a Date), Curtis Mayfield (You Must Believe Me) e até Bobby Gentry (no mítico Ode to Billy Joe). No entanto, o que vão ouvir é de uma cover do grande Johnny Clarke, um pedaço de roots apocalíptico, com None Shall Escape The Judgment. Resta dizer que este é um dos álbuns recuperados, ainda parte de um lote apanhado no Verão passado num sotão minúsculo e a ferver que guardava a colecção de um antigo clube nocturno lisboeta!

None Shall Escape The Judgment (audio)


BYRON LEE & THE DRAGONAIRES - Reggay Hot, Cool & Easy (LP, Trojan, s/data)
E pronto, é mais um grande álbum de Byron Lee, este com origem numa troca, recheado de versões de êxitos como Shaft (Isaac Hayes), Hot Reggae (James Brown) ou Have You Seen Her (B. Acklin). Como Byron Lee tantas vezes provou, por vezes era nos pontos de intersecção do reggae com outros estilos - como a soul e o funk - que se descobriam alguns dos mais interessantes momentos de produção da Jamaica. Com uma versão reggae de Shaft por perto, obviamente não podíamos escolher outro tema para ouvir.
E é tudo por agora. No próximo mês haverá mais uma chart. Entretanto, aguardem pelas escolhas do Dub!

Shaft (audio)